Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Brasil

QUEM DIRIA, PARIS AOS NOSSOS PÉS

por Zé Roberto Padilha


Zé Roberto Padilha

Em meio a tanta polêmica durante a transferência do Neymar do Barcelona para o Paris St. Germain, senti, durante a exibição do Globo Esporte, um imenso orgulho de ser brasileiro um dia após ter vergonha de ser. A reportagem mostrava uma imensa fila em torno do quarteirão da Champs-Élysées não para buscar, com exclusividade, o ultimo livro de Harry Porter. Muito menos, para o lançamento de um iPhone de ultima geração. Em Paris, a cidade luz, o produto cobiçado por todos desta vez era brasileiro. A imensa fila buscava a primazia de conseguir uma camisa do PSG que vestiria a nossa maior matéria prima de exportação: um jogador de futebol.

Não temos os cérebros que trabalham no Vale do Silício, muito menos a pretensão de alcançar o berço da literatura inglesa. Porém, nenhum país do mundo conseguirá produzir um jogador de futebol do nível do Neymar.


Como país eternamente colonizado e explorado, desde cedo portugueses, franceses, holandeses e ingleses desembarcaram em nossas costas para levar nossas riquezas. Com o Pau-Brasil pintaram seus tecidos, com a borracha ergueram a Pirelli e a Good Year, e o açúcar viajou para adoçar suas iguarias. E o café acabou tomando o lugar do chá pelo mundo. Mas quanto ao jogador de futebol, Pero Vaz Caminha já avisava em carta que seria mais difícil:

“Aquele povo tem a cultura de base européia, a agilidade e a força Etiópia e a simplicidade natural dos seus nativos. Seu segredo é colocar tal diversidade desde cedo em campos irregulares, de terra batida, atuar completamente descalços, e exercer exaustivamente este dom, principalmente porque seus meninos carentes não conseguem acesso à educação. Utilizam o tato atrelado à bola, no lugar de afastar a sensibilidade com chuteiras, como fazem pelos laboratórios de futebol pelo mundo. Dali retiram soluções inusitadas, inesperadas, que os zagueiros pelo mundo, e suas retrancas suíças, levarão séculos para desenvolver uma vacina”.


Tudo bem, assistindo o atual nível do Campeonato Brasileiro, Neymar deve ser mesmo a nossa última matéria prima de excelência. Campinhos de pelada nas periferias foram ocupados pelo Projeto Minha Casa, Minha Vida. E o Bolsa Família fez com que as mães carentes tirassem seus filhos da pelada e os colocassem na escola. E os vacinassem. Quem diria, a conquista da dignidade cidadã está secando na fonte nossa ultima espécie em extinção. E Paris, que pena, Alain Delon, Brigite Bardot, Cristian Dior e seus perfumes, nunca mais vai ser curvar aos nossos pés.

MAZZOLA, O MELHOR ‘ITALIANO’ QUE VESTIU A AMARELINHA

por André Felipe de Lima


Quem o levou para o Palmeiras, no dia 25 de julho de 1955, foi Idilio Gianetti, sócio na Viação Piracicabana e um apaixonado torcedor alviverde. A ida para o Parque Antarctica foi um presente de aniversário para o então jovem José João Altafini, o Mazzola (apelido que recebera devido à semelhança com Valentino Mazzola, que comemorara o aniversário um dia antes da ida para o Verdão. Dali em diante a carreira do jovem craque evoluiu (e muito!). Tornou-se ídolo da torcida palmeirense e foi convocado para a Copa do Mundo de 1958. Era titular até o técnico Vicente Feola decidir mudar drasticamente o time, escalando, sobretudo, Pelé e Garrincha. Na estreia do Brasil, Mazzola mostrou que estava em plena forma. Marcou dois gols na vitória de 3 a 0 sobre a Áustria. Ninguém gosta de ser barrado. Ainda mais quando se está em uma Copa do Mundo. Mas o craque Mazzola, que tinha apenas 19 anos, conformou-se, mesmo jogando o fino na ocasião:

– Sou uma pessoa com pés no chão. Depois de fazer os dois gols, estava satisfeito com o que estava rendendo. Na verdade, acabei torcendo o tornozelo e não estava 100% para jogar. Não era tão fácil se recuperar como hoje. Por isso, não joguei tão bem com a Inglaterra e depois do empate o Feola precisou revisar o time. Por isso ele colocou o Vavá.

Após aquela Copa e o título conquistado, Mazzola decidiu mudar de vida. Inclusive de nacionalidade. Foi para a Itália, onde, inicialmente, defendeu o Milan, e tornou-se ídolo por lá. Tão ídolo que o clamor dos italianos para que vestisse a camisa da Azzurra convenceu-o a buscar a dupla-nacionalidade. Mazzola tinha a plena consciência do que o aguardava. Disputou a Copa do Mundo de 1962, no Chile, pela Itália e ouviu impropérios da torcida e imprensa brasileiras. Acusado de “traidor”, Mazzola incomodou-se no início, mas, distante do Brasil, foi acostumando-se com as críticas, que aos poucos perderam a intensidade.


Logo que deixou o Brasil e assumiu-se italiano, Mazzola respondia às insistentes perguntas de que lado ficaria se o Brasil decidisse a Copa com a Itália. Respondia invariavelmente enfezado: “Torno a repetir: numa peleja assim, não ficarei inibido. Se houver oportunidade de assinalar o gol da vitória da Itália, mesmo que esse tento custe o bicampeonato ao Brasil, não passarei a bola para nenhum companheiro de equipe. Eu mesmo farei o gol.”

Mazzola tocou a vida. Foi bicampeão italiano (1957 e 59) e campeão da Liga dos Campeões (1963). Naquele ano foi vaiado ao voltar ao Brasil para disputar a final do Mundial Interclubes, contra o Santos. A arquibancada do Maracanã foi impiedosa com Mazzola. Virou um dos maiores artilheiros da história do Milan, com 216 gols. Entrou, portanto, para a história do Calcio como um dos maiores jogadores que o clube “rosonero” já teve e ainda brilhou em outros clubes da “Vecchia Bota”, dentre os quais a Juventus, mas jamais escondeu o amor que nutria (e até hoje nutre!) pelo Palmeiras, como declarou ao repórter Rodrigo Farah, em 2008:


– Meu coração é verde. Minha passagem pelo Palmeiras foi curta, mas foi muito marcante. Queria ter jogado mais pelo time, pois me dá muita emoção lembrar essa época. Tive uma identificação muito boa com a torcida e é até engraçado. Fiquei surpreso com isso já que não fiquei muito tempo por lá. Continuo seguindo o Palmeiras. Vi que eles ganharam o Paulista com o Luxemburgo e fiquei muito contente.

Mesmo amando o Brasil e o Palmeiras, Mazzola fez da Itália sua morada. Jamais deixou a terra na qual é idolatrado até hoje.

DO SARRIÁ AO MINEIRÃO: UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL DO TEMPO

por Pablo Lima


No filme “Meia-Noite em Paris”, o renomado cineasta Woody Allen lida com a questão do tempo de maneira irônica e nada trivial. Na história, o protagonista entra em uma máquina do tempo e viaja até a Paris de 1920, onde realiza o sonho de conhecer seus maiores ídolos, como Ernest Hemingway, Cole Porter e Salvador Dalí, e alterar a sua vida refazendo um novo passado. O problema é que, ao chegar lá, ele se apaixona por uma mulher que também quer voltar no tempo e conviver com artistas de épocas mais remotas, como os pintores Paul Gauguin e Toulouse-Lautrec.

Woody Allen levanta a questão sobre até onde é válido prezar o passado a ponto de querer alterá-lo, e como cada indivíduo cria, em sua própria linha do tempo, um lugar de referência que julga ser o momento crucial de suas vidas.

Traçar paralelos entre a sétima arte e a primeira delas – no caso a melhor das artes, aquela existente dentro das quatro linhas, nem sempre soa como agradável. E no túnel do tempo do futebol, as nossas referências trariam a companhia de Falcão, Zico e Sócrates; ou Neymar, Marcelo e Júlio César? Onde dói mais, a ferida de 1982 ou a de 2014?


Brasil x Itália 


Brasil x Alemanha

Para boa parte dos boleiros, o selecionado que tombou no estádio Sarriá durante a Copa do Mundo de 82 representou a maior dor possível para os fãs do futebol brasileiro. Quantos de nós não voltaríamos no tempo se pudéssemos alterar a realidade e ver a seleção brasileira triunfar na Copa da Espanha, há exatos 35 anos? Aquela taça erguida seria a glória do time perfeito que não venceu.


A derrota para a Itália sacramentou o fim do futebol-arte no país, e treinadores teriam criado desde então o chamado futebol de resultados: é o que diz um discurso recorrente entre os especialistas da bola.

Mas há quem diga que o fatídico 7 a 1, placar da derrota para a Alemanha conhecida como o “tragédia do Mineirão”, ocorrido na Copa de 2014, teria sido o nosso maior fracasso. Ninguém em sã consciência imaginou que a nova chance de vencer o Mundial em casa nos traria o mais impensado dos desastres, que acabou acontecendo de maneira ainda mais trágica que a primeira. Barbosa & cia, os vilões de 1950, que nos desculpem, mas o “Mineiraço” machucou muito mais.

As reflexões sobre grandes derrotas são sempre complexas e repletas de indignação. Como se o caminho do revés não fosse permitido aos grandes e a digníssima Copa do Mundo não reinasse célebre em puxar o tapete dos escretes tidos como imbatíveis – vide a Hungria em 54; os holandeses, favoritos em 74 e 78; e mesmo a Alemanha, nosso maior algoz, perdendo em casa em 2006.


Fato real é que o futebol brasileiro, tombado ou não, teimou em brilhar no intervalo entre as Copas de 1982 e 2014. Nomes como Bebeto, Romário, Aldair, Taffarel, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Jorginho, Branco, Leonardo, Denílson, Cafu e Roberto Carlos levantaram o troféu mais cobiçado do futebol. Será que não teríamos motivos para valorizar uma gama de incontáveis triunfos, que serviriam para compensar as perdas? Ou priorizar um passado de derrotas soaria mais adequado às nossas mazelas mais profundas?

De Zizinho a Neymar, de Falcão a Robinho, de Leônidas da Silva a Ademir da Guia, lamentosos seremos sempre dos infortúnios dos craques brasileiros com a camisa canarinho. Se Nelson Rodrigues afirmou que “o futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano”, a nossa passionalidade – ou pobreza – não conseguem permitir grandes fracassos no gramado.

 E você, para onde iria em sua máquina do tempo? Voltaria três anos ou trinta e cinco anos para alterar os rumos da história do futebol? Chegaria ao Sarriá ou ao Mineirão?

NADA SERÁ COMO ANTES

por Marcos Vinicius Cabral


Depois da Copa da Espanha, em 1982, o futebol passou a ser encarado por resultados.

Aquela derrota para a Itália do até então ineficiente Paolo Rossi, não acertou apenas uma geração de grandes jogadores, mas expôs uma fratura difícil de cicatrizar, a partir de então, no futebol brasileiro.

Sendo assim, foi posto de lado o futebol arte,  envolvente, de toque de bola e acima de tudo, o futebol que vencia e convencia a qualquer custo.

Se Telê Santana (teimoso à mineira) não fez súditos, aquela seleção não teria como servir de exemplo para as menos favorecidas em material humano.


Aquela derrota, fez um mal à saúde do futebol que até hoje, vive à base de encontrar substitutos para aqueles 11 exuberantes atletas e sangra em nós.

Passados 23 anos do tetracampeonato e 15 do pentacampeonato, os programas dos canais fechados não cansam de comemorar essas datas e a galera – que nem era nascida em 82 – vai na onda compartilhando nas redes sociais.

Com isso, cada vez mais me orgulho e tenho a plena consciência do quanto aquela seleção me fez feliz, apesar do insucesso naquele Mundial.

Sobretudo, para um povo carente de ídolos, ter Romário em 94 e Ronaldo Fenômeno em 2002 como tais não chega a soar estranho e nem nevrálgico.


Então, seleções de Dunga & Cia e Kleberson & Cia, vocês, mesmo tendo beijado aquelas taças, jamais, eu disse jamais, serão e representarão o que Waldir Perez, Leandro, Oscar Luizinho e Júnior; Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho e Éder representaram não só para mim mas para o mundo da bola.

Parabéns aos jogadores de 82, verdadeiros campeões!

15 ANOS DO PENTA

Há exatos 15 anos, o Brasil vencia a Alemanha por 2 a 0 e conquistava o pentacampeonato mundial!