por Marcos Vinicius Cabral
Sentado em um banco de concreto na Av. Atlântica, em Copacabana, desde às 19h, estava eu esperando pelo ídolo rubro-negro Júnior.
Ali sentado comigo e de pernas cruzadas, Carlos Drummond de Andrade em bronze, ouvia minhas lamúrias num frio de bater queixo.
Portanto, se naquela noite de sexta-feira, 27 de junho de 2008, eu já me considerava driblado pelo lateral-esquerdo do Flamengo, em um instante pensei em desistir do encontro no qual ia presentear o “Capacete”, que estava prestes a completar 54 anos.
O relógio marcava 21h e o jogo começou a mudar em poucos minutos, quando meu celular tocou.
– Boa noite, tudo bem? – perguntou do outro lado da linha.
– Boa noite, tudo bem… – respondi temendo que o craque da lendária camisa 5 dissesse que estava desmarcando nosso encontro.
– Beleza, você está sentado com o Drummond? – perguntou querendo se certificar que eu estava ali mesmo, no lugar marcado.
– Estou sim! – respondi e o telefone foi em seguida desligado, sem dar tempo de dizer a roupa que estava.
Assim que coloquei meu celular no bolso, percebi uma Cherokee Sport verde musgo se aproximando lentamente.
Me levantei do banco e fiquei observando aquele carro que parou em frente ao local onde estava, ligando em seguida o pisca alerta:
– Fala Vinicius! “Vambora”, parceiro. Entra aí – disse já abrindo a porta do possante.
Entrei no carro meio embasbacado, não acreditando se tratar de Leovegildo Lins Gama Júnior, o jogador que mais vezes vestiu o manto rubro-negro em sua rica história.
– Tudo bem?
– Tudo e com você, maestro?
– Tranquilo… quer dizer que você é caricaturista?
– Sou! – respondi timidamente.
– Eu adoro caricaturas!
Diante dessa afirmação, foi então que pensei na responsabilidade que teria com a caricatura feita, que seria dada de presente ao maior lateral do Clube de Regatas do Flamengo, nestes 122 anos de existência.
– Caramba, e se ele não gostar do presente? – sussurrei baixinho e fiquei com esse ideia fixa martelando na cabeça.
Um silêncio permaneceu entre nós nos quase 10 minutos que levamos do local até onde ele estava me levando.
– Você bebe, Vina? – perguntou já se tornando íntimo e me apelidando.
– Não, Léo, não bebo! – retribui a intimidade, já que vi por diversas vezes o Galvão Bueno chamá-lo assim no programa Bem, amigos!
– Uma pena, mas você toma um suco enquanto eu vou de chopp, ok?
– Uhum – respondi balançando a cabeça positivamente.
Como o aniversário dele seria no domingo, dia 29 de junho, acreditava que seria um presente simples, afinal de contas, quantas caricaturas ele deve ter ganhado de caricaturistas mais renomados?
Na Itália, por onde jogou de 1984 a 1989 em alto nível, no Torino e Pescara respectivamente, ele deve ter recebido um monte delas, já que Annibale Carracci foi um dos grandes expoentes da caricatura, além é claro, dos artistas da Escola de Bologna como Pier Leone Ghezzi (1674-1755), que foi um dos primeiros a dedicar-se quase que integralmente à realização de caricaturas.
Porém, com tamanha responsabilidade de agradar ao nosso eterno maestro, não demorou muito e chegamos no tradicional Bar Cevada, que fica na rua Siqueira Campos, esquina com Praça Serzedelo Corrêa, no mesmo bairro.
Em alguns instantes estacionamos, pois o horário nos ajudou a encontrar uma vaguinha.
Mas se houve facilidade por um lado, perdemos muito tempo para chegar ao renomado bar, já que a cada dois ou três passos do maestro, os pedidos de autógrafos e fotos eram tantos, que acabou demandando um tempo considerável.
Na verdade, minha ansiedade fez com que eu achasse aquele momento muito demorado, pois o que queria mesmo era que ele visse logo sua caricatura.
Depois de se livrar da marcação de seus fãs, entramos no Cevada.
– E aí, maestro, o mesmo de sempre? – perguntou um dos garçons, já se adiantando no chopp sem colarinho.
Um sinal com o polegar e um sorriso típico, foram entendidos na mesma hora pelo garçom.
Enquanto pedia meu suco, observei sua reação ao abrir o presente.
Atentamente, olhei e vi quando o ele deu um sorriso enorme, como se aprovasse a caricatura.
Conversamos por aproximadamente uma hora e a partir de então, comecei a fazer as caricaturas de seus aniversários – que na maioria das vezes é comemorado em seu projeto social Samba dá Sopa – e nas datas de fim de ano.
Hoje, data que completa seu 63° aniversário e mesmo estando a 14.452 km (8975 milhas), ou seja, 18 horas de vôo entre Brasil e Russia, cobrindo a Copa das Confederações, nós, torcedores da Nação Rubro-Negra, queremos dedicar ao grande Júnior, um feliz aniversário e muitos anos de vida!
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