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O BAILARINO

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Plasticidade, elasticidade e agilidade são algumas das características que fazem um bailarino ter sucesso em cima dos palcos. Com a bola nos pés, poucos jogadores são capazes de reunir todas essas habilidades, sobretudo nos dias atuais. Aqueles que conseguem, no entanto, jamais são esquecidos e é por isso que Rogério Hetmanek, o Bailarino, é um dos nomes mais pedidos pela galera no Museu da Pelada. Nosso encontro finalmente aconteceu e a resenha correspondeu às expectativas.

O apelido foi um das muitas sacadas do lendário Waldir Amaral, que não se conteve ao ver tanta genialidade com a bola nos pés. Sobre isso, Rogério fez questão de lamentar a escassez de novos bailarinos.

– Os jogadores criavam mais e a beleza estava justamente aí. Hoje, quando o jogador quer ser artista, ele é censurado, porque acham que está menosprezando o adversário.

Antes de se tornar o bailarino e fazer parte de um dos maiores times da história do Botafogo, precisou montar uma verdadeira panela para que o sonho de ser jogador se tornasse realidade. É que a famosa e requisitada Escolinha do Neca, um dos maiores descobridores de talentos da história do futebol brasileiro, estava lotada.


– O sonho de todo jogador era participar da Escolinha do Neca e, por dia, mais de 500 jovens passavam por testes. Quando entrava aquele bando de pessoas desconhecidas, era difícil ter uma performance ideal! – lembra Rogério.

Foi aí que surgiu a ideia de formar o time Magnatas, uma “seleção” com jogadores criativos e que se entrosaram ao longo dos meses. Um belo dia, Neca convidou o adversário para enfrentar os seus comandados.

– Os jogadores dele não viram a cor da bola e ele ficou impressionado. Dos 11 do nosso time, ele escolheu 9 para fazer parte do time dele.

Pelas mãos de Neca passaram grandes jogadores e o professor só teve o trabalho de lapidar aquele menino que se tornaria o bailarino dos gramados.

Já na equipe profissional do Botafogo, fez parte do time que encantou o Brasil, sendo bicampeão carioca e da Taça Guanabara, ao lado de Cao; Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto, Gerson, Roberto Miranda, Jairzinho e PC Caju.

– Essa linha foi toda para Copa de 70! – lembrou, apontando para os jogadores agachados na foto.

O torneio que culminou na conquista do tricampeonato mundial tinha tudo para ser um mar de rosas para Rogério, mas acabou se tornando uma das maiores frustrações da sua carreira. Apesar de ter sido convocado para o maior torneio do planeta, uma simples lesão na coxa interrompeu o sonho de vestir a amarelinha na Copa do Mundo.

– Eu saí com a condição de titular, mas, por uma graça maior, tudo que eu queria fazer o Jairzinho fez e talvez até melhor do que eu faria. Acho que ele ocupou bem esse espaço e foi um grande conquista.

Durante o papo, Rogério revelou estava tão triste que pensou em retornar ao Brasil, mas era tão querido que passou a fazer parte da comissão técnica e permaneceu com o grupo. Sobre a lesão, a solução era muito mais simples do que se imaginava:

– Depois descobriram a importância do alongamento para dar tonacidade muscular. Eram dores na parte posterior da coxa que poderiam ser resolvidas com alongamentos! – lamenta o ex-jogador, que, hoje, aos 70 anos, consegue colocar a palma da mão no chão em um dos exercícios.


Mesmo sem o bailarino dentro de campo, o tricampeonato veio e, no fim do ano de 1970, o craque se casou e teve um filho. Quando a vida parecia sorrir novamente após a frustração na Copa, uma complicação causou a morte do bebê cinco dias após o nascimento.

A partir daí, Rogério, que sempre teve uma formação religiosa, passou a buscar a resposta para tudo aquilo que vinha acontecendo em sua vida e encontrou na filosofia messiânica.

Ao ser perguntado como seria o seu desempenho no tal do futebol moderno, o craque não titubeou:

– Eu ia bailar mais ainda. Ia atrás dos cartões vermelho de todo mundo. Ia partir para cima e eles iam dar uma porrada na primeira e deixa passar na segunda. Na minha época, o cara ficava com a sua camisa na mão e não dava em nada, ficava a critério do juiz. As câmeras hoje em dia mostram tudo.

Valeu, Bailarino!!