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SANTA CAMISA

por Daniel Perpétuo

Foi em Olinda, Pernambuco, que esta história começou. De lá, veio João Nóbrega Filho, filho de Seu João Nóbrega (claro!!) e de Dona Argentina Teixeira da Nóbrega. Sim, D. Argentina, mais conhecida como Dona Zeza. Nessa seara, dominava o tricolor pernambucano, o “velho Santa”, o Santinha, ou o Santa Cruz. 


Quando João, o filho, veio para as terras de Araribóia, em 1960, não pensou duas vezes, e foi logo tratando de se simpatizar por um time carioca que não levasse as cores de seu rival, o “coisa-ruim”, Sport. O medo principal era de seus futuros filhos torcessem pelo rubro-negro carioca.
 
“Segui o Botafogo para não correr o risco. Meus irmãos acabaram torcendo para o Fluminense por conta de ser tricolor também”, afirmou João, que já havia plantado sua semente no Arruda, estádio do Santa Cruz. Ele ajudou a construir e fez até campanha para arrecadar material e ajudar a realizar o sonho do tricolor pernambucano, que ficou na 13ª posição no ranking de público de 2015. Tudo graças ao esforço de sua apaixonada torcida.
 
Em Niterói, João casou-se com Acidália e teve dois filhos. Em 1976, quando o primeiro nasceu, a saudosa D. Argentina trouxe de presente para o neto uma camisa do Santa Cruz, direto de Olinda. O pequeno Thales vestiu o manto, o paizão registrou, mas por alguma simpatia, superstição de botafoguense, ninguém sabe, nunca mostrou para ninguém. Coisa de torcedor! A camisa-talismã ficou guardadinha, como se esperasse Raphael, outro botafoguense, que nascera quatro anos depois. Com ele, foi diferente e a foto circulou pela família, mas a camisa voltou para a gaveta, guardada com extremo carinho.
 
O menino Raphael cresceu, casou-se e teve três filhos, dois meninos e uma menina. Quando Matheus nasceu, em 2010, a camisa foi resgatada, cheirando a naftalina, e vestiu o bebê. E não parou aí! Diego, de cinco meses, o irmãozinho, também já posou de modelo com a camisa do Santa. A mãe, Nathália, é vascaína, mas se diverte. O alvinegro Rapha também: “É mole?! Presente da Argentina!”, comentou, às gargalhadas.
 
O mais curioso é que o Santa Cruz enfrentou o Botafogo duas vezes na Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado. Duas vitórias tricolores, 1×0 em casa, e 3×0 no Rio. O Thales, claro, não gostou. Raphael até achou engraçado. João lambeu os beiços. Todos sob as bênçãos de D. Argentina. 
 
Que venha 2016, com o Santa e o Fogão na Série A.


A PELADA À FANTASIA DE NILTON SANTOS


A "Enciclopédia" Nilton Santos em três momentos de descontração no Carnaval.

A “Enciclopédia” Nilton Santos em três momentos de descontração no Carnaval.

A MINHA PELADA DA ILHA

Por Nilton Santos (* texto extraído do livro “Veteranos do Zumbi”)


“Em 1965, quando já não jogava mais futebol profissionalmente, andei fazendo algumas partidas pelo time de uma colônia de pesca da ilha, o Z-1. Numa dessas, conheci o pessoal do Zumbi e eles me convidaram para fazer parte dessa pelada.

Primeiramente, fiz questão de pedir alguns esclarecimentos: onde eles jogavam, como eram as regras do jogo e, um item importante – eu só joguei na defesa para ganhar dinheiro e, já que estava voltando para Ilha, teria que jogar no meio campo para frente. Além deles concordarem com essa minha exigência, me ganharam logo quando disseram que lá não tinha juiz. Todos apitavam e prevalecia o bom senso. Assim comecei a fazer parte da pelada da Ilha, depois pelada do Zumbi.

Os jogos eram aos sábado, às quinze e trinta, e não tinham hora para terminar. Só acabavam quando já era noite e a gente não enxergava mais a bola. Eu chegava cedo na Ilha, passava na casa do Franz, na do Gato e na do Udinho e, juntos, íamos comer um peixe frito com um caju amigo lá na Freguesia, outro bairro da Ilha. Eu sempre tinha o cuidado de chegar antes do horário previsto. Primeiro, por respeito aos outros, e depois por não querer que eles abrissem um precedente para mim, tendo que fazer uma substituição para que eu pudesse jogar. Dizia sempre a eles que ali, eu não era um campeão do mundo e sim um simples peladeiro. Tinha que conseguir a minha própria vaga.

O campo era num terreno baldio, ao lado da casa do Huascar. Toda vez que a bola caía na casa dele um gritava: “olha o que você fez, Huascar” (que era para mãe dele não brigar). Depois fomos jogar no campo do Cocotá, mais tarde no campo do batalhão Humaitá, dos Fuzileiros Navais. Hoje em dia (*), a pelada continua, agora com a direção do Mario Duarte e a supervisão do Jorge Ferreira, na área de lazer da Varig, com nome mais sofisticado de Veteranos do Zumbi.

Nós ficávamos sentados no campo conversando, dando tempo para que todos chegassem e a pelada pudesse começar. Como eu havia parado de jogar recentemente é claro que todos ficavam mais a minha volta, curiosos com as histórias do futebol profissional. Ao final, e era o melhor da pelada, os times, vencedor e perdedor, se confraternizavam num barzinho tomando uma cervejinha com tira-gosto, com exceção do querido e saudoso Biguá – zagueiro – que só tomava leite gelado. O Biguá era baixinho, forte e troncudo. Não era muito determinado e chutava muito forte. Por isso,foi apelidado pelo Hugo Gambá de “toco de amarrá burro”. Quando ele estava perdendo e a pelada acabava, ele sempre dizia: – acabou? Logo agora que eu ia fazer o meu gol? – Nós podemos jogar até amanhã de manhã que o seu gol não vai sair, respondia o Hugo, puto, gaguejando: – “mais qui… mais qui ele não joga nada. Mais qui .. mas qui ele é um toco de amarrá burro”!

Outro fato formidável era o duelo dos irmãos Franz x Irineu. Eles só gostavam de jogar um contra o outro. Eram muito habilidosos e por terem consciência disso disputavam pau-a-pau o troféu de quem é o melhor. Mas se, por acaso, algum de nós tocasse em um deles, o outro imediatamente deixava de ser adversário para ser o maior defensor da raça.


Turma dos Veteranos do Zumbi em época de Carnaval!

Turma dos Veteranos do Zumbi em época de Carnaval!

Sábado de carnaval, fazíamos uma pelada à fantasia. Todos jogavam vestidos de mulher. Me lembro que o Paulinho Russo vinha sempre de Carmem Miranda. Ele era baixinho e vinha vestido com uma mini saia, uma bem criada barriga de fora,colares e maquiagem. Um turbante sensacional, bem espalhafatoso, complementava seu traje. Eu me vestia, na maioria das vezes, por ser mais fácil, de havaiana, colocando duas laranja para formar o busto. Os mais novos, em geral, nunca apareciam nesse dia. Eu costumava dizer que era porque eles não se garantiam.

Nessa pelada, como em todas da Ilha, existiam grandes jogadores que não chegaram a ser profissionais mas jogavam muito bem. Vale a pena ressaltar que na pelada da Ilha existia uma mistura muito grande. Tinha médicos, engenheiros, oficiais militares, pescadores, advogados, operários, não importava, todos tinham em comum o gosto pelo futebol.

Por eu falar demais dessa pelada, o Geraldo Romualdo, do Jornal dos Sports, um dia propôs fazer uma matéria comigo na Ilha. Fomos no meu carro e ele ia registrando tudo o que acontecia. Depois de pegar o pessoal da pelada e passarmos na Freguesia para comer um peixe, chegamos ao campo. Passado um pouco, fui a um matagal que tinha próximo ao campo e ele perguntou o que eu fazia lá. Respondi que estava trocando o calção. Geraldo ficou indignado e disse: – você é muito cínico, é um campeão do mundo, como é que pode jogar num campo desse e trocar de roupa no mato? Eu apenas ri. Como podia fazer diferente, se lá não tinha vestiário?

Nós podíamos levar convidados e eu sempre levava alguém. O Pampolini foi uma vez comigo e ficou por lá durante muito tempo. O Chico Anísio e o Paulinho da Viola também passaram por lá várias vezes. O Espezim Bermuda Neto, que foi comentarista da Rádio Globo e mais tarde juiz de futebol, era nosso companheiro também. Só que na pelada ele era goleiro. O Bob, que jogou comigo no Botafogo, foi e ficou. O Brito era outro que nas férias do Vasco sempre ia lá. Enfim, tinha o grupo dos permanentes e o grupo dos esporádicos.

Ao longo desse tempo, presenciei várias alterações nas equipes – algumas vezes, porque as pessoas saíam do Rio para outras cidades e até para o exterior, como foi o caso Franz, na Argélia; outras vezes, por problemas de saúde e também por simples renovação. O legal é o espírito do grupo: primeiro jogam os pais que vão aos poucos, trazendo os filhos. Depois, os genros, que, por sua vez, trazem os amigos. Assim, vão se perpetuando as amizades e uma pelada maravilhosa. Prova disso, foi a chegada do Cação, (com o Jorge Ferreira ainda jogando), trazendo depois o genro Manoel, o Fernando e o Xerife. O mesmo aconteceu com o Jonjoca, que trazia o Ratinho só para distribuir as camisas e as bolas, mas quando faltava alguém ele entrava para jogar. E, coitado, nunca conseguiu agradar. A derrota do time era sempre culpa do Rato. Todos esses, de quem me lembrei aqui, eram rapazes, meninos perto de muitos de nós. Mas sempre respeitavam a todos, chegavam a chamar alguns de senhor. O Cação com o Jorge, era um fato à parte, muito engraçado. Toda vez que o Cação pegava a bola, o Jorge gritava: – vai Cação, meu filho! ou – Boa, Cação, meu filho!  Ele ficava danado e a gente se divertia com o Jorge. Uma vez o Cação chamou o Hugo, com todo o respeito, de Seu Gambá… – mas qui, seu gambá???

Depois vieram o Pedrinho Tostão, o PC, sei lá se estou confundindo a ordem, mas a ordem dos fatores não altera o produto. O importante é que lembro de cada um de uma maneira. Pela característica de jogar, por ser um amigo mais próximo, por ter me ajudado a sair de alguma enrascada, enfim do jeito carinhoso e saudoso que tenho para cada um deles. Ao final do ano sempre havia uma festa de confraternização e os chefes do comitê organizador eram o Zé do Armarinho e o Jorge Ferreira. Mais tarde veio o Mario Duarte, que passou a fazer parte também dessa comissão hoje assumida integralmente por ele. Em 1983, quando eu disse que ia sair do Rio para Uberaba, eles organizaram uma homenagem linda para mim, fizeram inclusive uma camisa especial com o meu retrato estampado. Convidaram o Gérson Canhotinha e o Pampolini – que jogaram -, o Zizinho e o Sabará que foram apenas para me homenagear. Ao final da pelada, tivemos um jantar com discurso e tudo, quando ganhei um troféu, que é uma bola, com o logotipo da pelada, fazendo uma declaração de amor para mim:

“Mestre Nilton: hoje eu realizei o sonho de todas as bolas do mundo: ser só tua para sempre. Obrigada, meu amor”.

A pelada da Ilha, como sempre prefiro me referir, ao invés de Veteranos do Zumbi, foi muito importante para mim. Trabalhava a semana inteira esperando o sábado chegar, ir para a Ilha, jogar, brincar e rever os amigos. Hoje ela é a agradável lembrança de um tempo maravilhoso que infelizmente passou. O que ficou foi apenas a recordação carinhosa dos que já se foram e a amizade dos que permanecem vivos. Mesmo aqueles que, como eu, estão afastados dos Veteranos do Zumbi somente fisicamente.

Quando posso vou visitar o pessoal lá no campo da Varig. Chego a levar um susto quando pergunto: quem é aquele ali? E alguém me diz: é o filho do Carlinhos, ou o filho do Mario, ou filho do Manoel, do Fernando. É, essa vida não nos deixa mesmo esquecer que envelhecemos. Noutro dia, eu estava jogando com o filho do fulano. Hoje, os filhos é que são os pais.”

BOTAFOGO CAMPEÃO!!!

por Marcelo Rodrigues
 

Como todos sabem, estou de férias. Nas férias, faço tudo o que mais gosto: fico com a família, jogo peladas, vou para resenhas, assisto jogos das categorias de base e viajo muito. Nada diferente do que a maioria das pessoas.

No último sábado, fui ver a final do campeonato carioca adulto de Futsal. Botafogo/Helênico/Casa d Spaña X ADDP/Cabo Frio. As duas equipes se enfrentaram em Cabo Frio e o resultado foi 2×2 na primeira partida. O time de Cabo Frio reclamou demais de terem sido escalados dois árbitros do Rio de Janeiro na partida de ida, pois o combinado seriam dois árbitros do interior. Aumento de custos, dúvida dos torcedores e dirigentes e um clima ruim criado.

Veio a marcação para o jogo de volta. Surpresa geral: jogo no Olaria. Nem o Botafogo e muito menos a equipe de Cabo Frio entenderam o local. E o horário? 13 horas!!!??? Treze horas, em Olaria, no verão? Só pra quem gosta muito…Mas o pior é a quadra não ter 40m x 20m.

Bem, como estou de férias e sigo fielmente meu planejamento, fui jogar minha peladinha no Caça e Pesca. Peguei leve porque estou fazendo alguns exames e a situação requer certo cuidado. Depois, Praia da Barra (em frente ao clube), com a esposa!!! Passei em casa e saí um pouco atrasado para a missão de carioca salonista, amante do jogo e, claro, como profissional interessado em descobrir novos jogadores, conceitos etc. Cheguei, de táxi, às 13h35, ao Olaria. No clube, por baixo, 43 graus.  Na quadra, nesse horário, no mínimo, 47 graus.

Olhei a quadra e vi a mesma toda raspada. O ginásio do clube é muito bom, mas uma final ali, no verão, tem que ser, no mínimo, às 21h. Cheguei ainda na metade do segundo tempo da preliminar:  a final do Sub 20, Grajau Country x Piedade. Jogo emocionante. Vitória no tempo normal do Piedade e uma prorrogação marcada por momentos de rara pressão emocional. Veio a prorrogação e o Grajaú fez 1×0 mas sofreu o empate restando 17 segundos para o fim. Esse resultado dava o título ao Piedade, mas o goleiro linha fez o gol de empate restando 9 segundos. Provocações de lado a lado, a pancadaria rolou. Vi uma senhora (torcedora ou mãe de atleta) incitar a violência. Vi os torcedores do Piedade invadirem a quadra e buscarem mais tumulto, vi alguns jogadores de altíssima qualidade, dos dois lados, muito mal educados para a profissão.

Enfim, vários expulsos dos dois lados, paralisação de 20 minutos, muito trabalho para retirar todo mundo, só dois policiais em quadra, péssima arbitragem e bola rolando para os 9 segundos finais. O Piedade ainda teve duas situações de gol e não converteu. O Grajaú tornou-se bicampeão. Comemorações normais, ânimos apaziguados e os jogadores campeões passaram a cantar uma música provocativa e de péssimo gosto. Eu ali temi por outro tumulto. E o pior é que tudo consentido. Mas acabou bem.

Aí, enfim, veio a final do adulto. O jogo começou às 15h, quando já estava na minha terceira garrafa d’água de 500 ml. Dois grandes treinadores: Bocão e Cupim. Duas crias do mais alto nível do Futsal carioca. Os dois também brilharam na Espanha. Jogo de muito bom nível técnico e tático, decidido no segundo tempo, sem violência e sem falhas gritantes de arbitragem. O Botafogo fez 1×0, Cabo Frio empatou, o Botafogo fez 2×1 ainda no primeiro tempo, mas Renato, goleiro linha de Cabo Frio, restando dois minutos, fez um golaço. Botafogo campeão com um grande jogo.

Obs: saí às 17 horas do ginásio.
Opinião: não tenho dúvidas do esforço feito pela Federação para que esse campeonato fosse realizado. Poucos recursos, estrutura em organização, entre muitas coisas. Sempre alguém será contra algo. Isso é fato. Mas não pode bobear em situações simples, como quadras, ginásios, horários, segurança etc. A hora é de abraçar idéias. Não acredito e jamais seria leviano em levantar suspeitas.Vejo pessoas que conheço e respeito, numa entrega absurda para a melhoria do Futsal do Estado. De verdade. Detalhei as falhas porque quero o melhor para o jogo. Estou há 18 anos comentando a Liga Futsal e vou aos clubes mais importantes do mundo estudar e digo: falta educação profissional de atletas na base. Educá-los para o jogo profissional não se limita a ensinar padrões de jogo. Atitude lamentável de ALGUNS ótimos jogadores. Eu indicaria no mínimo sete jogadores no somatório das duas equipes para qualquer equipe da Liga ou no mundo. O Rio é muito forte individualmente.

Conselho: nunca façam besteiras pilhados por quem está pilhado. Dirigente torcedor não vai a lugar nenhum. Vocês tem chance de serem reconhecidos no mercado, mas precisam tirar esse amadorismo da cabeça. Repito. Sei da entrega e vi a situação de incredulidade e tristeza do vice da federação, Luizinho Roux, pelo que estava acontecendo. Pais em quadra, palavrões destes contra os árbitros etc. No Barcelona, pai nem vê o treino. E os jogos em silêncio. Isso na base. Bola para estar lá eu vi vários. E eu ajudo. Com essa postura que vi sábado no sub- 20, vão matar esses talentos e vão viver de história no futuro. E os pais estragam tudo (em 80% dos casos).

Vivemos num estado falido, onde professores são cobrados e não são pagos. Temos uma modalidade que estava falida e hoje respira por aparelhos. Senti durante o jogo (pois assisti atrás do banco, do lado esquerdo, portanto num tempo ouvi o Botafogo e no outro o Cabo Frio), uma preocupação maior do que o próprio jogo em citar os problemas, achar possíveis “armações”, criticar a arbitragem, desespero total (o roupeiro de Cabo Frio foi expulso por atirar um objeto na árbitra), entre outras coisas. Em alguns momentos a equipe estava apta a virar ou esteve melhor e não conseguiu porque os atletas estavam pilhadaços.

Esse tipo de coisa, só atrapalha. Torcida pode. Banco e CT nunca. Vi dois jogadores se xingando no banco. Isso é pilha errada. Reclamar é justo mas é na justiça. Quadra, não. Antes e durante o jogo é tiro no pé.

O Botafogo, do técnico Bocão, jogou muito bem e foi merecedor pelo que aconteceu em quadra. 3×1. Parabéns ao Botafogo e comissão técnica, ao esforço da parceria do Helênico e da Casa d Spaña e a muitos jogadores, já consagrados, que se doaram para essa conquista. Dois goleiraços (André e Miraglia), além de Leandrinho, Cazuza, Fuste, Edu e todos os outros. Mas o destaque absoluto foi o Renato. Que tranquilidade nos dois gols. Sensacional.

Para finalizar. Eu acredito no Rio de Janeiro e acredito que as coisas vão melhorar ainda mais. E acredito nessas pessoas que lá estão, tendo a esperança de que as falhas ocorridas serão avaliadas e nunca mais cometidas. Peço que entendam como construtivas as críticas às carreiras de cada um de vocês. Já passei por todas essas coisas e as coisas não mudaram. Profissionalmente, mudei e acho que vem dando certo. Estarei aqui para ajudar a cada um dos citados desde que desejem ser bem sucedidos. Não sou o dono da verdade, mas busco a excelência em tudo que faço. Muitos me criticam. Mas só ouço os verdadeiros. Os outros querem holofotes. Eu sou de verdade. Tenho certeza que o caminho é esse. Feliz por ter visto dois grandes jogos, ótimos jogadores, grandes profissionais e um pouco chateado por ter visto cenas lamentáveis. Mas isso tem jeito. A única certeza é que com as cenas que aconteceram, ninguém chegará a lugar algum. Com profissionalismo sim. Essa época do ano é feita para reflexão.

Pensemos…

Bocão, feliz pelo seu sucesso!

Cupim, você é o sucesso!

Foi no Fut 7 e ganhou. E vai ganhar muito ainda. Competência monstra.

Sorte a todos, contem comigo e um Natal repleto de paz, harmonia e amor.

É Futsal na veia!

PELAS LENTES DO AMOR ALVINEGRO

texto: Sergio Pugliese e Flavia Ribeiro | fotos: Família Moraes

Quando a produtora Sílvia Magalhães e a designer Izabel Barreto entraram no estúdio da fotógrafa Nana Moraes, na Glória, acompanhadas de Paulo Cezar Caju iniciou-se o alvoroço. Ele, ídolo, ela, fã, o resultado não podia ser outro: abraços emocionados de “amigos” que não viam-se há tempos. Barba branca, o estilão continuava o mesmo. Ela estava acostumada a vê-lo correndo com a camisa do Fogão e da seleção brasileira. Os cabelos de Nana também embranqueceram, mas o olhar continuava afiado. Na conversa, observava os traços do craque e imaginava o enquadramento, a luz, as poses. Pena a foto não conseguir registrar a deliciosa gargalhada de PC, imaginava, sempre observada pela vascaína Sílvia e a rubro-negra Izabel. “Onde troco de roupa? Vai ter maquiagem?”, brincou PC. Mas antes da sessão, Nana tinha uma missão especialíssima a cumprir. Ligar para a mãe, Luzia, de 79 anos, alvinegra roxa, apelidada de “Vó dos Loucos”, em referência à torcida organizada Loucos pelo Botafogo.   

Ligou. Suspense!!!  Do celular da filha veio a voz grossa, marcante, inconfundível, perguntando como ela estava. Um curto silêncio e a surpresa. PC fora surpreendido pela ex-bailarina e ex-produtora de moda, com quem nunca falara antes: “É Paulo Cezar Caju? Que fez três gols contra o América quando tinha 17 anos e quase me matou do coração?”, perguntou. “Aquele dia, minha estreia no Maracanã, foi lindo!”, vibrou, ao recordar um dos momentos mais marcantes de sua carreira. Os dois tagarelaram até PC desligar com os olhos transbordando de emoção. “Esses momentos sacodem a nossa alma”, suspirou enquanto vestia o blazer preto.

Luzia contou para PC que o marido, Zé Antônio, fotógrafo consagrado do JB e da Abril, o clicou muitas vezes e adorava a dupla que fazia com Jairzinho, no Botafogo, seleção brasileira e no francês Olympique de Marseille. O curioso era que Luzia usava cabelo Black Power igual ao de PC e, certa vez, no aeroporto em Paris, foi abordada por um oficial da alfândega querendo saber se ela era irmã do craque. Na época, PC arrastava multidões aos estádios franceses e era idolatrado por políticos, estilistas e atores, como Jean Paul Belmondo.

O estilo Black Power, por sinal, foi estudado por Nana, uma das profissionais mais requisitadas do país. Dias antes de fotografá-lo também reviu imagens de alguns ídolos do craque contestador, como Martin Luther King, Malcom X e os Panteras Negras, homens que lutaram pela causa negra. Nana não queria errar, afinal decepcionaria toda uma família de botafoguenses. Nana, além de ser filha de Luzia, é irmã do também fotógrafo, Sérgio Moraes, da agência de notícias Reuters, e da produtora de moda top de linha Bebel Moraes. Entre os netos, os dois filhos de Nana – a empresária Lígia e o fotógrafo Ricardo, também da Reuters – e o mais velho de Sérgio – o estudante Pedro – também carregam uma estrela solitária no peito. E uma quarta geração alvinegra já dá seus primeiros passos na família: Rosa, de 6 anos, filha de Lígia, e o pequeno José Antônio, de 1 ano e 7 meses, filho de Ricardo, continuam a tradição iniciada por um outro Zé Antônio lá pelos idos anos 40.

Diante dos flashes, PC parecia um profissional. Suas expressões variavam como assistisse uma partida de futebol. Ele mesclou sorrisos exuberantes com olhares distantes, tensos e tristes. Nana viajava e resolveu arriscar. Pediu para que ele ficasse sem camisa e usasse a amarelinha da seleção brasileira como um cachecol, imagem que representaria seu estilo festeiro, ousado, rebelde e ao mesmo tempo elegante, de lançador de tendências, com o amor incondicional pelo futebol. Quem conhece PC sabe que ele poderia devolver s sugestão com uma resposta ríspida. Mas nesse caso, não. Ele nunca negaria algo que fosse uma bicuda nas regras e nas caretices do mundo atual. “Adorei, vamos nessa!”.

Mas, peralá, a rebeldia do craque não rima com inadimplência. De repente, ele pirou, disse que precisava ir embora, precisava achar uma casa lotérica, pois esquecera de pagar duas contas. “Que horas são?”, perguntou, inquieto, enquanto conferia o dinheiro, contava moedas. Mas Sílvia e Izabel sabem a hora de colocar a bola no chão e pedir calma ao time. “Bebe uma água e acalma, PC”, sugeriu Sílvia. Em cinco minutos pagaram as contas pelo celular. O indomável PC, avesso às tecnologias, acalmou-se e voltou ao campo de jogo.       

FUTEBOL SÃO ONZE

por Lucio Branco


No muro, Barba, Cabelo e Bigode, personagens do documentário

No muro, Barba, Cabelo e Bigode, personagens do documentário

“No princípio era o Verbo”.

Meio pretensioso, e até desnecessário, admito, citar o Evangelho de S. João logo na abertura da minha primeira colaboração aqui no Museu da Pelada. Foi só para evitar a expressão “Pontapé inicial”, um clichê que soaria muito óbvio no primeiro parágrafo da estreia de uma coluna intitulada “Futebol Arte”. Em suma, preferi um clichê a outro.

Mas vamos lá…

Como é sabido, as vanguardas do início do século XX não escondiam a sua falta de apreço pelos museus. Os dadaístas, por exemplo, proclamavam a sua destruição imediata. É uma atitude que faz sentido no Velho Mundo. Aqui, ela parece bem menos recomendável. Cultivador da desmemória, o Brasil não fez a mais básica lição sugerida pela História: conhecê-la primeiro. E é justamente o que o Museu da Pelada faz, em tempos de progressiva mercantilização do jogo. O site resgata o seu passado e assume lugar na linha de frente da sua valorização como manifestação sociocultural de primeira grandeza. Realmente, os museus poderiam contribuir em ser, geralmente, bem mais do que depósitos de mofo a expor o já consagrado. Não é o caso deste Museu, o qual, antes de tudo, exercita a memória para compensar a atual aridez de novidades verdadeiramente relevantes no mundo profissional da bola.    

Curiosamente, no “país do futebol” o legado deixado por craques, times, clubes, etc mais antigos tem pouco espaço até mesmo na construção do imaginário popular. Faça o teste: pergunte a qualquer torcedor o que ele sabe sobre o seu time antes de ter começado a acompanhá-lo. Para não fugir ao tema, “Quem vive de passado é museu” é quase sempre a resposta automática. No caso, um ditado bem mais pretérito do que aquilo que ele acusa. E com o mesmo grau de legitimidade, por exemplo, que o ainda surpreendentemente vivo “Futebol é o ópio do povo”. Ou seja: nenhum. (Apesar do empenho em contrário das forças política e economicamente interessadas.)

Quando o Sergio Pugliese me convidou, há alguns dias, para colaborar com o site, não pude dar outra resposta senão “Agora!”. 

O primeiro contato entre nós partiu de mim, há mais de um ano, ao lhe apresentar o meu projeto de documentário em longa-metragem, Barba, Cabelo & Bigode, sobre a trajetória dos craques da bola e da consciência Afonsinho, Paulo Cézar Caju e Nei Conceição. Os personagens/narradores do filme também já haviam marcado presença na sua coluna “A pelada como ela é”, por tanto tempo hospedada n’O Globo. Estava eu, então, em luta pelo financiamento coletivo (crowdfunding), para dar início às filmagens. Com certeza intuindo nossas afinidades no universo em questão (embora ele vascaíno e eu botafoguense), Pugliese foi monumental no incentivo. E, de lá pra cá, a coisa fluiu como deveria – escrevo logo após as últimas horas da segunda campanha formal de crowdfunding relacionada ao filme, agora destinada a sua finalização. A meta foi atingida e Barba, Cabelo & Bigode sai ano que vem. Confiem nisso.

Sem rodeios, o Pugliese fez a proposta: – “Relaciona aí futebol com cultura em geral: cinema, literatura, música etc, você sabe…”. A resposta veio no mesmo tom: – “Deixa comigo”.

Sustento que o association, ele próprio, é uma das inúmeras formas de expressão cultural que passou a trilhar um caminho próprio desde que aportou no Brasil. Acredito que isso é uma fatalidade sob o sol que nos ilumina: tudo se aclimata ao seu brilho. Garanto: determinismo zero na afirmação.

Mas não se trata de uma exclusividade nossa – cada país, região ou localidade no mapa-múndi responde pela espontaneidade e autonomia na importação de qualquer fenômeno cultural. A tão acionada antropofagia oswaldiana/tropicalista até poderia servir como chave de interpretação do que falamos aqui, caso o autor de O rei da vela e os posteriores baianos entendessem mais da modalidade que consagrou artistas bem mais populares que eles. (Uma ressalva: Gilberto Gil, autor do célebre verso “Prezado amigo Afonsinho”, demonstra saber do que fala no seu depoimento para Barba, Cabelo & Bigode.) As artes dialogam com o futebol porque têm com ele um nítido parentesco. Cinema, poesia, música e dança já estão ali desde o primeiro toque na pelota. Considerando a contribuição brasileira na renovação técnica, dinâmica e corporal do esporte, fica ainda mais evidente que é de estética que estamos tratando aqui.

Como este é um texto introdutório da minha colaboração com o site, adianto que escreverei sobre personagens e passagens da História do futebol que me parecem os de maior relevo, apesar de, na imensa maioria das vezes, a versão oficial desta não achar o mesmo. E, claro, sempre conforme a sua dimensão cultural, como o Pugliese pediu.

Para concluir, confesso: originalmente pensei em “Futebol são onze” para o nome da coluna. Depois, concluí que “Futebol Arte”, como me foi sugerido pelo Pugliese, era mais pertinente pela abordagem dela. Façamos justiça: o aforisma “Futebol são onze” é fruto da verve do Nei Conceição. Em meio às inúmeras perguntas do roteiro de Barba, Cabelo & Bigode, ele saiu-se com esse súbito insight. O Nei, um tímido que sabe falar muito com tão pouco, tem familiaridade com a transcendência. Essa sentença, creio, guarda um significado que vai muito além da sua circunscrição originalmente desportiva. Já a testei em mais de uma conversa alheia ao “violento esporte bretão” e não fui interpelado a respeito. Para mim, bastou como prova do seu inegável alcance metafísico.

Recomendo o uso.