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andré luiz pereira nunes

SERÁ O FIM DA SINA DE PIOR TIME DO MUNDO?

por André Luiz Pereira Nunes


Um fato deveras inusitado chamou a atenção da imprensa e das redes sociais no domingo, 18 de outubro. Na estreia do Íbis, pela Série A2 do Campeonato Pernambucano, ocorreu uma grande surpresa. A equipe rubro-negra, notabilizada por ser a pior do mundo, goleou a Cabense, de Cabo de Santo Agostinho, pelo placar de 4 a 0. Romarinho, duas vezes, e Diego assinalaram. Para fechar a goleada, com chave de ouro, o outro tento foi contra. Porém, o que deveria ser um motivo de júbilo para qualquer time, diretoria e torcida, na verdade provocou uma verdadeira ira muito bem-humorada, se é que assim podemos dizer, nas redes sociais. 

 “Fim de jogo. Cabense 0x4 Íbis. Péssima estreia!”, publicou a conta oficial do clube pernambucano no Twitter.

Contudo, Diego e Romarinho, astros da partida, prometeram contrariar as esperadas tradição e expectativas nessa temporada.

– A torcida vai ter raiva da gente esse ano porque vamos rumo ao título! – declarou um exultante Diego ao portal de notícias UOL. Já o companheiro Romarinho não deixa por menos.

– A galera tem que deixar de ver esse time como o pior do mundo, pois quem faz o Íbis somos nós e estamos em busca da primeira divisão! – afirmou em entrevista ao mesmo veículo.

Fundada a 15 de novembro de 1938, a agremiação rubro-negra chegou a entrar para o Guinness, o Livro dos Recordes, por ter registrada a incrível marca de três anos e onze meses sem uma única vitória. Foram nove derrotas seguidas e um desempenho pífio de 23 partidas sem triunfos. Ao bater o Ferroviário por 1 a 0, em 20 de julho de 1980, o Pássaro Preto só voltaria a ganhar novamente em 17 de junho de 1984, quando bateu o Santo Amaro por 3 a 1. Vale ressaltar que superara assim o próprio recorde, ocorrido entre 1978 e 1979, quando permaneceria 19 jogos sem vencer. Ou seja, não há o que contestar. O time é muito ruim mesmo!

Na época, os jornalistas passaram a fazer inúmeras brincadeiras a partir da fama do Íbis, definindo-o então como o “Pior de todos os tempos”. Não tardaria para a onda se espalhar. Mas a alcunha, que para muitos seria depreciativa, foi na verdade utilizada como uma espécie de trunfo de marketing. A equipe acabaria se tornando mundialmente conhecida devido à irreverência contida na sua história.

Em 2017, o Íbis fôra mais longe do que o previsto na disputa da Série A2 do Campeonato Pernambucano. Na primeira fase do estadual, conquistou o feito histórico de permanecer seis jogos sem derrotas, com o retrospecto de quatro vitórias e dois empates, só caindo no mata-mata. Em tom jocoso, seus torcedores iniciaram protestos por conta da sequência invicta e, de forma bem descontraída, alegaram que só voltariam a apoiar o clube quando fossem feitas as “pazes com a derrota”, o que duraria 390 dias.

Na mesma ocasião, na tentativa de angariar recursos, os dirigentes lançaram uma campanha completamente inusitada tendo como garoto-propaganda o ex-ídolo Mauro Shampoo. Provavelmente se tratava da mensalidade mais barata da história do futebol brasileiro, pois bastavam apenas R$ 2 por mês para se tornar um sócio-torcedor da agremiação.

“Ajude com apenas 2 reais o nosso time a perder” era o mote da iniciativa. Os novos sócios ainda concorriam a kits contendo camisa, calção e meião, além de desconto na compra dos ingressos dos jogos.

O advento e a popularização das redes sociais amplificariam ainda mais a fama do Íbis, que passaria então a “cornetar” e até desafiar equipes internacionais. Algumas mensagens no Twitter exploram esses cômicos momentos:

“O treino de hoje foi tenso. Nossos atletas estão na expectativa de uma possível convocação para a Copa do Mundo. Teve até jogador fazendo corpo mole, tirando o pé em certas jogadas. A maioria com medo de uma possível lesão. Seja justo, Tite!”

— Íbis Sport Club (@ibismania), em 14 de maio de 2018.


“O PSG foi campeão vencendo por 7 a 1 o segundo colocado do francesão. Competição de altíssimo nível. Lembra muito o campeonato que jogamos, a 2ª divisão do Pernambucano. Parabéns!” — Íbis Sport Club (@ibismania), em 15 de abril de 2018.

“Muita gente perguntando se vamos fazer um amistoso contra o @sportrecife hoje. Entendemos que o time está sem jogar e se preparando para o Brasileirão. Mas não vamos jogar. Preferimos enfrentar um time mais forte. Parem de espalhar boatos. Obrigado!”— Íbis Sport Club (@ibismania), em 11 de abril de 2018.

O time foi concebido como um meio de entretenimento para os trabalhadores da Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP). A princípio, apenas funcionários da empresa jogavam e, mesmo assim, em partidas amistosas. Posteriormente, com o crescimento, a equipe se profissionalizou, tornando-se inclusive uma das fundadoras da Federação Pernambucana de Futebol. Com o passar do tempo, as dificuldades foram surgindo, culminando no abandono por parte da companhia. Daí, a Família Ramos abraçou a iniciativa e a mantém até hoje. O símbolo é um pássaro mitológico: a íbis sagrada do Egito antigo. Já a cor rubro-negra é uma referência ao escudo da TSAP.

Resta saber se o “Pior time do mundo” engrenará uma sequência histórica de vitórias, contrariando, desse modo, a sua peculiar e irreverente trajetória de insucessos nas quatro linhas. Não seria a primeira vez. Em 1999, a escrita foi quebrada. O Íbis se sagrou vice-campeão estadual da segunda divisão. 

GERSINHO: O HABILIDOSO MEIA QUE BARROU GEOVANI

por André Luiz Pereira Nunes


Em julho de 1985 o Vasco da Gama vivenciava a expectativa de disputar a Taça Libertadores da América. Os bastidores estavam movimentados. O período em São Januário era de intensa turbulência devido às costumeiras guerras políticas que antecedem as eleições. Em meio a essa e outras dificuldades, a diretoria capitaneada pelo saudoso Antônio Soares Calçada se aplicava para montar um elenco em condições de fazer uma boa performance no torneio sul americano. Contudo, seria em vão, pois o time foi eliminado na primeira fase.

Após frustradas as tentativas de contratação dos zagueiros De León e Delgado, respectivamente da seleção uruguaia e paraguaia, o Gigante da Colina apresentou como principal reforço para a campanha o meia Gersinho, do União Barbarense, o qual se encontrava emprestado à Ponte Preta e era um de seus principais destaques. Na ocasião, o apoiador, notabilizado pelo bigode, acabou contratado em meio a uma transação repleta de lances pitorescos e policialescos já que o time campineiro tinha a opção de compra de seu passe, mas se esqueceu do prazo de opção e acabou perdendo o jogador. 

– Tive que sair quase fugido de Campinas. Até hoje os dirigentes da Ponte me ligam dizendo que vou retornar para lá porque estão se movimentando para tornar ilegal a minha transferência para do União para o Vasco, declarou na época em entrevista.

O armador estreou justamente na abertura da Libertadores contra o Fluminense, um 3 a 3 no Maracanã, entrando no lugar de Geovani, com quem daí em diante iria sempre disputar posição na meia cancha. Por ter sido escalado de maneira atabalhoadamente irregular, o Vasco perderia o ponto daquela partida.

Gérson Sebastião Moisés surgiria como uma jóia no Guarani. Profissionalizado aos 16 anos, fez parte, como reserva de luxo, do elenco campeão brasileiro em 1978. 

– Depois dos 11 titulares daquela equipe, fui o que mais joguei naquele campeonato, relembra.

Suas ótimas atuações o levaram a vestir a camisa da Seleção Brasileira sub-20, em 1979, comandada por Mário Travaglini. Também defendeu a Seleção Paulista de profissionais dirigida por Dudu.

Após algum tempo atuando no alviverde de Campinas se tornaria ídolo da torcida. Acabou então despertando, em 1983, o interesse do Barcelona.  Parecia ser a grande oportunidade de sua carreira, mas a sua estada só duraria 3 meses. O clube catalão possuía naquele tempo dois times. O principal jogava a primeira divisão espanhola e já contava com dois estrangeiros: Diego Maradona e Bernd Schuster. O outro, intitulado Atlético Barça, atuava na divisão de acesso. O meia brasileiro integrava justamente a equipe aspirante e já havia marcado 11 gols em 7 partidas. Porém, um dia o treinador César Menotti entrou na sala da presidência e disse que não desejava mais contar com o seu futebol, preferindo um jogador argentino. Mesmo aborrecido, mas de cabeça erguida, o atleta teve seu passe comprado pela União Barbarense, cujo presidente, Manuel Soares, era muito poderoso financeiramente. Dali foi emprestado à Ponte Preta.

Pelo Vasco, em 1985, atuaria em 28 jogos, fazendo 2 gols. No ano seguinte, em 32 jogos, assinalou 5 gols. O seu primeiro foi marcado em um amistoso em São Januário contra a Seleção de Camarões. Os cruzmaltinos venceram por 5 a 0. 

Coincidência ou não, o treinador Cláudio Garcia cruzaria desastrosamente o seu caminho em duas oportunidades e em ambas o afastou do time. Primeiro, em 1979, no Guarani. “Ele não serve. Dribla muito, mas prende exageradamente a bola”, teria dito. Em 1986, o mesmo comandante o deixou no banco. Aliás, Garcia detém um dos piores retrospectos como treinador do Vasco. Sob seu comando a nau vascaína ficou 13 jogos sem vitórias, um verdadeiro fiasco. Uma de suas piores medidas foi barrar o astro ascendente Romário e colocar em seu lugar o obscuro Tuíco. O Baixinho em várias entrevistas manifestou que foi o seu pior treinador em toda a sua carreira.

A partir da chegada de Joel Santana, Gersinho acabaria voltando ao time titular aclamado pela torcida, assinalando 3 gols em 4 partidas e ajudando o Vasco a se classificar à segunda fase do Campeonato Brasileiro. Chegou até a arrancar elogios de Roberto Dinamite. 


– Ele é um exímio lançador e dá velocidade ao time, recordava na ocasião, em declaração à Placar.

Por diversas vezes barrou Geovani, que não vinha mesmo atravessando boa fase. A torcida vascaína relembra com carinho o pôster do time campeão da Taça Guanabara de 1986. Na foto vemos Gersinho, e não Geovani, posado com a equipe vencedora.

Ainda em 1986 fôra emprestado ao Sporting de Braga com o preço do passe fixado, permanecendo nessa equipe até 1988, quando foi adquirido pelo Aves, time o qual encerraria sua carreira, devido a problemas familiares, em 1991.

Já fora das quatro linhas, passou a buscar talentos pelo interior do Brasil, sendo o responsável por levar Elano, Léo e Renato para o Santos. Também foi auxiliar-técnico do falecido Oswaldo Alvarez, o Vadão.

Apesar da ausência de títulos relevantes em São Januário, Gersinho é lembrado com afeto pela torcida cruzmaltina. O Vasco passava por uma difícil fase de transição. Mas os triunfos não tardariam a vir nos anos que se seguiriam.

RÁDIO JOVEM OLARIA ESTÁ DE VOLTA

por André Luiz Pereira Nunes


Uma web rádio é uma rádio digital ou online, como muitos conhecem, que é transmitida em tempo real por streaming pela internet. A grande sacada é que elas funcionam de forma simples, utilizando um servidor que emite programas ao vivo ou gravados.

Pioneira em transmissões de jogos via internet, a Web Rádio Jovem Olaria, fundada a 18 de setembro de 2010, está de volta à cobertura das partidas do Olaria Atlético Clube. Criada sem fins lucrativos por Clécio Vianna, a equipe conta com Luiz Cláudio Colão, Bruno Soares, Arthur Neto e o intrépido Paulo Roberto Rodrigues, este último, o maior especialista em cobertura de categorias de base e divisões menores do Rio de Janeiro. O idealizador da rádio, o professor Clécio Vianna, agora cuida da parte técnica.

Meu amigo de mais de três décadas, Arthur Neto, torcedor e sócio da equipe da Rua Bariri me informou que a reativação da rádio para voltar a veicular jogos custou uma quantia considerável. Mas o resultado trará inúmeros benefícios. Pois, além de divulgar a tradicional agremiação leopoldinense, hoje partícipe da modesta Série B1 do Rio de Janeiro, aproxima sócios, torcida, comércio e amantes do futebol em torno da cobertura do Campeonato Estadual da Segunda Divisão, infelizmente tão carente de recursos e de notícias. Em tempo de isolamento social, a função prestada por esse e outros veículos ganha enorme envergadura.

– Sempre fizemos esse trabalho com muito carinho. A imprensa esportiva, em geral, trata infelizmente os clubes de menor investimento com tremendo descaso. Fora a internet, não lemos nem ouvimos notícias sobre São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso, Campo Grande e tampouco Bangu e America. O futebol se elitizou de tal maneira que essas tradicionais agremiações se tornaram invisíveis aos olhos do público. A Federação se resume apenas a cobrar taxas, multar e penalizar os que não cumprem as cada vez mais pesadas e difíceis regulamentações. No entanto, se esquecem que os times menores são verdadeiros celeiros de craques, formadores de novos talentos. Pelo Olaria já passaram inúmeros atletas que depois se consagrariam em grandes centros. Sem contar, o papel social que o futebol desempenha, pois retira o jovem da ociosidade, do crime. Daí a importância e a grandeza do nosso trabalho, inclusive pioneiro na transmissão de jogos da Segunda Divisão! – reitera.

Sobre o atual Olaria, Arthur Neto é realista. 


– O time não vem fazendo boas campanhas nos últimos anos. Não lembra de nem de longe a equipe campeã brasileira da Taça de Bronze, em 1981, a qual contava com nomes como Lulinha e Chiquinho, que posteriormente atuaria no Flamengo e ainda foi vice-campeão brasileiro, em 1986, pelo Guarani. O Olaria, antes presença obrigatória no Campeonato Estadual da Série A do Rio, assim como o Bonsucesso, atualmente patina para se manter na mesma divisão e não contrair tantas dívidas. Afinal de contas, não tem apoio de prefeitura como os demais do interior. É uma agremiação de bairro. Mas sempre temos que manter a esperança em dias melhores. Por isso a Web Rádio Olaria voltou com força total às transmissões esportivas.

O maior reforço para a cobertura é, sem dúvida, o repórter Paulo Roberto Rodrigues. Natural de Santo Antônio de Pádua e torcedor do Flamengo e e Paduano, é conhecido entre os amigos como Paulão. Trata-se de um guerreiro, além de profundo conhecedor do futebol do Rio de Janeiro. Membro do mais antigo site em funcionamento que promove a cobertura das divisões menores do futebol do Rio, o Papo Esportivo, fundado pelo decano e companheiro de inúmeras jornadas, Jota Carvalho, Paulo Roberto acumula décadas na árdua missão de trazer novidades de times da capital e do interior por intermédio da imprensa falada e escrita.

Esse ano, possivelmente, o Olaria pode não estar entre os mais cotados para voltar à elite do futebol fluminense, mas em relação à divulgação, o público não ficará mesmo na mão. 

GRÊMIO MARINGÁ E O OCASO DE UM TÍTULO ESQUECIDO

por André Luiz Pereira Nunes


Há muito tempo que escrevo: futebol se ganha dentro e fora de campo. Toda e qualquer modalidade esportiva envolve um sem-número de interesses e maquinações de acordo com a realidade vigente. Quem vivencia principalmente os bastidores, está ciente de que o meio não é, nem nunca foi, composto e dirigido por virgens vestais. O futebol representa uma gigantesca indústria do entretenimento, à qual movimenta uma quantia incalculável de recursos e tudo isso desencadeia uma série de tentações. Por isso, existem enormes injustiças e discrepâncias, sobretudo no que tange à falta de reconhecimento oficial por parte das autoridades a títulos conquistados por clubes de menor prestígio e investimento.

A homologação da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, ao Campeonato Brasileiro causou polêmica na ocasião, mas foi muito bem-sucedida, haja vista que os vencedores são reconhecidamente times de massa, como Santos, Palmeiras e Bahia, cujas influências junto a órgãos federativos são bastante expressivas. Nota-se, entretanto, que o mesmo tipo de tratamento não é aplicado, por exemplo, aos detentores da extinta Copa dos Campeões Estaduais, disputada entre 1920 e 1937. Não seria válido considerarmos Paulistano e Atlético Mineiro os legítimos e primeiros donos de troféus nacionais? Não, para os cartolas do futebol brasileiro. Na verdade, os critérios de inclusão ou exclusão são meramente subjetivos, atendendo logicamente a interesses comerciais. No caso em questão, serve de justificativa o argumento furado de que aquele torneio era organizado pela hoje inexistente e, portanto inexpressiva, Federação Brasileira de Futebol (FBF). Seguindo essa premissa, determinadas competições foram rebaixadas a torneios  experimentais, isto é, uma categoria de caráter inferior que compromete qualquer tipo de validação. A situação é análoga à ocorrida ao pequenino, distante e escuro planeta Plutão, o qual em 2006 seria rebaixado pelos cientistas a planeta-anão, fato que provocou uma ira tão intensa, sobretudo dos astrólogos de plantão, que a decisão anos depois foi reconsiderada.

Alguns vencedores de âmbito nacional, como o Grêmio Maringá, campeão inconteste do Torneio dos Campeões da CBD, em 1969, também aguardam sentados o reconhecimento. Para quem não sabe, esse certame foi composto pelos detentores da Taça Brasil, Robertão, Torneio do Norte-Nordeste e do Centro Sul. Tal competição inclusive visava vaga à Libertadores de 1970. Porém, a CBD optou posteriormente por não indicar clubes, alegando que poderia prejudicar a preparação da Seleção Brasileira para a Copa do México e assim, de quebra, arruinou o torneio. Vale frisar que a Libertadores não tinha o mesmo peso que hoje para os brasileiros. O país já boicotara duas edições, em 1966 e 1969, devido à discordâncias com relação ao regulamento, além dos costumeiros conflitos de datas. Portanto, não havia um critério classificatório definido, de modo que a organizadora buscava soluções criativas para nomear clubes para o tradicional torneio da Conmebol.


Dois importantes certames de importância nacional ocorriam quase que concomitantemente: a Taça Brasil, de 1968, fora decidida apenas em outubro de 1969, com vitória do Botafogo sobre o Fortaleza. Dois meses depois, o Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, foi vencido pelo Palmeiras. A CBF, herdeira da CBD, reconhece as duas competições como de envergadura similar a do Campeonato Brasileiro, embora nenhum dos regulamentos previsse classificação para a Libertadores. A solução foi então criar o Torneio dos Campeões da CBD, voltado para definir o representante brasileiro na competição sul-americana. Nada parecia ser realmente muito lógico naquele tempo. Tanto que os participantes eram todos vencedores de campeonatos referentes ao ano anterior.

O Grêmio Maringá, então campeão do Centro-Sul, se credenciaria a enfrentar o Santos, vencedor do Robertão, na semifinal. O primeiro jogo foi marcado para 10 de maio de 1969, cujo escore terminou em 1 a 1. Por falta de calendário por parte da equipe da Vila Belmiro, o cotejo de volta foi literalmente empurrado para 4 de abril do ano seguinte, havendo novamente a igualdade em 2 a 2. Como não houve vencedor, não restou à CBD outra alternativa, senão agendar uma partida extra para definir o adversário do Botafogo na decisão da competição. Como o time da Vila Belmiro estava com a agenda lotada, declinou do jogo extra, deixando ao Galo Paranaense o direito de enfrentar o Botafogo, que por ser o vencedor da Taça Brasil de 1968, tinha o direito de disputar a final da competição. No entanto, a CBD decidiu não enviar representantes para a Libertadores de 1970, alegando que o calendário da competição prejudicava a preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo. Os dirigentes de General Severiano, ao tomarem conhecimento desse lamentável episódio, perderam o interesse na briga pelo título, cabendo então à CBD reconhecer o time de Maringá vencedor por WO dos jogos finais e, por conseguinte, detentor do Torneio dos Campeões. 

Em resumo, o campeonato criado para dar vaga na Libertadores foi esvaziado a partir do momento em que a CBD decidiu boicotar a competição sul-americana. Sem o Santos, para decidir a semifinal, e o Botafogo, o qual seria o rival da finalíssima, o título, sem a mesma importância, cairia de bandeja no colo do Grêmio de Esportes Maringá, hoje ausente da esfera profissional. Lamentavelmente, em 2010, a CBF unificaria os títulos brasileiros desde 1959, mas excluiu totalmente o feito da equipe paranaense. Os dirigentes do Galo até ensaiaram entrar na justiça para reivindicar a conquista, a meu ver legítima, mas a ideia não encontraria eco nem mesmo entre os seus próprios defensores.

O ÚLTIMO VOO DE CASTILHO

por André Luiz Pereira Nunes


Em 2 de fevereiro de 1987 faleceria aos 59 anos, Carlos José Castilho. O inesquecível goleiro do Fluminense e da Seleção Brasileira, vítima da depressão, atirou-se da cobertura do prédio de número 383, da Rua Bonsucesso, vindo a cair na área interna do edifício. Teve morte instantânea. Na ocasião, era treinador do selecionado da Arábia Saudita e se encontrava de férias no Rio. A esposa Vilma Lopes Castilho ainda tentaria evitar o trágico desfecho, mas não teve forças para segurá-lo. O incidente aconteceu por volta das 16h e a família não quis dar declarações à imprensa. Segundo alguns amigos, Castilho desejava rescindir o contrato com os árabes e voltar para o Brasil, mas teria que pagar uma alta rescisão em dólares, algo impraticável mesmo para ele, que vivia com absoluto conforto e tinha a vida, sob o ponto de vista financeiro, realizada.

Nascido em 27 de novembro de 1927, começou jogando peladas em São Cristóvão. Em 1945, começou a treinar no Olaria, o qual defendeu no campeonato da categoria juvenil. No ano seguinte, o pai do artilheiro Ademir Menezes o convidou para o Fluminense, comandado pelo folclórico Gentil Cardoso. Finalmente, em 1947, assinaria o seu primeiro contrato profissional. Daí para o estrelato não tardaria muito, pois em 1950 já fazia parte do elenco vice-campeão mundial da Seleção Brasileira que capitulou em pleno Maracanã diante do Uruguai na tragédia que ficou conhecida como “Maracanazo”. Como se sabe, Barbosa fora o goleiro titular. Muitos se perguntavam do porquê de Castilho, em pleno início de carreira, já ter sido chamado a uma Copa do Mundo. O motivo é claro. Ele simplesmente fechara o gol durante o Campeonato Carioca, de modo que o técnico Flávio Costa não teve como deixá-lo fora de sua lista.

Se sagraria campeão na temporada seguinte pelo Tricolor das Laranjeiras, então comandado por Zezé Moreira, o qual implantara na equipe um polêmico sistema de marcação por zona. O time marcava um gol e depois recuava, de maneira que o adversário pressionava e chutava inúmeras vezes. A torcida sofria horrores, mas debaixo das traves estava um arqueiro seguro, bem colocado e que ainda contava com a sorte, esse diferencial tão importante em uma partida de futebol. Treinava sempre com afinco. Não podia vacilar, pois o seu reserva era o excelente Veludo, também goleiro da Seleção Brasileira. Em 1952, defendeu pênaltis em oito partidas. Certa vez, por conta de uma atrofia no dedo mínimo da mão esquerda, teve que tomar uma difícil decisão. Ou engessava e ficava fora dos gramados por um ano ou se submetia a uma cirurgia para extrair o membro. Optou pelo mais prático, passando a preencher o vazio por dentro da luva com algodão.


Pelo Fluminense foi ainda campeão carioca em 1959 e 1964, além de vencedor do Torneio Rio-São Paulo, em 1960. Participou de quatro Copas do Mundo: 1950, no Brasil (vice-campeão), 1954, na Suíça (como titular), 1958, na Suécia (campeão), e em 1962, no Chile (bicampeão). Foi ainda campeão panamericano, em 1952. Vestiria no total a camisa da Seleção por 31 oportunidades.

Após encerrar a carreira, em 1966, passou logo a treinador. No ano seguinte já se sagraria campeão paraense pelo Paysandu. Teve uma breve passagem pelo Olaria e voltou a ser campeão, em 1969, pelo Paysandu. Dirigiu o Sport, Fortaleza e o Tiradentes. Em 1974, classificou o Vitória para o Campeonato Brasileiro. A seguir, foi campeão invicto pelo Tiradentes, voltando para o Paysandu. Em 1976, conduziu o Operário ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, maior feito da equipe alvinegra de Campo Grande. Esteve no Internacional, no ano seguinte, retornando ao Operário, onde ficou até 1982, quando passaria a treinar o Grêmio. Mais uma vez foi para o Operário e, em 1984, se sagrou campeão paulista pelo Santos. Ainda pelo time da Vila Belmiro conquistaria seu último título, o do Torneio Início, em 1986. Transferira-se no mesmo ano para o Palmeiras e, em seguida, por indicação do amigo Telê Santana, ao futebol árabe.

Para se livrar da depressão, a última e enganosa bola da vida, Castilho deu o seu último mergulho. Provavelmente o grande árbitro deve ter levado em conta o dedo perdido, o intenso esforço a favor do esporte e o talento e a dedicação dentro e fora das quatro linhas.