por Lucas Rafael Chianello, do Blog Chianéllico
Dois fatores contribuem para um fato público, notório, incontroverso e consumado: a baixíssima expectativa da Copa do Mundo de 2018 pelos brasileiros.
O primeiro é a “europeização”: como atletas ficam cada vez menos tempo nos clubes brasileiros, há uma perda de identidade.
O segundo é a “direitização” do futebol brasileiro: mesmo por setores que não sejam os de esquerda acirrada, assídua ou declarada, a camiseta da CBF está intimamente ligada à corrupção no futebol e toda a desgraça causada pelos patos amarelos, que as utilizaram como uma espécie de abadá do golpe.
Além disso, o futebol está cada vez mais caro: ingressos para as partidas são caros, camisetas do clube de coração são caras, bola, chuteira e meião para crianças aprenderem a jogar futebol são caros.
Não se tem mais futebol de rua, de campo de terra batida e pés descalços.
Hoje tudo começa numa quadra society, onde você tem de jogar com o tênis apropriado para o cercadinho que cobra o aluguel por hora.
As transmissões televisivas estão cada vez mais sumárias, pasteurizadas e sisudas.
Até tempo atrás, além de nos identificarmos com os craques dos nossos clubes de coração, também nos identificávamos com narradores e comentaristas.
Não tem mais um Silvio Luiz para dizer que o melhor gramado do mundo é o de Moscou porque é tratado com esterco de galinha d´Angola.
Não tem mais um Januário de Oliveira para dizer que o corpo do Super Ézio está estendido no chão.
Não tem mais um Fernando Sasso para dizer que ela está no filó.
Não tem mais o maior deles, João Saldanha, para dizer que é só chutar de longe que o Mazarópi aceita e o outro time ganha jogo, para dizer que a seleção está dominando a zona do agrião e que o lateral tem de passar mais em profundidade porque como o campo não é loteamento, ninguém tem posição fixa.
Por isso que a Fox Sports deve repetir a dose de 2014 e escalar o Fabio Bonfá para narrações bem humoradas, assim como narrações desse tipo deveriam ter mais espaço na TV aberta e no rádio.
Como não tem nada disso, o brasileiro perde cada vez mais a identificação com o futebol, que sempre funcionou numa estrutura social, econômica e jurídica totalmente autoritária e mercantilista.
Ainda sim, durante um bom tempo a discussão era quem torcia para o melhor time.
Hoje, é de quem torce para o clube que tem estádio e dinheiro para contratar.
Mesmo que o capitão do Tite levante a taça, a identificação do brasileiro com o futebol já foi derrotada faz tempo.