por Eduardo Lamas Neiva
Após a revelação de Zé Ary que gerou no bar muitas brincadeiras e outras tantas revelações, impublicáveis, Idiota da Objetividade justificou o nome e não perdeu tempo com firulas.
Idiota da Objetividade: – No fim, a Era Dunga foi vencedora. Instituída por Lazaroni, ela foi do fracasso ao delírio. O capitão da seleção, depois de ter sido crucificado em 90, na Itália, acabou levantando a taça quatro anos depois.
Ceguinho Torcedor: – Mas a Era Dunga deveria ser consagrada como a Era Romário. Afinal, foi com os gols do Baixinho Marrento bom de bola que vencemos a Copa América depois de 40 anos de espera e, posteriormente, nos classificamos para a Copa dos Estados Unidos, naquela partida magistral que ele fez contra o Uruguai, no Maracanã.
João Sem Medo: – Foi sem dúvida uma das maiores exibições de um jogador no Maracanã em todos os tempos.
Idiota da Objetividade: – Na Copa América de 89, o Brasil venceu o Uruguai por 1 a 0 na final…
Sobrenatural de Almeida: – Como em 1919!
Idiota da Objetividade: – Isto mesmo, mas sem prorrogações. O gol da vitória foi feito por Romário, de cabeça, após ótima jogada de Bebeto e Mazinho pela direita. Nas eliminatórias para a Copa de 94, a torcida brasileira exigiu a volta de Romário, que não vinha sendo convocado por Parreira, ele fez os dois gols da vitória de 2 a 0 sobre o Uruguai que garantiram a vaga do Brasil nos Estados Unidos.
Garçom: – Ainda bem que Parreira e Zagallo resolveram ouvir a voz do povo.
Sobrenatural de Almeida: – Eu dei um soprãozinho no ouvido do Parreira, não é Zagallo?
O Velho Lobo finge que não ouviu e o papo continuou, porque Zé Ary teve uma ideia.
Garçom: – Como falamos novamente na conquista do Sul-Americano de 1919, que tal ouvirmos a versão com letra de “Um a Zero”?
Músico: – A letra é do Nelson Ângelo, parceiro do Fernando Brant no Clube da Esquina.
Garçom: – Isso mesmo, Angenor! Vamos ouvir com Chico Buarque e o próprio Nelson Ângelo no nosso aparelho de som.
Após a execução da música, acompanhada em peso pelos frequentadores do bar Além da Imaginação, Sobrenatural de Almeida voltou a contar suas vantagens.
Sobrenatural de Almeida: – Pouco antes da Copa de 94, Ricardo Gomes se machucou e foi cortado. Depois, logo na estreia, Ricardo Rocha se lesionou. O Brasil foi campeão com a zaga reserva, que era a minha predileta: Aldair e Marcio Santos.
Ceguinho Torcedor: – Depois ainda perdemos os laterais. O Leonardo, que deu uma cotovelada de luta livre num americano e foi banido da Copa, e o Jorginho na final contra a Itália. Branco, fidalgo tricolor de sangue grená e verde, deu mais do que conta do recado, garantindo a nossa classificação para a semifinal com aquele petardo que quase arrancou o traseiro do Romário e fulminou o goleiro holandês.
Risos na plateia.
Sobrenatural de Almeida: – E o Cafu também foi bem. Foi dele o cruzamento pro gol incrível que o Romário perdeu, na pequena área, na decisão. Desviei aquela bola, queria ver uma final de Copa do Mundo decidida nos pênaltis. Nunca tinha acontecido.
Ceguinho Torcedor: – Mas isso tudo prova que, mesmo com esquemas mais cautelosos, fomos muito mais competentes em 94 do que em 90.
João Sem Medo: – Em 90 tínhamos um bom elenco, mas quase ninguém chegava ao ataque também. Jogamos com 3 zagueiros e os laterais, chamados de alas, deveriam fazer o que o meio de campo não fazia, criar jogadas de ataque. Nosso meio era muito pouco imaginativo, feito mais para combater do que atacar. Fizemos uma empulhação naquela Copa da Itália. Nosso futebol tapeando e as verbas jorrando em cima deste negócio e os anúncios proliferando. Diz o livro primeiro do futebol que só atacando se faz gols. Dominamos a Argentina, mas no nosso ataque sempre faltava mais gente pra poder fazer de um domínio o gol, os gols necessários.
Idiota da Objetividade: – Na Itália, o Brasil venceu seus três primeiros jogos: 2 a 1 sobre a Suécia, e 1 a 0 sobre Costa Rica e Escócia. Nas quartas-de-final pegou a Argentina e perdeu de 1 a 0, gol de Caniggia, após bela jogada individual de Maradona. Quatro anos depois, nos Estados Unidos, o Brasil venceu a Rússia, por 2 a 0; Camarões, por 3 a 0, e empatou com a Suécia, em 1 a 1, na primeira fase. Derrotou os donos da casa, os Estados Unidos, por 1 a 0…
Ceguinho Torcedor: – No dia da independência deles. Uma vitória para a antologia.
Idiota da Objetividade: – Nas quartas-de-final eliminamos a Holanda, com uma vitória de 3 a 2…
Ceguinho Torcedor: – Outra vitória épica. Romário e Bebeto foram espetaculares outra vez, mas quem decidiu, como já disse, foi o Branco, que soltou uma bomba de hidrogênio, de cobalto, sei lá!
Idiota da Objetividade: – O Brasil saiu do primeiro tempo vencendo os holandeses por 2 a 0, mas cedeu o empate na etapa final. Quando parecia que a partida iria para a prorrogação, em Dallas, Branco fez jogada individual, sofreu falta e a cobrou com um chute fortíssimo, com efeito.
Ceguinho Torcedor: – Romário ainda desviou da bomba. Eu vi, eu vi…
Sobrenatural de Almeida: – Que nada! Eu que desviei a bola da bun… ou melhor, do traseiro do Romário.
Uns riem e outros olham desconfiados pro Almeida.
Idiota da Objetividade: – Depois da vitória de 3 a 2 sobre a Holanda, o Brasil enfrentou novamente a Suécia, na semifinal. Desta vez venceu por 1 a 0, gol de cabeça de Romário, e se classificou para a final. Depois do empate sem gols no tempo normal e na prorrogação, o Brasil foi campeão nos pênaltis, vencendo a Itália, por 3 a 2, mesmo placar de 82.
Músico: – Aquela Copa teve uma música muito legal. Foi lançada pela TV Globo, todo mundo ouviu e cantou um milhão de vezes na época, mas o que pouca gente sabe é que os autores são dois grandes compositores brasileiros: Tavito e Aldir Blanc.
Garçom: – Verdade! Ambos estão ali e merecem os nossos mais calorosos aplausos.
O público atende o pedido de Zé Ary e Tavito e Aldir levantam-se e agradecem.
Garçom: – Bom, vamos ouvir a música no clipe de 1994 da Globo. Só peço desculpas pelo merchandising. Vamos lá que a música é ótima.
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Um gol desse não se perde!
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