por Elso Venâncio

Duas Copas do Mundo disputadas em casa e dois vexames históricos. Esse é o saldo da Seleção nos Mundiais de 1950 e 2014, os únicos disputados em solo brasileiro.
Em 50, a política já interferia no futebol. Na véspera da final contra o Uruguai, trocaram a paz de uma casa no Joá, local de difícil acesso na época, por São Januário, símbolo da história social e cultural do país, onde Getúlio Vargas promovia e anunciava medidas populares no feriado de 1º de maio (Dia do Trabalhador). Eleito pelos jornalistas o melhor jogador daquela Copa, o ídolo Zizinho era um dos que repetiam: “Políticos invadiram a concentração, tirando o nosso foco”.
Incrédulo, o técnico brasileiro, Flávio Costa, viu Obdulio Varela dar um “chega pra lá” em Bigode. Bastou esse empurrão para que se criasse a lenda de que houve um “tapa na cara” do lateral-esquerdo, que no ano anterior havia trocado o Fluminense pelo Flamengo. Bigode não levava desaforo para casa, mas parecia assustado com a pressão dos mais de 200 mil torcedores presentes no recém-inaugurado Maracanã, então o maior estádio do mundo. Acostumado que era a dar carrinhos sem fazer falta, acabou se omitindo no gol da vitória uruguaia, marcado pelo ponta Ghiggia.
Na época com 25 anos, Nilton Santos resmungava pelo fato de ser reserva. A Enciclopédia do Futebol Brasileiro se tornou voz isolada contra um treinador sem diálogo e habituado a chamar quem se rebelasse para brigar na mão. No Vasco, Heleno de Freitas chegou a puxar um revólver para atirar em Flávio Costa, que tinha o apelido de Ditador.
Mais de seis décadas depois do Maracanazo, a Seleção conquistou a Copa das Confederações em casa, em 2023. O título ocorreu em meio ao movimento “FIFA go home”, marcado por manifestações populares contra os altos gastos governamentais antes da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Felipão foi o treinador escolhido pela dupla de trapalhões Del Nero e Marin. O aposentado Parreira, por sua vez, recebeu o convite para ser o coordenador, cargo de Zagallo no tetracampeonato mundial, em 1994, quando o próprio Parreira era o técnico. Após o fracasso no Mundial de 2014, Parreira acabou marcado por ler, numa coletiva de imprensa, a enigmática carta de Dona Lúcia, torcedora que apoiava a comissão técnica.
Nas quartas de final, já havia dado para sentir a fragilidade da equipe brasileira, que precisou de prorrogação e pênaltis para passar pelo Chile, no Mineirão. Não teve a mesma sorte na semifinal, no mesmo estádio, levando 7 a 1 da Alemanha, com direito a cinco gols num intervalo de 29 minutos.
Ao escalar o ponta Bernard na vaga do lesionado Neymar, Felipão deu espaço para a Alemanha dominar o meio-campo. Até hoje, há torcedores que choram revivendo a tragédia do “Mineirazo”. Para piorar, na disputa pelo terceiro lugar, o Brasil perdeu por 3 a 0 para a Holanda, chegando à marca de 10 gols sofridos e apenas um marcado em duas derrotas seguidas.
Qual foi a maior decepção? Uruguai 2 a 1, no Maracanã, ou Alemanha 7 a 1, no Mineirão?
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