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Bragantino

MENOS, CLAUDINHO

por Zé Roberto Padilha


Você não sabe, menino, o tamanho do vazio que a camisa 10, e seus protagonistas, deixaram no imaginário da gente.

No auge do futebol-arte, nas décadas em que o mundo se colocava aos nossos pés, só tinha direito de vestir a camisa com o mesmo número de sua majestade quem era diferenciado.

Goleiros defendiam, zagueiros marcavam, o cabeça de área protegia, pontas abriam e os centroavantes definiam. Era sempre assim.

Mas quando a bola alcançava os pés do Zico, do Eduzinho, Falcão, Ademir da Guia, Roberto Rivelino, Tostão, até alcançar Ronaldinho Gaúcho, a magia surgia daquela vestimenta sagrada.

Tiravam da cartola uma cavadinha, um elástico, uma caneta, uma paradinha na cobrança do pênalti e até bicicletas. Eles garantiam as nossas gratificações porque atraiam às bilheterias milhares de torcedores.

Bons jogadores como eu, Mario Marques, Arthurzinho, Paulinho, até o Zinho, que éramos 11 ou 8, só tínhamos direito a colocar a 10 nas equipes que defenderíamos no final da carreira.

De repente, em meio à escassez, que possibilitou aos repatriados Diego, Hernandez e Nenê voltarem a vesti-la, quando desembarcaram de volta sonhando com a 8 ou 16, surge no Bragantino uma revelação.

E todos nós, as viúvas saudosas, viramos nosso olhar ansioso para vê-lo jogar. Contra o Fluminense, ajeitamos a poltrona, colocamos vinho na taça e nos preparamos para apreciar sua genialidade.

Na minha opinião, você merecia era uma coça. Se seu treinador fosse cascudo, não um inseguro Barbieri, você nem voltaria para o segundo tempo. Enquanto seus companheiros se matavam, você dava uma letra e errava. E mesmo não acertando nenhuma, dava outra letra e errava.

E aos 43 do segundo tempo, em meio a busca desesperada do Fluminense pelo empate, fez outra gracinha no meio campo, roubaram sua bola e igualaram a partida dentro de sua casa.

Menos, Claudinho, filigranas inúteis e mais jogadas talentosas eficientes à frente. E respeito pela entrega dos seus companheiros.

Palavras de quem torce para que você jogue tudo o que disseram. Palavras de quem jogou ao lado do Gerson, do Zico e do Rivelino e aprendeu de perto uma máxima:

A arte é tão simples quanto sublime. Mas a ela só terão acesso os humildes.

BRAGANTINO 1989/1991

por Marcelo Mendez


Naquele sábado eu fui para Bragança Paulista em uma missão que me parecia tão somente protocolar.

Era o ano de 1989 e o meu Palmeiras havia varrido com todo mundo no Campeonato Paulista daquele ano, venceu uma Taça dos Invictos com 23 partidas sem perder, se classificou em primeiro lugar, nos quadrangulares caiu num grupo formado pelo décimo primeiro e o Décimo segundo e tudo parecia muito bem até que, chegou o dia de ir pra Bragança.

Da janela do ônibus eu vi um estádio pequeno, meio apertado, completamente abarrotado e em campo um primeiro tempo que vinha sendo nosso até que um tal de Almir abriu o placar. Depois Zé Rubens e depois Galo. Incrível 3×0 que tirou o meu time, o melhor do Paulistão.

Foi a pior forma para mim, o jeito mais dolorido de conhecer o timaço de hoje.

Com vocês, Bragantino de 1989/1991 em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO

INTERIOR FORTE

No final dos anos 80, o interior estava em ascensão em São Paulo.


Uns anos antes a Inter de Limeira já tinha conseguido um título, o São José, do artilheiro Toni e do atacante Tita, chegaria para o decidir título e agora, em 1989, surgia um time de preto e branco em Bragança Paulista. De lá pouco se sabia. Apenas que tinha um patrono, o poderoso Nabi Abi Chedid, um técnico talentoso, jovem e vibrante de nome Vanderlei Luxemburgo e a partir daí veio a montagem de um time poderosíssimo.

Astuto e ligeiro, sem gastar muito, Nabi saiu pelo interior recrutando a rapaziada. Primeiro, foi na cidade próxima em Campinas e de lá veio com um pacote do Guarani. O Zagueiro Nei, o goleiro Marcelo, o volante Mauro Silva, Sousa, Ivair vieram para formar o timaço. Do Fluminense, João Santos, Franklin, da Lusa o experiente Luis Muller e do Rio, os craques Tiba e Mazinho. Era essa a estrutura do time que faria história naquele começo de década no Brasil.


Marcelo, Gil Baiano, Nei, Junior e Biro Biro na zaga. Mauro Silva, Ivair, João Carlos e Alberto na meiuca; Mazinho e Tiba. Esse foi o time base que conseguiu um título paulista numa decisão inédita contra o Novo Horizontino em 1990, que se firmou para disputar um ótimo Brasileirão em 1991.

Naquele ano, a Lingüiça Atômica de Bragança chegou a final do Campeonato Brasileiro de 1991, sendo batido pelo São Paulo de Tele Santana.

Claro que quando falamos de um grande time, nunca é legal a gente terminar falando de um vice. Acontece que aqui, em ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO, muitas outras coisas valem além do titulo que se conquista. O Bragantino ousou estar num lugar que diziam não ser o seu. E é essa ousadia que aqui homenageamos.

Grande Bragantino 1989/1991

ODE AO POVO DE DIADEMA NO OUTONO DE LÁGRIMAS NO INAMAR

por Marcelo Mendez


Água Santa x Bragantino…

Essa é uma história que começa a partir de um terço de contas envolto nas mãos de Eunice, que em uma tarde de outono saiu de sua casa para orar em um campo de futebol.

No estádio do Inamar, ela não rezou por fortunas, milhões nem nenhum intuito que fosse nababesco. Eunice queria menos, quase nada ou bem pouco; Pedia por todos os santos de suas mais puras crenças, que todas as luzes do sagrado abençoassem o seu Água Santa para que conseguisse dois gols de diferença.

A história que essa matéria vai contar fugirá, portanto, do caminho das soluções fáceis que surgem quando se contam os fatos a partir da versão de quem vence. Aos vencedores meus parabéns. Ao Água Santa, a história…

A Volta da Caravana do Barato…

Era um jogo de futebol.

Após perder em Bragança por 1×0, o Água precisaria de dois gols para reverter a vantagem ou, senão, ir para a roleta russa dos pênaltis. Minha vida de repórter acompanhava isso tudo com certa distância até que um bocado de mensagens da torcida dos Aquáticos, torcida organizada do Água Santa, foram endereçadas ao Abcd Maior pedindo pela minha presença na cobertura do jogo. Me emocionou e me comoveu enormemente. Fui…

Ao contrário das outras vezes quando fomos para Bragança e Rio Claro, dessa vez a matéria não seria longe.

O jogo foi no Inamar lotado, em uma tarde indecisa entre fria e agradável. Fui então às arquibancadas de concreto do distrital da cidade para acompanhar a luta do Água rumo ao acesso da Série A do Campeonato Paulista.

Era a versão caseira da nossa Caravana do Barato de novo na pista…

A Chegada…

Na chegada na arquibancada teve até coro de boas vindas:

“Não adianta, o Bin Laden (Eu, no caso…) é Água Santa! Não Adianta, o Bin Laden é Água Santa”

Dei risada, abracei aos vários, reencontrei os amigos de aventuras passadas, Luan, Jefferson, Rafael, Caíque, Edi e foi tudo muito carinhoso, muito bom. Em meio à boa conversa, amendoins e outros mimos oferecidos a mim o jogo começa e então vêm as coisas mágicas que o exercício de torcer nos propicia.

Corações aos galopes, olhos vidrados, mãos juntas, os pagãos abraçados com os que creem, unidos pelo intuito mágico de querer ver a rede balançar. As coisas demoram, o primeiro tempo seguia duro até que aos 45 minutos do primeiro tempo, Willian Batoré empurra a bola para o fundo das redes.

Gol do Água Santa, festa dos meus amigos! E a vocês que me leem aqui vos afirmo:

Nada do mundo é mais divino do que sair de seu sofá, para sentar no chão de concreto de uma arquibancada dura, sentindo as tribunas balançando debaixo de seus pés. É o chão que treme de alegria na hora do gol! O momento maior da existência humana, o Gol!

O gol que vem, ou o que não vem, no meio da torcida Aquáticos, tudo é épico…

Adágio à Catarse…

O segundo tempo começa e tudo acontece.

O árbitro rompe os ligamentos do tornozelo e é preciso ser substituído. O jogo parado por vários minutos de um acréscimo que aumentaria a ansiedade dos meus amigos.

 Jefferson pula e canta, Eunice reza, Edi acompanha tenso, David me fala que seu coração está aos pulos, Michael diz que vai pular no campo pra ajudar fazer o gol restante, Tião quer me pagar uma cerveja, o frio chega, e o vento frio anuncia o veredicto final:

Vamos aos pênaltis. Os pênaltis…

O Que Será, Que Será…

“O que não tem certeza nem nunca terá…”


Jogadores do Bragantino comemoram

Dessa coisa cruel e espartana que são as disputas de pênalti, segue o relicário do que o futebol não pode explicar. E por alguma razão que eu e vocês não entenderemos, o Água Santa é derrotado por 5×3 e o Bragantino consegue o acesso.

Não vieram os gols que Eunice tanto quis, não teve foguetório, as lágrimas desciam pelos rostos nas arquibancadas do Estádio Inamar, enquanto os jogadores rivais faziam sua justa festa no campo.

Assistindo em silêncio, andando pelos corredores rumo a saída, meus amigos viam a tudo e não viam nada. Vem então a dura realidade que norteia o futebol, mas o que fica disso tudo? Falamos aqui de derrotados?

Jamais.

Na tarde da terça feira em Diadema, o que levou meus amigos todos por lá não foi nada além da paixão. Da ousadia que tem essas pessoas especiais e elevadas, lindas de espírito, que em tempos de cólera, ousam amar. Porque assim é a vida:

Só é feliz, quem se joga nela e ama.

Os torcedores do Água Santa amaram. Portanto, fiquem tranquilos meus caros; É assim mesmo dói, mas já já vocês superam isso e voltam a sorrir. Por favor, voltem:

O futebol não faz o menor sentido sem o sorriso de vocês.