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Brasil

O DIA EM QUE O “PAÍS DO FUTEBOL” MORREU

por Émerson Gáspari


Ninguém se deu conta de quando o “processo” se iniciou. Talvez só eu, a princípio. Com o tempo, muitos torcedores foram notando algo no ar: a decadência, a escassez de público, a sangria de craques para o exterior, a corrupção no futebol. Tentei avisar, mas não me deram ouvidos, talvez porque não enxergassem até onde a coisa iria.

Foi como gritar sozinho num Titanic, alertando que iríamos afundar, enquanto todos os tripulantes e passageiros davam de ombros ou me taxavam de pessimista. 

Talvez seja melhor contar antes, como as coisas eram no princípio, em minha mais tenra idade. Da alegria de ser torcedor brasileiro. Tínhamos uma nação e tanto: diziam que seríamos “o país do futuro”. Sou desse tempo, em que o futebol brasileiro tinha orgulho de ser o melhor.

Éramos para o mundo, o “País do Futebol”. Gerações de craques maravilhosos, que se sucederam e nos levaram a conquistas inesquecíveis, como o Tri no México!


Gênios em profusão, como Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Pelé, Gerson, Tostão, Rivellino, Zico, Sócrates, Falcão, Romário, Ronaldos…

Equipes formidáveis, como o “Expresso da Vitória”, a “Academia Palmeirense”, a “Sele-Fogo”, a “Lusa Fita-Azul”, a “Máquina do Prof. Horta”, a da “Democracia Corintiana”, o Flamengo campeão mundial, o Santos bi, o São Paulo tri, o Inter de Manga, o Grêmio de Renato Gaúcho, o Cruzeiro de Dirceu Lopes, o Atlético de Reinaldo.

Cronistas como Nelson Rodrigues e João Saldanha eram respeitadíssimos. E líamos o “Jornal dos Sports”, a “Gazeta Esportiva Ilustrada”, a revista “Placar” e até o caderno de esportes do Jornal da Tarde, todos com cobertura futebolística estupenda.

Em nossa doce inocência de que as coisas não mudariam jamais, brincávamos nos jogos de botões com a “carinha” dos atletas tão identificados com seus clubes: Waldir Peres, Luís Pereira, Clodoaldo, Wladimir, Rondinelli, Dinamite, PC Caju, Edinho, Batista, China, Nelinho, Éder e outros, que colecionávamos também no “Futebol Cards”. Mesmo os chamados “pequenos” tinham seus ídolos: a Ponte Preta de Dicá, o Guarani de Zenon, o Botafogo/SP de Sócrates, o Comercial/SP de Jair Bala, a Ferroviária de Bazzani e por aí afora! 


O rádio ainda era nosso “amigão do peito”: acompanhávamos toda jornada esportiva, do início da tarde à noitinha, com locutores memoráveis, por décadas a fio: Odvaldo Cozzi, Rebello Júnior, Geraldo José de Almeida, Pedro Luiz, Jorge Cury, Edson Leite, Waldir Amaral, Fiori Gigliotti, Peirão de Castro, Walter Abrahão, Osmar Santos, Luciano do Valle, José Silvério. E depois do jogo, vinha o “Show de Rádio”, com a turma do Sangirardi fazendo humor futebolístico da melhor qualidade.

Daí era correr pra TV e se divertir com a “Zebrinha”, dando os resultados do teste da “Loteria Esportiva”, assistir aos “Gols do Fantástico” e curtir alguma “Mesa Redonda” até meia-noite, quando então findava aquele domingão futebolístico tão sagrado.

Sim! Foi uma época realmente abençoada, em que um Fla-Flu levava 170 mil pessoas ao Maraca, um Derby lotava o Morumbi com120 mil pagantes e um Mineirão, um Beira-Rio ou uma Fonte Nova transbordavam de torcedores apaixonados.

Até que num belo dia de 1980, as coisas começariam a mudar. Falcão estreava na Roma da Itália, que o levara embora, “escancarando a porteira” do futebol brasileiro para os europeus. Seguiram-se Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior, Renato e uma infinidade de craques. Ninguém pareceu ligar muito: em épocas anteriores, tivemos um ou outro craque que ia e voltava, como Didi ou Roberto Dinamite. Já Mazola, Evaristo de Macedo e Julinho Botelho até ficaram por lá, mas o inesgotável celeiro de craques do país sempre providenciava um substituto.


Além disso, para que nos preocuparmos, se tínhamos o futebol mais bonito, os pontas mais habilidosos do mundo, os jogadores mais criativos? Éramos a essência do “futebol-arte” e o europeu (exceto a Holanda) só sabia praticar o tal “futebol-força”.

Estávamos acomodados, convencidos de que seguiríamos dormindo placidamente em berço esplêndido e para sempre ostentando a alcunha de “a pátria em chuteiras”.

Permitimos que o progresso acabasse com os campinhos de terra batida da meninada e assim, exterminasse com gerações de craques que se formavam naturalmente.

Deixamos impunes dirigentes de clubes e entidades que se serviram do futebol e não a ele, corrompendo-o, desvalorizando-o.

Aceitamos a transformação da Seleção em “produto”, perdendo-se aí a razão do jogador ao defendê-la. O selecionado perdeu “personalidade” e a torcida perdeu o encanto por ela.

Curvamo-nos perante o poderio financeiro que movimenta o futebol europeu, persuadindo nossos craques, jogadores medianos e até (?) alguns pernas-de-pau, que são levados por um enganoso DVD para o Velho Continente.

Prostituímos nossa essência futebolística, adotando “revolucionárias esquematizações táticas europeias” que nos nivelaram a nossos rivais, tão carentes de criatividade.

Submetemo-nos a completa lavagem cerebral que o marketing e a mídia predatória fazem na cabeça dos torcedores e na de seus filhos, orientando-os a adularem craques estrangeiros e equipes europeias que estiverem mais na moda.

Fomos coniventes fechando os olhos para nossas agremiações menores, sobretudo as que a imprensa relegou ao desprezo de uma notinha ou enxotou de seu site.

Jogamos a culpa sempre nos outros, como sempre. O resultado do que se iniciou nolongínquo 1980, acabaria se impondo nas décadas seguintes. Por isso é que lhes conto tudo isso daqui do futuro, onde me encontro hoje, em 2038: porque o nosso futebol brasileiro morreu!


Não somos mais o “país do futebol”, há muito tempo, aliás. A Alemanha e a Itália chegaram ao hexa e nos superaram em Copas conquistadas. Do falido futebol sul-americano, tivemos apenas a alegria do Uruguai sediar a Copa Centenária de 2030. E a Argentina se tornar tri (nem me perguntem como!). Se isso ainda fosse o pior, nem estaria tão chateado, contando a vocês.

Pior foi o que aconteceu por aqui! O último craque que conseguimos revelar por estas plagas se chamava Neymar e ele encerrou sua carreira há exatos quinze anos. Ou seja: as crianças de hoje jamais viram um craque tupiniquim jogando ao vivo. Mais dramático foi o que aconteceu aos campeonatos. Os regionais foram extintos, simplesmente porque os clubes pequenos faliram. Alguns poucos se tornaram amadores, enquanto mais de 90% “fecharam as portas”.

Logo a crise chegaria aos grandes, também. Vários, enterrados em dívidas, aceitaram perder seus estádios, para não morrerem. Outros lutam à duras penas, para manterem a dignidade de pé. Desde 2012 quando o Corinthians foi bicampeão mundial, não ganhamos mais uma única final de campeonato mundial de clubes, sequer. O campeonato brasileiro hoje possui três divisões: na primeira, 12 clubes. Na segunda divisão, outros doze e na “terceirona”, num verdadeiro “catadão” com o que restou do futebol nacional, ficam todos os outros 36. E é só.


Os estádios leiloados (a maioria em lastimável estado) vêm dando lugar ultimamente, a templos religiosos, shopping-centers, condomínios de luxo ou mesmo torres comerciais. O futebol brasileiro decaiu tanto que não deixou de ser apenas o preferido do planeta: hoje ele não é sequer o preferido entre os brasileiros, pois está em terceiro lugar na preferência dos mais jovens, segundo uma enquete.  Nenhuma criança sabe quem foi Pelé ou Garrincha!

E pensar que eu avisei tanto que tudo isso iria acontecer! Mesmo desconhecido do grande público eu, um modesto escritor independente, alertei isso em meus livros e – já num ato de desespero – escrevi um artigo revelando o que ocorreria nos próximos anos, num site chamado “Museu da Pelada”, às vésperas de mais uma dessas nossas seleções nacionais insossas estrearem no Mundial de 2018, na Rússia.

Pois sabem o que ganhei com isso? O público me taxou de louco, ranzinza, tolo, agourento, chato e toda a sorte de “qualidades” que vocês possam imaginar.

Pessimista foi do que mais me acusaram. Só desconhecem o fato de que um pessimista nada mais é do que um otimista melhor informado.

Restou-me ao menos a consciência limpa de quem tudo fez para avisar até onde iríamos nesse fundo de poço em que se meteu o nosso pobre futebol brasileiro. 

TRAGÉDIA DO SARRIÁ

por Eliezer Cunha


Copa do Mundo de 1982. Três derrotas e um único jogo. Brasil x Itália. Estádio Sarriá, Espanha.

Nosso Brasil respirava futebol, a nossa seleção respirava confiança e nosso povo respirava supremacia. Todos os jogos até então foram superados, ganhar era como simplesmente apertar o play. Era assim a seleção de Zico, Éder, Sócrates e Cerezo.

O carnaval futebolístico iniciou-se em junho de 82. Coretos montados e bagaceiras formadas davam conclusão ao óbvio e ao natural: vitória. Brasil acaba de vencer mais um jogo em busca do campeonato mundial de 82. O verdadeiro futebol triunfará finalmente sob o comando de nossos heróis Zico e companhia.

A alegria popular surgia naturalmente através de um conjunto de foliões que formavam o movimento chamado bagaceira. Surgia do nada após cada vitória e trazia em seus movimentos Maria Celeste, linda e perfeita como a magia imposta pelas vitórias da seleção.


A cada jogo uma bagaceira, um flerte e uma nova oportunidade de estar ao lado dela. A cada partida aumenta a intensidade deste encontro e os flertes aumentavam a cada jogo jogado.

Brasil x Itália, partida decisiva para nós. Mas pra que se preocupar com um time que não venceu nenhuma partida neste mundial? O jogo é jogado e o flerte é flertado.

Marcamos eu e Maria Celeste para enfim sacramentarmos a nossa vitoria na bagaceira formada após o confronto Brasil x Itália. Essa era minha esperança e oportunidade celestial de enfim conquistar Maria Celeste a mais cobiçada do bairro. Venceria o Brasil rumo a conquista da Copa de 82 e eu conquistaria a menina de meus sonhos.


Tarde ensolarada, começaria a partida, os bumbos e repiques aguardavam o momento da vitória. O contexto já havia se formado: vitória brasileira, bagaceira e finalmente um romance trabalhado a cada vitória.

Final de tarde … perdemos o jogo … o futebol arte não prevaleceu, a nação se calou e a bagaceira não saiu. Casei-me com Maria Vitória só pra esquecer as derrotas da vida.

O QUE ESPERAR DA COPA DO MUNDO

por Mateus Ribeiro


Falta pouco para a Copa do Mundo. Torcedores, jornalistas e profissionais da área começam a fazer projeções sobre o que pode acontecer no campeonato de futebol mais importante do planeta.

Como todo mundo tem um pouco de técnico e de entendido, resolvi dar meus pitacos também, e fazer um resumo geral do que pode acontecer na Copa do Mundo.

Sem mais conversas, vamos lá:

– Favoritos


Não tem muita novidade por aqui. Todos nós sabemos que Brasil e Alemanha SEMPRE entram como candidatos diretos ao título.

A favor da Alemanha, conta o fato de ter mantido um trabalho sólido, que já vem de muito tempo. O título mundial foi a cereja de um bolo que vem sendo preparado desde a década passada. Além disso tudo, a renovação tem se tornado uma constante, e muitos jogadores que eram promessas em 2014 são realidade em 2018, e poderão ajudar muito a atual campeã mundial. Isso pra não falar no peso da camisa, que apesar de alguns entendidos da nova geração tentarem desmerecer, ainda decide jogos e campeonatos.

Ao lado da Alemanha, os comandados de Tite. O treinador comandou um trabalho fantástico de reconstrução, e conta com ótimos nomes para tentar o sexto título mundial. Um fator que pode ajudar (e muito) a Seleção Canarinho é o fato de que Neymar (um dos poucos jogadores capazes de mudar uma partida em poucos toques) tem companhias melhores que Messi e Cristiano Ronaldo, por exemplo.


Resta saber em quais condições o astro brasileiro chegará para disputar a Copa. Jogam contra o  Brasil o costumeiro oba oba criado por parte da imprensa, que foi reforçado pela vitória diante da Alemanha.

Com um pouco menos de peso e força, chegam Espanha e França.

A Espanha aproveitará a última cartada dos remanescentes de 2010. Contam com o reforço de jovens talentos que surgiram nos últimos anos, além de um já consolidado sistema de jogo.

Já a França tem ótimos nomes, porém fracassou em seu maior teste, a final da Eurocopa.

Dito isso, temos uma Seleção que apesar da péssima fase, nunca pode ser subestimada. Sim, estou falando da Argentina. Mesmo om uma defesa inconstante, e com alguns jogadores discutíveis, não se pode esquecer que essa é a última Copa de Messi, e o jogador do Barcelona é um diferencial gigante. Ainda não conseguiu decidir um torneio para sua Seleção, mas quem sabe na última hora, o demônio adormecido não acorde, não é?

– Podem fazer alguma fumaça


São poucas as Seleções que podem pregar alguma peça, mas o Uruguai sempre merece respeito, e encabeça a lista. Além de ter caído em um grupo fácil, conta com uma seleção entrosada, e tem o talento de Suárez, que com a cabeça no lugar, deixou de ser um perigo para os uruguaios, e se tornou um terror para os adversários. Com uma pitada de sorte, pode beliscar uma vaga nas semifinais.

A tão falada Bélgica vem mais forte e mais madura do que em 2014. Também está em um grupo fácil, e se não fizer nada fora do script, passa fácil para as oitavas. Daí em diante, a coisa fica um pouco mais pesada. Mesmo assim, se o conjunto funcionar, pode chegar nas semifinais com um pouco mais de entrega e esforço.

A Inglaterra se renovou, e tenta apagar as duas últimas campanhas. O talento de Harry Kane deve ajudar muito, mas a falta de um goleiro confiável (um problema que parece não ter solução) e o time muito jovem podem atrapalhar. Nem de longe é candidata ao título, mas os ingleses devem fazer uma campanha mais digna do que a de 2014, com toda certeza.

Portugal é o famoso exército de um homem só. Como está em um grupo tecnicamente fraco, deve passar em segundo lugar, e o possível confronto das oitavas também está longe de ser uma pedreira.

Os gajos chegam credenciados também pelo título europeu, e se Cristiano Ronaldo estiver iluminado, podem sonhar até mesmo com uma vaga nas semifinais. Porém, nada além disso.

– Possíveis zebras


A zebra costuma passear na Copa do Mundo. Que o digam Turquia, Costa Rica e Croácia, para falar apenas dos últimos 20 anos. Em 2018, apesar da dificuldade, as surpresas podem aparecer, para o bem e para o mal.

Se existe um país que confia cegamente todas as suas esperanças em um só jogador, esse país é o Egito. Os faraós contam com Salah, que está em um momento formidável. Se conseguir passar pelo seu grupo, pode surpreender nas oitavas. E chegar até as quartas será um feito e tanto. Porém, se fracassar na primeira fase não será nenhuma coisa de outro mundo.

A Colômbia pode fazer o mesmo bom trabalho de 2014, quando vendeu caro a eliminação nas quartas de final.

Do mesmo grupo da Colômbia, temos a Polônia, que pode chegar bem nas oitavas, se Lewandowski estiver inspirado.

– Sacos de pancada


Apesar de todo o carinho de parte da imprensa, a estreante Islândia tem tudo para figurar ao lado da também estreante Panamá no hall dos sacos de pancada. Tunísia, Irã, Marrocos, Rússia e Arábia Saudita são outras fortes candidatas ao duvidoso prêmio de Seleção lanterna da Copa.

No restante, imagino que nada de especial vá aontecer.

Porém, o tal do futebol ainda é uma caixinha de surpresas,e tudo que foi escrito aqui pode me enganar. Portanto, tire seu print aqui e me cobre depois.

E para você, quais os favoritos, azarões e saco de porrada?

Até a próxima!

TARDES DE ENCANTO EM SEVILHA E UM BAILE NOS ARGENTINOS

por Marcelo Mendez


E a Espanha era uma festa!

Em um escaldante verão, as tardes de Sevilha viram os 11 homens de amarmelo dar espetáculos contra Escócia e Nova Zelândia e agora vinha a segunda fase.

Seriam quatro grupos de três times sendo que o campeão de cada grupo iria para semi. No grupo do Brasil, que muitos chamaram de “grupo de fogo”, tinha, além de nós, Argentina e Itália.

Em um sábado, após os treinos no Nacional, na hora de comer goiabas que a gente sempre roubava lá nos pomares do Seminário dos Padres, nós, os meninos de 12 anos de 1982, falávamos desse chaveamento:

– Porra, mas esse time Italiano num jogou nada na primeira fase!

– Ah, sei não, Batata. Agora é outra fase, time grande cresce nessas horas…

– Grande da onde, Pedrinho? Os caras fizeram um gol em três jogos e empataram com Camarões!

– Tá bom, Marcelo. Então cê acha que a Itália é uma merda? Vamo ver…

– Ô, Pedrinho… Que porra é essa?! Cê é Judeu ou é Italiano?!

Nessa hora, nós todos rimos:

– Que tem a ver a minha religião, com isso, Zila? Mas tá, depois a gente vai ver no campo. As coisas da bola se resolvem no campo!


– Escuta, mas antes tem a Argentina. Esqueceram?

– Argentina é baba, Marcelo…

O BAILE NA CATALUNHA

A Argentina estava engasgada na garganta.

Além de tudo que havia acontecido quatro anos antes, quando uma armação da Ditadura Argentina, alinhados com direção da Seleção Peruana, garantiu um resultado para os portenhos passarem de fase, aquele jogo pegado no Mundialito em 1981 estava bem vivo nas nossas cucas.

Era hora de passar o trator em cima dos caras.

No dia 02/07/82, em Barcelona, o Brasil jogou futebol como se não fosse haver amanhã. Como se fosse o ultimo jogo da face da terra.

Foi 3×1 em cima deles e era pra ter sido pelo menos uns 8!

Passamos pelos Argentinos. Agora era cumprir uma conveniência que seria vencer a Itália, time capengante e irregular e passar pra semi. Não passava pela cabeça de ninguém que o destino fosse ser outro.

Bem, a bola do destino rolou…

RUBÉN PAZ, O 10 DO RIO DA PRATA E FINAL DO MUNDIALITO

por Marcelo Mendez


O dia 10 de janeiro de 1981 era quente na Rua Tanger.

Todas as luzes do mundo clarearam a manhã do Parque Novo Oratório e a periferia de Santo André estava em festa.

Em meio aos “bons dias” trocados, o vai e vem dos carrinhos de feira que subiam rumo à Rua Fenícia onde ficava a feira livre de domingo, lá íamos minha mãe e eu puxando nosso carrinho. Enquanto a mãe ia falando com as pessoas que também iam para o mesmo lugar, na frente eu fazia peripécias com o carrinho. Assim como o Luciano, que também fazia o mesmo. O encontrei na ladeira da Rua Germânia:

– É hoje a final, hein, Marcelo??

– Sim! Contra o Uruguai lá na casa deles. Mas acho que dá pra ganhar…

– Dá, sim. Mas eles têm mó timão…

– Bons jogadores…

– Krasoswski, Venancio Ramos, Morales, De Leon, Rodolfo Rodriguez no gol, o tal de Vitorino que até dormindo mete gol. Fora aquele 10 lá, Marcelo, como chama?

O nome da classe é Rubén Paz


Naquele dia, ao invés de ter apenas nós, os moleques da Rua Tanger, na casa do Tocão, havia também os nossos pais, vizinhos, os parentes do Tocão. 

Seu Renato, pai dele, fez um churrasco, chamou todo mundo e a festa era grande.

Ao longo do dia, comentários dos adultos, das rádios que estavam em Montevidéu, flashes da TV, iam nos dando a exata dimensão da grandeza que estava envolvida numa decisão entre Brasil x Uruguai no Estádio Centenário.

Fazia 30 anos que eles haviam nos vencido no Maracanã no fatídico Mundial de 1950 e no banco deles, como técnico, uma lenda: Roque Maspoli, o goleiro. Mas quando o jogo começou não era para o banco que olhávamos, assim como o pensamento também estava longe de 1950.

– Porra, mas como joga esse tal de Rubén Paz! – exclamou seu Renato.

Sim…

Rubén Paz era o camisa 10 do Uruguai. Vendo-o jogar, descobri que era mais um de quem jamais torceria contra.

Pela cancha do Centenário, Paz não andava, nem corria; Desfilava. Craque de bola, não pisava o mesmo chão que os outros tantos mortais que ali estavam. Seu olhar tinha uma altivez imperial, seus passes tinham a imponência de quem distribui sonetos ao invés de bolas. Nosso time que não era ruim, não conseguia jamais pará-lo. E aos 11 anos, comecei a entender que o futebol cria seus semi deuses, suas lendas e que elas são inatingíveis, por charme, sonho e necessidade de se perpetuar como poesia.

E a lenda criou a jogada para o primeiro gol de Barrios, para o Uruguai. Porém o placar não ficou assim por muito tempo. De pênalti, Sócrates empatou. Depois disso, vem o outro ensinamento do futebol…

Camisa 9 não faz bolinha; Mete gol

O bom time do Uruguai tinha como base o Nacional, campeão da Libertadores de 1980.

Foi via a tela da TV Record, que vimos a final do campeonato, em que os uruguaios venceram o forte Internacional do Falcão e do Batista nas duas partidas da decisão. Nela apareceu um centroavante baixinho, rápido feito uma flecha, que como o Luciano falou, até dormindo fazia gol…

– Tem que tomar cuidado com esse Vitorino! – recomendou meu Pai.

– Não tá jogando nada, Mauro! – respondeu seu Renato.

– Ele é centroavante. Centroavante não precisa jogar bem, precisa fazer gol!

E como tal, aos 35 do segundo tempo, Waldemar Vitorino, pequeno, rápido e esperto, apareceu no meio da pequena área do Brasil para abaixar e cabecear a bola para o fundo do gol. Era o 2×1 que acabaria por ser o resultado final.

Na festa, meu Pai e seu Renato não ficaram tristes, pelo contrário; Vibravam, porque segundo eles, o povo uruguaio fez um coro lá gritando que “Se vai acabar, a ditadura militar”

Aos 11 anos, eu já sabia do que falavam, mas o que me chamou atenção foi ver o Brasil perder uma decisão, a primeira da minha geração. Ainda assim,  seguíamos firmes na torcida.

O caminho de 1982 ia se pavimentando…