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Abel Ferreira

QUEM LIBEROU ESSES CARAS?

por Zé Roberto Padilha

Quando o futebol arte predominava, ninguém tirava os olhos de campo para prestar atenção nos treinadores. Conheciam o seu lugar e sabiam que eram coadjuvantes e, como diretores teatrais, ensaiavam durante a semana. E não ficavam ao lado do palco para tirar o improviso dos artistas. Apenas no intervalo corrigia uma fala. Ou uma jogada.

Aí o nível técnico cai e um infeliz cria o burródromo. Um lugar demarcado para que um ser estranho passe a fazer parte do jogo. Nenhuma grande mexida tática foi feita ao vivo, diante dos nossos olhos. Jogador desconhece. Alguns comentam baixinho: quem deixou esse cara ali em pé?

Todo esse preâmbulo para mostrar o quanto esse treinador do Palmeiras, Abel Ferreira, pode atrapalhar um clássico de alto nível. Ele que está passando nervosismo e inconformismo aos seus jogadores ao reclamar de tudo. E olha que o árbitro é o melhor do país.

Sua falta de equilíbrio pode criar um clima de extrema animosidade nessa decisão. E nos privar, como torcedores de outros clubes, de assistir uma grande partida de futebol.

Que tal uma campanha para levar essa gente de volta ao banco de reservas? Um lugar que Telê Santana, Parreira, Zagallo, Evaristo de Macedo jamais deixaram para mostrar sua competência e intervir no talento alheio.

Aí o Dunga apresentou a grife da filha, o Cuca fez um castelo de copos de água mineral, o Joel inova e leva uma prancheta como alegoria de mão. Até um dia em que um fotógrafo aumentou o zoom e o pegou fazendo um jogo da velha…

Ali, acreditem, tudo é farsa , tudo é falso, tudo é marketing. E nada soma ao mundo da bola.

DE CHICO BUARQUE PARA ABEL FERREIRA, DEMASIADOS HUMANOS

por Marcelo Mendez


“Foi bonita a festa, pá

Fiquei contente

E inda guardo, renitente

Um velho cravo para mim”

Enquanto o Brasil vivia sufocado por uma ditadura militar em 1975, Portugal fazia a sua Revolução dos Cravos e esta emocionou profundamente Chico Buarque. Disso nasceu a música “Tanto Mar” cujo verso está citado acima. Pois…

A música fala de ausência, da vontade de se estar em uma festa que para os Brasileiros daquele momento de 1975 era inimaginável. No futebol sábado, a música de Chico Buarque volta a ser protagonista a partir do momento que Abel Ferreira senta para dar uma entrevista histórica na coletiva de imprensa do título do Palmeiras na Libertadores de América:

– Quando eu cheguei, passei a viver na Academia, era a minha família. É verdade que sou melhor treinador e muito mais valorizado, mas sou o pior pai, sou o pior filho, sou o pior tio, sou o pior marido. Deixei minha família lá. Conquistei muito aqui, mas vocês não sabem a quantidade de vezes que, ao deitar no meu travesseiro, eu chorei sozinho de saudades.

O futebol é uma máquina de moer reputações, trajetórias, histórias e lembranças. O título que é épico hoje, não serve para reconfortar o ávido e mal acostumado torcedor que tem uma sanha voraz por títulos e conquistas amanhã. É compreensível sim, eu sei, afinal de contas torcemos para isso, para que nosso clube vença sempre, porém, todavia, se o futebol é o esporte que mais se aproxima da vida real, sabemos com isso que na vida não vencemos todas. Ao contrário; Perdemos muito mais do que ganhamos e nosso discernimento nos ensina a lidar e aprender com essas derrotas. E no futebol, agora temos um técnico português que ousa nos ensinar isso.

Abel Ferreira é o tipo de gente que não tem vergonha em se abrir em sentimentos, que expõe a melhor e maior faceta humana que rege o futebol. É o tipo de técnico que após uma derrota retumbante para o River Plate, vai a público e diz “Marcelo Galhardo é um técnico melhor do que eu. Hoje foi isso e eu vou aprender a partir disso que aconteceu.” Ele é um técnico que faz questão de lembrar o trabalho de Vanderlei Luxemburgo na formação dessa equipe que acaba de conquistar a América, dando ao maior treinador da história do Palmeiras, um valor que os Verdes esquecem de dar.

Abel Ferreira é Humano. Demasiado, humano.

Ele é o Homem que em três meses mudou o jeito do Palmeiras pensar futebol, que ganhou os corações dos exigentes torcedores Palmeirenses, que mostra desempenho em cima de falácia, que trabalha incessantemente para dar ao Clube o maior título de sua história, mas não faz tudo isso de maneira mecânica. Abel explode o coração.

– Vocês viram no final, eu não chorei pouco, eu chorei muito, e saí do campo pra ninguém ver o quanto eu estava chorando. É muito difícil, eu sou uma pessoa de família, adoro as minhas filhas e a minha esposa, e atravessei o Atlântico por acreditar numa coisa antes dela acontecer. Contra todas as previsões eu vou descobrir, vou me desafiar, vou para um clube que tenho a certeza que pode me proporcionar títulos. Sou melhor treinador? Sou. Sou muito melhor treinador do que era há três meses. Mas, como disse, sou pior filho, pior pai, pior marido, pior irmão, pior tio. Infelizmente, há sempre algo que temos que sacrificar em prol da nossa profissão.

Abel Ferreira molhou sua faixa de campeão da América com as lágrimas que fazem falta pro futebol. Que tornam tudo isso mais humano e que precisa ser sempre lembrado por nós que trabalhamos com essa coisa alucinada que é o futebol. Eu te daria um abraço, professor. Chico Buarque te diria que “Sei que há léguas a nos separar/Tanto mar, tanto mar/Sei também quanto é preciso, pá/Navegar, navegar “. Então segue navegando, professor.

O mundial que o Palmeiras tem pela frente é outra história, outra realidade e isso será tratado na hora adequada. Por aqui fica o recado de Chico, mandado por esse cronista, para Abel Ferreira:

“Lá faz primavera pá

Cá estou doente

Manda urgentemente algum cheirinho

De alecrim”

Que esse aroma de alecrim o aproxime dos corações que lhe estão para além-mar, Professor Abel. Fica bem.