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MARINHO CHAGAS, MENINO GRANDE

por Rubens Lemos


Marinho nasceu para o futebol quando cheguei ao berçário, em 1970. Formou, com o Rei provincial Alberi, o duo de extraclasses cintilantes no ABC a quebrar um jejum de três anos para iniciar a jornada do inesquecível tetracampeonato. O ABC de Marinho com Caiçara de técnico: Erivan; Preta, Edson Capitão, Josemar e Marinho Chagas; William e Correia; Zezé, Alberi, Petinha e Burunga. Era o time de 1970, o time da redenção.

Marinho, o meteoro radioso, iluminou a Frasqueira (torcida do ABC) com seu jogo liberto e ofensivo, moderno e revolucionário em tempos de chumbo. Marinho nasceu para ser cometa da bola e no ano seguinte, no Náutico, tornou-se o melhor de sua posição para sempre em Pernambuco.

Nascia a nova e definitiva versão de Nilton Santos, o lateral jogando para o ataque, subvertendo as ordens táticas, reescrevendo a história no campo, que transformou em floresta para as suas elegantes passadas de gazela.


Do Náutico ao Botafogo em 1972. Primeiro ano, primeira Bola de Prata da Revista Placar, menino de sorriso remanescente das peladas de terra batida, ao lado de craques consagrados como Figueroa, Piazza, Ademir da Guia, Paulo Cézar Caju e Alberi, o seu igual em grandeza e exclusividade dos vesperais potiguares.

Marinho foi para a Copa do Mundo em 1974 e brilhou tal holandês de carrossel vestindo a camisa da retrancada e fracassada seleção do quarto lugar na Alemanha. O mundo o considerou o melhor, em sua posição. Júnior, do Flamengo, declarou e declara que gostava de imitá-lo.

O esporte em Natal é dividido em antes e depois de Marinho. Sempre afirmei com ele vivo, confirmo agora e não discuto mais. Do Botafogo, a estrela loira do ex-Maracanã, a “bruxa” alegre, tornou-se obsessão do cartola tricolor Francisco Horta, da famosa Máquina do Fluminense que deu ao alvinegro três craques de seleção só para ficar com Marinho: Rodrigues Neto, Gil e Paulo Cézar Caju.


Quando Pelé seguiu para o Cosmos de Nova Iorque, para ensinar futebol a ianque apaixonado por basquete e beisebol, 150 entre 100 boleiros sonhavam vestir a camisa branca do clube mais rico do planeta. Depois de Pelé, por lá desfilaram Cruyff, Beckenbauer, Chinaglia e Marinho.

Entre 1981 e 1982, Marinho conquistou sua terceira Bola de Prata e o Campeonato Paulista pelo São Paulo de Oscar, Dario Pereyra, Everton, Renato, Mário Sérgio, Serginho e Zé Sergio.

Já estava na fase do prazer. Suas incursões pelo meio-campo rendiam passes precisos, arrancadas em direção ao gol e patadas que sacudiam o Morumbi inteiro. A biografia de Marinho é universal. Ele, adorado pelo mundo afora.

Nos últimos dias de vida, em julho de 2014, estava mais criança e feliz, pelas proximidades da Copa do Mundo em sua terra. Se dizia embaixador de uma função que não lhe rendia um mísero centavo.

Marinho participava de eventos bem menos condizentes com sua história. Lançava camisas, frequentava troca de figurinhas onde era o centro das discussões e apresentava uma lucidez luminosa.

O destino, meia-armador malandro, levou Marinho para João Pessoa. Cercado de carinho paraibano, teve uma crise, sangrou e morreu. Seu organismo de touro já não resistia.


Marinho faz parte de um escrete incompatível com caixões. Marinho é desse time. Não quis vê-lo morto. Ele está vivo em fotos, gols memoriais e no sorriso triste e maroto de quando nos víamos.

Marinho Chagas, anarquista das nuvens é embalado por Clara Nunes e Paulo Gracindo em Brasileiro, Profissão, Esperança, espetáculo baseado em crônicas de Antônio Maria e canções compostas com Dolores Duran Marinho, brasileiro, profissão e esperança (perdida). “Dorme, Menino Grande”, é o poema de Antônio Maria ao descanso e paz de Marinho Chagas. É  epitáfio no seu túmulo, chão do esquecimento. Marinho Chagas, 66 anos faria neste 8 de fevereiro. Para mim, ele sempre será festa.

A PRIORIDADE

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

No aeroporto, na fila para embarcar, a jovem avisa que passageiros com cartões Gold, Diamante, Star e outros vitaminados têm prioridade. Em seguida, as poltronas traseiras, depois as dianteiras.

De cara, parece organizado mas quando você entra no avião o corredor está sempre congestionado porque quem já acomodou-se ao fundo volta no contra fluxo para ir ao banheiro ou pedir uma água para a aeromoça ou pegar um livro esquecido no compartimento dianteiro, afinal sua poltrona estar marcada no início da aeronave não significa que a sua bagagem também estará.

Nem sempre há vagas. Do avião para o Metrô. O trem estaciona na estação e quando as portas abrem-se é um salve-se quem puder. Sobra cotovelo e falta educação. Do lado de dentro, uma jovem sentada em um assento destinado aos idosos nem se importa com uma senhora, em pé, com um bebê no colo.

Eu reclamo e digo que a prioridade é da senhorinha. Mas ela age como os jogadores de futebol: coloca os fones no ouvido e liga o dane-se. Paro na Igreja do Rosário. Preciso rezar, entender esse mundo tão estranho.

Na saída, sou abordado pelo coroinha, que pede uma selfie: “Meu pai te ama!”. Volta correndo para missa e só reforça a minha tese de que o mundo anda muito estranho!

Em casa, à noite, ligo a tevê e vejo um jogador do Vasco, rosto feliz, dizendo que a desclassificação da Taça Guanabara não foi ruim porque o foco, a prioridade, olha ela aí de novo, é a pré-Libertadores.

Isso é sério?


Na minha época eu queria ganhar tudo, até amistoso contra time de farmacêuticos. E o torcedor, como fica, não é mais prioridade???

Campeonato Carioca virou laboratório?

É sério que seremos obrigados a continuar vendo esse festival de horrores?

É sério que ninguém vai tomar uma atitude para o esvaziamento dos estádios?

É sério que o Flamengo contratou Ceifador e Júlio César e tirou a chance de garotos?


Sinceramente, apostaria mais na garotada. A diretoria do Flamengo precisa entender que no futebol nem sempre a prioridade é dos mais velhos. Mais ainda, precisa entender que o slogan certo não é “craque se faz em casa”, mas “craque se mantém em casa”.

E para finalizar o meu querido Botafogo também priorizou a Copa do Brasil ao Estadual…….. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

QUERO MEUS FONES!

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


“Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudade, Rio teu mar, praias sem fim, Rio você foi feito pra mim, Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara, este samba é só porque Rio eu gosto de você….”.

Sempre que o Botafogo voltava ao Rio, após suas longas excursões pela Europa, os comandantes dos voos costumavam colocar “Samba do Avião” quando estávamos próximos ao pouso. Muitos jogadores choravam. Saudade de casa, da família, das namoradas, da praia e do Maracanã, nosso palco principal.

Hoje, moro em Florianópolis e sempre que retorno ao Rio essa canção embala meus pensamentos. Vocês entendem por que é tão difícil não comparar futuro e passado? Manga, Gerson, Jairzinho, Roberto Miranda, Carlos Roberto….hoje, não sei escalar o Botafogo.

Passei alguns dias aqui na Cidade Maravilhosa e preparo minha volta para Santa Catarina. A cidade está sem brilho, reclamação geral das administrações de governo e prefeitura. No táxi, o programa esportivo exalta Tite, nosso novo herói.


Olho para o lado e vejo os campos do Aterro, agora com grama sintética, vazios. Vários mendigos dormem no parque. “Essa cidade está abandonada”, reclama o taxista.

Estou indo almoçar com Francisco Horta, o homem que me convenceu a trocar a França pelo Fluminense. Aceitei muito por causa do calor e da magia dessa cidade. Na estreia, 1 x 0 contra o poderoso Bayern, no Maracanã. Só o Horta conseguia essas proezas.O Rio é outro, o futebol é outro. “Aceita, PC!!!!”, grito comigo mesmo em meus atormentados pensamentos. 

Encontro Horta e nos abraçamos longamente. Na sala, alguém lembra que os estaduais começam em alguns dias. Nos entreolhamos e mudamos o rumo da prosa. O Horta revolucionou o Campeonato Carioca! Qual jogador não queria disputar o nosso estadual? Hoje eles fazem o sinal da cruz, só querem saber de seus fones de ouvido. Investiram pesado para o Pelé ser o garoto-propaganda do Carioca, prometem mudar as regras.


Chega a ser constrangedor.Preços caríssimos para assistir quem? Qual é o craque do Carioca? Luiz Fabiano novamente machucado? GuM? Diego? Pimpão? O Flamengo promete jogar com os reservas. Será que a torcida vai notar a diferença?

Federação, presidentes, conselheiros deveriam se mobilizar para montar bons times. Ah, estão com dificuldades em encontrar craques? Basta assistir a Copinha e confirmarão que as bases estão estraçalhadas.

Virem-se, vocês estragaram, vocês consertem!!!!  Fim do almoço, entro no táxi e peço “aeroporto”. O motorista me reconhece e logo pergunta: “E aí, PC, e o nosso Fogão?”. Ah, como eu queria ter esses fones de ouvido.     

FELIZ ANO VELHO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


O tempo passa, o tempo voa e o futebol carioca continua numa boa!!!! Se os torcedores de Botafogo, Fluminense, Vasco e Flamengo acordaram otimistas no primeiro dia de janeiro bastaram poucas horas para confirmarem que vem mais um ano complicado pela frente.

O Botafogo perdeu Jair Ventura, sua maior estrela, para o Santos, o Flamengo perdeu Rueda, seu elegante líder internacional, para a seleção chilena, o Fluminense deve perder seu principal astro, Gustavo Scarpa, e ainda dispensou Torres, o filho do Capita, para trazer os executivos Marcus Vinicius Freire, ex-COB, e Paulo Autuori. Autuori não é mais técnico, agora é executivo!

Agora todos querem ser supervisores, diretores, gerentes, coordenadores, chefões, algum cargo que seja mais pomposo do que o de técnico. Qual é o resultado disso? A parte administrativa está ficando tão catastrófica quanto dentro de campo. Os clubes dispensam jogadores com a desculpa de reduzir a folha salarial, mas contratam dirigentes ganhando os tubos.


Claro que causa incômodo entre os atletas. Fora isso, muitas contratações são feitas sem o aval do treinador, o que causa mais irritação ainda. Os professores estão em baixa. Abram o olho ou serão reduzidos a pó pelos gerentes de futebol. O Vasco segue com a briga na justiça para saber se Eurico sai ou fica. O noticiário prefere esse tema.

“PC, mas não sobra nada no futebol carioca?”, costumam me perguntar nas ruas. Devolvo a pergunta “Sobra?”.

Qual foi a melhor notícia de 2018 para os cariocas? Falando sobre a qualidade de jogadores me lembro da dupla de zaga do Vasco, Anderson e Breno. Acho boa! No Flamengo, não aguento mais esses Traucos e Mancuellos da vida.


O Scarpa é muito bom de bola, mas deve sair do Rio. Ah, uma boa notícia! O Phillippe Coutinho trocou o Liverpool pelo Barcelona e o Vasco deve ganhar um bom troco pela transação.

Esse, sim, é craque, esse, sim, dá gosto de ver, esse, sim, joga futebol!!! Suárez deve estar comemorando! E o estilo de jogo do Coutinho tem tudo a ver com o Barça, uma cidade linda, ensolarada e com um povo acolhedor.

Me desculpem, mas enquanto ainda houver poetas em campo estarei sintonizado neles! E só neles!

TIME GRANDE OUTRA VEZ

por Zé Roberto Padilha

Existem coisas no futebol que estão acima de uma vaga na Taça Libertadores da América. E você só percebe quando tem um filho botafoguense dentro de casa. Nenhum título ou classificação, para qualquer competição, foi mais importante do que o Guilherme descobrir este ano, não através da história, da memória, que o Botafogo é, de fato, um grande time do futebol brasileiro.


Não é fácil para um torcedor do presente, como ele, ficar sabendo pelo Baú do Esporte quem foi Garrincha. Que Gerson, então, foi uma covardia. Jairzinho parecia, com seus gols e velocidade, não sair da boca do túnel do Maracanã. Mas de um filme de ficção científica. E ele ter que pagar o ingresso para assistir seu time com Bill, com todo o respeito, no comando do ataque. Com a camisa do Roberto. E que foi do Quarentinha.

Seus irmãos são Flamengo. O pai tricolor. Só a mãe, por solidariedade, lhe acompanhava em seguidos martírios. E em cada título da dupla Fla x Flu, que não foram poucos nos últimos anos, saía alguém aqui de casa para as concorridas carreatas. Em 2010, quando venceu o carioca, saiu pelas ruas querendo a sua também. E cadê aquela gente? Desmobilizados, talvez céticos, não se organizaram. Daí liguei para o Emerson, o Décio, o Armindinho, quem mais conhecia. E ela saiu tarde. E vazia.


Este ano foi diferente. Guilherme, com orgulho, deixou a cidade para ver seu time brilhar na Taça Libertadores da América. E fez mais do que bonito. Foi bem no Estadual e no Brasileirão, mas foi vencido apenas pelo cansaço de disputar quatro difíceis competições. Com um elenco de qualidade, porém reduzido, não tinha peças à altura de reposições. Só ele mesmo, o cansaço, foi capaz de deter a trajetória da bela equipe comandada por Jair Ventura.

Saber escalar seu time de cor e salteado, meu filho nunca soube. Trocava-se de técnico e jogadores como trocavam de posição no fim da tabela para não serem rebaixados. Hoje, qualquer torcedor brasileiro sabe o nome destes heróis que fizeram Guilherme abrir um sorriso que, pensei um dia, o futebol nunca lhe concederia no tempo presente. Seja bem-vindo, Botafogo, ao lugar que você sempre ocupou na história do futebol brasileiro. E no coração do meu filho.