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andré luiz pereira nunes

GOL DE PLACA: FEDERAÇÃO PAULISTA HOMOLOGA 104 TÍTULOS ESQUECIDOS

por André Luiz Pereira Nunes


Apelidado de ‘Moleque Travesso’ por ter atuado em memoráveis partidas contra os grandes clubes de São Paulo, além de detentor de um dos mais tradicionais estádios do Brasil, localizado na rua Javari, no bairro da Mooca, o Clube Atlético Juventus, a partir de agora, também será lembrado como campeão paulista de 1934.

A Federação Paulista de Futebol (FPF) acaba de reconhecer, no total, 104 títulos estaduais de várias divisões. Foram homologados, por exemplo, dois títulos equivalentes à Série A2 para o Guarani (1932 e 1944) e Ponte Preta (1927 e 1933).

A oficialização de conquistas também engloba agremiações extintas. É o caso do Albion, campeão em 1933 pela Federação Paulista de Football. Na mesma ocasião, o Palmeiras, na época intitulado Palestra Itália, faturou o tricampeonato paulista (1932/33/34) pela APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos).

Em 1930, o Juventus começou a disputar a divisão principal do Campeonato Paulista, na época organizada pela APEA. Contudo, em 1932, com a profissionalização do futebol, a família Crespi, que mantinha o clube, compreendeu que não havia condições de manter uma equipe profissional e resolveu solicitar o afastamento de dois anos das competições.

Porém, para não cessar as atividades, a direção achou por bem disputar o certame organizado pela recém-criada Federação Paulista de Football (FPF), então filiada à Confederação Brasileira de Desportos (CBD).


Federação Paulista homologa título estadual do Juventus

Federação Paulista homologa título estadual do Juventus

Para não perder a sua filiação na APEA, o Juventus adotou a denominação de Clube Atlético Fiorentino, todavia utilizando os mesmos jogadores, estrutura e o tradicional estádio da rua Javari.

Por conseguinte, no Campeonato Paulista de 1934, o Fiorentino, de maneira invicta, conquistou a etapa da capital e, posteriormente, o confronto com as equipes do interior do estado, sagrando-se campeão paulista de futebol, título este que, até então, nunca havia sido reconhecido oficialmente pela FPF.

Um outro contemplado foi o Taubaté, carinhosamente conhecido como Burrinho da Central. Em 1918, 1926, 1928 e 1942 venceu campeonatos do interior, que agora foram homologados como equivalentes à Série A2 do Campeonato Paulista.

Em relação ao Rio de Janeiro, estamos em franca campanha, com o total apoio do Museu da Pelada, para que a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), na pessoa de seu presidente Dr. Rubens Lopes da Costa Filho, homologue o título carioca do São Cristóvão, de 1937, pela Federação Metropolitana de Desportos (FMD) e também reconheça oficialmente as conquistas do Engenho de Dentro (1925), Modesto (1926/27), S.C América (1928/1929), Sportivo Santa Cruz (1930), Oriente (1931) e Boa Vista (1932), em certames organizados pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT).


Conquista carioca de 1937 do São Cristóvão aguarda oficialização por parte da Federação do Rio.

Conquista carioca de 1937 do São Cristóvão aguarda oficialização por parte da Federação do Rio.

A partir de 1933, com a fundação da profissional Liga Carioca de Football (LCF), a LMDT, formada apenas por clubes de pouca expressão, desistiu de tentar rivalizar com mais uma liga e se tornou uma sub-liga da LCF até desaparecer dois anos depois. Em 1933, a Viação Excelsior se sagrou campeã e, no ano seguinte, foi a vez do São José de Magalhães Bastos levantar o caneco, o qual deveria ser homologado como equivalente a uma segunda divisão pelos motivos já explicitados.

Também aguardam igual reconhecimento por parte da FFERJ as conquistas de segunda divisão referentes a 1933 – São Cristóvão (LCF); 1934 – Modesto (LCF); 1935 – Engenho de Dentro (LCF) e 1936 – Carbonífera (LCF). Seguimos na luta!

AS DIFICULDADES DA IMPLEMENTAÇÃO DO FUTEBOL PROFISSIONAL NO RIO DE JANEIRO

por André Luiz Pereira Nunes


A implantação do profissionalismo no futebol carioca, em 1933, inicialmente se revelou um fracasso. A ideia reuniu apenas seis clubes: Bangu, Fluminense, Vasco, Bonsucesso, America e Flamengo.

Já o Botafogo, campeão em 1930 e 1932, optou por continuar amadorista, a exemplo de outras equipes, consideradas menores, como Andaraí, Olaria, Engenho de Dentro, Confiança, Portuguesa, Mavílis, Cocotá, Brasil e Ríver.

Por conta de desentendimentos com a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), Confiança, Engenho de Dentro, Ríver, Cocotá e Brasil abandonaram, em 1934, o certame em andamento, deixando o Clube da Estrela Solitária acompanhado apenas por Andaraí, Mavílis, Olaria e Portuguesa.

As agremiações retirantes, então, passaram a disputar os chamados torneios do futebol menor, se filiando a algumas das inúmeras ligas amadoras que proliferavam como moscas naqueles áureos tempos em que a cidade detinha um número igualmente infindável de espaços destinados ao esporte bretão.

No mesmo ano, o Vasco foi campeão pela Liga Carioca de Futebol (LCF), de caráter profissional. Em 1935, a entidade, com a saída do Gigante da Colina, que se aliou ao Botafogo, ficou reduzida ao grupo composto por America, Fluminense, Flamengo, Bonsucesso, Modesto e Portuguesa. A Federação Metropolitana de Desportos (FMD) passou a contar com Botafogo, Vasco, Andaraí, Bangu, Madureira, São Cristóvão, Olaria e Carioca.

Em 1936, os presidentes Pedro Pereira de Novaes, do Vasco, e Pedro Magalhães Correia, do America, organizaram na Associação dos Empregados do Comércio uma reunião histórica que formulou a pacificação do futebol carioca. O acontecimento, o qual ficou conhecido como ‘Solução Dois Pedros’, acabou dando origem ao chamado ‘Clássico da Paz’, disputado entre Vasco e America.


Foram, portanto, reunidos, em 1937, na recém-criada Liga de Futebol do Rio de Janeiro (LFRJ), os doze principais clubes da cidade. Como nem tudo são flores, no ato da reunificação, o São Cristóvão liderava o Campeonato Carioca organizado pela Federação Metropolitana de Desportos (FMD), que acabou interrompido ao fim do primeiro turno. A entidade organizadora então o proclamou campeão. Contudo, até os dias atuais, os Cadetes não tiveram a sua conquista oficializada pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), injustiça que pretendemos corrigir através de um dossiê por nós formulado que se encontra totalmente embasado por documentos e fontes fidedignas.

Fluminense, Flamengo, Vasco, Botafogo, São Cristóvão, America, Madureira, Portuguesa, Bonsucesso, Olaria, Bangu e Andaraí tiveram um ano de prazo para se organizarem técnica e materialmente para disputar a primeira divisão. Os que não satisfizessem as exigências seriam desligados, com direito a retorno, apenas quando cumprissem o regulamento. O principal vitimado nessa história foi o Andaraí, irremediavelmente excluído para sempre do rol dos grandes times do futebol carioca.

MAVÍLIS: O DESPERTAR DE UM SONHO

por André Luiz Pereira Nunes


Quadro do Mavílis campeão da Zona Sul da Federação Atlética Suburbana de 1938

Quadro do Mavílis campeão da Zona Sul da Federação Atlética Suburbana de 1938

O desportista Luiz Fernando Silva Alves, conhecido como Caldeira, pretende reviver, através do lançamento de mais uma camisa retrô, a tradição de uma das associações mais aclamadas da história do futebol carioca em seus primórdios: o Mavílis Futebol Clube.

Fundado em 23 de setembro de 1913 e tornado de utilidade pública pela Lei Municipal número 936, de 1959, possuía campo e sede situados à Rua Carlos Seidl, 993, no Caju.

A ideia de sua criação adveio de outro clube, o antigo Mavílis Brasileiro FC, constituído por moradores de São Cristóvão, sobretudo operários das fábricas Mavílis e Bonfim.

Entre os pioneiros, merecem destaque Silva, Constantino, Isnard Pires e Evaristo Teixeira, os quais não mediram esforços para tornar realidade o sonho de viabilização dessa agremiação.

A escolha do nome se deve às iniciais de Manoel Vicente Lisboa, um dos diretores da Companhia America Fabril e incentivador do esporte entre seus funcionários. Já o uniforme rubro-anil teve inspiração na bandeira inglesa, visto que na época os britânicos comandavam a indústria têxtil.

A construção da praça de esportes, denominada Praia do Retiro Saudoso, contou com o apoio de Afonso Bebiano, o qual cedeu uma vasta área, então pantanosa e posteriormente aterrada.

Uma das primeiras medidas foi estipular uma mensalidade no valor de um tostão antigo, importância que, em 1913, seus fundadores tinham muita dificuldade em saldar.

Ainda que nunca tenha galgado a esfera profissional, o Mavílis se consagrou durante a fase amadorista do futebol carioca. Em 1931 foi campeão de segundos quadros da Segunda Divisão. Em 1933, estreou na Primeira Divisão do Campeonato Carioca organizado pela Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA). Já, em 1934, quando o Botafogo levantou o último título no amadorismo, realizou excelente campanha chegando ao vice-campeonato, junto ao Andaraí, em certame igualmente organizado pela AMEA. O Mavílis, inclusive, bateu o Clube da Estrela Solitária por 2 a 0 (gols de Honório e Chavão, ambos no segundo tempo), em casa, em 22 de julho. No cômputo geral, arrecadou nove pontos em oito jogos, com quatro vitórias, um empate e três derrotas, marcando 24 gols e sofrendo 21. No mesmo ano foi vice-campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca, capitulando novamente diante do Botafogo.

Com o advento da profissionalização do futebol carioca, o Mavílis foi um dos fundadores da Federação Atlética Suburbana, existente de 1936 a 1942, e precursora do Departamento Autônomo (DA), vinculado à Federação Metropolitana de Futebol (FMF).

Entre os seus craques formados, destacam-se Pascoal, do Vasco da Gama, e Vicente, mais conhecido como ‘Pé de Ouro’, principal figura da equipe campeã carioca do São Cristóvão, em 1926.

Nas décadas seguintes, o Mavílis alternou aparições mais modestas no Departamento Autônomo, chegando contudo ao vice-campeonato, em 1969, ao perder a decisão, em uma melhor de três, para o Nacional de Guadalupe. Em1951, 1957 e 1958 ganhou a categoria de aspirantes.

Além do futebol, a agremiação também foi pioneira nos chamados esportes de salão, como o vôlei e o atual futsal. Até mesmo na queda de braço, havia um representante campeão: o peso mosca Raimundo Teixeira.

Porém, a precária situação financeira sempre foi um entrave para as pretensões, não só do Mavílis, como da maioria dos times que disputavam os certames do Departamento Autônomo.

Em 1984, o clube sofreu um derradeiro golpe ao perder uma longa batalha judicial para a América Fabril, a qual reivindicava a reintegração de posse do terreno composto por 10 mil metros quadrados, divididos em um campo de futebol, duas quadras, bar, vestiários e um galpão para festas e prática de esportes. Na ocasião, a categoria juvenil do Fluminense treinava nessas dependências.


Chaveiro comemorativo do Mavílis pertencente ao acervo de Raymundo Quadros.

Chaveiro comemorativo do Mavílis pertencente ao acervo de Raymundo Quadros.

A extinção do Mavílis representou, não só o fim de um tradicional espaço para atividades esportivas, como para práticas sociais. Seu espaço, por exemplo, chegou a abrigar famílias inteiras da favela Buraco da Lacraia, expulsas de seus barracos devido a uma disputa de quadrilhas (naquele tempo ainda não se falava em facções).

Na ocasião de seu desaparecimento, o Mavílis contava com 384 sócios, que desde a década anterior não pagavam as suas mensalidades. O barzinho se encontrava arrendado e o montante arrecadado não era suficiente para custear a conta de energia, tampouco o salário do zelador.

Em 20 de abril de 1984 o clube perderia definitivamente o espaço. O desinteresse do presidente Joel, ex-ponta-esquerda do Fluminense e Botafogo, foi determinante. Segundo o ex-atleta Tostão, do Mavílis, o processo não teve o devido acompanhamento dos interessados. A crescente favelização do entorno também não contribuiu para que a agremiação mantivesse a posse de sua área.

Quem desejar reservar a camisa retrô do Mavílis, favor contatar o Luiz Fernando através do WhatsApp: (21) 99645-0999.

TÍTULOS CARIOCAS ESQUECIDOS AGUARDAM RECONHECIMENTO POR PARTE DA FEDERAÇÃO

por André Luiz Pereira Nunes


.Engenho de Dentro mantém suas atividades no futsal carioca.

.Engenho de Dentro mantém suas atividades no futsal carioca.

A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), na figura máxima de seu presidente, Dr. Rubens Lopes da Costa Filho, precisa ajustar as contas com a história do futebol carioca. Trata-se de uma questão urgente e necessária. Essa medida, por exemplo, já foi feita de maneira assertiva pela Federação Paulista de Futebol (FPF).

Em 1937, o São Cristóvão se sagrou campeão carioca pela Federação Metropolitana de Desportos (FMD). Esse título até hoje não foi reconhecido oficialmente por parte da Federação e, à pedido do Clube Cadete, elaboramos um dossiê, contendo documentos comprobatórios e provas irrefutáveis acerca dessa legitimidade. Para ajustar as contas com o passado, a entidade que rege o futebol fluminense precisa reconhecer e legitimar essa conquista.

Outro caso emblemático e, não menos importante, é o do Engenho de Dentro, campeão carioca, em 1925, pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). Apesar de não estar mais filiada, a agremiação suburbana do saudoso Mário Calderaro ainda mantém ativa a sua sede social, participando de torneios de futsal.


Prova da homologação do título carioca do São Cristóvão pela FMD

Prova da homologação do título carioca do São Cristóvão pela FMD

Graças a Marcelo e Ricardo Araújo, filhos do presidente Domingos, falecido em 2019, o Engenho de Dentro se encontra no rol dos clubes centenários. De acordo com eles, tudo seria mais fácil se o reconhecimento oficial da conquista do Campeonato Carioca, de 1925, e o da Subliga, de 1935, este último equivalente à segunda divisão, fossem, de fato, homologados.

— O Vasco é reconhecido por ter ganho o mesmo campeonato um ano antes. Há um campeão carioca em Engenho de Dentro que agoniza — lamentou Marcelo em entrevista recente ao jornal O Globo.

A FFERJ, até hoje, só reconheceu os certames realizados pela Liga Metropolitana entre 1917 e 1924 como legítimos Campeonatos Cariocas. De acordo com esse critério, quando o Vasco, o último grande, foi aceito na Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), as competições da LMDT passaram a ser estaduais não reconhecidos. Essa mera conveniência claramente não atende às demandas históricas.

Existem, portanto, sete campeões cariocas “esquecidos” e não reconhecidos: o mencionado Engenho de Dentro A.C, em 1925, o Modesto F.C., de Quintino, em 1926 e 1927, o S.C. América, de Lins de Vasconcelos, em 1928 e 1929, o Sportivo Santa Cruz, em 1930, o Oriente A.C., em 1931, e o S.C. Boa Vista, da Tijuca, em 1932, todos pela LMDT, além do São Cristóvão, em 1937, pela FMD.


Plantel do São Cristóvão, campeão carioca em 1937 pela FMD.

Plantel do São Cristóvão, campeão carioca em 1937 pela FMD.

As nove edições do Campeonato Carioca, que são completamente ignoradas, foram disputadas entre 1925 e 1932, na época do amadorismo, e em 1937, no caso específico do São Cristóvão, já na era profissional.

Infelizmente, dada a impossibilidade desses clubes clamarem por algo, à exceção do Engenho de Dentro e do São Cristóvão, pois todos foram extintos ou estão inativos, resta aos pesquisadores, jornalistas, historiadores e amantes do futebol requererem que a Federação faça as pazes com o passado do futebol carioca. A homologação dos títulos esquecidos é uma necessidade de ajuste com a história e com os feitos desses times.

NO AMOR E NO JOGO: SORTE DE UNS E AZAR DE OUTROS

por André Luiz Pereira Nunes


Em 8 de agosto de 2013, minha então esposa, com quem estava casado há 13 anos, resolveu me pedir separação. A decisão me pegou de surpresa, visto que para mim aparentemente nada havia de errado. Nenhuma discussão ou desentendimento recentes. Tudo parecia na mais perfeita ordem.

Ledo engano! Nosso relacionamento já vinha mal há pelo menos dois anos e a falta de sexo durante boa parte desse período era um forte indicador. A indiferença e o desinteresse eram habituais. Estávamos vivenciando vidas e interesses bem diferentes. Mas o que isso tem a ver com futebol?

Exatamente um mês depois, o America decidiria com o Bonsucesso uma das duas vagas em disputa para a elite do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. A Cabofriense dependia de um empate para ser campeã. Na ocasião eu era o diretor de comunicação do America. Hoje faço parte pela segunda ou terceira vez consecutiva do conselho deliberativo.

Como já havia perdido o casamento, refleti que a minha única alegria naquele ano seria ver o meu time campeão e de volta ao convívio com os grandes. A vitória simples daria o título ao America, enquanto o empate seria suficiente para o Bonsucesso assegurar uma das vagas. Logo de manhã liguei para o presidente e assim se deu o seguinte diálogo:

– Olá, presidente, bom dia. Vamos juntos ao jogo? A que horas podemos nos encontrar?

– André, não vou de jeito nenhum. O time vai perder e eu corro até o risco de apanhar.

– Como assim, presidente? Você não vai à final para ver seu time campeão? Quem morre de véspera é peru.

– Os jogadores nem treinaram, André. Estão em greve. Não recebem há meses. Está todo mundo gordo. Como você sabe o patrocinador debandou. Já perdemos. Vai você, se quiser!

Ao desligar o telefone senti um misto de raiva e decepção. Já estava extremamente aborrecido com minha vida pessoal. Não era possível que nem o America poderia me dar o mínimo de alegria naquele ano horrível.

Me arrumei. Saí de casa. De fato, como diretor, eu sabia das dificuldades financeiras envolvendo o time. O técnico Duilio, ex-zagueiro do Fluminense e do próprio America, fazia milagres. Mesmo diante de todas as dificuldades jamais esmoreceu, procurando sempre motivar os atletas. Portanto, eu acreditava, que mesmo em meio a tantos percalços, meu time bateria o adversário e sairia campeão.

Chegando em Teixeira de Castro, fiz uso da minha credencial de jornalista e adentrei ao gramado. Percebi que a torcida do America estava alojada no pior espaço, em meio a um sol inclemente, enquanto a pequena claque do Bonsucesso se situava confortavelmente ao lado oposto, nas cadeiras. De repente, ouvi alguém me chamar. Era um amigo, repórter de rádio. Precisava com urgência de ajuda. O comentarista havia faltado por motivos médicos e necessitavam de um substituto. Confesso que não estava com a menor cabeça para nada. Me sentia mal pelo fim do meu relacionamento. Tudo ainda estava muito recente. Mas, mesmo assim, atendi ao chamado. Afinal, seria uma maneira de ajudar um amigo e me distrair de meus infortúnios.

Um fato logo me chamou a atenção. Um torcedor, aproveitando o estádio lotado, foi ao campo e pediu a mão da namorada em casamento. A torcida, animada, comemorou o “sim” como se fosse um gol. Eu pensei: sorte de uns e azar de outros.

Superior em campo e melhor na criação, a equipe rubro-anil comandada por Ricardo Barreto, começou com tudo, indo para cima dos rivais desde os primeiros momentos da partida. Nos quinze minutos iniciais, houve pelo menos três boas chances. Luiz Felipe acertou a trave em tentativa de cruzamento, Renan perdeu boa oportunidade quando apareceu livre e chutou para fora e Marlon, aparecendo bem pela esquerda, obrigou Fábio Noronha a fazer magistral defesa.

O America estava acuado em campo, dizia eu ao microfone da rádio. Seus jogadores não passavam do meio-campo, enquanto o Bonsucesso massacrava a meta do excelente Fábio Noronha, aliás, a melhor figura em campo, ressaltei também na transmissão.

Na segunda etapa o filme se repetiria. Luiz Felipe, Renan e Marco Túlio alternariam várias chances perdidas. Aos 9 minutos, a torcida local chegou até a comemorar. Mas o grito de gol entalado na garganta teve que ser contido após uma oportunidade claríssima desperdiçada por Marco Túlio. Na pequena área, o atacante antecipou-se à defesa, mas colocou à esquerda do gol de Fábio Noronha.

Com o decorrer da partida, a impaciência tomava conta da torcida americana, mas nem por isso os instrumentos pararam de tocar. Após os 30 minutos da etapa final, o nervosismo também começou a acometer os atletas. Foi um festival de passes errados, chutões e pouquíssimas chances de gol.

No fim, não deu mesmo para o Mecão. Seus jogadores, irritados com o fim da partida se aproximando, pouco conseguiam fazer. O goleiro adversário Santiago sequer sujou seu uniforme. Com o soar do apito final, no Leônidas da Silva, a festa, que já começara cedo, só tendia a crescer. O Bonsucesso estava na Série A de 2014.

Só me restou agradecer aos espectadores que prestigiaram a nossa transmissão radiofônica, me despedir do narrador e do repórter de campo, abraçar o Fábio Noronha e parabenizá-lo pelo seu profissionalismo, cumprimentar alguns amigos e me dirigir para casa.

No caminho alguns torcedores do America, todos bêbados, me reconheceram e me propuseram dividir um táxi até a Tijuca. Lotamos o veículo. Ao final da corrida nenhum de nós tinha dinheiro, mas o taxista, vendo o nosso estado deplorável, em raro gesto de compreensão, não nos cobrou nada. Sem saber coisa alguma da minha vida, ainda me disse que eu venceria todos os obstáculos. Me restaria mesmo a partir daquele dia juntar os cacos. Afinal, outros amores e outros acessos não tardariam a vir. Sorte de uns e azar de outros.