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andré luiz pereira nunes

1982: O ANO EM QUE O VASCO MUDOU MEIO TIME PARA SER CAMPEÃO

por André Luiz Pereira Nunes


Em 1982, havia 5 anos em que o Vasco sofria um incômodo jejum de conquistas, acumulando vice-campeonatos regionais para Fluminense e Flamengo. Os rubro-negros vivenciavam simplesmente o auge de sua história. No ano anterior haviam derrotado o Liverpool e se sagrado campeões do Mundial Interclubes, em Tóquio. Vale ressaltar que as frustrações cruzmaltinas não se restringiam somente ao Campeonato Estadual. No Brasileiro de 1978, o Gigante da Colina capitulara na semifinal diante do futuro campeão Guarani, a grande surpresa da competição. Já no ano seguinte, houve novo revés vascaíno, dessa vez por parte do fortíssimo Internacional, de Falcão, Mário Sérgio e companhia. 

Tudo levava a crer que na disputa do triangular final do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, Vasco e America seriam meros partícipes, enquanto o Flamengo abocanharia com justiça mais um título. Na própria edição daquele ano não houve comemoração de conquista de um turno. A Taça Guanabara ficou em posse do Flamengo enquanto a Taça Rio com o America, a grande surpresa do certame. O Vasco chegaria ao triangular final por conta da melhor campanha geral.

A inspiração para mudar meio time partiu do então treinador, Antônio Lopes, a partir de uma vitória por 3 a 1 sobre o Flamengo na última partida do returno. Acácio veio a substituir Mazaropi, Galvão ocupara o posto de Rosemiro, Ivan o de Nei, Ernâni entrara no lugar de Geovani e Jérson foi designado para a ponta-esquerda. Gostando do rendimento de seus reservas, Lopes os manteria como titulares para a etapa decisiva. 

No entanto, a imprensa não aprovaria as mudanças, tratando o comandante da nau vascaína como louco. Não faltaram pesadas críticas e até piadas ao técnico vascaíno que não se fez de rogado. Os argumentos contrários partiam do pressuposto de que Mazaropi e Rosemiro eram atletas experientes e que Geovani, 18 anos, tratado como uma verdadeira jóia preciosa, não poderia ser sacado do time. De fato, no ano seguinte, ele conduziria com maestria a Seleção Brasileira para o seu primeiro título mundial de juniores em decisão memorável contra a Argentina, em um torneio no qual foi grande destaque e também artilheiro. 

Porém, com muita raça e liderados por Roberto Dinamite, os vascaínos venceram o forte America por 1 a 0, gol de Ivan, um dos que haviam se transformado em titulares. Vale ressaltar a magnífica atuação de Acácio, o mesmo que fechara a meta do Serrano, de Petrópolis, dois anos antes na lendária vitória sobre o Flamengo por 1 a 0, com um gol antológico do folclórico atacante Anapolina, o qual veio a sepultar as chances do escrete rubro-negro de conquistar o inédito tetracampeonato na Era Maracanã.

Para a decisão foi mantida a escalação contra o Flamengo. Do time rubro-negro estariam em campo dez dos onze titulares que haviam vencido o Liverpool no ano anterior por 3 a 0. A única mudança residia na zaga com a entrada de Figueiredo no lugar de Mozer. Contudo, os ventos não pareciam assim tão favoráveis aos comandados de Paulo César Carpegiani. A equipe parecia desanimada ante à eliminação recente para o Peñarol pela Taça Libertadores da América. Sem contar que Zico, Leandro e Júnior ainda ressentiam do dissabor sofrido na Copa do Mundo quando a Seleção fora eliminada dramaticamente pela Itália.

Na base mesmo da superação, o Vasco fez valer a sua melhor atuação no certame e bateu o Flamengo por 1 a 0. Curiosamente, o gol do título foi marcado por um dos titulares que haviam parado no banco de reservas: Marquinho, um atleta pequenino que subiria majestosamente entre Leandro, Figueiredo e Marinho, para escorar de cabeça para as redes após cobrança de escanteio de Pedrinho Gaúcho pela esquerda.

O fim da sequência de insucessos do Vasco culminaria por decretar também o fim de um vitorioso ciclo daquela inesquecível formação do Flamengo que, remodelado e já sob o comando de Carlos Alberto Torres no lugar de Paulo César Carpegiani, conquistaria o Brasileiro de 1983. Porém, graças às arrojadas defesas de Acácio, à liderança incontestável de Roberto Dinamite e à entrega de Galvão, Ivan, Ernâni e Jerson, os quais agarraram com força a oportunidade, o Vasco levantou o caneco de campeão estadual de 1982. Graças, acima de tudo, à coragem e visão de Antônio Lopes para mudar tanto a base titular em uma reta final de competição.

70 ANOS DE PURA EMOÇÃO

por André Luiz Pereira Nunes


Amado e odiado quase que na mesma proporção, Galvão Bueno é, sem sombra de dúvida, o mais popular locutor esportivo do Brasil. Narrador de eventos históricos do esporte nacional, como o acidente fatídico de Ayrton Senna, Galvão faz parte incontestavelmente da memória da televisão. Hoje ele faz 70 anos de idade.

Há cerca de alguns anos inventaram uma campanha para calar o maior narrador esportivo da televisão brasileira em mais uma das baixarias que a internet por vezes nos proporciona. Nada feito. Não tardaria a faturar por anúncios nas transmissões. Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno é assim mesmo. Quanto mais tentam calá-lo, mais ele cresce. Provavelmente é uma daquelas criaturas mais predestinadas a dar certo, daquele tipo que Papai do Céu olhou e sentenciou:

– Esse é o cara! 

Poucos sabem, mas Galvão Bueno é carioca, nascido no bairro da Tijuca, mas mudou-se para São Paulo, aos seis anos, por conta de um novo casamento da mãe, uma atriz de sucesso do rádio e da TV nos anos 40. Após trabalhar em diversas rádios paulistas, chegaria à televisão, com passagens por Gazeta, Record e Bandeirantes antes de chegar à Globo em 1981. Na época, Luciano do Valle era o principal âncora da emissora, cobrindo jogos de futebol e corridas de Fórmula 1. Contudo, o desejo de criar uma programação voltada somente para esportes o fez se transferir primeiramente para a Record e, depois Bandeirantes, abrindo espaço para que Galvão se tornasse posteriormente o principal nome da emissora no que tange a jornalismo esportivo. Esse feito, porém, só iria se concretizar inteiramente após a Copa do Mundo de 1986, evento o qual fora preterido por Osmar Santos nas narrações dos jogos do Brasil.

Vale ressaltar uma passagem curiosa de sua prestigiosa carreira. Em 1992, Galvão tentou ensaiar uma simulação do que Luciano do Valle fizera com sucesso na Bandeirantes. A ideia era se tornar uma espécie de diretor de esportes da recém-criada Rede OM, sucessora do canal 9 no Rio de Janeiro, que havia pertencido a Silvio Santos. Passaria a cuidar da produção, operação e dos direitos de transmissão das competições que seriam feitas na nova emissora. Então em alta na Rede Globo, deixara o canal do Jardim Botânico para se aventurar na nova empreitada. Chegou a negociar a exclusividade das transmissões de diversos eventos esportivos como a Taça Libertadores e o Campeonato Paranaense, os quais se tornaram sucesso absoluto. Veio então a bater grande recorde de audiência ao narrar a final entre São Paulo e Newell`s Old Boys tendo Roberto Avallone como comentarista. A alegria, porém, durou apenas 10 meses. A Rede OM, que fazia parte do esquema PC Farias, foi extinta após o impeachment do então presidente Collor de Mello.


Após sair da Rede OM, Galvão recebeu propostas de todas as emissoras: do SBT, Bandeirantes e até mesmo da Manchete, esta última propondo o mesmo modelo de negócio o qual havia tentado com a Rede OM. Mas o narrador batera o martelo. Decidira retornar para a Globo. Em 13 de março de 1993, já estava de volta à Fórmula 1, narrando o GP da África do Sul. 

Com o passar dos anos, sua perfomance passou a ser mais rocambolesca, mais teatral. Galvão abrira um pouco mão da sobriedade, arriscando-se mais nos bordões com o objetivo de dar azo às suas emoções. Provavelmente nunca tivemos no Brasil um locutor esportivo que tenha conferido tanto sentimento às narrações. Não raro exagerado, como na ocasião do tetracampeonato do Brasil, uma coisa é certa, Galvão Bueno se tornou reconhecidamente o mais prestigiado narrador esportivo da TV brasileira.

O DRAMA DOS HERÓIS QUE PREFERIRAM MORRER A PERDER

por André Luiz Pereira Nunes


A história do futebol é recheada de dramas, alegrias, comoções e superações. Porém, nenhum feito é comparável ao que foi protagonizado pelos atletas do Dínamo de Kiev, nos anos 40. Seus atletas jogaram uma partida cientes que se ganhassem, seriam assassinados. E ainda assim decidiram vencê-la, em uma rara e verdadeira lição de coragem e esportividade que não encontra similaridade no mundo. Para a compreensão dessa árdua decisão, faz-se necessário retroagir no tempo para entender como um simples encontro representou um momento crucial e derradeiro de todo um elenco esportivo.

Em 19 de setembro de 1941, a cidade de Kiev, atualmente a capital da Ucrânia, foi invadida e ocupada pelo exército nazista. Diante desse inferno, nos meses seguintes, centenas de prisioneiros de guerra não tinham permissão para trabalhar, tampouco para viver em casas, de modo que vagavam pelas ruas na mais completa indigência. Um deles era Nikolai Trusevich, goleiro do Dínamo de Kiev, uma das agremiações mais importantes e prestigiosas da então União Soviética. Josef Kordik, um padeiro alemão, a quem os nazistas não perseguiam exatamente por ser germânico, era torcedor fanático do clube. Pois, em um belo dia, caminhava ele tranquilo pela rua, quando ao olhar para um mendigo, estupefato, se deu conta que se tratava de seu ídolo, o gigante guarda-metas Trusevich.

Ainda que viesse a agir de forma ilegal, o comerciante teutônico resolveu desafiar as regras, enganando os nazistas, ao contratar o goleiro para trabalhar na sua padaria. Para Trusevich era a chance de poder se alimentar e dormir debaixo de um teto seguro. Para o seu empregador era a oportunidade de ajudar a estrela de seu time. Durante as atividades laborativas as conversas entre ambos giravam sempre em torno de futebol até que o padeiro teve uma excelente ideia. Propôs a Trusevich que ao invés de amassar pães, se dedicasse a procurar o restante de seus colegas de elenco. Não só continuaria remunerado, como ainda poderia salvar os outros jogadores.

O goleiro então diuturnamente passaria a percorrer o que restara da cidade devastada e, entre inúmeros mendigos, paulatinamente achou os atletas do clube. Kordik forneceu trabalho a todos, se esmerando ao máximo para que as autoridades não descobrissem a sua artimanha. O arqueiro ainda encontrou alguns atletas rivais do campeonato russo, entre os quais, três jogadores do Lokomotiv, vindo também a resgatá-los. Em pouco tempo, a padaria havia virado um verdadeiro campo de refugiados contendo uma equipe de futebol completa.

Ao se verem sob a proteção do padeiro alemão, os jogadores foram logo estimulados a voltar a jogar. A maioria havia perdido as suas famílias diante do exército de Hitler e o futebol era a última chama acesa que poderia acalentar os seus combalidos corações. Como o Dínamo estava proibido de realizar atividades, resolveu-se dar outro nome para aquela agremiação, a qual passou a se chamar FC Start. Não tardaria para que fossem feitos desafios contra equipes de soldados inimigos e seleções formadas pelo Terceiro Reich.


A 7 de junho de 1942 ocorreu a primeira peleja. Ainda que cansados e famintos por terem trabalhado durante toda a noite, os refugiados venceram por 7 a 2. O adversário seguinte seria um time de uma guarnição húngara, também goleado pelo escore elástico de 6 a 2. Uma equipe romena também veio a sofrer uma derrota acachapante de 11 a 0. A situação ficaria ainda mais séria quando, a 17 de julho, defrontaram um time composto pelo exército alemão, vindo a golear por 6 a 2. Os nazistas então começaram a ficar bastante aborrecidos e impacientes devido à crescente fama de um grupo de empregados de uma padaria e se mobilizaram na tentativa de encontrar um time que pudesse derrotá-los, afinal o orgulho alemão estava mortalmente ferido. Trouxeram da Hungria o forte MSG, mas o FC Start triunfaria por 5 a 1 e ainda ganharia uma revanche por 3 a 2. Em 6 de agosto, cientes de sua superioridade, os alemães resolveram preparar uma equipe contendo membros da Luftware, o Flakelf, um grande time, utilizado como instrumento de propaganda de Hitler. Tratava-se de uma tentativa de buscar o melhor rival possível para que cessasse a incômoda e crescente popularidade do FC Start, o qual já gozava de uma enorme fama entre o sofrido povo refém dos nazistas. De nada adiantou, pois apesar da violência e da falta de esportividade dos desafiantes, o Start saiu vencedor por 5 a 1.

Após essa escandalosa e vergonhosa derrota, finalmente os alemães vieram a descobrir a manobra do padeiro. Chegou então de Berlim a sentença de que todos fossem executados, incluindo o dono da padaria, mas as autoridades locais não se deram por satisfeitas. De maneira alguma desejavam que o time russo ficasse perpetuado como uma lenda, pois se fossem todos assassinados, o fracasso alemão estaria perpetuado, pois a superioridade da raça ariana era um dos pilares do nazismo. Por essa razão, antes que fossem fuzilados deveriam ser derrotados em uma derradeira disputa.

Diante de um clima de extrema pressão e ameaças, foi anunciada uma revanche para 9 de agosto, no estádio Zenit. Antes da partida, um oficial da SS adentrou ao vestiário e disse em russo:

– Serei o juiz do jogo, então respeitem as regras e saúdem a platéia com o braço levantado! – exigindo que fizessem a saudação nazista.

No gramado, os atletas do Start, de camisa vermelha e calção branco, levantaram o braço, mas no momento da saudação, levaram a mão ao peito e proclamaram uma expressão soviética que valorizava a cultura física. Os alemães, de camisa branca e calção negro, marcaram o primeiro gol, mas o Start chegou ao intervalo do segundo tempo ganhando por 2 a 1. No intervalo receberiam novas visitas ao vestiário, desta vez com armas e advertências mais claras e concretas:

– Se vocês ganharem, não sai ninguém vivo! – ameaçou um outro oficial da SS. Os aterrorizados atletas até aventaram a hipótese de não voltarem para o segundo tempo, mas pensaram em suas famílias, na gente sofrida que se encontrava nas arquibancadas e gritava desesperadamente por eles e decidiram, enfim, jogar.


Pois, venceram com todos os méritos. No fim, quando já batiam os adversários por 5 a 3, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o goleiro alemão, deu-lhe um drible, deixando-o estatelado no chão e, ao ficar em frente a trave, quando todos esperavam o gol, simplesmente deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo em um gesto de desprezo e superioridade total. O estádio veio abaixo.

Após a partida, nada de anormal aconteceria. Os nazistas deixaram que saíssem normalmente de campo. O Start ainda atuaria dias depois, goleando o Rukh por 8 a 0. Mas o destino de todos já estava selado. Ao término da partida, a Gestapo visitou a padaria. 

O primeiro a morrer com requintes de crueldade, em frente a todos, foi Kordik, o padeiro. Os demais foram enviados para os campos de concentração de Siretz. Nesse local foram mortos brutalmente Kuzmenko, Klimenko e o goleiro Trusevich, este vestido com a camisa do FC Start. Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos sobreviventes e se mantiveram escondidos até a libertação de Kiev, em novembro de 1943. O restante da equipe pereceu em meio a torturas até a morte.

Ainda hoje nas escadarias do clube é mantido um monumento de saudação e recordação aos heróis do FC Start, os indomáveis e corajosos prisioneiros de guerra, os quais ninguém pôde derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942.

Na Ucrânia, os jogadores do FC Start são tido como heróis da pátria e seu exemplo de coragem é ensinado nos colégios. No estádio Zenit uma placa brada: “Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante o invasor nazista”.

O cineasta John Huston se inspiraria nesse drama real para rodar o filme “Fuga para a vitória” (Escape to victory), de 1982, que chamaria muita atenção à época do lançamento, pois participaram grandes astros como Michael Caine, Sylvester Stallone e Max Von Sydow, além de algumas estrelas do futebol como Bobby Moore, Osvaldo Ardiles, Kazimierz Deyna e Pelé. No filme John Huston fez o que o destino não foi capaz: salvar os heróis.

O CARRASCO DE UMA GERAÇÃO VITORIOSA

por André Luiz Pereira Nunes


Em 1989, durante a segunda edição da Copa Pelé, um mundialito de seleções compostas por atletas veteranos disputado em São Paulo, ocorreu uma situação bastante inusitada. Foi só chegar ao país que Paolo Rossi, o carrasco do Brasil na Copa de 82, se deu conta de como era odiado em terras tupiniquins: “Em São Paulo, ao pegar um táxi, o motorista não parava de me olhar pelo retrovisor e, ao me reconhecer, parou o carro e me fez descer”. Durante uma partida do mesmo torneio, disputada no estádio do Canindé, resolveu por bem não atuar no segundo tempo após receber dos 25 mil espectadores, não só olhares ameaçadores, como também cascas de banana, amendoins e moedas das arquibancadas quando se aproximava da linha lateral. Consta ainda que “batizou” uma epidemia de gripe algum tempo depois da famigerada Copa em que eliminou o Brasil.

Nascido em Prato, uma comuna na região da Toscana, o atacante transitaria por diversos times pequenos até chegar às categorias de base da Juventus, em 1972. Por causa de algumas lesões, as quais o obrigou a passar por três cirurgias em um período de dois anos, acabaria emprestado ao modesto Como pelo qual passaria despercebido. Em 1976, já com 20 anos, foi contratado ao Vicenza, se tornando peça fundamental na ascensão da pequena equipe à Série A, com o bom desempenho de 21 gols em 36 jogos. Espantosamente, na temporada seguinte, a de 1977/78, por pouco não conduziu a agremiação do Vêneto ao título italiano, sagrando-se artilheiro e vice-campeão da competição, atrás apenas da Juventus, com a incrível marca de 24 gols em 30 jogos. A excelente performance o conduziria à Seleção Italiana, em 1977 e, por conseguinte, à Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

A ótima fase seria reconhecida por Enzo Bearzot, o treinador da Azzurra, o qual se tornaria um dos maiores fãs e incentivadores do seu talento, chegando a convocá-lo ainda para mais dois mundiais. Em 1978, Rossi fez 3 gols, ajudando a Itália a chegar na quarta colocação. Mas essa ainda não seria a sua Copa do Mundo. O certame que o destacou sob os holofotes de todo o mundo e o projetaria para a galeria dos maiores carrascos da Seleção Canarinho, ao lado de Ghiggia e Zidane, foi mesmo a Copa de 1982, disputada na Espanha.


O Brasil, sob o comando de Telê Santana, chegava com ares de favorito, pois contava com craques de indiscutível qualidade como Zico, Falcão, Júnior e Sócrates. A Itália, por sua vez, mantinha a sua força no sistema defensivo, com Zoff, Scirea, Colovatti e Gentile. Porém, na parte ofensiva era uma verdadeira incógnita. Graziani não estava em boa fase e o artilheiro Roberto Bettega veio a se contundir há poucos meses da convocação, sendo cortado. Paolo Rossi, por seu turno, estava completamente à margem, visto que acabara de voltar de uma suspensão por um suposto envolvimento em um esquema de armação de resultados da loteria esportiva italiana que o impediu de jogar futebol por dois anos. Nem a imprensa tampouco a torcida eram favoráveis à sua convocação, mas Bearzot resolveria mesmo fazer a sua aposta individual. Mesmo com a punição, o atacante viria a ser contratado pelo clube onde iniciara a carreira, a Juventus. Posteriormente um de seus acusadores admitiria que as provas contra ele eram forjadas. Felizmente para Rossi e para a Itália, mas não para o Brasil, a pena terminaria a um mês do início da Copa da qual sairia campeão, artilheiro e consagrado como melhor jogador. 

Sem atuar por quase dois anos e tendo jogado apenas três partidas pela Juventus, Rossi parecia contar apenas com o apoio do técnico. O meia Gabriele Oriali, também convocado à competição, disse pouco antes de a delegação rumar à Espanha: “Com Paolo Rossi no ataque, nossas chances de vencer ficam reduzidas”. E realmente assim foi na primeira fase, onde a parte ofensiva passou em branco nas partidas contra Polônia, Peru e Camarões.

Contudo, os deuses do futebol têm as suas artimanhas e os seus próprios desígnios. Quiseram eles que as seleções do Brasil e da Itália caíssem no mesmo grupo da segunda fase que contava ainda com a campeã Argentina. Contra o Brasil não demoraria para que Paolo Rossi mostrasse o seu cartão de visitas. Logo aos cinco minutos, ele abriu o placar com uma cabeçada fulminante após um cruzamento de Cabrini. Todavia, o Brasil não se abateria com o revés, chegando à igualdade aos 12. Entretanto, aos 25, Rossi aproveitaria uma falha clamorosa de Toninho Cerezo e, com o seu costumeiro oportunismo, colocou novamente a Itália à frente do placar. Na segunda etapa, o Brasil pressionaria até encontrar o gol, com um belo voleio de Falcão. Com o empate, parecia que o escrete canarinho viraria o marcador, mas novamente ele deu o golpe de misericórdia. Aos 30 minutos, livre de marcação, desviou  na pequena área, marcando o gol da vitória. O Brasil não conseguiu superar o baque e, graças a Rossi, a Itália estava classificada para as semifinais. Foi o autor dos três gols da vitória naquela que ficou conhecida como a Tragédia do Sarriá. O atacante ainda deixaria a sua marca duas vezes contra a Polônia, na semifinal, e uma vez contra a Alemanha, na decisão, conquistando a Chuteira de Ouro da competição, com seis gols. Naquele ano, também arrematou a Bola de Ouro, da revista France Football, se tornando o terceiro italiano a ganhar o prêmio após Gianni Rivera e Omar Sivori.


No que tange a clubes, sua melhor passagem ocorreu realmente pela Juventus, ainda que pontuada por altos e baixos. O atacante nunca conseguiu estabelecer um relacionamento muito amigável com a torcida, o treinador Giovanni Trapattoni e o presidente Giampero Boniperti. Se queixava constantemente ao ser substituído. De qualquer forma, junto a Platini e Boniek, veio a conquistar diversos títulos com a Velha Senhora, entre os quais, os de 1982 e 1984, além da Copa dos Campeões da Europa, de 1985. Sua melhor temporada foi a segunda, na qual contribuiu com 13 gols para o scudetto.

Em 1985, ao ser contratado pelo Milan, não conseguiria render o que seria esperado de um legítimo matador por conta dos velhos problemas de joelho. Marcaria apenas dois gols com a camisa rubro-negra. No ano seguinte, Bearzot o chamaria para a sua terceira e última Copa do Mundo, possivelmente em uma espécie de homenagem, pois Rossi, em péssimas condições físicas, não atuou em nenhuma partida. Após o torneio, encerraria a sua prestigiosa carreira no Verona, marcando quatro gols em vinte jogos. 

Em 2002, no vigésimo aniversário do Mundial, publicou uma autobiografia, de nome bastante sugestivo: “Eu fiz o Brasil chorar”. Atualmente, é comentarista do canal italiano Sky Sports, presidente honorário do Prato, a equipe de sua cidade natal, e ainda dirige uma agência imobiliária em Vicenza.

PELÉ, RIVELLINO E ZICO NA SELEÇÃO: O MUNDIALITO DE MASTERS

por André Luiz Pereira Nunes


O falecimento de Luciano do Valle, histórico narrador televisivo, significou a perda de um dos maiores incentivadores do esporte no nosso país. Para quem não sabe, Luciano detém uma coleção imensa de grandes narrações, como a Copa do Mundo de 1982, os títulos de Emerson Fittipaldi na Fórmula 1, as 500 Milhas de Indianápolis de 1989 e o Mundial de Clubes de 2000. Era o narrador principal da TV Globo até o começo da década de 1980, quando saiu para transformar a Bandeirantes no Canal do Esporte. 

Graças aos seus esforços, algumas modalidades como vôlei, sinuca, boxe, futebol americano e a Fórmula Indy ganhariam destaque nas tardes de domingo. Como promotor, conseguiu lotar o Maracanã para uma partida de vôlei entre Brasil e União Soviética. Trouxe para o país as transmissões da NBA e da NFL e ainda ajudou a popularizar o futebol feminino. Luciano do Valle tem ainda bastante influência nos primeiros campeonatos europeus veiculados pela televisão brasileira. Vale recordar as memoráveis transmissões do campeonato italiano nas manhãs de domingo.

Porém, uma outra grande sacada do locutor foi a de promover a Seleção Brasileira de Masters, inicialmente concebida como de Seniors. A ideia teria surgido no início dos anos 80 quando ele e alguns amigos discutiam acerca do baixo nível do futebol brasileiro. Junto a empresários, o locutor lançou, em 1987, a Copa Pelé, que contava com ex-craques de cinco seleções campeãs do mundo até então: Brasil, Argentina, Uruguai, Alemanha Ocidental e Itália. 

Mas não só seriam ídolos brasileiros que topariam participar do torneio, realizado em São Paulo. Uwe Seeler, Paul Breitner, Gerd Müller, Giacinto Facchetti e Roberto Boninsegna estiveram entre os convidados para o deleite de milhares de espectadores que lotaram as arquibancadas. O Rei do Futebol, entretanto, só atuou na primeira partida contra a Itália. Na decisão do torneio, a Seleção, comandada por Luciano, acabou sendo derrotada por 1 a 0 pela Argentina, de Babington, Brindisi e Oscar Más. O carrasco naquele ‘pequeno Pacaembunazo’ foi Darío Felman, atacante que havia acabado de encerrar a carreira após ser ídolo de Boca Júniors, Gimnasia e Valência.

A edição seguinte contou também com a participação da Inglaterra, passando a ter todos os seis campeões mundiais. O Brasil finalmente conseguiu levantar a taça ao bater na decisão o Uruguai por 4 a 2, com três gols de Claudio Adão e outro de Rivelino. Já em 1990, uma edição especial foi nomeada ‘Copa do Craque’ ou ‘Copa Zico’. Mais uma vez a Seleção venceu com sobras o torneio com direito a show do Galinho de Quintino, Rivelino, Serginho e Éder na final contra a Holanda: 5 a 0, no placar.

Em 1991, Luciano do Valle conduziria o escrete canarinho ao tricampeonato. Luís Pereira, Vladimir, Batista, Mário Sérgio, Zenon, Rivelino, Roberto Dinamite, Rocha e Jaime de Almeida eram alguns dos destaques da equipe. O Brasil derrotou, na decisão, a Argentina, de Mário Kempes e Hugo Gatti, por 2 a 1, com um gol decisivo de Zico, aos 42 minutos do segundo tempo. Posteriormente, a International Federation of  Master Football se encarregaria de organizar mais duas edições do torneio, nos Estados Unidos, sem o mesmo apelo, embora com mais um título da Seleção. 

Se o projeto fosse reativado, poderíamos, quem sabe, ver em campo craques como Bebeto, Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho trazendo mais alegrias para os torcedores brasileiros. Quem pôde assistir a algum momento da Seleção Brasileira de Masters, jamais se esquecerá da magia a qual cada vez menos encontramos nos dias de hoje.