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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 67

20 / junho / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

Enquanto Paulinho Nogueira ainda voltava à sua mesa, Idiota da Objetividade não perdeu a deixa de João Sem Medo.

Idiota da Objetividade: – E já que falamos dos ingleses, que eram os campeões mundiais de então, a Inglaterra caiu nas quartas de final, sendo derrotada pela Alemanha Ocidental, numa reedição da final de 66. Os alemães venceram numa virada espetacular, por 3 a 2. E na semifinal, o Brasil derrotou o Uruguai, por 3 a 1, de virada, gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivelino.

Garçom: – Jairzinho fez gols em todos os jogos. O Furacão da Copa!

Ceguinho Torcedor: – Quando acabou o jogo, o Espectro de 50 foi varrido a pontapés. Está certo, varrido a pontapés?

Sobrenatural de Almeida: – Bem estranho isso, Ceguinho. Assombroso!

Ceguinho Torcedor: – Se não está certo, paciência. Vai assim mesmo. Nós torcemos com as costeletas, os bigodões, o penacho e as esporas do perfeito Dragão de Pedro Américo. Lembro que depois daquela vitória, eu vi a grã-fina das narinas de cadáver, também de penacho e também de esporas. Quanto aos bigodões, Rivelino já o usava.

O público ri das tiradas do Ceguinho Torcedor.

João Sem Medo: – Aquela partida teve um início muito nervoso, mas o Uruguai se acalmou primeiro que o Brasil e teve merecimento em marcar primeiro que nós, apesar de ter sido numa falha dupla de nossos defensores. Mas, depois, o Uruguai passou a jogar para pura e simplesmente manter o um a zero.

Ceguinho Torcedor: – Vocês querem saber por que trememos nos primeiros minutos? Porque éramos artistas e os artistas têm uma larga, uma generosa, uma insuperável emotividade. Nós marcamos um gol e choramos. E daí? E vocês gostariam de ser uns impotentes do sentimento, como Belzebu, o Abominável Pai da Mentira? A maior frustração de Satã é não ter, em sua biografia, uma única e escassa lágrima. Quando vocês estiverem comovidos, não façam cerimônia: sentem-se no meio-fio e comecem a chorar. Mas todos devem ter reparado naqueles dias, a alegria é mais profunda que a dor. Aquele escrete brasileiro foi o melhor que olhos mortais já contemplaram.

Garçom: – Até mesmo os olhos de um Ceguinho. Olha, já que falamos daquela derrota, em 50, pro Uruguai, vou chamar a nossa banda aqui no palco pra tocar uma música de 1958, mas que cai muito bem pra relembrarmos a vitória sobre os uruguaios na semifinal de 70. Não é, Angenor Rosa?

Músico: – É isso mesmo, Zé Ary! A letra da música de Denis Brean e Osvaldo Guilherme pra conquista do Mundial de 58 é perfeita pra comemorarmos de novo a vitória sobre o Uruguai em 1970. Chama-se “Vingamos Maracanã” e vamos a ela.

Após a apresentação, o povo do bar aplaude muito a banda Além da Imaginação. E sem deixar a bola cair, Sobrenatural de Almeida domina a pelota e sai se gabando novamente, ainda sobre Brasil 3 x 1 Uruguai.

Sobrenatural de Almeida: – O Espectro de 50 andou se assanhando pelo estádio Jalisco, em Guadalajara. Porém, fui eu que o expulsei a pontapés. E não foi com a vassoura. Na verdade, nem tive muito trabalho, é só rever os gols do Brasil pra vocês entenderem.

João Sem Medo: – Assombroso, Almeida!

O povo ri.

João Sem Medo: – O primeiro foi uma jogada genial do Tostão e um “despregamento” audacioso de Clodoaldo que terminaram com a bola na rede.

Ceguinho Torcedor: – O nosso gol, antes de ser bola nas redes, era obra de arte.

João Sem Medo: – Naquela altura do jogo, o Brasil já era mais equipe e dificilmente o Uruguai, que sentia falta do notável Pedro Rocha…

Idiota da Objetividade: – Que foi ídolo no São Paulo.

João Sem Medo: – Dificilmente o Uruguai alcançaria a vitória. Sem Pedro Rocha o ataque uruguaio ficou muito fraco, mesmo com as boas jogadas de Cubilla.

Ceguinho Torcedor: – Claro que é uma dureza disputar uma semifinal com o Uruguai. E mais ainda quando o juiz é um Rafles de galinheiro que nos negou dois pênaltis ululantes.

João Sem Medo: – Pouco a pouco a pressão aumentava e Jairzinho, uma das atrações daquela Copa, conseguiu a vantagem para o Brasil. O Uruguai se desesperou e começou a atirar bolas altas. Nada de positivo.

Ceguinho Torcedor: – Em campo, o nosso escrete fez suas obras-primas e passeou por obras-primas. Só uma coisa eu deploro na partida contra o Uruguai: é que não tenha entrado o quarto gol, de Pelé. Com uma ginga, driblou o goleiro uruguaio. Correu, apanhou a bola e encheu o pé. A bola, rente à grama, tirou um fininho da trave inimiga.

Garçom: – Um lance de antologia como aquele de Pelé merece ser revisto muitas vezes. Vamos ao telão.

O público aplaude de pé e Pelé se levanta pra agradecer.

Garçom: – Que maravilha! Uma obra de arte como essa, que infelizmente não terminou em gol, merece mais uma música, não acham? O que acha, Pelé?

Pelé (de sua mesa): – Eu vou sempre gostar e agradecer por tudo que tive em minha vida, dentro e fora do campo, a todas as homenagens que graças a Deus recebi e ainda venho recebendo, entende. Muito obrigado, Zé Ary, muito obrigado a vocês todos.

O público aplaude.

Garçom: – Então, já que Pelé está agradecido, vamos pôr aqui no aparelho de som uma música muito especial, composta pelo próprio Rei do Futebol, que foi gravada originalmente em 1971 por Moacyr Franco: “Pelé agradece”.

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Um gol desse não se perde!

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1 Comentário

  1. Ecio Pedro

    Caro Edu, essa musiquinha (no bom sentido) “Vingamos Maracanã”, de 1958, se referia ao título na Suécia como vingança de 1950?
    Àquela altura, ou naquelas circunstâncias, o Uruguai não tinha nada a ver com isso. Estou certo?😛

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