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NO TÁXI, COM PSG E FOGÃO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


(Foto: Nana Moraes)

Bastou eu entrar no táxi e o motorista foi direto ao assunto: “E, aí PC, o PSG vai bem na Liga dos Campeões, Neymar vai ter vida fácil?”. Pode anotar, vida fácil não terá. O PSG nunca venceu uma Liga e o Neymar terá um desafio maravilhoso pela frente. Olha, eu adoraria estar no lugar dele.

É bom demais jogar uma Liga, ainda mais com a chance de conquistar um primeiro título. Mas o garoto tem estrela e talento. Não viram na Olimpíada? Essa chave será muito equilibrada porque tanto o Emery, técnico do PSG, quanto o Ancelotti, do Bayern, gostam de jogar mais defensivamente, por uma bola.

E o time do PSG está em formação. O Di María não fará falta porque o Mbappé é ótimo jogador. O PSG tem que entrar em campo sabendo que não é o Barcelona.


O Campeonato Francês regula com o deles, podem acreditar. O inglês, espanhol, italiano e alemão estão bem à frente. Até o português tem tido bons jogos. Mas torço demais para que o talento de Neymar supere esses ferrolhos.

Acho que respondi, mas antes de terminar a corrida o motorista quis saber do Botafogo x Grêmio.

Os dois têm perdido tudo nesse ano, mas acho que dá Botafogo, apesar de Luan (que só joga na volta) ser um excelente jogador.

Gostava do Grêmio treinado pelo Roger justamente por fazer o time jogar, tocar a bola. São os treinadores que jogam por uma bola que estão enfeiando cada vez mais o nosso futebol e, por isso, se o Botafogo não se acovardar como fez com o Flamengo, pode sair vencedor.

DAVI CONTRA GOLIAS

por Marcos Vinicius Cabral e Rafael Evangelista


Há uma passagem na Bíblia que conta a história do povo israelita e do filisteu.

Nela, havia um gigante filisteu, chamado Golias, que sempre zombava dos israelitas.

Fez isso por intermináveis 40 manhãs e 40 tardes.

– Escolham um homem para lutar comigo. Se ele vencer e me matar, seremos seus escravos. Mas, se eu vencer e o matar, vocês serão nossos escravos. Desafio vocês a escolherem alguém para lutar comigo – disse o gigante, desafiando o povo de Israel.

Indignado, Davi perguntou aos soldados:

– O que ganhará o homem que matar este filisteu e livrar Israel da vergonha?

– O nosso Rei Saul dará ao homem muitas riquezas e sua filha em casamento – disse um desolado soldado.

Mas todos os israelitas estavam com medo de Golias, porque ele era muito grande, com uns três metros de altura.

Ciente do desafio à frente, o pequeno Davi aceitou o desafio.

Com isso, alguns soldados foram contar ao Rei Saul, que Davi queria lutar contra Golias.

– Mas Saul, não pode lutar contra este filisteu. Você é apenas rapaz, e ele foi toda a vida soldado – alertou o Rei de Israel.

Com pequenos feitos, Davi respondeu:

– Matei um urso e um leão que haviam levado ovelhas de meu pai. E este filisteu será como um deles.

Diante da insistência do pequeno soldado, o Rei Saul desejou-lhe sorte.

E então, Davi se foi.

Desceu um riacho para apanhar cinco pedras lisas, que pôs na sua bolsa. Depois tomou a funda e foi ao encontro do gigante. Vendo Golias, quase não acreditou, tamanho o susto com seu tamanho.

– Venha para cá, eu vou dar seu cadáver às aves e aos animais – esbravejou o gigante filisteu.

Então, Davi correu em direção a Golias. Tirou uma pedra da bolsa, colocou-a na funda e atirou-a com toda a força. A pedra acertou em cheio a testa de Golias e ele simplesmente caiu, com o rosto no chão. Davi foi até Golias e, usando a espada daquele gigante, decepou a cabeça dele.  (1 Samuel 17:48-51)

Vendo os filisteus que seu campeão havia sido morto, todos fugiram. Os israelitas correram atrás deles e venceram a batalha.

E não seria exagero ressaltar, que alguns “Davis” vencessem alguns “Golias”, em confrontos inimagináveis.

Na Copa da Espanha, em 1982, quem depositaria alguma esperança de vitória na Itália de Enzo Bearzot, diante do Brasil de Telê Santana, que encantou o mundo?

Resultado: 3 a 2, com três gols do camisa 20 da Azurra, o carrasco Paolo Rossi.


Em 1989, quem apostaria no desacreditado Botafogo, na final do Campeonato Carioca daquele ano?

Resultado: Depois de uma fila de 21 anos sem títulos, o Botafogo se sagrou campeão carioca invicto, de 1989  em cima de um timaço do Flamengo que tinha Jorginho, Aldair, Leonardo, Zinho e Bebeto – todos tetracampeões – mais Zico. O gol salvador, e polêmico, do ponta Maurício, marcado aos 12 minutos do segundo tempo, deu o título tão sonhado à torcida do Fogão.


No Campeonato Brasileiro de 1992, os favoritos ao título eram Botafogo, São Paulo e Vasco.

O Flamengo, que contava com várias pratas da casa na competição, como Júnior Baiano, Gélson Baresi, Piá, Fabinho, Marquinhos, Marcelinho, Paulo Nunes, Djalminha e Nélio, enfrentava a forte equipe alvinegra, com jogadores experientes, e em grande fase, como: Renato Gaúcho, Valdeir, Carlos Alberto Dias, Válber e o zagueiro do Tetra, Márcio Santos.

Resultado: Com uma vitória maiúscula por 3 a 0 no primeiro jogo, com todos os três gols marcados ainda no primeiro tempo, e um empate em 2 a 2 no segundo, a equipe rubro-negra, sob a regência do Maestro Júnior, sagrava-se pentacampeã daquele ano.


E assim, com carreiras distintas fora das quatro linhas, quisera o destino, que o pequeno Davi (Jair Ventura), enfrentasse o Gigante (Renato Portaluppi).

Em jogo válido pelas quartas de final da Taça Libertadores da América, Botafogo e Grêmio se enfrentam na primeira batalha de um jogo de 180 minutos, e a luta é pela sobrevivência na competição. 


Só que dessa vez, o garotinho que tirou uma foto ao lado do ídolo na infância tem a chance de derrubar aquele que um dia lhe pareceu gigante, mas não usando uma pedra, e sim a cabeça; Jair é reconhecidamente, um dos melhores técnicos da nova safra de treinadores brasileiros, junto com Fábio Carile, Zé Ricardo e tantos outros ex-auxiliares que ganharam uma oportunidade como interinos e foram efetivados; Ventura tem como uma de suas principais qualidades, o poder de persuasão, tranquilidade e bom diálogo com os jogadores, fazendo ajustes precisos durante o jogo e, principalmente, no intervalo das partidas, fruto das anotações que faz no seu bloquinho.

O Botafogo vem embalado por uma vitória por 2×0 em cima de seu arquirrival, o Flamengo, e o Grêmio vem de derrota para o Vasco. A confiança é fator chave nesses momentos, e o Botafogo busca forças no bom retrospecto nessa edição da maior competição do continente.

Quem sairá vencedor nessa primeira batalha entre Davi e Golias? Vamos aguardar os primeiros 90 minutos desse jogo eletrizante! 

A CORAGEM PARA VENCER DESAFIOS

por Zé Roberto Padilha


Além de decidirem uma vaga nas semifinais da Copa do Brasil, Flamengo e Botafogo realizaram mais que uma partida decisiva. Foi, durante os 90 minutos, uma lição de auto ajuda que entrou na alma dos torcedores pelo país disfarçada em emoção. Uma lição em meio a paixão, que serve para melhorar a vida de todo mundo. Refiro-me ao desejo de vencer. De sair dos vestiários do seu conforto e entrar no serviço público, no escritório, nas fábricas e na universidade com a coragem com que o Flamengo entrou em campo. Sem o receio botafoguense de anteontem, de jogar o seu destino por uma bola. E levar projetos de vida para serem decididos nos pênaltis.

Não vou recorrer à estatísticas frias e calculistas, como conferir posse de bola, chutes e escanteios a favor. Isso é feito por todas as transmissões no show do intervalo. Vou ficar com os impressionantes piques do Bruno Silva para cima da zaga do Flamengo sem a bola. Ele marcou como nunca. E os trotes e toques que deu para o lado, das tímidas penetrações que ensaiou quando tinha o domínio da bola. Cada jogador rubro-negro procurou o gol como uma meta na vida a ser superada. Cada jogador alvinegro se afastou da meta como a esperar que a vitória fosse lhe cair colo. Como num outro lampejo de sorte. 


(Foto: Márcio Alves)

Como observador neutro e tricolor, mas apaixonado pelo futebol e pelo meu país, acabei torcendo para que a ousadia rubro-negra fosse, afinal, recompensada. Pois se a prudência e o receio de um contra-ataque fossem premiados e alcançassem as finais do Copa do Brasil, com que estímulo sairíamos às ruas, bateríamos panelas sem Temer, para mudar o Brasil ano vem? Parabéns, Flamengo, pelo exemplo de ontem, por sua coragem em se expor e superar desafios. Nossa nação estava precisando de exemplos assim de uma mesma nação.
 

MÃE À VENDA

por Lucio Branco


Sede de General Severiano com faixa anunciando um Baile Black com o Monsieur Lima.

Botafogo de Futebol e Regatas, meados dos anos 1970.

A rigor, o que sucedia ali, dia após dia, quando já se acumulava mais de meia década sem títulos de uma contagem que viria a somar 21, no total?

A resposta: os corredores e gabinetes da sede de General Severiano tramavam a sua venda para a Companhia Vale do Rio Doce. À época, a Vale era uma estatal sob gestão de uma ditadura militar que se mantinha entre abusos e desvios num cenário totalitário e corrupto que demanda urgentemente ser tratado como tal pela História escrita e falada. Pesquisadores honestos podem calcular quão árdua é a tarefa. Afinal, a pós-verdade vigente fabrica revisionismos até mais canalhas que os da época.


Luiz Fernando, Garrincha e Charles Borer

Nas sombras da manobra comercial, a infâmia tinha nome e sobrenome: Charles Borer. Naqueles dias, milicos e congêneres desfilavam à solta pelos clubes. Portanto, nada mais dentro da norma que um cartola acavalar o cargo de presidente de uma agremiação desse porte com o de empresário do ramo de segurança privada. Era exatamente o caso. Mal assumido o comando, não bastou a Borer comercializar no interior do templo – o vendilhão tratou de vender o próprio templo.

Foi um acordo que apresentava o seu fim desde o início: a crise que punha o clube à deriva há alguns anos, agora o faria naufragar. Logo a torcida ficaria nostálgica da razão que a fizera calar o “É campeão” tão ecoado nos anos anteriores:o desgaste do plantel por conta das sucessivas convocações para o escrete nacional. Isso era bem mais que uma mera desculpa para a fuga de taças tidas como certas. Craques em bloco eram assiduamente sacados do Botafogo em plena temporada para compor as maiores escalações que o mundo da bola já testemunhou. Um fornecimento tão generoso que viria a combalir a contabilidade de títulos e dos cofres do clube.

(Um parêntese: definitivamente, não cabe o argumento de que o Santos sofria o mesmo desfalque no período. O Botafogo cedia mais e melhores jogadores. E, em contrapeso, o time paulista contava, então, com um Pelé em permanente estado de auge. O Rei sempre fazia a diferença, inclusive, contra o próprio Botafogo, em decisões com Garrincha, Didi, Nilton Santos etc que superpovoavam o Maracanã da primeira metade dos 1960. Foi somente com a geração subsequente de Gerson, Jairzinho e Paulo Cézar Caju etc, que a vantagem no confronto direto mudou de lado.

Por essas e outras, o constante questionamento do título de Atleta do Século é um exercício onde pontua mais a má-fé que a ignorância.)

O mais comprometedor é que os Borer, um clã policialesco que aproveitava períodos políticos de exceção para mostrar serviço, já carregavam na sua ficha corrida uma outra demonstração de repulsa à instituição que os projetou.

Três décadas antes, em pleno Estado Novo,o irmão mais velho de Charles, Cecil – que depois, sob os militares, foi diretor do DOPS –, disparou à queima-roupa contra João Saldanha numa reunião do PCB, realizada na UNE. A alegação de legítima defesa – Saldanha tentou acertá-lo antes com uma cadeira – é calhorda. O que ficou disso foi o efeito prático que teve na vida do futuro treinador do clube – e já, então, seu sócio dirigente atuante –, que a teve abreviada em função das complicações do ferimento, progressivamente agravadas com o seu envelhecimento natural.

Efeito prático e, faltou dizer, simbólico. Afinal, quem são os Borer em comparação com o treinador campeão carioca de 1957 na galeria alvinegra?

Dado o hábito deste em se prevenir com armas de fogo, seria legítimo especular sobre um possível acerto de contas posterior, em igualdade de condições. Mas é pouco provável. A autodefesa tática adotada por Saldanha alertava que o pior adversário possível é a polícia: – “Eles nunca estão sozinhos”.

(Uma cadeira contra uma pistola…Por aí se vê o porquê do “Sem Medo” que Nelson Rodrigues colou ao seu nome.)

Agora, uma enquete: alguém aí já foi apresentado à carranca de Charles Borer? Uma pesquisa no Google revela apenas três fotos do elemento. Todas de uma matéria da Revista Placar em que ele jura nada ter a ver com um escândalo de compra de árbitros. Com uma ou outra variação, ei-lo às voltas com um tema de semelhante teor.

E mais: numa entrevista para a mesma publicação, em 1981, conseguiu pôr a culpa da sua desastrosa administração na torcida. E,claro, principalmente nos indefectíveis comunistas infiltrados nela…

Mas voltemos à venda de General Severiano…

Por bem menos dentro do quesito entreguismo, retiraram, acertadamente, a foto do Mauricio Assumpção do quadro de presidentes do clube no salão nobre da sede. Na mística relativa de que “tem coisas que só acontecem ao Botafogo”, a História se repetiu, no caso, como tragédia e como farsa: por malversações criminais outras, a justiça foi feita. Mas é preciso dizer que, como resposta a um ex-mandatário de folha corrida, foi um gesto consideravelmente isolado, reflexo direto do seu próprio isolamento político dentro do clube.

Por isso, vai aqui a sugestão – já condenada ao fracasso – senão de também retirar a foto de Charles Borer do mesmo quadro, pelo menos fazer constar, em legenda, sob a sua tenebrosa figura, a informação de que afundou a agremiação em dívidas para se beneficiar diretamente do desfalque do seu patrimônio material maior. Mesmo sabendo que apagar a História não a melhora – lição involuntária que Rui Barbosa deu ao país –, a iniciativa poderia ser considerada.


André Barros

Sei que, nessa trincheira, estaria o bravo advogado André Barros. Desde a época da negociação escusa – contra a qual bateu de frente –, é um engajado nas causas do Glorioso que casam política, direito e justiça (combinação infelizmente inviável na atual conjuntura nacional).

Inclusive, no dia em que o Dr. Barros quiser lançar sua candidatura à presidência do clube, serei seu mais fiel cabo eleitoral. Melhor: se ninguém se apresentar para preencher a vaga, pleitearei compor a sua chapa, caso ele julgue louvável a ideia. Seria este o único modo de dar o meu apoio ostensivo a um candidato na política interna do clube. E reforçaríamos, assim,a sua tese de que o Botafogo é, por tradição, a morada de quem não prima exatamente pela Razão, este atributo menor quando se trata da adesão ao Preto & Branco.

No mínimo, por causa da tentativa homicida de Cecil Borer contra Saldanha, no início dos 1940, seu clã deveria ser impedido de circular pelas dependências do clube. Intolerância zero na afirmação. Só assim para haver o reparador senso de justiça verdadeiramente democrático diante do malfeito. O Estado Novo terminou pouco tempo depois, mas por aí se vê o quanto o pouco apreço nacional pela democracia seguiu incólume.

A entrega da sede de General Severiano prova o perigo da concentração de poder nas mãos de um só cartola. E, para piorar, não bastando influir nos bastidores da sua administração, outro membro da mesma famiglia vir a se tornar, anos depois, presidente da instituição, só poderia ser obra de um período permissivo com arbítrios dessa natureza. Mas, de certa forma, não deixa de guardar coerência com a escolha de outros nomes que ocuparam a mesma cadeira naqueles anos de exceção, e também posteriormente – porque afinal, por aqui, em política, exceção é regra.

No loteamento que a ditadura operou no futebol brasileiro, o Botafogo foi um dos seus maiores reféns.


Mas o que importa é que segue vivo…

A luz que ora cai sobre o Alvinegro redime, com rara justiça, tantos naufrágios imerecidos, parentes daquele que não foi o primeiro, mas que foi, certamente, o maior: a entrega da sede. Sua restituição, anos após, não apagou o trauma. A rigor, o trauma que resultou dali não foi exatamente trauma. Foi maldição mesmo .Em suma: Borer é o nome a se exorcizar.

Ponho fé que vencer pelo menos uma das duas competições que o Botafogo tem chances concretas de vencer este ano dará fôlego à iniciativa (simbólica ou não) de retirar o seu retrato do quadro oficial de ex-presidentes. Ou, então, como sugerido, grafar a devida acusação histórica sob a cara medonha daquele que se igualou ao filho que, como consagrou o dito popular, vendeu até a mãe.

Pensando bem, por mim, a sugestão já virou promessa. E, claro, promessa é promessa. Portanto, Dr. Barros, a nossa chapa deve assumi-la desde já. Quando lançamos a candidatura?

DIA DE CLÁSSICOS

Dois clássicos prometem agitar a 13ª rodada do Campeonato Brasileiro. Enquanto Fluminense e Botafogo se enfrentam no Maracanã, em confronto direto para se aproximar da zona de classificação para a Libertadores, o Palmeiras recebe o líder Corinthians. Por conta disso, a equipe do Museu da Pelada recorda hoje dois clássicos sob as lentes do saudoso Canal 100!