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Canhão da Colina

LELÉ, O CANHÃO DA COLINA

por Walter Duarte


Muito me impressiona a dificuldade de tantos atacantes da atualidade em fazer gols e definir jogadas. Não canso de recordar artilheiros natos como: Roberto Dinamite, Romário e Ademir Menezes, que não vi jogar, entre outros. Se hoje o Vasco se sustenta com o Gérman Cano, no passado também teve o Lelé, o nono maior goleador da história vascaína com 147 gols. Essa lembrança ocorreu no bar do querido Seu Lenílson, vascaíno apaixonado, e também apelidado Lelé.

De forma incisiva, Seu Lenílson me chamou atenção pelo fato do Lelé ser natural de Campos RJ e ter sido seu companheiro de ótimas conversas. Rasgou elogios ao “Canhão da Colina”, adjetivo dado pelo potente chute de perna direita, sua maior virtude, além do oportunismo. Nascido em 23 de fevereiro de 1918, com o nome Manuel Pessanha, faleceu em 16 de agosto de 2003, aos 85 anos anos, na Cidade de Campinas SP.

Lelé começou no Madureira, clube revelador de talentos como muitos jogadores promissores do interior. Pelo tricolor suburbano do Rio de Janeiro, atuou de 1939 a 1943, juntamente com Isaías e Jair da Rosa Pinto. O cobiçado trio foi apelidado de “Os Três patetas”,  pela alegria de jogar, uma alusão à série humorística norte americana, sucesso no Brasil nas décadas de 40 e 50.


Com o desempenho arrasador destes atacantes, o técnico Ondino Vieira não titubeou e trouxe os três para São Januário, para compor o inesquecível Expresso da Vitória (1945 a 1952). O incômodo período sem títulos do Vasco desencadeou uma política de investimentos no chamado ” nfanto juvenil”, além da mescla com jogadores consolidados. Logo em 1945 Lelé emplacou a artilharia do Campeonato Carioca (13 gols), ratificando a sua fama de matador com um apetite insaciável de balançar as redes. Ao seu lado, ídolos eternos como Ademir Menezes, Barbosa, Friaça, Chico e Maneca construiram vitórias épicas, como na decisão do Campeonato Sul Americano de 1948 (precursor da Libertadores), contra o River Plate “La máquina”, de Di Stefano. Antes de sair do Vasco da Gama, Lelé conquistou os títulos Cariocas de 1945 e 1947, este último sem o mestre Ademir Menezes.

Outros clubes que defendeu foram:  Flamengo em 1948, Ponte Preta e São Paulo da capital (1950). Pela Seleção Brasileira, jogou nos anos de 1940 e 1945, iniciando a base da seleção vice-campeã em 1950, com presença marcante também na seleção metropolitana Carioca. Não atuou na Copa do Mundo, capitaneada por Flavio Costa,  seu técnico no Vasco, porém viveu todos os contornos de sofrimento da fatídica derrota para o Uruguai. Tínhamos na época o início da consolidação do Brasil como potência futebolística mundial. Uma substancial oferta de jogadores clássicos como o Heleno de Freitas, Danilo Alvim e Zizinho deram suporte para triunfos futuros.


Lelé vivenciou todo esse contexto, festejado pelos torcedores como jogador da “moda”, servindo até de inspiração para a famosa marchinha de carnaval “No boteco do José”, interpretada pela cantora Linda Batista, com composiçao de Wilson Batista, seu conterrâneo e também rubro-negro, curiosamente. Foi-se o tempo do romantismo do futebol e com ele a triste realidade da carência de artilheiros, no sentido amplo da palavra. Retornarei ao Bar do Seu Lenílson, para realimentar a saudade do bom futebol, junto aos parceiros Rogério Gama, Edno, Rodrigo Rios, Adir, Alex, Thiago e Raimundo. Nos embriagaremos de sonhos e nostalgia, neste mundo de plástico, e reviveremos histórias bonitas e originais como a do Saudoso Lelé. O homem que simplificava a arte de fazer gols.

 

No boteco do José.

 

“Vamos lá

Que hoje é de graça

No boteco do José

Entra homem, entra menino

Entra velho, entra mulher

É só dizer que é vascaíno

E que é amigo do Lelé…

 

Marchinha Carnaval de 1946.