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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 72

25 / julho / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

A música de Marco Pereira foi providencial pra evitar que as discussões mais acaloradas ganhassem maiores proporções. Zé Ary manteve as disputas na área controladas pra conter os ânimos exaltados, o bate-rebate, e virou o jogo prum outro lado.

Garçom: – Eu não acredito nisso, mas aquela história do Ronaldo, em 98, teve o dedo do patrocinador, como o povo andou dizendo?

Ceguinho Torcedor: – Zé Ary e amigos, somos, os brasileiros, uns Narcisos às avessas, que cospem na própria imagem. Para nós, o futebol não se traduz em termos técnicos e táticos, mas puramente emocionais. Ora, nada se compara ao ódio que, de momento, açula o torcedor sempre que o adversário põe um gol como um ovo.

João Sem Medo: – Haverá sempre uma conspiração na cabeça do torcedor derrotado, ainda mais daquela maneira como foi pra França.

Ceguinho Torcedor: – João, os lorpas, os pascácios poderão objetar que se trata de futebol, apenas o futebol. Não é só o futebol. É, sobretudo, o homem brasileiro.

Garçom: – Houve também quem dissesse que Ronaldo tremeu, amarelou.

João Sem Medo: – Isso é bobagem.

Ceguinho Torcedor: – Também não creio. Mas o jogador é, antes de tudo, um homem e que, nessa base, a condição humana está implicada em todos os seus defeitos e virtudes.

Sobrenatural de Almeida: – Posso jurar que não tive nada com aquilo. Juro pela minha mãe mortinha, até porque ela já está, há muitos e muitos séculos. Hahaha

O povo se acalma um pouco e até ri, mas logo João Sem Medo pôs de novo o dedo na ferida.

João Sem Medo: – Não sou médico, mas um jogador que tem uma convulsão na manhã da final de uma Copa do Mundo, não pode entrar em campo à noite.

Sobrenatural de Almeida: – Isso sim é assombroso!

Idiota da Objetividade: – Zagallo já se defendeu aqui dizendo que o médico garantiu que Ronaldo podia jogar.

João Sem Medo: – Todos viram, ele andou em campo. E o time todo, preocupado com ele, também. Quando Ronaldo deu uma corrida, teve um choque com Barthez, o goleiro da França, no primeiro tempo, que deixou todo mundo sobressaltado. A seleção só acordou no segundo tempo, mas já era tarde.

Garçom: – Alguns jogadores disseram que contariam tudo o que aconteceu lá, mas até hoje nada.

João Sem Medo: – Muita gente ficou com medo de abrir a boca pra não se prejudicar, pois seria muito prejudicado, sabe-se lá até que ponto, principalmente os jogadores. O Edmundo, que jogaria no lugar do Ronaldo aquela final, foi o que mais falou na época, anunciou que botaria a boca no mundo, mas depois achou melhor fazer boca de siri.

Ceguinho Torcedor: – A verdade é que aquela Copa seria a Copa do Ronaldo.

Idiota da Objetividade: – O que só ocorreria quatro anos mais tarde. A de 98 acabou sendo a Copa do Zidane.

Músico: – Desculpe me meter na conversa, mas naquela final com a França parecia que acabaria ali, naquele momento, um sonho daquele menino chamado Ronaldo. Mas, pra sorte nossa e de todos os torcedores brasileiros, com muito esforço dele, o sonho do penta seria realizado em 2002.

Nossos personagens e o público concorda com Angenor Rosa e alguns até aplaudem o breve discurso.

Garçom: Gente, aproveitando o gancho do Angenor, vamos botar pra tocar aqui uma música gravada pelo Evandro Mesquita, um samba-funk chamado justamente de “Sonho de menino”, para o CD “Rumo ao Penta”, lançado em 98. A composição é de Reinaldo Arias e Carlos Colla. Bóra dançar, meu povo!

Quase não houve quem ficasse sentado. Depois de muita dança e diversão, houve certa dispersão, logo interrompida pelo Idiota da Objetividade, que, como um raio, tomou a bola pra prosseguir o jogo na Copa de 98.

Idiota da Objetividade: – O Brasil estreou com vitória sobre a Escócia, por 2 a 1, depois derrotou com facilidade o Marrocos, por 3 a 0, e garantiu a classificação pras oitavas antecipadamente. Acabou sendo derrotada na última partida da primeira fase para a Noruega, por 2 a 1, de virada.

João Sem Medo: – Foi a primeira derrota na primeira fase da seleção brasileira desde a Copa de 66, quando fomos precocemente eliminados, perdendo duas partidas, pra Hungria e pra Portugal.

Idiota da Objetividade: – Verdade, João. Em 66 só ganhamos da Bulgária, na estreia, com gols de Pelé e Garrincha.

João Sem Medo: – Foi a última vez que atuaram juntos.

Idiota da Objetividade: – Exatamente. Bom, voltando a 98, nas oitavas o Brasil goleou o Chile por 4 a 0, passou pela Dinamarca, nas quartas, com uma difícil vitória de 3 a 2, e como já dissemos venceu nos pênaltis a Holanda na semifinal, após empate em 1 a 1 no tempo normal e a prorrogação sem gols. Na final, Zidane, que voltaria a brilhar oito anos depois contra a seleção brasileira, foi o dono da partida, com dois gols, e a França foi campeã pela primeira vez, com os 3 a 0 no placar. O último gol foi marcado por Petit.

Ceguinho Torcedor: – Não fizemos uma campanha brilhante na França, mas com o Fenômeno em forma na final teríamos conquistado o penta na terra de Napoleão Bonaparte, deixando os franceses de quatro e trazendo a Torre Eiffell como nossa taça, em definitivo.

O povo ri com vontade.

Garçom: – Infelizmente não foi assim, né, seu Ceguinho. Mas, se não conquistamos a taça em 98, ao menos tivemos outra música muito bonita para aquela Copa, composta e gravada pelo Gilberto Gil: “Balé da bola”. Vamos ouvir!

*Amigos, chega ao fim aqui a primeira temporada da série “Uma coisa jogada com música”, que durou quase um ano e meio. Vou dar uma parada em agosto e, se Deus quiser, na primeira sexta-feira de setembro a segunda temporada começará com o Capítulo 73, já bem adiantado por sinal. Agradeço muito, de coração, a todo mundo que vem curtindo este trabalho que faz parte do projeto Jogada de Música.

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Um gol desse não se perde!

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2 Comentários

  1. Ecio Tadeu Moraes Pedro

    Acho que Ronaldo não deveria jogar. E também acho que, mesmo com ele em perfeitas condições, o Brasil não ganharia aquele jogo. Era a Copa da França!
    Parabéns, mais uma vez, pelo ótimo trabalho de pesquisa!

    Responder
  2. Eduardo Lamas Neiva

    É, meu amigo, mas pro Ceguinho Torcedor o futebol brasileiro e e será sempre o maior do mundo. Seria no mínimo apertado, penso eu, daria pra torcer um pouco, algo que nem deu pra se fazer, tamanha a apatia da seleção brasileira, principalmente no primeiro tempo. Obrigado mais uma vez pela visita e o comentário. Abração.

    Responder

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