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Bangu

arturzinho ou rei artur?

por Luis Filipe Chateaubriand

Artur dos Santos Lima, ou Arturzinho, foi um futebolista brasileiro que atuou entre meados dos anos 1970 e início dos anos 1990.

Carioca, começou sua carreira no São Cristóvão, tendo se transferido, logo em seguida, para o Fluminense.

Então, começou um périplo por diversos clubes brasileiros, como o Operário de Mato Grosso do Sul, o Internacional de Porto Alegre, o Bangu, o Vasco da Gama, o Corínthians, o Botafogo, dentre outros.

Ponta de lança que era, tanto preparava as jogadas para os artilheiros marcarem seus gols, como ele mesmo os marcava com frequência.

Teve seus melhores momentos no Bangu – quando este era clube grande – e no Vasco da Gama.

No Vasco da Gama, fez dupla com Roberto Dinamite, o que o levou a ser vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1984 – sendo superado, apenas, pelo próprio Roberto Dinamite.

Mas seu grande momento foi no feriado de Sete de Setembro de 1983, quando formava no Bangu, e o clube alvirrubro se confrontou com o Flamengo.

Os banguenses aplicaram uma sonora goleada de 6 x 2 nos rubro negros, e Arturzinho teve atuação de gala – não se diga que só faltou fazer chover porque, inclusive, choveu naquela tarde / noite no Maracanã.

Em determinado momento, um torcedor do Bangu, entusiasmado com a atuação de Arturzinho, invadiu o gramado com uma coroa feita de papelão e, então, colocou a coroa na cabeça de Arturzinho.

Nesse momento, estava proclamado que Arturzinho era o Rei Artur!

Na Seleção Brasileira, jogou poucas vezes. Mas não há dúvidas: tratava-se de um senhor jogador de futebol! 

BANGU: A EX-MISS DO FUTEBOL CARIOCA

por André Luiz Pereira Nunes


O Bangu mais uma vez decepcionou no Campeonato Estadual. Sua pífia campanha, a qual culminou na goleada acachapante para o Flamengo, por 6 a 0, demonstra que os áureos tempos em que jogava de igual para igual com os grandes em busca de títulos, tanto em esfera regional como nacional, ficaram mesmo para trás.

O Alvirrubro da Zona Oeste só não foi rebaixado porque o regulamento, no tocante ao descenso à segunda divisão, foi recentemente alterado. Apenas o último colocado, Volta Redonda, cairá sem choro nem vela. É óbvio que essas mudanças não ocorrem por acaso. Servem justamente para conceder um certo alívio a determinadas ex-misses. Já viram por acaso álbum de ex-miss? É o famoso “olha como eu era”. Se aplica perfeitamente a equipes como Bangu e America que ainda respiram ares aristocráticos e bolorentos de um passado cada vez mais remoto e que hoje se assemelham mais a maracujás de gaveta.

A principal atração do Bangu esse ano foi o treinador. O ex-lateral-esquerdo Felipe, que fez história no Vasco. Foi uma aposta, é claro, pois está a iniciar a nova e ingrata carreira. E, ainda assim, não tem como fazer milagres. O elenco é comprovadamente muito fraco. Tão, mas tão ruim que capitulou por 6 a 0 diante do Flamengo, em pleno Maracanã, no último jogo. Parece até resultado de jogo-treino contra time juvenil.

Foi-se o tempo em que os banguenses tinham um verdadeiro timaço. No início da década de 80, o bicheiro Castor de Andrade injetava muita grana. E não se omitia na hora de reforçar a equipe. Trazia desde veteranos consagrados, como o lateral-esquerdo Marco Antônio, a revelações do porte de Marinho, Arturzinho, Mário, Baby, Ado e tantos outros. Eram os tempos em que, na pior das hipóteses, o Bangu chegaria às semifinais de uma Taça Guanabara ou Taça Rio.

Em 1985, por exemplo, eliminou o Flamengo e chegou à decisão contra o Fluminense. E só não foi campeão porque o polêmico árbitro José Roberto Wright não concedeu, ao fim do cotejo, pênalti claro de Vica em Cláudio Adão. Ao Bangu bastava apenas o empate. O Fluminense ganhava, de virada, por 2 a 1.

No mesmo ano, os banguenses, em campanha memorável, já haviam sido vice-campeões brasileiros. Inacreditavelmente perderam a final, nos pênaltis, no Maracanã, para o Coritiba. Também houve nesse jogo um polêmico lance que poderia ter dado o título ao Bangu a partir de uma arrancada de Marinho que, claramente vindo de trás, driblou vários marcadores, o goleiro Rafael, e fez um lindo gol. Um lance magistral desse grande craque, o último do Bangu a ser convocado para a Seleção Brasileira. Apesar do bandeirinha ter validado o gol ao correr para o meio, o juiz Romualdo Arpi Filho marcaria impedimento.

Não à toa, o saudoso ex-árbitro Walquir Pimentel dizia sempre que futebol se ganha dentro e fora do campo. Se uma equipe não tem influência nos bastidores, não conquista absolutamente nada. Por incrível que pareça, o Bangu de Castor poucos títulos ganharia naqueles áureos anos. Mas o atual, pelo menos, dificilmente será rebaixado nas próximas edições. A menos que se esforce ao máximo para ser o último colocado do Campeonato Estadual. É uma tarefa difícil, mas não impossível, em se tratando das últimas campanhas e da qualidade sofrível de seus elencos.

O FALSO ALEGRE

por Marcos Eduardo Neves


No tempo em que existia ponta-direita e ponta-esquerda no futebol, surgiu uma peça ofensiva que vestia a camisa 7 ou 11 mas não se restringia à limitada faixa lateral do campo. Era o falso ponta. Em sua fase áurea, por exemplo, o Flamengo teve dois atacantes assim: Tita e Lico. Nesta semana, perdemos não um falso ponta, mas um falso alegre. O sorridente malandro Mário José dos Reis Emiliano. O trágico Marinho, do Bangu.

Moleque travesso, luz que escureceu da noite para o dia. Aliás, do dia, vários dias, para a noite. Treva eterna de uma existência triste, solitária e infeliz.

O destino foi cruel com ele. Disfarçadamente. Primeiro o enganou, fez dele uma revelação do futebol. Aos 12 anos, precisou arrancar forças do Além para superar o drama de ver sua irmã morrer na sua frente, atropelada, quando o levava a um treino. A bola o salvou.

Marinho despontou com a camisa da seleção de novos e disputou a Olimpíada de 1976. Estreou jovem no fortíssimo time principal do Atlético Mineiro. O céu parecia o limite. Mas justamente quando poderia ter disputado sua primeira final de Brasileiro, ao lado de astros como Cerezo, Reinaldo e Éder, não prestava mais seus serviços em Beagá. Escondia-se em São José do Rio Preto, defendendo as cores do América paulista. Primeira grande ironia.

Não se abateu. Talentoso, provou seu valor e por alta cifra se transferiu para o forte Bangu, clube patrocinado por um contraventor cheio de bufunfa. O bicheiro Castor de Andrade montou um time para ganhar tudo. Em 1985, Marinho se tornou estrela nacional. Melhor jogador do Campeonato Brasileiro, fazia parte da seleção. Nos braços de amigos e na boca das mulheres, surfava a crista da onda.

Seu Bangu chegou às finais de tudo que disputou naquele ano. No Carioca perdeu a decisão para o Fluminense de maneira contestável. O árbitro fez vista grossa para um pênalti claro a favor do clube suburbano, nos instantes derradeiros. Já no Brasileiro, cenário final apoteótico. Maracanã lotado com as torcidas cariocas em peso no estádio; o Rio a favor do alvirrubro de Moça Bonita. Nos pênaltis, Bangu vice. Diante do mediano Coritiba e em casa, o apogeu de um belo time sem títulos, em suma, uma excelente equipe condenada ao ostracismo.


Marinho, contudo, era maior do que uma simples faixa no peito. 1986 era ano de Copa do Mundo. Na convocação final para o Mundial do México, porém, Telê Santana contrariou o ‘Zé da Galera’, personagem de Jô Soares no humorístico ‘Viva o Gordo’, e extirpou em um corte só dois ponteiros: ele e Renato Gaúcho. Nova decepção. Que sempre com um sorriso no rosto, sua marca registrada, Marinho haveria de contornar no ano de 1988.

Contratado pelo Botafogo, clube que dependia financeiramente de outro dono de banca do jogo do bicho, Emil Pinheiro, tudo indicava que Marinho, aos 30 anos de idade, daria finalmente o pulo do gato.

Não deu. E por não saltar não salvou seu filho, que com um ano e sete meses caiu na piscina da mansão enquanto o pai concedia uma entrevista à imprensa. O anjinho partiu afogado. Matando Marinho de vez.

Do mundo de tapinhas nas costas e farras, o jogador mergulhou profundamente no umbral das bebidas. Foi dizimado aos poucos pelo alcoolismo. Em contrapartida, seu patrimônio e sua vida pessoal dele se desfaziam de maneira tão veloz quanto partia Marinho para cima dos beques, serelepe, com a bola nos pés.

Perdeu a esposa, morou no próprio carro e até nas dependências do Bangu. Vagava pelas ruas do bairro que lhe deu fama e anonimato. Nos últimos anos contraiu tuberculose. Resgatado por um filho, voltou a Belo Horizonte. Na cidade que viu seu início mostrou-lhe o capítulo final.

Aos 63 anos, numa sala de UTI de um hospital público, o falso alegre perdeu o jeito para driblar tantas adversidades. Encarava um marcador inclemente: um câncer metastático de pâncreas. Passou por três cirurgias, mas pela última vez perdeu o jogo decisivo. Deixando lacrimejado nos fãs um sorriso amargo. Amargo de amargura.

OBRIGADO, MARINHO

por Ricardo Beliel


Eu soube agora que o ex-jogador Marinho faleceu em Minas Gerais. Marinho foi um jogador brilhante e chegou a ser convocado para a seleção brasileira. Teve uma infância difícil, criado pela mãe enfermeira:

”Ela era trabalhadeira. Enfermeira do Hospital Militar. Mas tinha dias que tinha de lavar defunto. Contava isso pra gente em casa.” (Declaração publicada no Jornal O Estado de Minas).

Com seis irmãos e muitas dificuldades, vagou pelas ruas de Belo Horizonte até ser convidado a treinar no Atlético Mineiro. Com o time do Bangu, chegou à final do Campeonato Brasileiro, mas foram vice-campeões.

No auge da carreira, da fama e de uma efêmera estabilidade financeira, vivenciou seu pior drama quando encontrou seu querido filho, ainda criança, afogado na piscina de casa.

“Meu chão desapareceu. Não sabia mais o que ia fazer. Meu filho tinha morrido, ali, pertinho de mim e eu não fiz nada. Foi na minha frente. Não tinha vontade de fazer mais nada. Eu acabei saindo de casa e fiquei morando no meu carro, uma Mercedes-Benz, por 10 dias. Bebia muito. Eu virei, praticamente, um mendigo. Perambulava pelas ruas de Bangu e Realengo. Dormi diversas vezes debaixo de viadutos”. (Declaração publicado no Jornal O Estado de Minas).

Me lembro dele como um cara alegre, boa praça e grande jogador. Minha homenagem a ele publicando aqui uma capa que fiz da revista Placar no melhor momento de sua vida.

CAMPEÃO DO MUNDO, À REVELIA

por Pedro Henrique Gomes

A extraordinária jornada do Bangu pelas terras do Tio Sam


Bangu, campeão do International Soccer League (1960). Fonte: https://www.bangu-ac.com.br/titulo-mundial-do-bangu-faz-58-anos/

Era 1960 e ninguém quis representar o Brasil num torneio internacional de Football sediado na cidade de Nova Iorque por medo de represálias das federações locais de futebol. Fluminense, Botafogo, Santos e Palmeiras renunciaram ao torneio e o Bangu, vice-campeão carioca em 1959, assumiu a missão de ser o embaixador do futebol em terras estadunidenses. Contra os interesses da federação de futebol do Rio de Janeiro e sob críticas dos jornalistas de plantão, Bangu mandou seu jovem time para o torneio e colocou a equipe de juniores para disputar o campeonato carioca daquele ano. O jovem Ademir da Guia e o clube proletário foram as sensações do torneio numa campanha invicta contra os grandes campeões do território europeu.

Para incentivar a prática futebolística nos EUA, o International Soccer League foi um Torneio Mundial de Clubes realizado em Nova Iorque e disputado entre 1960 e 1965. A primeira edição foi realizada durante os meses de maio, junho e julho de 1960. Autorizada pela FIFA e sob a supervisão de Stanley Rous, então presidente da Associação Inglesa de Futebol, secretário-geral e vice-presidente da FIFA, o torneio teve como referência a Copa do Mundo de Seleções e foi jogado por boa parte do campeões nacionais dos países que disputaram a Copa do Mundo de 1958, quando o Brasil se sagrou campeão pela primeira vez.

O texto que vos escrevo é uma tentativa de mostrar a trajetória de um campeão à revelia que encantou o público em terras estrangeiras, foi denunciado para a justiça desportiva e foi bastante criticado pela imprensa local. O Bangu, clube proletário e suburbano carioca, foi rebelde no cenário futebolístico em 1960. Por meio de notícias do Jornal dos Sports, tradicional periódico da cidade do Rio de Janeiro, será narrado alguns episódios da jornada heroica alvirrubra.

Uma viagem à revelia

Antes de qualquer coisa, vale explicar a mencionada infração do Bangu frente às determinações da Confederação Nacional de Desportos (CND). Na época, a CND proibia a participação dos clubes futebolísticos em eventos paralelos aos campeonatos locais e regionais. Não era permitido colocar o Campeonato Carioca e o Torneio Rio-São Paulo em segundo plano. Existia punição por meio de multa e o clube era julgado pela justiça desportiva para a definição de outras punições. O Bangu questionou as determinações, aceitou o convite para disputar o torneio e foi julgado.

Na época, leitores do Jornal dos Sports enviavam cartas com críticas ferrenhas ao clube proletário. Em duas delas, é possível entender parte das razões. Numa crítica publicada em 04/08/1960, na página 03, do referido periódico, intitulada O Medo de Punir, um leitor discutiu e defendeu a punição do Bangu em prol da valorização dos campeonatos locais e da ordem estabelecida na CND. Porém, reconhecia que dificilmente o clube seria punido em razão da elasticidade das leis desportivas. Segundo o leitor, “é preciso impedir que o fato se repita. Ou pela penalização severa do Bangu, que parece difícil em face da elasticidade do Código Brasileiro de Football ou pela proibição que existe mas sem punição prevista no regulamento da federação”.

Em outra crítica publicada no dia 05/08/1960, intitulada O Sentido do Campeonato, o leitor denunciava a desvalorização dos campeonatos locais pelos clubes em virtude das viagens para excursionar em vários países denominada por excursões caça-níquel. Tal atitude deixava os jogadores cansados nas vésperas da estreia nos campeonatos locais. Para o leitor, “o campeonato é a atividade sagrada dos clubes. Ou devia ser se fossem respeitados não só os regulamentos como, principalmente, o ideal do esporte”. De certa forma, a denúncia era fruto de uma preocupação dos torcedores e dirigentes num contexto marcado pela emergência do futebol brasileiro após a sua primeira conquista mundial com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958. Os clubes brasileiros eram cada vez mais convidados para jogar fora do território nacional, o que gerava rendimentos financeiros para os mesmos, e isso poderia gerar a desvalorização dos tradicionais campeonatos locais. Para muitos, a atitude do Bangu foi considerada uma subversão do esporte, um desinteresse pela competição e o público local. Em razão disso, o clube foi julgado no dia 05/08/1960 e foi isento de culpa. O caso foi considerado um problema administrativo da federação e seu regulamento.

Na imprensa carioca, além das cartas enviadas pelos leitores, os colunistas do Jornal dos Sports travavam grandes debates sobre o acontecido. Muitos jornalistas consideravam que a aventura do jovem time do Bangu seria marcada por derrotas e prejuízos financeiros. Entretanto, outros reconheciam os feitos da equipe alvirrubra e elogiavam a campanha. Um exemplo era o jornalista Nelson Rodrigues. Apesar de críticas iniciais, Rodrigues publicou textos com destaques para a campanha do Bangu. No dia 04/08/1960, na coluna Dá Bom Dia, é publicado o texto intitulado A Estrela do Bangu, marcado por ideias ufanistas. A equipe do Bangu e sua vitoriosa trajetória representava, juntamente com o primeiro título mundial da seleção brasileira, o rompimento do complexo de vira-latas e a emergência do sentimento de valorização de ser brasileiro. Segundo Rodrigues, “é nas partidas internacionais que o sujeito sente a conveniência de ser brasileiro. Agora mesmo, amigos, agora mesmo! O Bangu está nos Estados Unidos representando o nosso football. E não apenas o nosso football: — representando o Brasil. A meu ver, um team patrício no exterior é a própria pátria de calções e chuteiras, é a própria nação dando botinadas. E justiça se lhe faça. O Bangu anda realizando milagres, lá fora”.

Uma campanha extraordinária


Extraído de Jornal dos Sports, 05/07/1960.

Diante do contexto de polêmicas e elogios, precisamos destacar a excelente campanha do clube proletário da Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. A equipe teve cinco vitórias e um empate com a seguinte formação: Ubirajara, Joel, Darci Faria, Zózimo, Ananias, Nilton dos Santos, Luis Carlos, Zé Maria, Correia, Ademir da Guia e Beto. O craque do Torneio Mundial de Clubes foi o jovem Ademir da Guia com 18 anos.

A campanha iniciou-se no dia 04/07/1960 com uma sonora vitória de 4 x 0 contra a Sampdoria com dois gols de Zé Maria e dois gols de Luiz Carlos. Com a primeira rodada do torneio realizada, a imprensa local já colocava o Bangu e a Estrela Vermelha como os favoritos. O time de Belgrado também havia ganho o primeiro jogo com uma goleada de 5 x 2 contra o Rapid Viena, campeão austríaco de 1959/60.

Na segunda partida do grupo B do International Soccer League, o Bangu enfrentou o Rapid Viena no dia 10/07/1960. O jogo foi marcado pelo nervosismo da jovem equipe alvirrubra, ao levar um gol no início da partida. Com os nervos em ordem, o time virou o jogo com gols de Zé Maria, Luiz Carlos e Hugo e a defesa se manteve firme para garantir a vitória por 3 x 2. Essas duas primeiras vitórias rompem com o pessimismo do noticiário esportivo fluminense e despertam elogios para a campanha alvirrubra. Boa parte dos elogios são direcionados para o meia Ademir da Guia, o artilheiro impetuoso Zé Maria e a defesa segura de Zózimo. Além de vitórias e gols, o Bangu atraia grandes públicos para as partidas. Nas duas primeiras quase 40 mil pessoas presenciaram os feitos do time.


Extraído do Jornal dos Sports, 11/07/1960.

O terceiro jogo foi contra o vice-campeão português Sporting Lisboa. Em jogo disputado no dia 16/07/1960, o Bangu meteu uma saraivada de 5 x 1, com gols de Zé Maria (2), Luiz Carlos (2) e Beto. O time comandado por Tim jogou partida espetacular e teve Zé Maria como grande nome. O público novaiorquino ficou fascinado com o virtuosismo, as infiltrações esfuziantes e os dribles que deixaram a defesa portuguesa bem confusa. De certa forma, a partida representou uma batalha vencida contra o football viril e ríspido dos portugueses naquele momento. No dia seguinte ao jogo, a edição 4.469 do Jornal dos Sports estampava na capa a grandiosa vitória. Em comparação às vitórias anteriores, era a primeira vez que o periódico dava um destaque digno a campanha do Bangu na terra do Tio Sam. Um dado curioso da partida contra o Sporting de Lisboa foi a manifestação violenta do jogador português Hilario da Conceição após o quarto gol alvirrubro. Para os portugueses, o gol foi ilegal, mas confirmado pelo juiz. Imediatamente, o jogador chutou fortemente a bola em direção aos espectadores da tribuna e torcedores lusos invadiram o campo para pegar o juiz Ray Kraft. Com a polícia em campo, a partida foi restabelecida após alguns minutos para o Bangu completar o placar elástico.


Extraído da capa do Jornal dos Sports, 17/07/1960.

Ao longo das três partidas, Zé Maria e Luiz Carlos demonstravam grande poderio de ataque com gols em volúpia. O jovem Ademir da Guia orquestrava o time e deixava os adversários enlouquecidos com dribles e jogadas objetivas para o gol. Entretanto, é justo e verdadeiro colocar em evidência o comportamento da defesa composta por Joel, Darci Faria, Zózimo, Ananias e Nilton dos Santos. Em três jogos, três gols tomados. A imprensa do torneio destacava o lado sóbrio e a liderança de Zózimo no bloqueio das equipes adversárias. Se a defesa não segurava as investidas adversárias, o goleiro Ubirajara estava pronto para afastar o perigo e garantir o resultado da equipe alvirrubra.

Com três jogos disputados e três vitórias, o jovem esquadrão banguense era a verdadeira sensação do torneio em gols, em belas vitórias e por atrair grande público ao estádio Polo Grounds. O time iugoslavo do Estrela Vermelha acompanhava a campanha do clube proletário e era credenciado como o grande adversário do Bangu na competição. O confronto contra o Estrela Vermelha seria o último da primeira fase e era importante manter a pegada para enfrentá-los com moral. Mas, antes deles, o Bangu enfrentaria o grande campeão sueco IFK Norrköping. No dia 20/07/1960, no estádio Polo Grounds, o Bangu enfrentou a equipe sueca e teve o seu primeiro grande obstáculo no torneio. A partida terminou num 0 x 0, quebrou a série de grandes vitórias e levou a definição do finalista do grupo B para a última partida contra o Estrela Vermelha — grande esquadrão europeu e favorito nas apostas do torneio. No grupo A, já estava definido o finalista. O vice-campeão escocês Kilmarnock fez uma grande campanha e superou as dificuldades impostas pelos seus adversários — Burnley (campeão inglês), Nice (campeão francês), New York Americans (equipe anfitriã), Bayern de Munique (3º lugar no campeonato alemão) e Gievanon F.C. (Campeão Norte-Irlandês).


Extraído do Jornal dos Sports, edição 9.473, de 22/07/1960.

O jogo contra o campeão sueco foi marcado pela aplicação de um ferrolho viking, o que impediu o jogo mais alegre e técnico do Bangu. O grande destaque da partida foi o goleiro Ubirajara com uma série de defesas portentosas. O time sueco foi um grande adversário com uma defesa bem postada e com contra-ataques velozes. Para o Bangu, restou lamentar um pênalti mal cobrado por Décio Esteves, ratificando assim o empate.

Uma final antecipada

A expectativa era grande. Uma semana separavam o penúltimo jogo contra o IFK Norrköping e a última batalha da primeira fase contra os favoritos do torneio. Nesse intervalo, além do descanso, o Bangu aproveitou para ganhar uma grana e viajou para Montreal para enfrentar uma seleção local. 2 x 0 para encantar os canadenses. Enquanto isso, o Estrela Vermelha sapecava o time sueco com um 4 x 0 e chegava bastante confiante para a última rodada. Afinal, um simples empate garantia a sua vaga para a grande final. Eles tinham um saldo de gols acima do Bangu.


Extraído do Jornal dos Sports, edição 9.488, de 10/08/1960.

Chega o dia 30/07/1960. Dia do principal confronto do grupo B do International Soccer League. No entanto, chuvas torrenciais impedem a realização da partida, agora transferida para o dia seguinte — 31/07/1960. Em disputa, os dois grandes favoritos do torneio: Estrela Vermelha e Bangu, com campanhas impecáveis até o momento. Para a imprensa do torneio, o Bangu deveria temer o esquadrão iugoslavo. Afinal, eles foram campeões nacionais em seis oportunidades nos últimos 10 anos e tinham os melhores jogadores da seleção nacional.

Com 20.107 espectadores, o Bangu alcançou a vitória sobre os iugoslavos por 2 x 0 com gols de Décio Esteves e Zé Maria. O primeiro gol alvirrubro foi uma redenção para o jogador Décio após perder horrorosamente um pênalti no final do último jogo. A partida foi bastante disputada e aguerrida com momentos de conflitos entre jogadores de ambos os times. Para o clube proletário, um dos desafios foi jogar sem o seu principal jogador. O jovem Ademir da Guia não atuou na partida. Para a imprensa internacional, a vitória alvirrubra foi o grande acontecimento internacional do futebol naquele momento. Em crônica internacional publicada na edição 9.481 do Jornal dos Sports, em 02/08/1960, o jornalista Albert Laurence intitulou a sua notícia: Football brasileiro conquista mais um triunfo de relevo mundial com as proezas do Bangu no Torneio de Nova York. No mesmo dia e jornal, em coluna do jornalista Luiz Bayer, a campanha vitoriosa em Nova Iorque é valorizada, porém, é lembrada a polêmica do campeonato carioca disputada por uma equipe de aspirantes.

Extraído do Jornal dos Sports, edição 9.481, de 02/08/1960.

Enquanto o Bangu dava show em terras estrangeiras, a equipe de jogadores aspirantes disputavam o campeonato local com uma péssima campanha. O clube proletário suburbano era indiciado pela justiça desportiva e sofria pressões de outros clubes cariocas. Por exemplo, o Madureira pedia a punição do Bangu com a justificativa de abandono da competição e solicitava indenização pelo baixo público em jogo disputado semanas atrás. Já o Flamengo o apoiava e trabalhava nos bastidores para adiar a partida para uma data após o retorno da equipe banguense.

A Grande Final


De 4 a 31 de julho de 1960, o Bangu Atlético Clube disputou seis jogos com grandes potências futebolísticas do mundo, alcançando 5 vitórias e um empate. Com 14 gols pró e 3 contra. Uma campanha impecável com um ataque fulminante liderado por Zé Maria e Luiz Carlos; um meio de campo habilidoso com o jovem Ademir da Guia e experiente com Décio Esteves; e uma defesa segura liderada por Zózimo e sob a guarda do bom goleiro Ubirajara. O futebol do Bangu encantou os norte-americanos, levando milhares de pessoas ao estádio Polo Grounds. A equipe chegava a final como favorita contra o descansado Kilmarnock, vice-campeão escocês na temporada 1959/60. Sim, descansado. A equipe escocesa tinha disputado a sua primeira fase entre os meses de maio e junho de 1960 e só aguardava o seu adversário para a grande final.

A imprensa brasileira valorizou a campanha banguense e rumou para as terras da América do Norte para cobrir o acontecimento histórico. Mais do que a final de um torneio, a primeira edição do International Soccer League representava o sucesso popular do “soccer” numa grande nação que, até aquele momento, não tinha demonstrado interesse no esporte mais praticado no mundo. De certa forma, as equipes participantes foram os embaixadores do football nos Estados Unidos e arredores. A seguir, podemos assistir alguns lances da grande final.

No dia 06/08/1960, Bangu e Kilmarnock decidiram a final da primeira edição do International Soccer League. Nesse jogo, o Bangu sagrou-se campeão com uma vitória tranquila de 2 x 0. Os gols foram assinados pelo atacante Valter. Cerca de 25 mil pessoas presenciaram uma bela partida e se encantaram com o futebol alvirrubro. Na final, a equipe foi formada por Ubirajara, Joel, Zózimo, Darci Farias, Ananias, Nilton dos Santos, Correia, Zé Maria, Décio, Décio Esteves, Valter e Beto. Apesar da expectativa antes da final, os jogadores Ademir da Guia e Luiz Carlos não foram para o jogo por estarem machucados.


Extraído da capa do Jornal dos Sports, edição 9.486, de 07/08/1960.

Segundo a cobertura esportiva da final, o Bangu iniciou o jogo atacando cerradamente com passes curtos e rápidos, colocando o adversário na roda. Logo, aos 3 minutos de jogo, o atacante Valter faz o primeiro gol após uma jogada espetacular de Décio Esteves. Nem o ferrolho suíço com passes longos do time escocês foi suficiente para brecar as investidas do Bangu. De alguma forma, o empate sem gols contra o IFK Norrköping foi um aprendizado para superar o futebol-força dos europeus. Apesar de ter sido a vedete do torneio, na final, a torcida apoiava o time escocês e se irritava com o amplo domínio brasileiro. Numa jogada isolada do Kilmarnock, o juiz James Mclean marca um pênalti contestável contra o Bangu. Porém, os escoceses foram parados pelas mãos de Ubirajara. O penalidade animou os escoceses e eles fizeram alguma pressão durante o segundo tempo do jogo. No entanto, o goleiro Ubirajara garantiu o resultado na defesa e o atacante Valter voltou a aprontar no final do jogo com um forte tiro no fundo das redes escocesas. Valter foi decisivo com seus gols, mas o craque da partida foi o meia Décio Esteves, capitão do time. No final do jogo, Bangu é campeão do mundo e o jogador Décio recebe a taça e comemora nos braços dos jogadores escoceses, que reconhecem a supremacia do clube proletário suburbano do Rio de Janeiro. O jogo final foi sensacional com as duas equipes jogando para vencer e levando a loucura os torcedores presentes. Infelizmente, um dos torcedores chamado Alfredo Suarez, de 46 anos, não suportou a emoção e veio a falecer após um ataque cardíaco.


O feito do Bangu recebeu destaque na imprensa da época.

Após seis batalhas contra grandes times europeus, a sua glória estampava as capas do New York Times e de outros jornais dos EUA. O radialista Orlando Batista viajou para Nova Iorque e transmitiu a partida pelas ondas do rádio para o território brasileiro através da Rádio Mauá. Na sua cobertura, Orlando Batista destacava o comportamento aguerrido e técnico do Bangu para alcançar a glória. Certamente, a impressão deixada pela equipe em terras do norte contribuiu para a ascensão do futebol por lá.

O Jovem Ademir


Extraído do Jornal O Globo Digital.

Eleito o craque da primeira edição do International Soccer League por um juri de jornalistas e dirigentes, o jovem Ademir reforçou a estrela da família Da Guia no clube proletário da Zona Oeste carioca. Sua permanência no Bangu foi curta, mas deixou um legado para os futuros torcedores do time. Do Bangu foi para o Palmeiras e se tornou um grande jogador da seleção brasileira. Em 2017, além da lembrança do título mundial, o jogador foi homenageado com o lançamento de uma camisa retrô do Bangu, uma edição comemorativa pelo título mundial de clubes alcançado em 1960. Uma ação importante para homenagear os guerreiros que lutaram pelo título e para manter a chama viva da memória banguense nos antigos e novos torcedores. Em 1960, na chegada dos campeões ao Rio de Janeiro, Ademir falava sobre a experiência: “Estou feliz, pois além de ter colaborado com meu clube, ganhei um prêmio que qualquer colega poderia ter ganho”, em entrevista para o Jornal dos Sports. Domingos da Guia, presente na recepção, não escondia tamanha admiração e entusiasmo com o filho — mais um Da Guia a fazer história no clube proletário.

A recepção dos heróis da Zona Oeste


Extraído do Jornal dos Sports, edição 9.489, de 11/08/1960.

Toda uma recepção foi preparada para receber a delegação do Bangu. A chegada em território brasileiro e carioca estava marcada para o dia 10/08/1960, quarta-feira, com desembarque no Galeão. No entanto, os primeiros a chegar no Rio de Janeiro foram o atacante Luiz Carlos e o radialista Orlando Batista. Segundo a imprensa carioca da época, os campeões do mundo receberam um bicho respeitável, cerca de 30 mil cruzeiros de prêmio pelo brilhante título.

Numa pegada ufanista, a imprensa carioca glorificou o resultado do Bangu como a primeira grande ação do futebol brasileiro no mundo após a campanha vitoriosa da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958. Após a chegada no aeroporto do Galeão, os campeões do mundo foram recebidos pela torcida e saíram em cortejo até a estação de Guilherme da Silveira. Uma grande festa foi realizada na Fábrica Bangu. Na capa do Jornal dos Sports, de 11/08/1960, era estampada a alegria dos torcedores na chegada da equipe. A empolgação tomou conta dos corações alvirrubros. Era felicidade pura. Luiz Bayer, colunista do Jornal dos Sports, assim escreveu no dia seguinte: “A cidade recebeu com todo afeto e com grande entusiasmo os jogadores do Bangu campeões da primeira taça da América. Foi uma acolhida simpática, justa porque o Bangu honrou o football brasileiro mostrando aos norte-americanos um estilo bonito que foi suficiente para demonstrar grande superioridade sobre grandes equipes do football europeu”.


Cortejo para os campeões na Avenida Brasil. Extraído de Jornal dos Sports, edição 9.489, de 11/08/1960.

Como pode ser visto, a recepção e a comemoração foi quilométrica, passando por diferentes bairros e esquinas da nossa cidade. Os campeões do Bangu tiveram um reconhecimento digno da torcida, do Galeão até a estação Guilherme da Silveira. O capitão Décio Esteves era novamente carregado, agora, pelos torcedores do clube proletário que sentiam viva emoção. Cercado por amigos e familiares, o técnico Tim, visivelmente emocionado, bradava no cortejo: “o Bangu é uma coqueluche!”.

Tim e o troféu de campeão. Fonte: https://www.futbox.com/blog/clubes/bangu-1960.

Na Fábrica Bangu, os jogadores foram recebidos por dirigentes, torcedores, operários da fábrica e moradores das cercanias para comemorar o título com banda de música, bandeiras e flâmulas. O patrono do Bangu, Dr. Guilherme da Silveira, assim descreveu o sentimento naquele dia: “Estou feliz, feliz pelo brilho do meu Bangu. Honramos em todos os setores o nosso football. Pela técnica e pela disciplina voltamos de cabeça erguida. Honra aos atletas e ao próprio football da nossa terra”, em entrevista para o Jornal dos Sports.

Para entender o efeito do Bangu campeão mundial naquele momento, recomendamos ler atentamente as homenagens escritas elaboradas pelos jornalistas Nelson Rodrigues, Luiz Bayer e Vargas Neto no dia da chegada do Bangu ao Rio de Janeiro. Em nossa análise, uma equipe necessária para romper com o complexo de vira-latas que ainda era dominante no imaginário do futebol brasileiro naquele momento.


Extraído do Jornal dos Sports, de 10/08/1960.


Extraído do Jornal dos Sports, de 10/08/1960.


Extraído do Jornal dos Sports, de 10/08/1960.

Por fim, o reconhecimento!


Graffiti no muro do Estádio Proletário Guilherme da Silveira, popularmente conhecido como Moça Bonita. Créditos: https://www.facebook.com/BanguCampeaoMundial/

Reconhecer histórias é construir memórias que aproximam, emocionam e criam novos caminhos. Considerando a extraordinária história do Banguzão, é de extrema importância a luta do clube e dos seus torcedores pelo reconhecimento do campeonato mundial de 1960 junto a FIFA. Todo o movimento de criar camisas comemorativas, estampar seus muros é importante para manter a história viva. Brigar pelo reconhecimento nas instituições responsáveis pelo futebol no mundo significa criar novos canais para fortalecer o poder de memória da nação banguense.

Créditos

O texto é fruto da pesquisa de um curioso torcedor do futebol carioca apaixonado pelos clubes do subúrbio e sua relação com seus respectivos bairros. As torcidas do Bangu inspiraram a elaboração dele, especialmente a Banfiel e a Castores da Guilherme — fanáticas pelo clube proletário. Para a sua produção, alimentamo-nos de diferentes textos e vídeos disponíveis na internet e listados a seguir.

Página do Bangu Atlético Clube: https://www.bangu-ac.com.br/titulo-mundial-do-bangu-faz-58-anos/

Liga dos Palpites (Texto): https://medium.com/@ligadospalpites/o-bangu-foi-campe%C3%A3o-mundial-20479ad4f94a

Liga dos Palpites (vídeo): https://youtu.be/6YCx8-a4Z0A

Matéria do Sportv: https://youtu.be/7r7DNFJtbpI

Matéria do Lance: http://blogs.lance.com.br/gol-de-canela-fc/voce-sabia-que-o-bangu-ja-foi-campeao-mundial-entenda-historia/

Ludopédio: https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/campeao-mundial-de-1960-bangu-bangu-bangu/

Última Divisão: https://www.ultimadivisao.com.br/os-mundiais-de-clubes-alternativos/

Página BANGU CAMPEÃO MUNDIAL: https://www.facebook.com/BanguCampeaoMundial/