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UMA ESTRELA PARA MARINHO

17 / julho / 2024

por Rubens Lemos

Depois do tricampeonato mundial de 1970, com a seleção brasileira, o lateral-esquerdo do Grêmio, falecido Everaldo, recebeu uma singela homenagem do clube, que colocou sobre o escudo uma estrela simbolizando a participação do jogador na campanha. Everaldo morreu em 1974 num acidente de carro quando fazia campanha para deputado estadual.

Marinho Chagas, o sempre derrotado pela vida e o seu legado, jogava por 200 Everaldos, foi o melhor jogador do Brasil na Copa da Alemanha e não é nem nome de rua em Natal. A colocação de uma peça de propaganda sobre o uniforme oficial do ABC seria a única e marcaria os 109 anos de fundação do clube.

É difícil compreender o tratamento que Natal deu a Marinho Chagas em vida e dá à sua memória. Simplesmente esquecido e, quando citado, só se fala no seu final de vida marcado por vícios. Marinho Chagas morreu doente e as pessoas colocam o alcoolismo como uma marca dos desocupados, boêmios e vagamundos.

O currículo de Marinho Chagas o afasta de todos esses defeitos. Aos 18 anos, Marinho Chagas foi campeão estadual de 1970 pelo ABC, após um jejum de quatro anos. Marinho Chagas e Alberi conduziram um time bem arrumado: Erivan; Sabará, Edson, Josemar e Marinho Chagas; William e Correia(Gonzaga); Zezé, Alberi, Petinha e Burunga. Para a época um excelente time doméstico.

Marinho Chagas foi fulminante. O Náutico levou-o e ele fez uma tempoada tão boa, apenas no campeonato estadual e meio, que foi considerado o melhor lateral-esquerdo já visto em terras recifenses.

Não demorou para os times do Sudeste começarem uma busca pelo galego que bailava como um meio-campista jogando pelos lados. Marinho Chagas, se começasse a jogar de meia-esquerda, seria um dos 20 melhores jogadores do mundo pela criatiatividade ilimitada.

Marinho Chagas, no segundo semestre de 1972, vestia a camisa do Botafogo que também tinha um timaço: Wendell; Valtencir, Rildo, Osmar Guarnelli e Marinho Chagas; Nei Conceição, Ademir Vicente e Carlos Roberto; Zequinha, Jairzinho e Fischer. Zagallo, técnico do Flamengo, preferiu o obscuro Mineiro ao loiro de madeixas berrantes.

Na estreia pelo Botafogo no Brasileirão de 1972, nenhuma moleza. O adversário era Pelé, com 32 anos, no crepúsculo da categoria mais Edu, Clodoaldo e o restante da companhia teatral. Na primeira jogada, Marinho Chagas deu um balão em Pelé, pegou do outro lado e ouviu do Rei:

– Você é maluco?

Marinho Chagas respondeu de bate-pronto

– Vai jogar tua bola, cara.

Para coroar a estreia, Marinho Chagas bateu uma falta com extrema violência, que o goleiro Cejas nem viu por onde passou. O futebol brasileiro passava a conhecer uma nova estrela. Marinho Chagas entrou no perigoso turbilhão do novo rico.

Passeava em carros conversíveis, frequentava a night carioca, colecionava calcinhas das chacretes do programa do Chacrinha e incendiava o Rio de Janeiro. Louro, 20 anos, irreverente, ríspido com quem tentava diminuí-lo.

A esses, respondia em arrancadas deslumbrantes pelo lado esquerdo infiltrando-se para o meio, muitas vezes deixando o flanco esquerdo sem cobertura, o que irritava zagueiros saindo em sua cobertura.

Marinho Chagas, seguindo a linha de Nilton Santos nos anos 1950, transformou a lateral-esquerda. Já naquele tempo, muitos jogadores de talento poderiam deixar a função defensiva para se lançar ao ataque. Não demorou e chegou 1973.

A um ano da Copa do Mundo, o país estava convicto de que o titular seria Marco Antônio do Fluminense e depois do Vasco e do Botafogo. Marco Antônio era técnico, mas carregava a fama de tremer nos jogos importantes, daí ter perdido a vaga para Everaldo em 1970.

Marinho Chagas, convocado pela primeira vez em 1973, ganhou de vez a posição pela magistral atuação contra a Tchecoslováquia, quando abriu a jogada com um lindo drible de calcanhar e correu para marcar aproveitar o passe de Jairzinho.

Na Copa do Mundo, foi estupendo. O Brasil já não era o mesmo de 1970, mas ele atuou tão bem que Neeskens da Holanda perguntou se era possível naturalizá-lo para jogar no Carrossel.

O resto já se sabe. Marinho Chagas mergulhou em álcool e drogas e morreu em 2014 tendo seu corpo velado no Bar do ABC, um absurdo. Enquanto brinca entre as estrelas, espera o gesto raro da gratidão.

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1 Comentário

  1. joe alvinegro

    Grande MARINHO CHAGAS o “diabo loiro” … Depois dele só Nilton Santos na lateral esquerda. Marinho foi um craque… honrou as cores alvinegras da imensa tradição do glorioso Botafogo. Que DEUS o tenha em bom lugar… jogando no Céu com garrincha, pelé, nilton santos, didi, roberto dinamite, zagalo… etc, etc,… SAUDAÇÕES BOTAFOGUENSES!

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