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Brasil

O SUL, DE NOVO

:::: por Paulo Cezar Caju ::::

O gol foi de mão? Meteram a mão no Brasil, CBF? Vocês estão achando injustiça, dirigentes corruptos? Dói, né? Há tempos essa reclamação é nossa, é do povo brasileiro. Metem a mão no Brasil diariamente e o único que sofre é o povão, mas dessa vez não houve sofrimento, não, quase nenhum. Estamos vacinados contra a inércia da CBF, que nada fez desde os 10 x 1 juntando as goleadas de Alemanha e Holanda.


Tite se reuniu ontem com a CBF (Foto: Reprodução)

Que moral a CBF tem para reclamar de um gol de mão? O Dunga não vai mais para as Olimpíadas? Jura? Ah, é o Tite? O Sul de novo? A mesma escola, a mesma retranca, o mesmo “jogo de resultado”? Não dá para inovar, ousar, sair dessa mesmice, CBF? Volta aquele discurso estudado, o terno engomado e a criatividade zero? O Tite deve estar em alta, né? Afinal perdeu do Palmeiras no último fim de semana, não classificou o Corinthians para a Libertadores, perdeu o Paulista. Mas ele deve ser bom de Olimpíadas e Eliminatórias.

É CBF, é empresários de jogadores, essa vitrine, esse balcão de negócios que virou a seleção, não consegue nos surpreender, hein! Elias e Renato Augusto, jogadores apáticos, podem ficar tranquilos porque o Tite gosta de vocês! Alôôôôuuu, vocês estão vestindo a camisa da seleção brasileira!!!! Sabem o que isso representa???

Aí, ao lado, um torcedor indignado solta o verbo: “como o Brasil perde para o Peru, uma seleção que tem o Yotún, barrado no Vasco???”. Kkkkkkkkkkkk!!!!!! Verdade!!!! Não resisti e tive que explicar para ele o óbvio: porque nossa seleção é formada por vários Yotúns, Yotún goleiro, Yotún lateral, Yotún atacante e Yotún treinador!!!! Yotún, mil desculpas pelas comparações!!!!

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 15 de junho de 2016


NOS ILUMINE, DIDI!!!


Contra o Peru, Didi apresentou a folha-seca ao mundo, aquela batida de falta, venenosa, sobre a barreira. Depois, foi contratado para ensinar sua arte aos peruanos e os classificou para a Copa de 70. Antes, inovávamos, surpreendíamos, ensinávamos, brincávamos de jogar futebol. O próprio Didi criou a expressão “jogar bonito”. Nos ilumine, Didi!!!!

AS DERROTAS

Por Zé Roberto

Esta manhã eu devo ao futebol. Derrotado no Fla x Flu que se tornou a batalha do Golpe x Impeachment, pelo placar que não sei quanto foi, pois quando deu no telão 100 x 26 retirei minha torcida de campo (o torcedor cobra criada já sabe o “time” de quando a vaca foi para o brejo) e deveria ficar escondido em casa, pelo menos durante 24 horas,  evitando as provocações. Ainda mais que meu Fluminense também perdeu a Taça Guanabara e com um peteleco daquele do Riascos. Mas estou competindo desde os dezesseis anos.


Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

Perdendo, empatando ou ganhando, dia seguinte tinha que descer do apartamento, ir ao jornaleiro e enfrentar nas bancas as críticas. E eram sempre os mesmos comentários: vencendo, um jogador moderno, polivalente, presente em todos os lados do campo. Perdendo, um peladeiro, perdido em todos os lados do campo. O caixa do banco com quem pagava segunda-feira as contas em Campos, quando defendia o Americano, me recebia com a cara do resultado. Não sabia o valor da conta da luz, mas dos seus comentários sabia de cor. “Tá feia a coisa, hein! Tem que tirar o treinador!”. Ou: “Maravilha, se continuar assim seremos campeões cariocas!” Menos. Mas era assim. Irrefletido, efêmero, pueril. Como o futebol. Como a política.

Aprendi com o futebol, não com minhas segundas-feiras tristes como esta, mas com o passar dos anos, que evoluímos muito mais nas derrotas do que nas vitórias. Quando ganhamos, a euforia momentânea nos eleva a patamares não alcançados e imerecidos. Com o vestiário cheio, dezenas de entrevistas aos repórteres, tapinhas nas costas de dirigentes de todos os lados, ficamos sabendo que a reapresentação não seria mais na segunda. Fora remarcada para terça à tarde, onde muitos se apresentariam de chinelinhos. Não havia crise, o clima era bom, o treinador fora mantido e com o bicho pela vitória levaríamos a patroa a jantar fora. A missão estava cumprida.

Mas nas derrotas, ficávamos sabendo que dia seguinte teríamos que nos apresentar para uma longa preleção. Nela, nossas falhas seriam analisadas, posicionamentos corrigidos, uma cobrança maior de envolvimento, treinamento, alimentação. Depois, o preparador físico nos levava para a pista para aprimorar a forma física, caprichar nos passes, bater melhor um escanteio. Depois de 17 anos de bola, você aprende: as derrotas nos ensinam e nos preparam muito mais ao longo da nossa carreira. Se vivêssemos ganhando, desfilaríamos hoje pelas nuvens, não pelas ruas. Nos acharíamos “os caras” na totalidade do ser, não viveríamos a aperfeiçoar nossas caras, almas, posturas e coração a tentar ser um cidadão, um político, um jogador, melhor.

Então, levantei a cabeça cheia, saí hoje cedo pelas ruas e me apresentei ao trabalho às 8h desta manhã. Vou ouvir do treinador sobre os passos que erramos para alcançar a governabilidade. Para obter a maioria no parlamento e aprovar o Bolsa Família, nos aliamos a quem praticava um futebol diferente do nosso. Vencemos uns dias, mas corremos o risco de sofrer as falhas de uma frágil zaga formada por Cunha e Temer. E, de goleada, nos levar a uma derrota que talvez nos tire de vez do campeonato Brasil Rico é País sem Pobreza. 

REGISTRO DE PATENTES NO FUTEBOL

Por Serginho5Bocas

Se no futebol existisse um órgão nos moldes do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), provavelmente o Brasil seria o líder de patentes. Até que me provem o contrário, foi por essas bandas que se viu pela primeira vez a maioria das jogadas e gols mais espetaculares que o planeta já se encantou.
 
Para começar a conversa vou falar de uma jogada que é mal vista pelos torcedores, mais teve seu maior executor aqui no Brasil, o “chute de bico”, especialidade do jogador Feitiço, que sabia tanto desta técnica que até o “sem pulo” era dado com esta parte do pé sem nenhum pudor, segundo o mesmo, para pegar mais força e precisão. Não dá para afirmar que ele inventou as duas jogadas, mais ninguém fez mais gols deste tipo do que Feitiço, atacante do Santos.
 
A famosa “bicicleta”, que alguns dizem ter sido inventada pelo desconhecido jogador brasileiro Petrolino de Brito, foi imortalizada e ganhou fama de verdade nos pés do homem borracha, o Diamante Negro ou Leônidas da Silva, que apresentou a jogada em 1932 ainda pelo Bonsucesso. Mas foi na Copa de 1938 que ele deixou todos espantados ao executar a jogada e ter feito um gol anulado equivocadamente.
 
Didi, o mestre, o mister futebol, melhor jogador da Copa de 1958, foi outro que se notabilizou pela classe e categoria e é claro pela sua invenção, a “folha seca”. Didi cobrava a falta da entrada da área com um chute em que a bola subia por cima da barreira e caia rapidamente cheia de efeito enganando os goleiros.
 
Rivelino, o “Reizinho do Parque”, foi o rei do “elástico”, aquela jogada em que ele levava a bola para um lado com a parte externa do pé e quando o adversário se movimentava para o lado indicado, ele trazia a bola de volta com a parte interna, enganando o marcador. Ele mesmo confessa não ter inventado a jogada, mas sim Sergio Echigo, um companheiro de clube. Mas foi Riva, certamente, quem apresentou o lindo drible para o mundo do futebol.

O rei Pelé não ficou famoso por ter inventado uma jogada especificamente, mas sim pelo conjunto da obra, ou seja, porque aperfeiçoou várias delas. A bicicleta do rei era a perfeição, sua cabeçada era primorosa e precisa, desde a subida, depois a testada seca de olho aberto e quase sempre em direção ao chão, dificultando a vida dos goleiros. Entretanto, foi na Copa de 70 que Pelé se superou, exibindo jogadas inéditas, tiradas da cartola, que tiravam o fôlego de quem o via em ação.
 
Seu quase gol num chute do meio de campo contra a Tchecoslováquia foi fantástico, seu drible sem bola no goleiro do Uruguai foi fenomenal, espetacular e ainda contra o mesmo Uruguai, Mazurcwieviski bate o tiro de meta e sem deixar a bola bater no chão, Pelé devolve de voleio, obrigando o goleiro a uma defesa inesperada. Sem falar da cabeçada de manual que obrigou a Banks fazer a maior defesa da Copa de 1970. Até quando Pelé não fazia o gol era belo, o criador e suas criaturas podem ser vistas no Youtube.

Tivemos ainda a felicidade de ver o surgimento de uma das mais belas jogadas conjuntas do futebol, a “tabelinha”, que teve em Pelé e Coutinho sua mais famosa combinação de todos os tempos. Os dois enfileiravam adversários com suas tabelas em alta velocidade e eram tão parecidos fisicamente e em termos técnicos que confundiam qualquer defesa. Falcão e Escurinho também fizeram uma “tabelinha” histórica na semifinal do brasileiro de 1976 contra o Atlético Mineiro, coisa de almanaque.

Sócrates consagrou a jogada de “calcanhar”, até gol ele marcou desta forma, era uma saída inteligente para as situações mais difíceis. Zico, seu grande parceiro, já no final da carreira fez um gol “escorpião”, uma “chilena” com o corpo paralelo ao solo, pelo Kashima Antles. Lance que seria quase impossível contar para um cego, como bem definiu o uruguaio Eduardo Galeano.

Bater na bola de “três dedos”, de “rosca” ou mesmo de “trivela”, provavelmente foi Nelinho que “patenteou” a jogada de mestre. Imprimia uma qualidade na batida, que misturava força e efeito sem precedentes, enlouquecendo os goleiros pelo mundo afora. Neste quesito, no entanto, tivemos ainda dois vice-reis: Eder e Marcelinho Carioca não deixaram a desejar.
 
E quem é que não lembra da “lambreta” que Kaneco, o ponta do Santos, imortalizou e é copiada até hoje como um dos mais sensacionais dribles do futebol, que o diga o cracaço Falcão do futebol de salão.


Vestindo a camisa do Real Madrid, Zidane aplica seu drible característico.

Vestindo a camisa do Real Madrid, Zidane aplica seu drible característico.

No exterior, para não dizer que não falei das flores,  vale citar a “cavadinha” de Panenka da Tchecoslováquia que valeu título na final da EuroCopa de seleções de 1976, bem copiada por Djalminha e Loco Abreu mais recentemente. Destaca-se também a a “carretilha” ou em francês “roulete” de Zidane e o antológico gol “olímpico” feito de uma cobrança de córner direta, que o craque sérvio Petkovic adorava realizar. Dizem que um jogador argentino chamado Cesáreo Onzari fez o gol na celeste uruguaia logo após eles terem conquistado o ouro nas Olimpíadas, daí a fim de ironizar os rivais uruguaios, surgiu o nome de batismo da jogada.
 
Foram muitas as jogadas inventadas sem que pudéssemos conhecer o autor de cada proeza, belas artes como o famoso “drible da vaca” que pontas e laterais adoravam utilizar pelos flancos dos campinhos de pelada e o que falar então da plasticidade de um belo “lençol” ou da suavidade de uma “caneta”?
 
Muitas foram as jogadas maravilhosas que fizeram o futebol brasileiro se distinguir no mundo com sua arte peculiar, que encantou as mais exigentes plateias e por este motivo deixou um legado aos fãs do futebol arte em todo o mundo. Mas por incrível que pareça, tem muito brasileiro tentando desvirtuar nossas raízes, mas estou certo que eu e muita gente resiste bravamente, defendendo esta escola maravilhosa e fundamental para a pratica do bom futebol.
 
Daí o motivo desta singela homenagem a este esporte que sou apaixonado e não canso de admirar, mesmo que em outras praças…

A CONVOCAÇÃO

Por Sergio Pugliese

– Faltam quantos pra fechar, Hugo? 
– Oito. 
– Não é melhor sair ligando pro pessoal? Feriado é fogo! 
– A lista tá aqui. 
– Fala, Xanduca, tá chegando? Chegando em Maricá??!! Pirou? Não ouviu o que o Eduardo Paes falou sobre Maricá?
– Ah, você tem alma de pobre? Deve ter mesmo porque está devendo dois meses de mensalidade. 
– Desligou na minha cara, Hugo. Esse pessoal não gosta de bola. No último feriado fui para a Itaipava, olha o nível de lugar, desci para jogar e voltei. Vou tentar o João…
– E aí, João, só faltam dois pra fechar, tá vindo? Tá em Iguaba??!! Tá maluco? Hugo confere aí se Iguaba está na lista do prefeito.
– Está não, Sizinho.
– Mas devia porque está atrapalhando nosso quórum. 
– Mas, João, o que está fazendo aí? Foi chamado para um amistoso entre Casa dos Parafusos e Pneus Toinho? Nos trocou por essa depressão?
– Desligou….
– É, Sizinho, não existe mais fidelidade partidária….
– Pirou, Hugo, não mistura futebol com política.   


João Perdigão, no condomínio Vila Branca,  quando trocou a pelada oficial por um amistoso

João Perdigão, no condomínio Vila Branca,  quando trocou a pelada oficial por um amistoso

– Liga pro Carlito, então, está duro e não deve ter viajado.
– Fala, Carlito! Corre senão vai ficar fora da primeira, hein! O que, tá em Paquetá!!?? É diversão ou castigo? Cuidado com os pedalinhos, hein! Caramba, nosso grupo tem um péssimo gosto pra viajar. O Eduardo Paes nunca jogaria conosco..
– Tá feia a coisa, hein Sizinho! Tem o celular do Sergio Maluco? Não tá aqui na lista.
– Não tá porque ninguém liga pra ele. Não vamos começar com apelação. A hora é de manter a calma.
– Mas estamos precisando de aliados…..
– Aliados? Lá vem você de novo misturando os canais. 
– Você também falou em pedalinhos….
– Verdade, esquece. Apesar de o Sérgio Maluco estar mais para black bloc porque da última vez mandou dois para o hospital, vou ligar.
– Fala, Serjão! Saudade!! Tá faltando um zagueirão do seu nível! O que, traçou uma feijoada agora? Então, vem vindo devagarzinho para fazer a digestão. Claro que joga a primeira!!! 
– Ferrou, ele vem. 
– Chegou o Tico, faltam sete! 
– E os goleiros? 
– É mesmo. Vou tentar o Neneca. E aí, frangueiro, cadê você? Virando laje? Aproveitando o sol? Peraí, sol é pra jogar bola, curtir uma praia, mas levantar laje é o fundo do poço. 
– Outro com alma de pobre que não vem. Essa pelada está povão demais, é Iguaba, é feijoada, é laje…. 
– Tenta o Kayron!
– Chegou o Soninho!!!! 
– Faltam seis. Vai ter jogo, sim. O pessoal tá chegando aos poucos. 
– O do Kayron tá fora de área. 
– Vamos ter que ir de Franz mesmo, hein! – Vamos esperar um pouco. Sérgio Maluco, Franz, aí é quase um golpe. 
– Mas é bom garantir, né! Eu não quero ir pro gol. Vai, liga! 
– Franz, cadê você, amigão? Não vem levar meus gols hoje? Como é que é, você tem vindo e não tem jogado? Injustiça, mas hoje é um bom dia. Estamos reformulando o partido, quer dizer, o grupo. Pega o material e vem logo. 
– Não falei que ele vinha. 
– Com esses incautos a gente pode contar. Ficam ao lado do telefone esperando tocar. 
– Chegou o Menino Lobo! Só falta um goleiro, então. 
– Não. Esqueceu que o Franz confirmou?
– Faltam seis ainda. Dá mais umas ligadas, aí, mostre o nosso poder de mobilização. 
– Limão? Fala, triturador, cadê você que não chega? Tá descendo do táxi com o Naná? Boa! De carniceiros não precisamos mais!
– Faltam quatro. 
– Chegou o Romeu! Vai ter um goleiro a mais…. 
– Liga logo pro Franz e avisa que não precisa mais vir. 
– Caramba, fora de área…. 
– Esse desespero de ficar ligando dá nisso. 
– Chegou o Camilo! O Bacana! 
– A pelada vai ser boa! Vamos começar a aquecer. Agarra lá, Menino Lobo!
– Chegou o Hugo! O Richa! Fechou!!! Divide logo os times, rápido antes que o Franz e o Sérgio cheguem!!!! 
Com os times prontos para dar a saída, aparece Franz, uniforme impecável, luvas brilhando, camisa pra dentro, cheiroso. Em seguida, esbaforido, suando, ainda sob efeito da feijoada, chega Sérgio Maluco. Todos os presentes eram mensalistas. E mensalista, como se sabe, não dá a vaga nem pro Moro. 
– O que falamos para eles, Sizinho?
– Ué, você não estava falando como político o tempo todo? Quem mandou eles acreditarem em nós?
– Vim correndo só porque vocês chamaram, hein – resmungou Franz. 
– Eu também – emendou um desconfiado Sérgio Maluco. 
Cláudio Cachaça, torcedor símbolo, tentou amenizar. 
– O segundo turno, quer dizer, a de fora vai ser boa! Tem vocês dois e tá chegando o Fernando (uma espécie de Tiririca do futebol).
– Isso é falta de respeito – insistiu Franz. 
Mas a bola estava rolando e não havia mais o que ser feito. Franz e Sérgio Maluco, bicudos, mas resignados, ficaram fora da primeira mais uma vez.
Brasil!!!!!!!!