Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

andré luiz pereira nunes

O BRASIL CHORA A PERDA DE RENÊ WEBER

Por André Luiz Pereira Nunes


O ex-meio-campo e técnico, Renê Carmo Kreutz Weber faleceu na manhã desta quarta-feira (16), em decorrência da Covid-19. O gaúcho, radicado no Rio, tinha 59 anos e seu último trabalho profissional foi o de auxiliar-técnico de Paulo Autuori no Botafogo, clube pelo qual se sagraram campeões brasileiros em 1995. Ele estava hospitalizado desde o início deste mês na unidade de terapia intensiva do Hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. O falecimento ocorreu às 5h50 de hoje. Weber havia apresentado sintomas da doença no último dia 23 de novembro. Diagnosticado com coronavírus, foi internado cinco dias depois e teve o seu quadro de saúde agravado nos últimos dias.

Botafogo, Fluminense, Cruzeiro, America, Sporting Cristal, São Paulo e Internacional foram alguns clubes que manifestaram o seu pesar pelas redes sociais. O Tricolor das Laranjeiras relembrou os títulos de Renê como atleta, entre os quais, o de campeão brasileiro, em 1984, e tricampeão estadual em 1985.

“O Botafogo lamenta profundamente a morte de Renê Weber, ex-auxiliar do clube nesta temporada e campeão brasileiro em 95. Profissional de alto nível, Renê era querido por todos, zelava pela excelência no trabalho e manutenção do bom ambiente. Ele foi mais uma vítima da Covid-19″, declarou o clube, no Twitter. Renê deixara a comissão técnica do time alvinegro em outubro, após o contrato do técnico Paulo Autuori ser rompido.

Como atleta, defendeu times como Internacional, Fluminense e America. Encerrou a carreira no Arraial do Cabo, agremiação pela qual passou à função de treinador. Anteriormente jogara por anos no futebol português, defendendo as cores do Vitória de Guimarães. Como técnico, comandou a Seleção Brasileira sub-20. Ainda foi coordenador técnico do São Paulo. Em 1997, participou da conquista da Copa Libertadores da América pelo Cruzeiro como auxiliar de Autuori.

Sem dúvida, o seu auge como jogador foi mesmo pelo Fluminense a ponto de na época ter sido convocado para a Seleção Brasileira que se sagrou medalhista de prata, em 1984, nas Olimpíadas de Moscou.

O Museu da Pelada se solidariza com a dor da família, amigos e amantes do futebol bem jogado que hoje choram a perda do profissional e amigo. 

KITA: O ARTILHEIRO DO INTERIOR

por André Luiz Pereira Nunes


João Leithardt Neto, o Kita, surgiu como grande promessa do futebol brasileiro no início da década de 80. A carreira teve início no 14 de Julho, de Passo Fundo, cidade da qual é originário.

Sob a direção de Luiz Felipe Scolari, o centroavante, então no Juventude, se sagrou artilheiro do Campeonato Gaúcho de 1983.

De boa altura, estilo forte e trombador, no ano seguinte foi convocado para a Seleção Brasileira aos Jogos Olímpicos de Los Angeles, marcando 4 gols, e se sagrando vice-campeão olímpico, sob o comando de Jair Picerni.

Dois anos mais tarde, Kita atingiria o auge em sua carreira. Conquistou o inédito título de campeão paulista ao liderar a inesquecível equipe da Internacional de Limeira, assinalando um gol na disputada final contra o Palmeiras. Foi ainda o artilheiro isolado do certame com 23 gols. Até então nenhum time fora da capital conquistara a competição. Tal feito permaneceria inédito até 1990, quando Bragantino e Novorizontino protagonizaram a decisão que ficou conhecida como “Festa do Interior” e “Final Caipira”, vencida pela equipe de Bragança Paulista.

O seu faro de gol despertou a atenção do Flamengo, que veio a contratá-lo para o Campeonato Brasileiro de 1986. Os rubro-negros, na época, montaram um grande time, o qual contava ainda com Sócrates e Zico. Na sua estréia, o atacante assinalou dois gols na derrota para o Corinthians, mantendo o bom nível durante todo o ano.


Contudo, em 1987, foi vendido à Portuguesa após decair bastante em comparação aos anos anteriores. Foi contratado pelo Atlético-PR, em 1990, com o status de grande reforço. Aos 32 anos, foi extremamente importante na conquista do Campeonato Paranaense, o seu último título como profissional. Posteriormente o centroavante de estilo matador sumiria definitivamente do cenário nacional ao atuar em times de menor escalão do sul do país como Brasil de Pelotas, 14 de Julho e Esportivo.

Em meados de 2011 o ex-jogador atravessou um momento difícil. Aos 53 anos, foi internado em um hospital de Passo Fundo em estado grave. Operado para reconstituir os ligamentos do tornozelo, Kita contraiu uma infecção hospitalar e precisou ter o pé esquerdo amputado. O ex-atleta se recuperaria da infecção, mas um câncer o mataria pouco depois. Apesar da prematura partida, a lembrança do seu bom futebol e de seu faro de gol não sairá tão cedo da memória daqueles que puderam vê-lo em campo.

UM JOGO ENTRE AMÉRICAS DISPUTADO NO ANDARAÍ

por André Luiz Pereira Nunes


America e América de Três Rios protagonizaram, em 2013, no Giulite Coutinho, uma partida na qual 2 a 2 foi o resultado. Uma contenda que não era disputada desde 7 de março de 1993, quando ambos integraram a elite do futebol do Rio de Janeiro. 

Na tarde daquele domingo, em Três Rios, o placar foi 0 a 0, em jogo válido pela Taça Guanabara. No tempo em que o futebol fluminense era comandado com mãos de ferro por Eduardo Viana, o Caixa d’água, não é de se estranhar que havia um inusitado acesso e descenso ao fim de cada de turno. Portanto, o mesmo confronto não ocorreria pela Taça Rio, haja vista que o time rubro trirriense acabaria rebaixado e, assim, dado adeus pela última vez à Série A. 

Por coincidência, o ano de 1993 foi o único em que os rivais citadinos América e Entrerriense integraram a primeira divisão.

Todavia, vale relembrar o ano anterior no qual o America e o seu genérico do interior se enfrentaram no saudoso estádio Wolney Braune, o antigo campo do Andaraí, cujo terreno é atualmente ocupado por um shopping center.

Era uma quente tarde a de 8 de novembro. A partida era válida pelo segundo turno do Campeonato Estadual, a Taça Rio. Nas proximidades da praça esportiva, justamente na rua Teodoro da Silva, era perceptível um ônibus cujos integrantes faziam grande alarido, o qual chamava a atenção de todos os circunstantes. Seus integrantes gritavam “sangue!!!”, um grito de guerra muito conhecido naquela região.

Já naquela época a maior parte da torcida do America era formada por pessoas de meia idade e idosos. Por isso, a intensa manifestação daqueles eufóricos jovens era mesmo algo bastante incomum.

Porém, foi descoberto logo que faziam parte da claque rival. Eram numerosos e provocadores. Durante a disputa da Taça Rio os trirrienses surpreendiam pela ousada campanha. Haviam derrotado em seu campo o Bangu, empatado no Caio Martins em 1 a 1 com o Botafogo e vencido o Americano, em Campos, algo raro nos tempos em que Eduardo Viana era seu ferrenho torcedor e patrono.

Já o America não vinha bem. Havia sofrido uma derrota de 4 a 2 para o Vasco, o futuro campeão daquele ano e dos dois seguintes. Tudo levava a crer que o primo-pobre do interior faria mais uma mais uma vítima em campo adversário, daí a extrema desconfiança que reinava entre os torcedores locais presentes. Entretanto, a torcida visitante rival gritava, mas encontrava reação em resposta.

A escalação americana não trazia grandes nomes. Em nível nacional o time já se encontrava alijado das três divisões do Campeonato Brasileiro. No Estadual, apenas lutava arduamente contra o rebaixamento. O zagueiro Paulo Sérgio, oriundo do Campo Grande, era uma das atrações daquele limitado plantel. O xerife era tão querido que tinha direito a uma faixa em sua homenagem afixada no alambrado vizinho ao morro. Outro destaque daquele time era o ponta Edenílson Pateta. Era canhoto e veloz. Formava a linha de ataque com Álvaro e Serginho.

Apesar do maciço apoio de sua torcida, o América de Três Rios sairia do Andaraí derrotado por 2 a 0. Serginho e Edenílson Pateta assinalaram o marcador favorável. A superioridade mandante foi inquestionável.

O America atuou com Fábio, Dedé, Paulo Sérgio, Cláudio e Marquinhos; Jorge Luís (Marcelo Lopes), Tiquinho e Márcio Ramos (Márcio Luís); Serginho, Álvaro e Edenílson. O treinador era Ernesto Paulo.

No cômputo geral o América de Três Rios conseguiu um surpreendente quinto lugar, enquanto o America ficaria apenas na nona posição. O time trirriense continuaria o seu histórico de ousadias. A vítima posterior foi o Fluminense, batido no Odair Gama por 3 a 2. Mas no Andaraí a história foi bem diferente. A supremacia foi mesmo total do time da casa, afinal respeito nunca é demais!

INSÓLITAS HISTÓRIAS DE UM REPÓRTER ESPORTIVO (PARTE 2)

por André Luiz Pereira Nunes


Corria o ano de 2010. Estávamos eu e o saudoso ex-árbitro e dirigente Walquir Pimentel, de carro, a caminho do CFZ, percorrendo a Avenida das Américas, no Recreio do Bandeirantes. Eu ia cobrir a final de um torneio, a Copa Yasmin Verão, da categoria juvenil, promovida pelo então recém-criado Clube Esportivo Yasmin, que posteriormente passaria a se chamar Clube Atlético da Barra da Tijuca. Atualmente integra a terceira divisão do Rio de Janeiro. 

Chegando próximo ao nosso destino, Walquir me alertou para que ficasse atento. A próxima rua à direita possivelmente seria a que deveríamos virar. Era a rua do estádio, segundo ele.

– Preste atenção, André! É a próxima. Não podemos perder. Me avise.

Fiquei bastante atento esperando que a rua chegasse. Estava muito ansioso, pois nunca havia estado no clube do Zico. Quem sabe o encontraria por lá. Também faria contato pela primeira vez com o Yasmin, clube então estreante no profissionalismo. Seria uma ótima oportunidade para fazer umas matérias e também boas fotos.

De repente, surge uma rua. De imediato avisei ao Walquir.

– Olha, é aquela lá. Vamos entrar.

Viramos. A rua era simplesmente a entrada de um supermercado que estava em construção. Fomos parar dentro do estabelecimento.        ___________________________________________

Outra história envolvendo meu saudoso amigo Walquir Pimentel. Tínhamos acabado de sair de um arbitral na Federação de Futebol do Rio. Para quem não sabe, trata-se de uma reunião em que se decidem tabela, regulamento e participantes, antecedendo ao campeonato. Vínhamos conversando, até que ele me perguntou se eu queria carona. Respondi que sim. Morávamos relativamente perto. Eu, em frente ao Colégio Militar, na Tijuca, e ele na Rua Carlos de Vasconcelos, próximo à Praça Saens Pena.

Quando já estávamos no carro, de repente o telefone dele tocou. Era o seu aspone favorito, Orlando Penteado. Foi aí que rolou um dos diálogos mais engraçados que já presenciei na minha vida de repórter esportivo.

– Olá, Orlando, tudo bem? Acabei de sair do arbitral. Você não sabe quem eu encontrei. O Lancetta.

Lancetta, Orlando!!! Lan-cet-ta!!! LAN-CET-TA!!! Tá surdo, Orlando???? Que buceta? Eu falei buceta, Orlando???? Lancetta!!!               ____________________________________

Uma terceira história envolvendo meu saudoso amigo Walquir Pimentel. Dessa vez tínhamos como destino o Clube de Regatas do Flamengo. Haveria por lá algum evento esportivo, o qual já não me lembro. Entramos com o carro e estacionamos na garagem do clube.

Assim que descemos, Walquir me relatou que estava muito apertado. Precisava urinar. Eu, por acaso, também. Foi aí que avistamos um banheiro ainda na garagem da agremiação. Walquir entrou primeiro e começou a se aliviar. O interior estava escuro, não sei se por que não havia luz ou se meu amigo não havia achado o interruptor. Imaginei que o toilette de um clube como o Flamengo, mesmo situado na garagem, deveria ser enorme, daqueles que cabem 10 ou mais pessoas.

Para minha surpresa era apenas um banheirinho. Quando entrei, achando que se tratava de um grande compartimento, vi o Walquir muito irritado, no escuro, tentando mirar o alvo e, ao me ver, ainda reclamou comigo.

– Espera aí, André. Deixa eu mijar em paz. Aqui não dá pra dividir. Se não dá pra esperar, então, mija aí no chão mesmo.             _________________________________________

Caio Júnior, quando era treinador do Flamengo, certa vez proferiu uma declaração que causou uma reação solitária e inusitada. Ele disse, após um período de derrotas que levou a sua permanência no clube a ser muito questionada, “que todo mundo no Flamengo dava palpite, até o diretor da bocha.”

Foi exatamente nessa ocasião que estive no Flamengo para fazer uma matéria, não sobre o Caio, mas sobre a bocha, e lá encontrei o tal diretor, puto da vida, dizendo que gostava do técnico, mas que não dava pitaco no futebol e exigia, portanto, respeito. Porém, ninguém o convencia de que o treinador apenas generalizara a imensa quantidade de corneteiros do clube, o que, cá entre nós, é uma realidade!

Dias depois conversei com o Caio e lhe relatei a indignação do tal diretor. Ele ao ouvir, riu e me falou: – Ah, você está de sacanagem!!!        ________________________________________

Mário Sérgio me contou uma vez que a maior emoção de sua vida foi ter sido aplaudido por um estádio inteiro com torcidas rivais, do Inter e Grêmio.

Era o jogo das faixas do Grêmio, então campeão do mundo em 1983, e ele que jogara no elenco vencedor, acabara de se transferir justo para o Inter. Achou que ia ser vaiado. Acabou aplaudido.

CRAQUE NA BOLA E NA TELINHA: HELENO DE FREITAS

por André Luiz Pereira Nunes


Expoente de uma época em que o futebol ainda não se transformara em um mercado altamente lucrativo, na qual o jogador se identificava com as cores de seu clube, Heleno de Freitas foi um dos grandes nomes do futebol sul-americano dos anos 40. Contudo, a exemplo de seus companheiros de geração, não se tornaria milionário como qualquer atleta de nível médio dos tempos de hoje.

Ao contrário do que se poderia prever, a produção cinematográfica dirigida por José Henrique Fonseca, de 2012, não deve ser resumida a uma temática futebolística, mas sim um drama. Não haveria outra maneira de se narrar a triste trajetória do polêmico ídolo amado pela torcida botafoguense e precursor de uma série de “bad boys” do futebol brasileiro. Quem acompanhou as trajetórias de Edmundo, Ronaldinho, Adriano e outros atletas, talvez nem imagine que tiveram um célebre antecessor.

Referencial do Botafogo, na era pré-Garrincha, foi apelidado pela torcida adversária de Gilda, personagem estrelada por Rita Hayworth, no papel da mulher tão bela quanto complicada. O ídolo marcaria sua trajetória pelo time de General Severiano com 209 gols, em 235 partidas, tornando-se o quarto maior artilheiro da história da agremiação alvinegra. Em 1948, fora vendido ao Boca Juniors, até então a maior transação do futebol brasileiro. De volta ao Rio de Janeiro, atuou pelo Vasco da Gama, conquistando o título de campeão carioca de 1949, coadjuvado pelos companheiros do inesquecível “Expresso da Vitória”. No Júnior de Barranquilla, da Colômbia, marcou 14 gols em 47 jogos. Entre 1950 e 51, ainda defenderia as cores do Santos ao assinalar a incrível marca de 18 gols em 20 jogos. Encerrou melancolicamente a carreira no America ao jogar somente uma partida, a sua única no estádio recentemente inaugurado do Maracanã. Acabaria expulso aos 35 minutos ao atingir violentamente um zagueiro rival. Faria ainda 18 partidas pela Seleção brasileira, marcando 19 gols. Sagrou-se artilheiro do Campeonato Sul-Americano, em 1945, com 6 gols.


Espetacularmente interpretado pelo galã Rodrigo Santoro e encenado de maneira realística em preto e branco, correm em paralelo a imagem do ídolo em pleno sucesso e do doente magro e louco internado em um manicômio em Barbacena, conseqüência da vida desregrada e do avanço da sífilis, doença a qual se negara a tratar, apesar dos insistentes protestos de médicos e dirigentes. 

Para interpretar o personagem, Santoro foi obrigado a perder 12 quilos. As duas horas de projeção relembram a memorável, entretanto decadente, trajetória de um personagem que pensava que sua fama se estenderia por toda a eternidade. Ele, de certo modo, estava certo.