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andré luiz pereira nunes

TERRA BATIDA, MEU AMOR

Por André Luiz Pereira Nunes

O Museu da Pelada esteve presente em mais um evento de importância esportiva na cidade do Rio de Janeiro. A presença do ex-craque do Botafogo, Vasco e Seleção Brasileira, Donizete, abrilhantou o jogo amistoso da categoria masters, disputado no campo do Vasquinho, entre Grupo Família e EC São José de Magalhães Bastos. Em seguida, os mesmos rivais duelaram pela categoria adultos.

Para quem não sabe, o São José é um tradicional clube alvinegro que dispõe em seu rico pavilhão da conquista do Campeonato Carioca de 1934, organizado pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT). Ao contrário de muitos de seus pares, a quase centenária agremiação não veio a se profissionalizar. Por isso, anos mais tarde, passou a integrar o saudoso Departamento Autônomo, o qual abrigou inúmeros e tradicionais times, alguns até inicialmente amadores da cidade, como Portuguesa e Campo Grande.


No evento foram homenageadas postumamente, com faixas e dizeres, as senhoras Luzimar da Silva Oliveira e Alexandra Santos pelo tanto que representaram à comunidade. 

O desportista José Mauro Tenório, organizador do espetáculo, ainda aproveitou para desfilar o seu talento nas quatro linhas à frente da equipe master do São José, mas coordenou com eficiência a programação.

“Fiquei extremamente satisfeito com a presença do Museu da Pelada e em poder homenagear duas pessoas muito queridas da comunidade que infelizmente não estão mais entre nós”, declarou Mauro, ex-presidente do Ação, clube da Série C, que desde o início do ano passou a se chamar FC Rio de Janeiro.

No final foi servido um suntuoso café da manhã para todos os presentes.

O DIA EM QUE A PORTUGUESA DA ILHA BATEU O REAL MADRID

por André Luiz Pereira Nunes


É possível conceber um pequeno clube carioca atravessar o continente para enfrentar o poderoso Real Madrid, repleto de astros, em pleno Estádio Santiago Bernabéu, na Espanha, e ainda sair com a vitória? O cenário parece extraído de um filme, cujo roteiro é dos mais inacreditáveis. Todavia, o que parecia impossível se tornaria realidade.

Na terça, 4 de setembro, a Associação Atlética Portuguesa, do Rio de Janeiro, comemorou 51 anos de uma inesquecível vitória sobre o Real Madrid. A simpática Lusa da Ilha do Governador foi até a capital espanhola e, capitaneada por nomes como Zeca, Escurinho e Miguel, bateu a poderosa equipe merengue por 2 a 1 em um amistoso ocorrido em 1969. 

Tratava-se do cotejo de entrega de faixas para a equipe, então tricampeã do Campeonato Espanhol em 1966/1967, 1967/1968 e 1968/1969. Sob o comando de Miguel Muñoz Mozún, os madridistas contavam com grandes estrelas em seu plantel, como o atacante Paco Gento e o zagueiro Sanchis. Mas os insulanos não se intimidaram nem um pouco. Em um jogo festivo com “pouco futebol e muitas piruetas”, conforme mencionado pela imprensa espanhola, os visitantes ganhariam por 2 a 1, com direito a dois tentos do ponta-direita Miguel.

A Portuguesa realizava uma excursão à Europa para uma série de amistosos. E, como parte dos compromissos, deveria enfrentar o Sevilla. Entretanto, o duelo acabaria cancelado por um motivo peculiar. À procura de um rival para realizar o jogo festivo de entrega das faixas, o Real Madrid ofereceria uma quantia maior ao time da Ilha do Governador, levando a melhor sobre os rivais sevilhanos. O histórico, inusitado e surpreendente triunfo rendeu aos vencedores um prêmio cinco vezes maior do que o anunciado anteriormente.

– O bicho da Portuguesa era de 10 dólares. O empresário nos deu 50 dólares. Ficamos malucos. Foi só alegria, samba, pagode e felicidade. Só felicidade – diria o zagueiro Zeca em uma entrevista ao canal Sportv, em 2014.

A vitória da Portuguesa começaria a ser desenhada logo na primeira etapa. Aos sete minutos, o atacante Miguel marcou o primeiro. Ao fim da etapa inicial, aos 42 minutos, o atleta repetiria o feito, assinalando o segundo para o time da Ilha do Governador, o qual sairia para o intervalo já vencendo por 2 a 0. No segundo tempo o Real Madrid partiria para cima em busca do empate, só conseguindo diminuir o marcador aos 45 minutos, com Planelles. Tarde demais para igualar o marcador. Melhor para os visitantes que derrotaram uma das maiores e mais prestigiadas agremiações esportivas do planeta diante de mais de 50 mil pessoas no histórico Santiago Bernabéu.

Dizem até que o ponta-esquerda Escurinho, o mesmo do Fluminense nas décadas de 50 e 60, foi um dos principais destaques daquele épico confronto. Ao final da partida, quando já se encontrava no vestiário, teria recebido uma sondagem de dirigentes da equipe merengue. Entretanto, a transação não ocorreria por conta da idade avançada do atleta, o qual já contava 39 anos.

Dispondo de mais de 130 jogos internacionais, a equipe carioca, cuja mascote se tornaria a zebra, também aprontaria ainda mais uma ousadia. Em 13 de agosto de 1976, em São Januário, viria a bater o Benfica por 3 a 1.

FUTEBOL SE GANHA DENTRO E FORA DE CAMPO

por André Luiz Pereira Nunes


Meu saudoso amigo Walquir Pimentel, ex-árbitro e dirigente, no auge da sagacidade e da experiência vivenciadas em décadas no meio do futebol, sempre me dizia que futebol se ganha dentro e fora de campo. A lição nunca me foi esquecida.

– Como assim? Não basta formar um bom time e bater impiedosamente os adversários? – perguntava.

– Não. Se um time não tem representatividade e influência junto à imprensa e aos órgãos federativos de nada adianta., reiterava.

Tal premissa me faz lembrar o Bangu, de Castor de Andrade. Em 1985, vencia os rivais, mas era extremamente prejudicado pelo juiz em momentos-chave. Tais situações ocorreram duas vezes contra Coritiba e Fluminense, respectivamente, nas finais do Brasileiro e Estadual. Alguns atletas daquela magnífica equipe acreditam que o notório bicheiro se descuidou dos assuntos externos porque confiava plenamente em seu plantel.

Outra agremiação extremamente garfada pela arbitragem foi o America, nas décadas de 70 e 80. Aliás, o ex-locutor da Rádio Globo do Rio de Janeiro, Maurício Menezes, hoje gozando da merecida aposentadoria em Juiz de Fora, declarou recentemente em uma rede social que jamais viu em sua vida equipes tão azaradas como a Portuguesa de Desportos, o America e o seu correlato genérico de Belo Horizonte.

O Botafogo, por exemplo, é o clube que mais empatou no presente Campeonato Brasileiro: seis vezes. Teve somente uma vitória e uma derrota. Tem sofrido com uma incômoda sequência de gols anulados pela arbitragem. Agrava-se ainda mais a questão emocional, pois “O Glorioso” ainda tem  tomado gols nos minutos finais das partidas. A revolta é tanta que o goleiro Gatito Fernández resolveu dar um chute na aparelhagem do VAR após o jogo contra o Internacional, devendo ser julgado e punido pela atitude impensada.

É possível que diante de tantos revezes, seja necessário trabalhar o lado psicológico dos atletas, pois a sucessão de tentos anulados e os gols sofridos ao fim dos jogos certamente afetam o moral do grupo.

Para se ter uma ideia, pela nona rodada do Brasileirão, o Botafogo vencia o Athletico Paranaense, em Curitiba, por 1 a 0, e quase tomou a virada nos 5 minutos finais. A equipe paranaense igualaria o marcador, aos 43 minutos, e só não venceu o rival carioca porque Nikão desperdiçou uma penalidade, batendo para fora. Em seguida, Geuvânio mandou uma bola no travessão. Para piorar, houve um gol de Bruno Nazário, aos 44 minutos da primeira etapa, anulado pelo árbitro, que deu impedimento na jogada.

Na rodada anterior o Clube da Estrela Solitária obteve a sua melhor atuação diante do Corinthians. Só não venceu porque mais uma vez foi vítima da arbitragem, a qual concedeu um penal inexistente para o adversário. Detalhe: o sistema defensivo falhou no final do cotejo, deixando o atacante Jô livre para assinalar o gol de empate.

É certo que Paulo Autuori terá muito trabalho para acertar o time, pois alguns de seus comandados estão em má fase. Honda ainda não rendeu o esperado. Bruno Nazário tem boa técnica, mas é instável. Kalou estreou, demonstrou qualidades, mas precisa melhorar muito a questão física. Mas pesam também as dificuldades extra-campo. Outro dia os torcedores protestaram com faixas contra o VAR em frente à sede da CBF, no Rio. Um dos dizeres era: “Igualdade de critérios para todos os clubes do Brasil.”

O Botafogo, para sair desse rol de dificuldades, precisará mesmo melhorar seu time dentro e fora de campo.

A REVIRAVOLTA VASCAÍNA NOS ANOS 80

por André Luiz Pereira Nunes


Durante boa parte dos anos 80 o Vasco vivenciou um magro período de títulos. Em âmbito estadual, Flamengo e Fluminense se alternavam nas conquistas, enquanto o Gigante da Colina era rotulado como freguês. Em 1982, houve uma rara exceção. O Vasco foi campeão de forma inusitada e surpreendente, pois o Flamengo, então campeão mundial, era considerado favorito. Em 1984, os vascaínos chegaram à decisão do Campeonato Brasileiro, mas capitularam diante do Tricolor das Laranjeiras. Era, portanto, inegável que a dupla Fla-Flu prevalecia sobre o time de São Januário. Contudo, em 1986, a situação começou a mudar a partir do título da Taça Guanabara. Aquele seria o ponto de partida, o divisor de águas, para que ocorresse uma mudança radical que levaria o clube cruzmaltino a um patamar bem superior nos anos seguintes.

Até então era latente a ansiedade que norteava a torcida por levantar um título, sobretudo de caráter nacional, após mais de uma década de jejum.  Em 1974, sob o comando de Mário Travaglini, o Vasco se sagrara campeão brasileiro diante do Cruzeiro em uma polêmica decisão. Entre 1977 e 1979, aconteceram três decepções seguidas. Na primeira, em São Januário, a equipe foi batida pelo surpreendente Londrina por 2 a 0 e ficou de fora das semifinais. Na segunda, chegou entre os quatro finalistas, mas terminou superada nos dois jogos das semifinais pelo futuro campeão Guarani. E na última, alcançou a decisão, mas foi facilmente batida pelo fortíssimo Internacional.

Conforme mencionado, o Vasco chegaria a outra decisão nacional, dessa vez sob o comando de Edu Coimbra. Mas nos dois jogos finais contra o Fluminense, de Carlos Alberto Parreira, o ataque passaria totalmente em branco. Já em 1986, a dupla Roberto e Romário, coadjuvada pelo talentoso ponta-direita Mauricinho, passou a fazer a diferença. A conquista da Taça Guanabara em uma memorável decisão contra o Flamengo é recordada com carinho, embora a equipe tenha capitulado diante do mesmo adversário nos jogos finais do certame. 

Nos dois anos seguintes, o Vasco reinaria absoluto no Rio de Janeiro. A sua apaixonada torcida até apelidou o time de SeleVasco. No primeiro ano, Tita fôra um dos protagonistas da memorável campanha. No ano seguinte foi a vez do o lateral-direito reserva Cocada se consagrar com um golaço digno de uma decisão.

No segundo semestre de 1988, após se destacar pela Seleção Brasileira nas Olimpíadas de Seul, Romário foi vendido ao PSV Eindhoven. Mesmo apontado como favorito naquele Brasileiro, o Vasco foi, contudo, eliminado nas quartas de final pelo Fluminense, de Romerito, Jandir e Washington.

No ano seguinte, finalmente a escrita seria quebrada. No comando, após experiências, no Estadual, com o ex-lateral Orlando Lelé e Sérgio Cosme, o Vasco apostou em Nelsinho Rosa. Ex-meia revelado pelo Madureira, formara uma dupla marcante, nos anos 60, com Carlinhos, no Flamengo. Como treinador, já era experiente, pois levantara dois estaduais, em 1980 e 1985, pelo Fluminense. Além disso, tivera passagens por seleções de base e era o auxiliar de Sebastião Lazaroni na Seleção principal.

Reforçados por Bebeto, simplesmente no auge da carreira, os cruzmaltinos desbancaram na final o então favorito São Paulo e levantaram a almejada taça de campeão brasileiro. Ainda ecoa na memória dos vascaínos o cruzamento de Luiz Carlos Winck e a consequente cabeçada certeira de Sorato que pôs a bola no fundo da rede. 

O PRÍNCIPE QUE ANULOU UM GOL EM PLENA COPA DO MUNDO

por André Luiz Pereira Nunes


Imaginem a seguinte situação. O príncipe de um pequeno país do Oriente Médio se rebela contra a decisão da arbitragem, abandona as tribunas onde assistia ao jogo e resolve invadir o campo juntamente com seus guarda-costas para pressionar o juiz e fazer com que o mesmo volte atrás e invalide um gol assinalado pela equipe adversária. O fato poderia ser retirado de um filme de comédia, mas aconteceu de verdade. E não foi em um torneio amador ou nas divisões inferiores do combalido Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. O palco dessa cena pitoresca, impensável e bizarra abrigava simplesmente a maior competição futebolística do planeta: a Copa do Mundo.

Fahad Al Ahmad Al-Sabah, príncipe do Kuwait, realizou o impossível: anular um gol legítimo contra seu país em pleno Mundial de 1982. O acontecimento foi durante a partida entre França e Kuwait, em Valladolid, pela segunda rodada da fase de grupos. Os europeus já venciam por 3 a 1 quando, aos 27 minutos da segunda etapa, Giresse assinalou mais um. O lance, embora inteiramente normal, provocaria intensa revolta dos árabes, os quais alegaram que o atacante rival estaria em posição irregular, pois tinham escutado um apito. Uma grande confusão se formou dentro do campo. Al-Sabah então desautorizou que a seleção do Kuwait retornasse à partida, surpreendendo inclusive o próprio técnico, o brilhante Carlos Alberto Parreira.

O xeque, que assistia a tudo atentamente, era o presidente da federação de futebol, e levou a reclamação muito a sério. Imediatamente desceu ao campo para conversar pessoalmente com o árbitro Miroslav Stupar, da União Soviética. O dirigente argumentou que os jogadores de sua seleção desistiram da jogada que resultou no gol de Alan Giresse após ouvirem soar um apito, provavelmente proferido das arquibancadas e, por conta disso, seus jogadores acreditaram que se tratara de um impedimento. 

Irmão caçula do Emir do Kuwait, militar formado na Royal Military Academy Sandhurst, do Reino Unido, o polêmico Al-Sabah sempre amou o esporte. Fundara o Comitê Olímpico de seu país e presidira quase todas as associações esportivas de sua pequena nação como a de tae kwon do, boxe, caratê, handebol, esportes náuticos, remo e, obviamente, o futebol. Foi ainda dirigente da Federação nos Jogos Asiáticos, do Conselho Olímpico de seu continente, da União Esportiva Árabe, do COI e fundador da União Geral de Esportes da Ásia. Viajava o mundo comandando as delegações em quaisquer que fossem os esportes e competições. 

Mas foi realmente na Copa do Mundo da Espanha que ganhara fama mundial. A TV distribuiu a sua imagem para quase duzentos países quando, inadvertidamente, no melhor estilo Eurico Miranda, adentrou ao gramado e convenceu Miroslav Stupar a anular o tento contra o seu amado Kuwait. “Ou você invalida o gol, ou eu retiro o Kuwait da Copa do Mundo”, ameaçou. Curiosamente o juiz assentiu ao pedido e a marcação foi irremediavelmente anulada. A decisão, porém, seria fatal para o árbitro ucraniano, o qual jamais pôde continuar a apitar internacionalmente. Além de barrado dos quadros da FIFA, fôra suspenso da função pelo resto de sua vida. Coube, no entanto, ao príncipe, um dos homens mais ricos do mundo, apenas pagar uma módica multa de 8 mil dólares e ser perdoado. Contudo, desde então, o time do Oriente Médio jamais voltaria a se classificar para uma Copa do Mundo.

Vale ressaltar que o Kuwait, estreante na competição, dias antes havia empatado com a Tchecoslováquia e perdido apenas por 1 a 0 para a fortíssima Inglaterra. Por isso, o cotejo contra os franceses era de extrema importância e responsabilidade para o destino da equipe no torneio. 

Todavia, nem sempre o dinheiro salvaria a pele do poderoso dirigente invasor de gramados e anulador de assinalações. Oito anos mais tarde, sua roda da fortuna giraria para o lado oposto. De invasor, passaria a invadido. Em agosto de 1990, o vizinho Iraque, de Saddam Hussein, usurpou o Kuwait, no começo da chamada Guerra do Golfo. Apenas 100 mil soldados foram suficientes para subjugar 16 mil defensores. O irmão de Al-Sabah, dirigente máximo do país, deu logo no pé, deixando o príncipe, então com 45 anos, para defender o Palácio. Quis o destino que dessa vez o xeque não conseguisse convencer absolutamente mais ninguém. Acabaria impiedosamente morto a tiros e seu cadáver arrastado por um tanque T72 iraquiano. 

O seu legado, entretanto, não se extinguiu com ele. O filho mais velho, Ahmad, a maior autoridade do exército, foi ministro das Informações e do Petróleo, a maior renda da nação. Ainda é presidente do Conselho Olímpico da Ásia e já treinou a seleção de futebol. O segundo filho, Talal, dirige a Federação de basquete. O terceiro, Athbi, pratica tiro. O quarto, Khaled, é vice-presidente da Federação Nacional de Futebol. E finalmente o caçula, Dari, é o mandatário do Clube Hípico e de Caça. Não há, porém, registros de que qualquer deles tenha invadido uma praça esportiva para contestar qualquer decisão de arbitragem.