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andré luiz pereira nunes

MONGOL: O SONHO QUE VIROU PESADELO

por André Luiz Pereira Nunes


Um menino pobre, negro e criado numa comunidade da cidade do Rio de Janeiro que sonhou em se tornar jogador de futebol. Essa é uma realidade recorrente de nove entre dez personagens que vivem nas favelas cariocas. Porém, um deles é real e chegou até a vestir a camisa da Seleção Brasileira. Seu nome: Paulo dos Santos Fernandes Filho, o Mongol!

Nascido no Jacarezinho, em 5 de fevereiro de 1968, tentou a sorte nas categorias de base do Botafogo, em 1984. Talentoso e de boa altura, o quarto-zagueiro logo seria convocado para seleções brasileiras amadoras.

Contudo, desde cedo, problemas familiares o atormentavam. O pai, alcoólatra, diariamente espancava as suas irmãs.

Após uma breve passagem pela Seleção Brasileira sub 20, em 1987, no Campeonato Sul Americano, na Colômbia, fez parte do memorável elenco do Botafogo, campeão estadual em 1989. A memorável conquista findou com o incômodo jejum de 21 anos sem títulos.

A situação, todavia, começou a mudar, quando numa excursão à Europa, foi acusado pelo vice de futebol Emil Pinheiro e por outros membros da comissão técnica de roubar pares de tênis de uma loja na Alemanha. A partir daí o relacionamento com o bicheiro acabou.

– “Como se fosse só isso. Só aparecia para treinar quando seu contrato se aproximava do fim”, acusava o dirigente na época.

Sem ambiente no clube, acabaria emprestado ao América de Três Rios. Após jogar quatro partidas, sofreu um acidente de automóvel. A mais de 120km por hora, bateu numa mureta e caiu num barranco na BR 116, que por pouco não lhe custou a vida.

– “Quase acabei com o mongomóvel (o Monza que ganhou de presente de Emil)”, declarou.

Os constantes sumiços de Mongol nos treinos fizeram os dirigentes do Alvirrubro Trirriense devolvê-lo ao Botafogo.

– “Aqui ele não joga mais. Já lhe dei mais de 10 oportunidades. Quem quiser seu passe, é só depositar Cr$ 2 milhões na Federação”, ratificou, na ocasião, Emil à imprensa.

Sem saber das intenções do patrão, Mongol, que ficou quatro meses sem receber salários, ainda tentou, em vão, sensibilizar o treinador Valdir Espinoza ou reduzir o preço de seu passe para que ele próprio pudesse comprá-lo.

– “Está colhendo tudo o que plantou. Arrume um clube para treinar e ainda poderá se recuperar.” Foi o máximo que ouviu do amigo e auxiliar-técnico Gil.

Bem mais magro, mas, como sempre, impecavelmente vestido, Mongol tentou novo contato com Emil Pinheiro, porém foi proibido até de entrar no vestiário do Maracanã.

– “Estou com fome. Um dente meu já caiu, vendi o carro e o dinheiro acabou. Tenho vivido com o apoio da família, mas confesso que já penso seriamente em viver de outras paradas fora da lei, fazendo uns ganhos.”

De fato, fora despejado do apartamento que Emil alugara no Cachambi. Para Mongol, a vida teria que recomeçar do zero, mas não foi bem isso o que aconteceu.

Sua vida nunca foi fácil. As dificuldades do dia a dia nunca lhe permitiram terminar a sexta série do primeiro grau. Na infância foi lixador de cadeiras. Sempre desejou ser jogador de futebol. Treinou no America e na Portuguesa, mas foi por intermédio de Ferreti, que chegou ao Botafogo. Passou um ano no juniores até ser promovido pelo técnico Joel Martins. Na época de sua promoção houve uma tragédia familiar. Sua mãe havia se suicidado.

Sem a menor esperança de retorno aos gramados, seu destino enveredou, de fato, para a criminalidade. Em 1997, o ex-zagueiro, grande promessa da base do Botafogo e da Seleção Brasileira, foi assassinado no Jacarezinho em circunstâncias até hoje não esclarecidas.

O pesadelo de Mongol é similar ao de milhões de crianças desestruturadas, sem qualquer apoio estrutural e psicológico para lidar com as questões mais práticas da vida. Essa dura conjuntura, altamente excludente, representa um imenso manancial de desperdício humano que sempre vigorou no Brasil.

Mongol pode não ter deixado muitas saudades no torcedor alvinegro, mas ninguém o apagará da história e nem do poster do Glorioso, campeão estadual em 1989. Seu legado ainda revive no desejo diário de milhões de meninos que almejam se tornar ídolos do futebol.

CONFIANÇA: O SAUDOSO SUPERCAMPEÃO DO RIO DE JANEIRO

por André Luiz Pereira Nunes


Equipe supercampeã amadora do D.F.A.C., em 1987, em Figueira de Melo

Equipe supercampeã amadora do D.F.A.C., em 1987, em Figueira de Melo

Caso ainda estivesse em atividade, o Confiança Atlético Clube, de Vila Isabel, já teria completado 106 anos. O simpático clube da Rua General Silva Teles, 104, infelizmente encerrou as atividades em 1993, quando a sua área foi cedida pelo então prefeito César Maia ao antigo locatário Acadêmicos do Salgueiro. Dos resquícios, só resiste a bela arquibancada de madeira de lei, tombada pelo patrimônio histórico. Em relação ao time, o qual já se encontrava inativo, foi na época articulada uma fusão, pelo presidente da Federação, Eduardo Viana, com o Barra da Tijuca Futebol Clube, uma agremiação de vida breve formada por empresários. O intuito era que esta pudesse ingressar diretamente no terceiro módulo profissional sem precisar passar pelo quarto. Tais negociatas eram bastante comuns naquele tempo a fim de favorecer equipes com mais pompa e recursos financeiros.

Foi o primeiro campeão da Liga Suburbana, em 1918. No ano anterior já vencera a segunda divisão. Em 1924 e 1933 disputou a primeira divisão do Campeonato Carioca na fase amadorista. Em 1946, obteve outra conquista de reconhecimento, quando atuando na primeira divisão da segunda categoria da Zona Sul, arrebatou o título do torneio promovido pela Federação Metropolitana de Futebol (FMF). Na mesma temporada vencera o Torneio Início.

Se sagrou também vencedor da Taça Disciplina em 1958 e 1959 na categoria infanto-juvenil do Departamento Autônomo (D.A.). Em 1959, se sagrou vice-campeão de amadores na Série Centro.

Em 1964, conquistou a Série Almir dos Santos, graças a outra ótima campanha. Já em 1966 houve uma de suas maiores conquistas: o Supercampeonato Amador, quando bateu na final, em 13 de novembro, o Cruzeiro de Realengo, no estádio da Rua General Silva Teles. Joaquim Nunes orientou o time durante o primeiro turno, enquanto Edgard Felipe dos Santos, futuro presidente, assumiu o comando técnico da equipe no restante do certame.


Na ocasião, ocorreu um sério incidente. O zagueiro Beu, do Cruzeiro, ao ver o seu irmão brigando na arquibancada, deixou o campo e, aos 19 minutos do segundo tempo, houve um conflito generalizado. O cotejo acabou suspenso enquanto os mandantes venciam por 3 a 1. A conclusão do restante da partida aconteceu em 12 de dezembro, quando o Confiança assinalou mais dois gols. No retrospecto geral foram 14 jogos, 8 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. 20 pontos ganhos e 4 perdidos. 30 gols a favor e 21 contra. O presidente era Nélson Duarte Calaza.

Após ser vice em 1979 e 1981 do Departamento de Futebol Amador da Capital (D.F.A.C.), novamente perdeu a decisão, em 1983, quando capitulou diante do Oriente por 1 a 0, com um gol de Quinha, na prorrogação, em prélio disputado no campo do Botafogo, em Marechal Hermes.

Contudo, a redenção viria, em 1987, quando o time voltou a se consagrar supercampeão amador ao bater o Francisco Xavier Imóveis, comandado pelo lendário Manoel de Almeida. O Confiança era então presidido por Edgard Felipe dos Santos e treinado pelo seu filho Erinaldo Felipe dos Santos, o Mimão.

Em 1990, finalmente se profissionalizou, passando a disputar o Campeonato Estadual da terceira divisão. Acabou precocemente eliminado na primeira fase ao ficar em sexto lugar, entre oito participantes. No ano seguinte, passou a integrar a Segunda Divisão, visto que a verdadeira segundona se tornara Módulo “B” da Primeira Divisão. Portanto, a terceira passou a se auto intitular segunda divisão numa das muitas mudanças de nomenclatura feitas até hoje de maneira atabalhoada e incompetente pela Federação. Também foi eliminado na primeira fase ao ficar na quinta posição em sua chave.

Em 1956, a antiga fábrica já havia sido adquirida por uma construtora e os novos donos não tinham o menor interesse na manutenção do clube. Portanto, uma disputa judicial entre o Confiança e os empresários se arrastou por quase 40 anos. Nesse ínterim, a quadra passou a ser alugada à escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.

A arquibancada de madeira, construída em 1915, uma das primeiras do país, conforme mencionado, permanece de pé.

JACAREZINHO: FAVELA PALCO DE MASSACRE FOI CÉLEBRE CELEIRO DE CRAQUES

por André Luiz Pereira Nunes


Por décadas a comunidade do Jacarezinho, uma das mais violentas da cidade do Rio de Janeiro, abrigou diversos times que fizeram história nos campeonatos amadores da cidade.

O pioneiro nas lides foi o Carioca Futebol Clube, fundado em 16 de junho de 1942. Sua sede e campo se situavam na Avenida dos Democráticos, 200. Anteriormente sua praça de esportes ficava na Travessa Amaro Rangel, 11. Durante a década de 60, fez história no Departamento Autônomo (D.A.), vinculado à Federação Carioca de Futebol (FCF), chegando ao vice-campeonato em 1964 e faturando a “Taça Disciplina” de 1960.

Outra agremiação tradicional foi o Esporte Clube Santa Rita, fundado em 22 de maio de 1965 e localizado na Travessa São José, 7. Presidido por Dalmassy Vaz Pereira, participou por sua iniciativa da 2° Taça Independência de Volta Grande (MG). Dessa competição também fizeram parte Estrela Dalva F.C., Tremont F.C., E.C. São Geraldo e Bonsucesso A.C., todos filiados à Federação de Além Paraíba. Os jogos foram realizados entre 1 de julho e 7 de setembro de 1975, sagrando-se o Santa Rita campeão invicto nas duas categorias.

Em 1976, houve um memorável campeonato interno na favela com a participação de 14 equipes, a saber, E.C. Santa Rita, Guanabara F.C., Santa Helena F.C., Bonfim F.C., Ordem e Progresso F.C., Guarani F.C., Azul F.C., E.C. Leal, União da Mocidade E C., Estrela F.C., Nova União F.C., Goiás F.C., Grêmio F.C. e Ríver Plate F.C. Nesse certame o Santa Rita sagrou-se vice-campeão nas duas categorias.

Entre 1977 e 1978 o Santa Rita disputou, sem obter êxito, o Departamento Autônomo (D.A.). Sua sede era na antiga Avenida Suburbana, 1735, onde se localizava o campo do Sapão. Nos anos seguintes deu vez ao Ordem e Progresso F.C., que sob a presidência do mesmo Dalmassy, representou com galhardia a comunidade até se converter, através de uma fusão, no Unidos do Jacaré F.C. Sob essa nova denominação, teve vida efêmera, chegando apenas ao vice-campeonato do Torneio Napoleão Velloso ao capitular diante do tradicional Oriente A.C., de Santa Cruz. A agremiação participou de algumas edições do Departamento Autônomo até se extinguir ainda na primeira metade dos anos 80. Foi o derradeiro suspiro do Jacarezinho na esfera esportiva.

Aos poucos, a crescente favelização, acrescida pela violência, fizeram com que a localidade saísse de vez das páginas esportivas para cair no atoleiro das policiais.

Alvo de ações sangrentas, a área tem uma história que remonta ao século 19, marcada por episódios trágicos, como a operação policial que deixou 28 mortos no início de abril de 2021.

NETO X DOUGLAS LUIZ: A MAIS RECENTE TRETA DA INTERNET

por André Luiz Pereira Nunes


A rede mundial de computadores, popularmente conhecida como internet, inegavelmente legou inúmeras e incontáveis vantagens. O mundo se tornou mais globalizado, deixando a informação mais disponível.

Porém, como de hábito, o progresso e a tecnologia trazem vantagens e desvantagens. A atual conjuntura, permeada pela cultura da lacração, cancelamento, likes e deslikes nas redes sociais, é por demais fútil, dispensável e desagradável.

A mais recente polêmica nasceu a partir de uma crítica do apresentador e ex-craque do Corinthians e da Seleção Brasileira, José Ferreira Neto, âncora do programa ‘Donos da Bola’, da TV Bandeirantes, à convocação para a Seleção Brasileira do atleta Douglas Luiz, do Aston Villa, da Inglaterra.

O sururu virtual começou quando Neto, no último dia 6, questionou a qualidade do jogador para vestir a Amarelinha. Segundo o ex-célebre meia corinthiano, Danilo, do Palmeiras, ou Willian Arão, do Flamengo, seriam nomes mais qualificados a integrar a lista.

– Quer a maior vergonha do Tite em relação ao jogo contra a Venezuela? Convocou o jogador do Aston Villa. Alguém sabe quem joga no Aston Villa? Alguém nesse país sabe em que lugar da ‘Premier League’ está o Aston Villa?”, detonou o polêmico apresentador.

Quem acompanha a carreira de Neto, sabe bem que nunca teve papas na língua. Como jogador, foi um dos grandes craques do futebol brasileiro na década de 90. A sua ausência entre os selecionáveis à Copa do Mundo da Itália é considerada por muitos analistas uma injustiça. Na ocasião, o técnico Sebastião Lazaroni optou por nomes de menor envergadura como o meia vascaíno Bismarck.

Apesar do longo histórico recheado de confusões, Neto tem se destacado na condução de seu programa esportivo, embora reiteradamente exagere nas críticas e declarações.

Mas, como toda ação tem uma reação, em resposta, Douglas Luiz baixou o nível e chamou o apresentador de “palhaço da TV”.

O ex-jogador então reagiu:

– Tem que falar que o ‘Donos da Bola’ não aparece só em São Paulo. Está aparecendo na Inglaterra. O Douglas Silva, ops, Douglas Luiz, que joga no Aston Villa, a Portuguesa Santista que fala inglês, diz que sou o palhaço da televisão. O último gol dele foi em janeiro de 2020. Você está de brincadeira. Quem é você perto de mim? Se eu sou o palhaço da televisão, você joga bola?”, questionou.

A tréplica de Douglas Luiz, cuja carreira se iniciou no Vasco, foi ainda mais reticente.

– Olhei o currículo dele aqui e não vi nenhum time grande, fora do Brasil. Então, quem é o Neto para falar do Aston Villa, que, na minha concepção, é um gigante europeu? E você, Neto, não jogou em lugar nenhum, entendeu? Você fala muito, não sei quem te deu esse apelido de craque”, reiterou.

De fato, Neto atuou apenas por dois times no exterior, nenhum deles na Europa: o Millionários, da Colômbia, e o Deportivo Itália, da Venezuela, já em final de carreira. Conquistou dois Campeonatos Paulistas, um Campeonato Brasileiro, uma Supercopa do Brasil e um Campeonato Venezuelano, além de outros títulos de menor expressão.

Já o Aston Villa, clube de Douglas Luiz, é um dos mais tradicionais de Londres. Inclusive completará 147 anos em 21 de novembro. A equipe tem três títulos em nível europeu: uma Champions League, uma Supercopa da UEFA e uma Copa Intertoto. Além disso, conta com sete títulos do Campeonato Inglês e mais sete da FA Cup. Não é pouca coisa!

Contudo, vale sempre relembrar que Zico jogou na Udinese. Júnior e Casagrande no Torino. Roberto Dinamite fracassou no Barcelona e Sócrates na Fiorentina. Já Gabigol, colega de Douglas Luiz na Seleção, não obteve qualquer êxito na Inter de Milão.

Para ser craque é preciso ter jogado na Europa? Neto pode ter pego pesado, mas Douglas Luiz parece desconhecer a história e a grandeza do futebol brasileiro.

ZONA DE PERIGO: RELATOS DE UM JORNALISTA ESPORTIVO

por André Luiz Pereira Nunes


Entre 2009 e 2014, pela primeira vez, tive o imenso prazer de conciliar as minhas atividades jornalística e docente em uma simbiose, que só não era perfeita porque os dois lados sempre competiam para ver quem se saía melhor financeiramente.

Estando lotado pelas manhãs em uma escola pública do então recém-emancipado município de Mesquita, aproveitava o restante do dia para percorrer campos de futebol na imensidão da Baixada Fluminense.

Inúmeras missões empreendi a diversos bairros e localidades na cobertura de jogos e eventos, chegando mesmo às paragens mais recônditas.

Certa feita, enquanto me destinava ao campo do Tomazinho Futebol Clube, em São João de Meriti, fui interpelado no caminho por dois sujeitos que me indagaram aonde pretendia me dirigir. Respondi-lhes que desejava chegar à praça de esporte mencionada e que o presidente da agremiação então me aguardava. Um deles, portanto, me indicou, sem que eu necessitasse, a direção correta, não sem antes me advertir que tomasse cuidado. O local era perigoso. Entendi perfeitamente que se tratava de uma ameaça velada. Ambos me assaltariam se eu não tivesse conhecidos na área. Minha impressão foi corroborada pelo presidente do clube, um policial, ao tomar conhecimento do meu relato.

Findado o encontro, aproveitei a deixa para conhecer outra praça de esportes, localizada em Vila Tiradentes, a do Coqueiros Futebol Clube, associação muito tradicional na cidade. Lá chegando, me deparei com um grupo que bebia e fazia churrasco. Me apresentei como jornalista e pesquisador, sendo logo convidado a me juntar a eles. Logo reparei que havia exposta nas dependências uma imagem da entidade afro-brasileira Zé Pelintra. Apesar da visão me ser familiar, pois tenho sólidas raízes na umbanda e no candomblé, inclusive com trabalhos publicados na área, considerei exótica, ou no mínimo insólita, aquela exposição. Obviamente, perguntei aos circunstantes o porquê daquela imagem estar presente e me responderam que pertencia a um dos diretores que se encontrava preso naquele momento.

As coberturas esportivas em Japeri eram as que me despertavam mais adrenalina. A verdade é que ia aonde ninguém desejava e isso sobremaneira me motivava. Nesse local específico só se podia chegar através de moto-táxi, o qual percorria uma estrada de terra totalmente esburacada. Foi a minha primeira experiência na garupa de uma motocicleta. Me senti realmente em um rali!


A via ainda servia para desova de carros e cadáveres. Após percorrê-la praticamente por inteiro, enfim aportei em meu destino. Porém, não demoraria para que descobrisse algo bastante interessante. Quando algum jogador, obviamente, sem nenhum talento, isolava a bola para fora do estádio, esta ia parar num pântano repleto de jacarés. Já havia inclusive um gandula indicado para a arriscada tarefa do recolhimento. Ao perguntá-lo se não sentia medo de lidar com esse perigo, o rapaz foi extremamente taxativo ao responder-me que os répteis já o conheciam. Estavam habituados a ele. Portanto, não havia o menor perigo.

Uma outra estranha situação vivenciei na localidade de Austin, em Nova Iguaçu. O local também era inóspito e de difícil acesso. Apesar disso, fui extremamente bem recepcionado pelos anfitriões, pois geralmente minhas visitas já eram previstas. Ao sentar-me para conversar com alguns conhecidos, entre os quais, o árbitro do jogo, ouvimos um sujeito atrás de nós dizer a um outro que “quase tinha matado mais um naquele dia.”

Em se tratando de Brasil, o jornalista esportivo necessita ser tão destemido quanto o repórter policial. Por sorte, jamais tive subtraídos os meus equipamentos, apesar de percorrer os locais mais remotos e perigosos. O compromisso com a notícia e seus leitores é algo que sempre norteou o meu trabalho.