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Brasil

JOGOS INESQUECÍVEIS

por Mateus Ribeiro


São Paulo x Corinthians (Semifinal do Campeonato Brasileiro 1999).

Clássicos são emocionantes na maioria das vezes. Se o clássico em questão valer algo grande, a tendência é que a emoção alcance níveis estratosféricos. E foi isso que aconteceu no dia 28 de novembro de 1999.

São Paulo e Corinthians se enfrentaram pela primeira partida da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1999. De um lado, um São Paulo que vinha de uma década fantástica, com títulos nacionais, continentais e mundiais. Do outro, o Corinthians, que naqueles dias, vivia a melhor fase de sua história. Como se isso não bastasse, grandes nomes do futebol como França, Marcelinho, Rogério Ceni, Rincón, Ricardinho, Raí, Edílson, Jorginho, Dida e muitos outros estavam em campo. Não se poderia esperar algo diferente de um grande jogo.

A partida foi um lá e cá sem fim, do primeiro ao último minuto. Os treinadores deram uma bica na tal da cautela, e ambos os times atacavam sem medo de ser feliz.

O Corinthians saiu na frente, com gol do zagueiro Nenê. Alguns minutos depois, Raí, acostumado a ser carrasco do Corinthians, acertou um chute que nem dois Didas seriam capazes de defender. Eu, que já havia ficado muito chateado pelo tanto que Raí judiou do meu time do coração (acho que já deu pra perceber que torço para o Corinthians) em 1991 e 1998, senti um filme passando pela minha cabeça. Estava prevendo o pior.


Para a minha sorte, dois minutos depois, Ricardinho aproveitou um lançamento e colocou o Corinthians na frente de novo. Meu coração estava um pouco mais aliviado, e eu conseguia respirar. Até que Edmílson tratou de empatar a partida, e jogar um banho de água fria na torcida do Corinthians. O frenético e insano primeiro tempo terminou empatado em dois gols, e com muitas alternativas para ambos os lados. Eu tinha certeza que o segundo tempo seria uma loucura. E realmente foi.

Logo no início, Edílson deixou Wilson na saudade, e caiu dentro da área. Pênalti para o Corinthians. Na batida, o jogador que eu mais amei odiar na minha vida inteira: Marcelinho. Bola de um lado, goleiro do outro, e o Corinthians estava novamente em vantagem.

Alguns minutos depois, pênalti para o São Paulo. De um lado, um dos maiores jogadores da história do São Paulo. Do outro, um goleiro gigantesco, que estava pegando até pensamento em 1999. O Resultado? Nas palavras de Cléber Machado, “…Dida, o rei dos pênaltis, pega mais um…”.

Naquelas alturas, eu já estava quase tendo uma parada cardíaca. Teve bola na trave, bola tirada em cima da linha, e tudo mais que os deuses do futebol poderiam preparar para fazer meu coração parar.


Até que quando o jogo estava se aproximando do fim, mais uma surpresa. Desagradável, é lógico. Mais um pênalti para o São Paulo. Eu já achava que aquilo fosse perseguição. Meu coração, desde sempre, nunca foi de aguentar fortes emoções. Tanto que no segundo pênalti, fiquei de costa para a tevê, sabe se lá o motivo, com meu chinelo na mão. E o chinelo foi um personagem importante, já que o monstruoso Dida defendeu o pênalti do gigante Raí mais uma vez, e eu arremessei meu calçado na árvore de Natal, e destruí o adorno que enfeitava a sala da minha casa.

Antes do apito final, Maurício (que substituiu Dida) ainda fez uma grande defesa, garantindo a vantagem para o jogo de volta.

Um jogo emocionante, que consagrou Dida, e de certa forma, foi uma espécie de vingança minha contra Raí, que em muitas oportunidades me fez chorar. Vale ressaltar que o craque são paulino é o rival que eu mais admirei durante minha vida.

A vitória me deixou feliz, é claro. Porém, além dos três pontos e da vantagem para o jogo da volta, quase uma década depois, o que me deixa feliz (e triste) é ver que naqueles dias as torcidas dividiam o estádio, os times se enfrentavam em pé de igualdade, e os craques ainda passeavam pelos gramados.

Um dos dias mais emocionantes e insanos da minha vida. Agradeço aos grandes jogadores que me fazem lembrar daquele domingo como se fosse ontem. Agradeço também, você que leu até aqui, e dividiu essas lembranças comigo.

Um abraço, e até a próxima!

 

 

 

LONGE DO POVO

por Leandro Ginane

A seleção brasileira está há dezesseis anos sem vencer uma Copa do Mundo. Serão vinte anos sem levantar o caneco até a próxima Copa que será realizada no Qatar, em 2022. Desde 1950, o maior tempo que a seleção brasileira ficou sem ganhar um título mundial foi entre 1970 e 1994, quando venceu o tetra nos Estados Unidos.


Os jogadores que ganharam o tetracampeonato sofriam a pressão de vencer um mundial após duas décadas e tinham como sombra seleções que encantaram o mundo, mas não venceram, como o time de 1982 que para muitos foi um dos melhores de todos os tempos. Jogavam o futebol arte, com estilo de jogo que só o brasileiro sabia fazer com maestria, com habilidade e improviso. Curiosamente, para vencer em 1994 a seleção brasileira modificou completamente seu estilo. Rotulada como uma seleção que jogava para não perder, tinha em sua dupla de ataque a única grande esperança de gols. Com grande destaque para o número onze Romário, que foi convocado apenas no último jogo das eliminatórias graças ao clamor popular dos torcedores brasileiros. Na época, dirigentes, opinião pública e a comissão técnica cederam ao desejo do povo.

O tricampeonato mundial e a hegemonia histórica no futebol, impunha àqueles jogadores e a sua comissão técnica o velho bordão: tem que vencer e convencer. Era como se para ser um legítimo campeão, fosse necessário jogar o futebol mais bonito para encantar o mundo, herança das grandes seleções que tinham Pelé, Garrincha e Tostão como jogadores, uma seleção formada em sua maioria por camisas dez.


O desejo pela hegemonia no futebol somada a pressão por um título após vinte e quatro anos, resultou na humildade em entender que para voltar a vencer, seria necessário modificar o estilo de jogo brasileiro, tão aclamado até então. Com um esquema tático que privilegiava a marcação, aliado aos talentos individuais de Bebeto e Romário, a seleção voltaria a se sagrar campeã após duas décadas.

O fato de se tornar campeã mundial pela primeira vez sem o Pelé, tirou um peso enorme das costas dos jogadores brasileiros; e a leveza de ser a atual campeã, fez o futebol brasileiro retornar as suas raízes, conquistando o mundo com títulos e atuações inesquecíveis a partir de então. Após o tetracampeonato, o Brasil participou de mais duas finais de Copa em sequência, em 1998 perdendo para a França e em 2002, quando venceu a Alemanha se tornando o única seleção pentacampeã mundial. Enfim, a hegemonia estava de volta e com ela a seleção passou a viver então uma espécie de síndrome de vira-latas as avessas onde seus jogadores ganharam status de astros globais, sendo premiados como os melhores do mundo em 1997, 1998, 2002, 2004, 2005 e 2007.


Inebriados pelo sucesso e com uma postura arrogante que caminhava junto com a certeza de que o hexacampeonato viria no próximo torneio, jogadores e comissão técnica se afastaram do povo e usaram os treinamentos durante a Copa de 2006 como um verdadeiro show de entretenimento.

O resultado foi a eliminação precoce nas quartas de final para a França, algoz do vice campeonato brasileiro em 1998. Uma grande decepção tomou o país e quatro anos depois, ainda com a arrogância de quem carregava a hegemonia do futebol mundial, a solução adotada foi o isolamento dos jogadores e fechamento dos treinamentos, que resultou em forte crítica da opinião pública. Outro fator determinante que reforça a arrogância, foi o fato de novamente desconsiderar o clamor popular em 2010, que naquela ocasião pedia Neymar e Ganso na seleção, jovens promessas do futebol brasileiro. O resultado foi uma nova eliminação nas quartas de final, agora para Holanda. A tristeza de uma eliminação precoce nas quartas de final deu lugar rapidamente a euforia pela próxima Copa, que seria novamente realizada no Brasil, sessenta e quatro anos depois. Era a chance de reescrever a triste história da Copa de 1950.

A expectativa pelas transformações realizadas em estádios tradicionais, como o Maracanã, que descaracterizou o Maior Estádio do Mundo para que se tornasse uma arena europeizada para disputa da Copa, a empolgação da população brasileira e a trajetória descendente da CBF, diminuiu a importância do trabalho que vinha sendo feito pelas seleções européias, que evoluíram taticamente e importaram ano após ano os talentos sulamericanos


A postura paternalista da comissão técnica brasileira, que apostava em palestras motivacionais para vencer um torneio tão competitivo, resultou na eliminação mais vergonhosa da história da seleção, o fatídico 7 a 1 imposto pela Alemanha em pleno Mineirão, na semifinal do torneio. Enfim, a realidade cobrou o seu preço e expôs ao mundo a fragilidade do futebol brasileiro. O clima no país era de terra arrasada, brasileiros choravam pelas ruas, nunca na vitoriosa história da seleção brasileira, houve uma derrota tão vergonhosa como aquela. Deveria ser o início de uma renovação, mas não foi.

Sem direção e com seus principais dirigentes investigados pela justiça, a CBF optou pelo mesmo técnico derrotado em 2010, uma espécie de técnico fantoche e sisudo que teria como missão colocar ordem e resgatar a reputação da seleção, que aquela altura não possuía mais a hegemonia do futebol mundial e se tornara motivo de piadas em todo o mundo. Obviamente, não conseguiu. Com uma sequência de resultados ruins, foi substituído pelo nome que era consenso entre a opinião pública. Um profissional com capacidade técnica comprovada pelos seus últimos resultados em clubes e imune às críticas, devido a ótima eloquência e o ar professoral em suas entrevistas coletivas, que mais pareciam uma palestra. Os primeiros resultados na eliminatória da Copa foram surpreendentes e novamente a empolgação tomava conta do país as vésperas da Copa da Rússia 2018. Com o novo professor, o Brasil ascendeu no ranking da FIFA e passou a ocupar a segunda posição, atrás apenas da Alemanha, a atual campeã mundial.


O cenário de euforia e certeza deu o tom, as entrevistas da comissão técnica explicavam matematicamente cada decisão tática. Enfim o hexa viria e a hegemonia do futebol era questão de pouco tempo. Mas novamente a seleção foi surpreendida, dessa vez por uma seleção sem tradição que se tornara uma das grandes sensações da Copa da Russia, a Bélgica. Na única derrota em jogos oficiais sob seu comando, o professor unânime entre os especialistas, errou. Com uma escalação equivocada e organização tática que desconsiderou o talento adversário, em apenas 45 minutos o jogo já estava liquidado e mais uma vez a seleção brasileira foi eliminada precocemente da Copa do Mundo. Com a eliminação, não veio a busca por um vilão, como é o costume da mídia e do torcedor brasileiro em Copas passadas. O sentimento também não foi de decepção, o que sugere que o discurso pós derrota do professor apoiado amplamente pela opinião pública foi suficiente para diminuir a dor da perda.

Em 2022, serão vinte anos sem disputar uma final de Copa. É o momento de voltar a escutar o clamor popular e dar oportunidade a jovens promessas. Mas principalmente: criar um diálogo direto com o povo para não se tornar o reflexo das instituições governamentais brasileiras. Chegou a hora de ser crítico em relação a função do futebol na sociedade brasileira e questionar os discursos elitistas e de auto ajuda que tentam esconder a realidade de que o Brasil se tornou um coadjuvante não só no cenário político e econômico mundial, mas também no futebol.

A VOLTA DO “COMPLEXO DE VIRA-LATA”

por Israel Cayo Campos


Em meados dos anos 1950, depois de duas grandes decepções em Copas do Mundo. A fatídica derrota para os Uruguaios na última rodada do primeiro Mundial do Brasil por 2 a 1 e a humilhante goleada para os húngaros por 4 a 2 nas quartas de final da Copa da Suíça de 1954 levaram muitos brasileiros a descrença no futuro do esporte bretão no país. Dentre esses decepcionados, estava Nelson Rodrigues, o reacionário e folclórico ‘multimídia” carioca que a época era uma das principais vozes do jornalismo brasileiro. 

O mesmo, chegara a dizer que o “Maracanazzo” de 1950 tinha sido a ‘Hiroshima brasileira”, em uma melodramática alusão ao ataque nuclear que causou a rendição japonesa para os estadunidenses ocasionando o final da Segunda Grande Guerra Mundial. De fato, a dor de 1950 é sentida até hoje, mas a transformação da tragédia esportiva em uma tragédia humana, mesmo que tenha sido uma alusão surrealista, já denotava os contornos da importância que o futebol tinha para o povo brasileiro. 

Ainda ressentido por 1950 e com a ajuda da derrota de 1954, Nelson cunhou a expressão “Complexo de vira-lata”, que ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, não só se atribuía ao futebol brasileiro, mas abrangia a “inferioridade em que o povo brasileiro se coloca de maneira voluntária, em face ao resto do mundo”. Assim como em nossa sociedade, ao futebol brasileiro segundo Nelson, faltava a autoestima suficiente para que pudéssemos enfrentar de igual para igual os demais povos. Principalmente os europeus.


As raízes de tal expressão são bem mais antigas e racistas do que Nelson Rodrigues, e de fato, ele nunca tal usou essa frase como forma de menosprezo ao povo brasileiro, mas por uma notória observação do senso de inferioridade que seus compatriotas sentiam… No futebol, mesmo que a derrota mais dolorida tenha sido contra um rival sul-americano, o pensamento era de que para jogar contra europeus, os jogadores brasileiros deveriam jogar como europeus, e principalmente, não tremer… 

Aproveitando-se de tal pensamento, muitos atrelaram ideais racistas ao futebol brasileiro. Como disse o escritor Fábio Mendes em seu livro “Campeões da Raça”, era natural se ouvir dos radialistas, escritores e do público em geral que os jogadores negros “amarelavam” exatamente nos jogos decisivos. Era o Complexo de Vira-lata tomando um aspecto não motivacional, mas preconceituoso. 

Tamanha era a certeza que os jogadores negros não tinham capacidade de enfrentar os europeus, que uma seleção brasileira pós Copa de 1954 foi chamada apenas com jogadores brancos. Alguns como o jornalista Vital Bataglia alegam que por desejo do então técnico Flávio Costa, Já outros, como o jornalista e ex-técnico João Saldanha, alegam que essa decisão partiu da cúpula da extinta CBD, a época gerenciada por João Havelange. Sendo indefinido saber de quem era o desejo de uma seleção brasileira “ariana”, o fato é que ela fracassou em seus amistosos na Europa. Mantendo firmemente a ideia de que futebolisticamente, sentíamos o peso da inferioridade de nosso povo tendo como pano de fundo os campos de futebol.


Foi preciso chegar o ano de 1958, na Copa do Mundo da Suécia, uma Copa no continente europeu, para que o complexo de vira-lata futebolístico tivesse o seu fim. E curiosamente ou não, com uma seleção miscigenada.Que só passou a jogar um grande futebol a partir da terceira partida contra o time científico da União Soviética. Quando o técnico Feola resolveu apostar no índio Garrincha, no caboclo Vavá e no negro Pelé. Aliados ao já titular Waldir Pereira, o Didi (também negro), a seleção brasileira seguiu rumo ao primeiro título mundial, dentro da Europa, e a certeza de que o tal complexo “inventado” por Nelson Rodrigues chegara ao fim. 

Em 1962, o bicampeonato, e a partir daí, pelo menos no futebol, o complexo de inferioridade se inverteu, não eram os brasileiros que tremiam diante dos europeus, mas sim o contrário. Ao ver a camisa amarela, tremiam o italianos na final de 1970, corriam de medo os alemães ocidentais, que perderam o jogo para seus vizinhos orientais em 1974 apenas para não enfrentar o Brasil, já era certo o tetracampeonato em 1978 se não fosse a “entregada” que o Peru deu para os Argentinos os colocando na final contra a Holanda. Mesmo quatro anos antes, o Brasil tendo sido derrotado pela mesma Holanda, era certo que se não fosse o roubo argentino, venceríamos os mesmos na final daquele mundial… O complexo de vira-lata não só se invertia, como simplesmente tomava proporções extremas, pois ninguém era melhor que os brasileiros! 


Claro, algumas decepções vieram… A derrota para os italianos em 1982, uma tragédia inesperada do melhor futebol do mundo… A derrota para os franceses nos pênaltis em 1986, pura falta de sorte… A derrota para os argentinos nas oitavas de final em 1990, culpa do esquema tático de Sebastião Lazaroni! E assim seguimos, mesmo com um jejum de vinte a quatro anos de títulos mundiais, continuamos a nos auto afirmarmos o melhor futebol do mundo, e todos os outros que tremam diante do poder do futebol brasileiro! O titulo de 1994 novamente sobre os italianos, e o pentacampeonato em cima dos alemães reforçaram ainda mais o peso da camisa amarela sobre os europeus.A derrota pra França em 1998, há, essa foi culpa da convulsão de Ronaldo e da não convocação de Romário… Nunca somos superados, a não ser por nós mesmos! 

Após o mundial do oriente as coisas começaram a mudar. O futebol europeu passou de vez a levar todos os nossos ótimos, bons, médios e até ruins jogadores. Começaram a se organizar, o futebol se tornou ainda mais um produto global, e a Seleção brasileira, formada praticamente por jogadores que atuam fora do país, a grande maioria no futebol europeu, passou a perder sua essência de superioridade sobre as demais seleções. Superioridade essa conquistada não só pelos cinco campeonatos mundiais, mas também pelo próprio subconsciente do brasileiro, e da ideia de que somos o país do futebol. 


Desde então se tornou comum vermos muitos brasileiros acompanhando mais times europeus do que os nossos. Campeonatos de clubes e seleções europeias que antes a TV aberta não queria nem de graça passando em horário nobre. E dando mais audiência do que os jogos locais! Perdemos nosso estilo de futebol, nossa superioridade, e passamos a querer imitar os europeus em tudo: Tipo físico, esquemas táticos, movimentação, treinamentos… Enquanto isso a técnica e habilidade do jogador brasileiro aos poucos vem sendo suprimida por um estilo único de jogar um esporte tão multifacetado… O espirito do vira-lata voltou… 

Em Copas do Mundo desde então, o futebol europeu, mesmo aquele que considerávamos de segunda linha, se agigantou sobre o nosso. Nas últimas quatro Copas foram quatro derrotas em fases eliminatórias (França, Holanda, Alemanha tomando de sete e agora Bélgica), dois empates em fase de grupos (Portugal e Suíça) e três vitórias também na fase de grupos apenas contra seleções da extinta Iugoslávia (duas vezes sobre a Croácia e uma sobre a Sérvia). Até Seleções não europeias tem dado profundo trabalho ao Brasil. Chile, Colômbia, Costa Rica e México andam vendendo caro suas derrotas ao esquete canarinho. E nas nossas cabeças apenas o fim da ideia de que somos os melhores do mundo. E que diante dos europeus, mesmo que seja a pequena Bélgica, com uma área inferior ao Estado do Rio Grande do Norte, hoje somos inferiores. 


Mesmo com os torcedores inflamados ainda a insuflarem que somos os maiores vencedores de Copas do Mundo, o Brasil dentro dos gramados vem demonstrando o renascimento do complexo de Vira-latas, tremendo diante dos franceses em 2006, mesmo com um esquadrão que muitos dizem ser o único a poder rivalizar com a Seleção de 1970. Perdendo em 2010 para a Holanda, quando estava com o jogo sobre controle. Perdendo o controle em 2014 ao enfrentar os alemães, simplesmente sofrendo sete gols dentro de casa. E se desorganizando diante da Bélgica, que até então era considerada apenas a nova ‘Dinamáquina’ de 1986… 

Nos próximos dezesseis anos, o Brasil continuará a sofrer com o retorno do “complexo do vira-lata”. Principalmente por esquecer como é que o futebol brasileiro joga, e cada vez mais imitar o estilo de jogo europeu, assim como foi em meados dos anos 1950, quando Nelson Rodrigues resgatou do contexto histórico para os campos de futebol a referida patologia… Torcemos para que no Catar em 2022, surjam novos “Didis”, “Garrinchas” e “Pelés” para que os europeus não nos aterrorizem mais, e que o Complexo de Vira-lata possa voltar para o local que lhe é devido, as histórias do folclore futebolístico nacional. 
 

FUTEBOL PRETO E BRANCO

por Marcos Vinicius Cabral


Após ser eliminada na Copa América Centenário, disputada nos Estados Unidos em 2016, havia um temor nos brasileiros dos quatro cantos do país em ver o Brasil fora de uma Copa do Mundo, pela primeira vez em sua história.

Eis que surge Adenor Leonardo Bachi, ou melhor, Tite, que pega uma equipe desacreditada e a classifica para a Copa do Mundo da Rússia.

De lá pra cá, criou-se uma expectativa por seu trabalho à frente da Seleção Brasileira, iniciado naquele junho de 2016, quando o Brasil ocupava a sexta colocação nas Eliminatórias.

Com 41 pontos, o time brasileiro terminou em primeiro lugar com 10 pontos a mais que Uruguai e 13 da Argentina, garantindo com folga o passaporte para a o Mundial da Rússia.


Enfim, o sonho do hexa estava brilhando como o sol no horizonte e (quase) tudo conspirava a favor de Neymar e Cia.

Mas o comandante da nau verde e amarela cometeu alguns equívocos que poderiam ser evitados.

Um deles foi em não ter um líder, pois com esse rodízio desnecessário da braçadeira de capitão, o time ficou órfão daquele jogador que chamava atenção de todos quando necessário.

Assim como foram o “Capita” em 1970, o Dunga em 1994 e o Cafú em 2002.

Os outros foram não ter barrado Gabriel Jesus, ter voltado com Marcelo na lateral, não ter colocado Douglas Costa de cara contra a Bélgica e ter mantido alguns jogadores mesmo mal, demonstrando um paternalismo nojento.

Porém, se fomos tricampeões em 1970 com um Pelé já consagrado, o tetracampeonato veio num hiato de 24 anos ou 5 Copas do Mundo depois (1974, 1978, 1982, 1986 e 1990).


Já com a famigerada “Família Scolari”, conquistamos o pentacampeonato em um Mundial pobre tecnicamente falando.

Pois bem, já estamos há 16 anos sem o tão sonhado hexa ou 4 Copas do Mundo fazendo vergonha (como esquecer dos 7 a 1 para a Alemanha em casa, em pleno Mineirão?).

Num país em que grandes jogadores parecem brotar do chão e que já teve, e ainda tem, craques de primeira linha, soa estranho creditar a um treinador o fracasso e a recuperação da seleção brasileira. 

Mas vai ser exatamente isso o que vai acontecer. 

E com rapidez surpreendente. 

Contudo, independente de ter escalado bem ou mal, o treinador merece continuar no cargo.

Desde a estreia, com um contundente 3 a 0 sobre o Equador, em Quito, no dia 1º de setembro de 2016, pelas Eliminatórias da Copa, o Brasil voltou a ser Brasil.

E espero que daqui a pouco – quatro anos passam rapidinho –  voltemos a nos sentir e não apenas desejar o hexacampeonato.

E O ÓBVIO OCORREU

por Ivan Gomes


A eliminação do selecionado da CBF da Copa da Rússia nas quartas de final perante a Bélgica não foi surpresa alguma para quem acompanha futebol no dia a dia. Sabíamos que o grupo convocado para disputa não passava de um time comum e sem apresentar um futebol envolvente. O Brasil foi só mais um na Copa. A eliminação não ocorreu antes pois o grupo da primeira fase era muito, muito fraco e nas oitavas pegou um time mexicano que joga no mesmo nível dos adversários anteriores.

No primeiro teste com uma equipe preparada, o time dirigido por Tite sucumbiu. Ao menos desta vez, não houve o vexame ocorrido há 4 anos na semifinal contra a Alemanha, o famigerado 7 a 1. Mas faltou futebol, muito futebol.

Talvez o que o Brasil e outras seleções sul-americanas precisam fazer é retornar ao futebol raiz. Nunca seremos europeus, eles que usem as táticas, os sul-americanos precisam voltar a ter orgulho de vestirem as camisas de seus países, jogarem com raça, vontade. O brasileiro precisa voltar a usar o que sabe melhor, o improviso, o drible.

Precisamos parar de apenas dar créditos somente aos atletas que desempenham suas funções em solo europeu. Esse lance de experiência mostra que não é fundamental para uma conquista. O fundamental é o atleta ser o que ele é e ter capacidade para desempenhar sua função da melhor maneira possível. É preciso parar de jogar a responsabilidade para um único atleta. É preciso parar com o ufanismo ignóbil de parte da imprensa.


Após a eliminação, só nos resta torcer para uma profunda mudança na estrutura do futebol brasileiro. O que precisamos é de uma direção séria, feita por pessoas que conhecem e gostam de futebol, que compreendam que o futebol é de todos que são apaixonados por ele e não de meia dúzia que somente pensa em faturar.

Talvez um dos primeiros passos seja a manutenção do comando técnico, deixar Tite trabalhar e montar uma equipe para futura disputa. Claro que seleção não é como clube, mas é preciso tentar. Mas, como dito anteriormente, além do Brasil, os sul-americanos precisam voltar a ser sul-americanos. A “europeização” sempre fez e sempre nos fará mal.