por Eduardo Lamas Neiva
Após o encerramento da música de Douglas Germano houve um silêncio impactante. Porém, logo começaram a surgir aplausos e muitos elogios. Se houve também alguns descontentes, eles se calaram e se afastaram, ninguém viu, nem ouviu.
Houve depois uma certa dispersão, mas como a bola não pode parar na nossa resenha, Idiota da Objetividade logo se recordou de outra vitória brasileira sobre a Inglaterra.
Idiota da Objetividade: – Contra os ingleses, na casa deles, em Wembley, o Brasil só conseguiu ganhar pela primeira vez em 1981, por 1 a 0, com um gol de Zico.
Garçom: – Lembro bem. Foi o primeiro jogo da excursão à Europa, um ano antes da Copa da Espanha. Depois vencemos a França, por 3 a 1, com um show de bola no Parque dos Príncipes, em Paris, e a Alemanha Ocidental, de virada, por 2 a 1, com Valdir Perez pegando duas vezes pênalti cobrado pelo Breitner, e Cerezo e Júnior fazendo dois golaços.
Idiota da Objetividade: – Que boa memória, Zé Ary! Perfeita descrição dos fatos.
Garçom: – Vamos ver aquele gol?
Zé Ary põe o vídeo para rodar no telão o gol da primeira vitória brasileira sobre a Inglaterra, em Wembley.
Logo após a exibição do gol, muitos olham para Sócrates, que sorri com a lembrança daquela exibição contra a seleção inglesa.
Garçom: – Peço licença aos senhores, mas citar Zico sem ouvirmos uma homenagem musical ao Galinho seria um pecado, não acham?
Ceguinho Torcedor: – Um pecado capital!
Músico: – Aí vamos lembrar do grande vascaíno Paulinho da Viola.
Ceguinho Torcedor: – E por associação de ideias: Roberto Dinamite!
Músico: – Aliás, outro grande amigo de Zico, o Dinamite.
Garçom: – Em breve, o grande ídolo vascaíno estará aqui com a gente. Mas vamos ouvir no nosso sistema de som “Camisa 10 da Gávea”, do Jorge Ben, com a grande Maria Alcina.
Quase todo mundo dança e aplaude ao fim. João Sem Medo retoma a pelota.
João Sem Medo: – Merecidíssima homenagem ao Zico, mas queria voltar ao ano de 59, se me permitem. Além do show do Julinho Botelho, houve o Sul-Americano na Argentina também e a seleção brasileira disputou a competição como campeã do mundo. Mas o título ficou com os argentinos…
Sobrenatural de Almeida (rindo): – O árbitro apitou o fim do jogo quando o Garrincha faria o gol da vitória e do título para o Brasil.
De sua mesa, Mané se manifesta com um gesto indicando que a seleção foi roubada naquela final. E ganha o apoio de quase todo mundo presente.
Ceguinho Torcedor: – Nas três primeiras partidas, a atuação do Brasil foi uma espécie de naufrágio. E contra o Uruguai, antes da final, vencemos no pau e na bola.
Garçom: – Opa!
Todos riem
João Sem Medo: – Na porrada e na bola. Derrotamos os uruguaios por 3 a 1. Eles baixaram o sarrafo e os brasileiros não correram da briga.
Ceguinho Torcedor: – O salto de Didi foi prodigioso. Foi realmente um voo para castigar os uruguaios, que tinham baixado o pau. Batida no futebol, a ex-Celeste, que vive de passado como uma planta de Sol, partiu para a luta corporal. Amigos, foi um sururu de antologia. O brasileiro meteu o braço. E não só o braço: enfiou o pé, deu chute, rasteira, rabo de arraia. Paulinho atravessou o campo para caçar, do outro lado, três adversários que batiam covardemente em Chinesinho. O inimigo pôs sebo nas canelas e deu no pé. Porém, o momento mais artístico da pancadaria foi a monumental intervenção de Didi. Outro qualquer teria usado meios normais, tais como o tapa, o soco, o pescoção, ou a boa e salubre cabeçada brasileira. Didi foi além. Tomou distância e correu. Havia um bolo de uruguaios. E todo o estádio parou no espanto do salto, tão plástico, elástico, acrobático. Essa espantosa agilidade carioca deslumbrou o povo. Com os dois pés, fendeu e debandou o grupo inimigo. A plateia argentina quase pediu bis.
Risadas em todo bar Além da Imaginação. Sem avisar, Zé Ary põe no telão as imagens com os melhores lances e a pancadaria entre brasileiros e uruguaios, em 1959. Quando todos percebem ficam estáticos, atentos a cada detalhe.
Houve um burburinho, todos se voltaram para Didi que se manteve sério, apesar dos gracejos à sua volta. João Sem Medo pegou a bola e partiu em frente.
João Sem Medo: – Na final, contra a Argentina, o árbitro Carlos Robles nos roubou um gol do Garrincha no finzinho do jogo. Ou melhor, antes do fim.
Ceguinho Torcedor: – Ele só admitia contra os argentinos faltas não decisivas. E, no último minuto, excedeu-se a si mesmo. Vale a pena reconstituir o lance: – Garrincha apanha a bola e dispara. Os 120 mil argentinos gelaram. E Robles, o nosso Robles, caiu num pânico convulsivo. Ele percebeu que Garrincha faria o gol ou, pelo menos, reconheceu esse perigo evidentíssimo. Imaginem um gol brasileiro em cima da hora e Robles tendo de reconhecê-lo! Lá no campo do River Plate, que não tinha, para proteção dos visitantes, nem essa tela de arame que o mais franciscano galinheiro exige. Ele, que naturalmente, tem família, surrupiou uns bons três minutos e apitou, apitou histericamente. Ao mesmo tempo a bola estufava o barbante argentino. Amigos, o Robles assassinou o gol brasileiro!
O público do bar se alvoroçou e vaiou o árbitro como se lá estivesse. Zé Ary aproveitou a deixa e dominou o lance com categoria.
Garçom: – Que coisa, seu Ceguinho! Mas Juiz Ladrão também tem música, então vamos colocar aqui no nosso aparelho de som, “Juiz Ladrão”, de Maracai e Muniz Teixeira, na voz da grande dupla sertaneja Lourenço e Lourival. Vamos lá, turma. Quem quiser pode dançar.
Muita gente, incluindo Garrincha e Didi, continuou a comentar sem elogios a atuação do árbitro chileno, mas logo caiu na festa promovida pela música.
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Um gol desse não se perde!
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