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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 69

4 / julho / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

Após o coro de “Pra frente Brasil” seguir como uma roda de ciranda que ocupou todo o bar “Além da Imaginação”, o público foi se acalmando, quando Sobrenatural de Almeida deu um bico pra longe naquela euforia.

Sobrenatural de Almeida: – Todo aquele futebol maravilhoso, toda aquela festa em meio aos Anos de Chumbo pra 23 anos depois a taça ser roubada da sede da CBF e ser derretida. Assombroso!

Garçom: – Uma vergonha! Guardaram a réplica no cofre e puseram a verdadeira na vitrine. Virou piada de brasileiro em Lisboa.

João Sem Medo: – Quando aconteceu esse episódio fiquei com a impressão de um “deja vu”.

Garçom: – Djair?

João Sem Medo: – Não, Zé Ary, esse jogou no Botafogo, no Fluminense e no Flamengo nos anos 90.

Idiota da Objetividade: – Jogou no São Paulo também. Depois ainda foi de muitos outros times, como Cruzeiro, Atlético Mineiro, Corinthians…

João Sem Medo: – Sim, mas eu falei em “deja vu”, que é a sensação de já ter vivido algo que ocorreu pela primeira vez.

Garçom: – Ih, já senti isso. Fico todo arrepiado.

Sobrenatural de Almeida: – É assombroso. Hahaha

João Sem Medo: – Depois descobri o motivo. O escritor mineiro Henrique Pongetti tinha escrito um conto, publicado em 1964 no livro “Inverno em Biquíni”, chamado “O roubo da Taça Jules Rimet”.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso, porque a taça já tinha sido escondida durante a Segunda Guerra Mundial numa caixa de sapato embaixo da cama do vice-presidente da Fifa da época, o italiano Ottorino Barassi, mas só foi roubada pela primeira vez em 66, às vésperas da Copa da Inglaterra.

Idiota da Objetividade: – A taça, que estava com a CBD, já que o Brasil tinha sido o último campeão, em 62, foi cedida para uma exposição em Londres, quatro meses antes do início da Copa de 66. Mesmo com dois seguranças no local, a taça sumiu em 20 de março.

João Sem Medo: – Até os investigadores da Scotland Yard se envolveram na busca, mas quem encontrou a taça foi um cão chamado Pickles.

Idiota da Objetividade: – O ex-soldado Edward Betchley pediu um resgate pra devolver a taça, mas disse que era só intermediário, que não tinha roubado a taça. Segundo ele, o ladrão era um tal de “The Pole”. Betchley morreu em 1969 após passar dois anos preso por extorsão.

Músico: – Peço licença aos senhores pra informar algo que muita gente certamente não sabe. Em 66, como uma crônica musical, Rildo Hora compôs e gravou “Pickles (O Roubo da Taça do Mundo)”.

Todos se espantam.

Garçom: – Essa eu não sabia.

Músico: – Deixa que eu ponho no nosso aparelho de som, então. Temos o áudio aqui, com o próprio Rildo Hora cantando e tocando sua gaita e seu violão.

Garçom: – Maravilha! Vamos ouvir, então.

O sambalanço de Rildo Hora agrada, muitos aproveitam pra dançar, sabendo que o tricampeonato só viria em 70. Mas logo a curiosidade de Sobrenatural de Almeida, que não era exclusiva dele, prevaleceu.

Sobrenatural de Almeida: – Pois então, João, que história é essa do escritor?

João Sem Medo: – Almeida e amigos, o Pongetti previu quase 20 anos antes que a Jules Rimet seria roubada da sede da CBD. Na época em que escreveu o livro a taça estava provisoriamente com o Brasil, como o Idiota já falou, pois éramos os bicampeões mundiais. E ele não pôde saber no Mundo Físico que era profeta, pois morreu  em 1979, quatro anos antes do roubo definitivo da taça que brilhantemente tínhamos conquistado em definitivo no México, em 70.

Músico: – E o roubo da taça virou filme.

Garçom: – Verdade, Angenor! Foi lançado em 2016. Vamos assistir ao trailer no telão e emendar de primeira “O tema” do filme, composto por Thiago França e Duani, com o grupo Instituto. Simbora!

Garçom: – Isso só pode ter sido castigo. Ficamos 24 anos sem conquistar um título. Foi duro aquele jejum. Mas finalmente em 94 pudemos comemorar. E novamente em cima da Itália…

João Sem Medo: – Vencer é sempre bom, mas jogamos em 1994 com o mesmo medo de 74 e 78, quando adotamos o falso futebol-força. Zinho foi uma cópia fiel do Dirceuzinho. Parreira e Coutinho fizeram parte da comissão técnica do Zagallo e seguiram o mestre. Mas se antes já tínhamos chegado longe demais, em 94 conquistamos o título e tivemos um lucro ainda maior. Não foi uma vitória que tenha me emocionado aqui em cima, mas o Brasil foi campeão depois de 24 anos sem título mundial e isso é o que conta.

Ceguinho Torcedor: – Toda vitória é épica. Sendo brasileira ainda mais. E com a dramaticidade dos pênaltis, sob um sol de rachar catedrais na terra dos anjos, Los Angeles. Durante os 90 minutos, Romário perdeu o gol mais feito desde a Arca de Noé. E na disputa de pênaltis, a bola chutada por ele bateu na trave e entrou. Ainda contamos com a sorte. E a sorte acompanha os grandes campeões. O talento do Romário e a sorte. Sem sorte não se chupa nem um chicabon.

João Sem Medo: – A sorte foi ter Romário e Bebeto na frente decidindo tudo. Jogamos defensivamente, com medo, mas os adversários também não ofereceram grandes ameaças. A Itália, mesmo extenuada, foi a que mais atacou. Mas com um pouco mais de coragem do Parreira, o Brasil poderia ter vencido com certa tranquilidade antes dos pênaltis.

Sobrenatural de Almeida: – Vocês viram como fiz a bola do Baggio voar para as nuvens? Ela ficou levinha, levinha.

O povo do bar ri.

Garçom: – Eu vibrei como nunca. Naquele dia nem trabalhei, fiquei de cliente e enchi o pote da tarde de domingo até a manhã de segunda. Só acordei na terça-feira.

Todos riem.

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Um gol desse não se perde!

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3 Comentários

  1. Ecio Tadeu Moraes Pedro

    Não me lembrava dessa história do roubo da Jules Rimet em 1966.
    E também não conhecia o conto de Henrique Pongetti e a música do Rildo Hora.
    Parece que o destino da Taça já estava traçado muito antes do roubo no Rio.
    Parabéns pela pesquisa!!

    Responder
  2. Eduardo Lamas Neiva

    O conto do Pongetti descobri lá em 2016, 17, e consegui comprar o livro num sebo online ainda quando morava no Rio. Li, obviamente, o conto. Agora, a música só conheci anteontem. Procurava por outra música e ela surgiu à minha frente. Acaso? Obrigado mais uma vez pela visita e o comentário. Volte sempre. Abração.

    Responder
  3. Arlinei Carvalho

    Simplesmente SENSACIONAL.
    PARABÉNS AOS CONTADORES DE HISTÓRIA. E OS ANEXOS.
    UMA DAS MELHORES DO MUNDO DA PELADA, E OLHA QUE SÓ TEM MATERIA BIA. HÁ O FLU É INCAÍVEL NOS PONTOS CORRIDOS OK.
    KKKKKKKKK

    Responder

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