por Rubens Lemos
Amo o pessimismo atávico de Graciliano Ramos. Aliás, amo tudo o que ele escreveu e pude ler. O retrato real do homem puro, ofegante, triste e lutador é o seu personagem Fabiano, de Vidas Secas. Pai de uma família de retirantes, Fabiano percorre a caatinga com Sinhá Vitória, os dois filhos e a cadela ossuda Baleia, que termina sendo sacrificada simplesmente por suspeitarem de que estava contaminada pela raiva.
É cômodo chamar de negativista ou derrotista aqueles que olham a vida pelas lentes do realismo. Graciliano Ramos era um visionário de pragmatismo agudo. Suas obras sangram um lamento que é a transposição legítima do cotidiano das secas, sejam elas simbolizadas por macambiras e xiquexiques ou pela marrom desilusão da média dos homens.
O velho Graça das Alagoas jamais cometeu o pecado da narrativa do falso. Tudo o que ele escreveu comove porque é a verdade e a cópia da realidade que a maioria teima em mascarar. Outro escritor, inglês, menos talentoso que o velho Graça, disse com propriedade britânica uma sentença: “Antes de fazer qualquer coisa, esteja certo de que não está se enganando. Se estiver, desista, porque nem você acredita em você”.
Há um preconceito contra os homens sem quase sonhos. Sem fantasias de arco-íris, com perfeita convicção sobre o futuro banal. E o sentimento de quem está perdendo de 1×0, pressionando para empatar e leva o segundo gol num contra-ataque restando três minutos para o fim do jogo. No futebol, o sinônimo desse golpe é tenebroso. Quer dizer morte.
Aliás, está no futebol a única discordância minha quanto ao Velho Graça. Comunista escolado, preso político alérgico à alienação, fez uma profecia fúnebre sobre a contaminação do brasileiro por uma bola e 22 homens desejando-a ardentemente: “O futebol é a prova de que nós não teremos futuro”. Se alguns ainda vivem o presente, Velho Graça, é por obra e anestesia do futebol.
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