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Arbitragem

O FUTEBOL AV E DV

por Washington Fazolato


Desde que acompanho futebol – e lá se vão mais de quarenta anos – vejo erros de arbitragem.

Alguns grosseiros, outros nem tanto, mas quase todos causando prejuízo.

Especialmente dolorosos quando ocorrem em jogos decisivos, alguns erros ficam gravados na memória de algumas torcidas.

Eu, como vascaíno, ainda sinto o gosto amargo do gol em impedimento marcado pelo Flamengo na decisão do título estadual de 2014.

Mas o Flamengo também já foi prejudicado por erros de arbitragem. Todos os clubes o foram.

Clubes, jogadores, técnicos, dirigentes, torcedores e imprensa sempre reclamaram para que os lances polêmicos pudessem se reavaliados.

A alegação dos “velhinhos da FIFA” , como jocosamente rotularam o board da instituição, era de que “a dúvida, a polêmica, a discussão eram elementos intrínsecos ao futebol”.

Ou seja, danem-se os investimentos milionários, o esforço concentrado dos clubes, as estratégias, os planejamentos etc, pois o imponderável a qualquer momento faria tudo ir por água abaixo.

Até que sopraram ventos de mudanças…


Então os ” velhinhos” caíram na real? Mais ou menos.

Existe uma tese, qual eu concordo, que a quebra desse dogma da FIFA – “o erro faz parte do jogo” – veio na esteira dos escândalos financeiros envolvendo seus maiores dirigentes.

Trapaças, negociatas e todo tipo de rapinagem foram denunciadas.

Era preciso descer do pedestal e a FIFA criou o VAR.

Em síntese, o VAR é um sistema usado para corrigir decisões que podem ser definidoras em uma partida de futebol e que podem ter passado despercebidas pelo árbitro ou julgadas incorretamente.

A Fifa define os cenários: gols e faltas que levam a um gol, pênaltis e faltas que levam a um pênalti, incidentes de cartão vermelho e identidade equivocada – quando um árbitro expulsa o jogador errado, por exemplo.

Na Copa, o árbitro recebe informações por meio de seu fone de ouvido receptor do “hub” do VAR em Moscou ou, então, pode consultá-los.

Quando ele decidir que quer rever um lance, “desenha” um quadrado com as mãos, assinalando que verá as imagens na lateral do campo. Por fim, pode tomar uma decisão ou mudá-la.

Óbvio que o simples existência do VAR não eliminará os erros.


No jogo entre Brasil e Suíça em dois lances a favor do time canarinho – falta sobre o zagueiro Miranda no gol suíço e um alegado pênalti sobre Gabriel Jesus – o juiz mexicano preferiu não usar o recurso.

Mas sendo usado, aqueles absurdos, que marcaram – e mancharam – jogos históricos podem ser reduzidos a níveis mínimos.

O futebol agora pode ser identificado como AV (antes do VAR) e DV (depois do VAR).

Que assim seja!

É uma vitória do futebol.

O QUE ESTAMOS FAZENDO DO NOSSO FUTEBOL?

por Cesar Oliveira


Cesar Oliveira

Já disse antes e vou repetir: sou um daqueles que, ainda hoje, coubertianamente, acreditam na lisura e na ética no desporto, no “que vença o melhor”. Detesto mão na bola, empurrão ou calço pelas costas; nem na pelada mais vagabunda isso é aceito.

Sou do time do Mimi Sodré, campeão carioca de 1910, que levantava o dedo quando cometia uma infração, antes que o “referee” a apontasse. Sou de um tempo em que árbitro algum voltaria atrás na marcação de um pênalti.

Por isso, me enojo com a possibilidade de alguém dando palpite na arbitragem do árbitro principal que, segundo a Regra 5, deveria ter “total autoridade para fazer cumprir as regras de jogo na partida”.

Ainda segundo a mesma Regra 5, “as decisões do árbitro sobre fatos em relação com o jogo são definitivas. O árbitro poderá mudar sua decisão unicamente se perceber que sua decisão é incorreta ou, se o julgar necessário conforme indicação de outro membro do quarteto de arbitragem, sempre que ainda não tenha reiniciado a partida”.


Patrocínio de site de apostas no futebol

A Regra 6, que trata dos árbitros assistentes, diz que eles são dois e determina as suas funções, e que eles “têm o dever de indicar”, entre outras coisas, “quando forem cometidas infrações em que os árbitros assistentes estejam mais perto da ação que o árbitro” [principal].

Em tempos de tantos sites de apostas metidos no futebol – em camisas de grandes clubes, em propaganda estática nos gramados, patrocinando jogos e atletas — o esporte tomou um caminho muito perigoso. 

No jogo Santos 3 a 2 Flamengo, pela Copa do Brasil, que vem suscitando — mais uma vez por interferência externa” — tanta celeuma, o árbitro principal Leandro Vuaden não vacilou um instante sequer em marcar o pênalti de Réver em Bruno Henrique, e apontou imediatamente a marca da cal.


Então, acontece uma interferência externa do quarto árbitro (cadê essa figura nas “Regras do Futebol”?), chama o árbitro principal pelo intercomunicador (equipamento que quase levou o árbitro José Roberto Wright ao cadafalso quando usou um, a pedido da TV Globo, gravando seus diálogos no gramado com jogadores), conchinha no ouvido e Leandro Vuaden volta atrás da marcação do pênalti.

É pelo menos estranho que, contrariando as Regras do Futebol, o árbitro principal mantenha-se hoje em comunicação privada (duplo sentido) com gente fora do ambiente de jogo (o que falam?).

E, principalmente, que o árbitro seja chamado por um elemento de fora do trio de arbitragem (Regra 5) para convencer o árbitro a mudar sua decisão, tomada sem hesitação no momento da infração.

O que vale para esse jogo sob polêmica, vale para o futebol como um todo. Se querem uma arbitragem limpa e isenta de erros, com o tal “árbitro de vídeo”, o futebol tem que se preparar para que isso seja feito limpamente. Como é no vôlei e no tênis. Sempre que uma pessoa interfere na arbitragem principal, dá zebra.

Sabemos que o futebol é um esporte muito corrupto. Por seus dirigentes (muitos presos, outros que não podem sair do País), árbitros, federações, agremiações etc. Os casos de suborno e papeletas amarelas estão aí, e ninguém faz nada para coibi-los.


Torço por um time que já perdeu campeonatos por arbitragens duvidosas. Mas quem já não perdeu campeonatos por arbitragens duvidosas? Então, volto ao começo do meu texto: estou ficando velho demais para ver minha paixão imaterial pelo futebol ser negociada por debaixo dos panos.

Certa vez, sentado a uma mesa em clube nobre do Rio de Janeiro, ouvi um ex-dirigente de um clube (desses que não são queridinhos da “futebolpress” ou favorecidos por arbitragens estranhas, contar casos escabrosos em que comprou arbitragens). Meu mundo caiu. Nunca pensei que aquele clube, prejudicado em tantas ocasiões, também lançava mão de fatores extracampo para conseguir resultados que precisava. Certamente, com times de menor expressão do que ele.

O que estamos fazendo do nosso futebol? Eu queria acreditar na lisura do desporto. Na vitória do melhor. No que melhor se preparou e desempenhou no campeonato. No que tem melhor preparo físico para desempenhar um plano de jogo superior e irresistível. Naquele que faz na Base a criação de jogadores de qualidade para abastecer o time de cima. No que vence limpamente, pela qualidade do time.

Eu sou um velho bobo.