por Eduardo Lamas Neiva
Com o apoio do público presente ao bar Além da Imaginação, Zé Ary mal esperou acabar o “Hino aos campeões mundiais” e emendou no aparelho de som com “Campeão do mundo”, de João de Barro, com Joel de Almeida, orquestra e coro.
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O povo se divertiu a valer com a marchinha, mas, como bem disse João Sem Medo logo que chegou ao Além da Imaginação, é a resenha que resolve qualquer jogo e o papo é a vida do futebol. Por isso que ele muitas vezes parece se tornar infinito quando estamos rodeados de amigos, ainda mais quando tem algo pra beber e beliscar e muita música pra abrilhantar a conversa.
E como não se pode perder o domínio da bola, nem da resenha, João Sem Medo faz a meia cancha organizar o jogo, dando um toque final sobre a conquista de 1958 pela seleção brasileira, indo ao início da preparação da equipe.
João Sem Medo: – Da seleção de 56 que fez um giro à Europa, o Gino era o centroavante.
Idiota da Objetividade: – Gino Orlando tinha origem italiana, começou no Palmeiras, mas se destacou mesmo como centroavante do São Paulo, de 1952 a 62. E depois de encerrada a carreira ainda trabalhou como administrador do estádio do Morumbi.
Zé Ary cochicha com os quatro amigos à mesa.
João Sem Medo: – Gino está aí?
Gino: – Sim, João Sem Medo. Com muito prazer.
Ele se levanta e o público o aplaude.
Gino: – Muito obrigado. Como bem disse o Sr. Idiota da Objetividade, fui da base do Palmeiras. Mas comecei a jogar antes, na Associação Atlética Matarazzo, clube das Indústrias Francisco Matarazzo. Fiquei no Palmeiras de 1947 a 51 e depois fui jogar no interior, no XV de Jaú e no Comercial de Ribeirão Preto, para só depois ir para o São Paulo e ser convocado para a seleção brasileira, entre 1956 e 57. Joguei depois na Portuguesa e no Juventus da Mooca. Eu era um grosso, trombador, mas estou na lista dos maiores artilheiros do São Paulo, com muito orgulho.
Idiota da Objetividade: – Fez 233 gols com a camisa tricolor e é o segundo maior goleador da História do São Paulo, atrás apenas de Serginho Chulapa, que fez 243 gols.
Gino é aplaudido, agradece e se senta.
João Sem Medo: – Pois então, Gino naquela excursão à Europa fez um gol de bicicleta contra Portugal.
Gino se levanta novamente.
Gino: – Ótima lembrança, João!
Mais aplausos.
João Sem Medo: – O Feola, que já tinha sido técnico da seleção em um jogo contra o Chile em 55, trocou todo o time de 56, 57, em 58, quando assumiu. E em 58 a seleção só deu o grande salto, porque fez dois jogos duros. O primeiro, em Udevala, contra a Áustria, ganhamos de 3 a 1 aquele jogo, campinho pequeno, 14 mil pessoas e tal. Quando entrou o Garrincha no time, a declaração da comissão técnica foi: “ganhamos com quatro reservas”. Os quatro reservas eram Zito, Garrincha, Pelé e Vavá. Porque não era o time, era o time da Escola de Educação Física do Exército, dois pontas recuados, os dois da frente que eram o Dida e o Mazolla abriam e aí vinha a jogada detrás. Do time de 56, se não estou enganado, sobrou o Djalma Santos, no último jogo. O Nilton Santos foi em 56, mas jogou pouco, jogou dois e depois se machucou, mas o Djalma jogou todas.
Idiota da Objetividade: – João, você está enganado, o Nilton Santos jogou todas as partidas na Europa, em 56.
João Sem Medo: – Mas foi um outro time, e o Feola foi imprensado pela tese de ter só branco no time, mas felizmente os reservas entraram… O Garrincha e o Pelé eram dois reservas. Com Garrincha e Pelé, joga as outras camisas pro alto, quem pegar joga.
Garçom: – Diziam que o Feola dormia no banco de reservas e quem mandava mesmo eram os jogadores mais experientes.
Sobrenatural de Almeida: – Assombroso!
Garçom: – Uma pena ele não estar aqui pra que pudesse dizer o que aconteceu.
Ceguinho Torcedor: – Vicente Feola teve muitos méritos. Pelé na verdade era titular.
Todos ao redor da mesa de Pelé olham pro Rei, que apenas concorda com um gesto para não interromper a resenha.
Idiota da Objetividade: – Pelé ficou fora dos amistosos já na Europa e dos dois primeiros jogos da Copa de 58 porque estava machucado desde a vitória de 5 a 0 da seleção sobre o Corinthians, no Pacaembu, o último amistoso disputado no Brasil. Feola foi o treinador da seleção de fevereiro de 1958 até de 1959, quando teve de ser substituído por Aymoré Moreira, por razões de saúde. Devido a esses problemas de saúde, causados pelo seu peso excessivo, tomava muitos remédios, o que poderia causar sonolência. Ele deixou invicto o comando da seleção: com 18 vitórias e quatro empates. Voltaria em 1964 e dirigiria a seleção na Copa de 66, que não nos traz boas lembranças.
João Sem Medo: – Antes, em 55, ele já havia dirigido a seleção numa partida contra o Chile, como falei anteriormente.
Idiota da Objetividade: – O Brasil venceu por 2 a 1 e conquistou a primeira Taça Bernardo O’Higgins, que foi disputada cinco vezes entre as duas seleções até 1966.
Garçom: – Peço licença à nossa mesa de debates pra outra homenagem a Vicente Feola e à seleção de 58.
Ceguinho Torcedor: – O que nunca é demais.
João Sem Medo: – Não mesmo!
Garçom: – Vamos ouvir, então, “Escola de Feola”, de Nelson Ferreira e Luiz Queiroga, com Os Três Boêmios e Orquestra. Podem sambar à vontade!
O povo ri e aplaude, enquanto se levanta para dançar.
https://discografiabrasileira.com.br/fonograma/167572/escola-de-feola
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Um gol desse não se perde!
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