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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 42

26 / dezembro / 2023

por Eduardo Lamas Neiva

Zé Ary, ainda surpreso com o que João Sem Medo dissera sobre o desconhecimento do regulamento da Copa de 54 pela delegação brasileira, não se conteve.

Garçom: – Caramba, seu João, como pode? Que confusão!

Ceguinho Torcedor: – Confusão houve mesmo depois da partida contra a Iugoslávia. No jogo contra a Hungria, a pancadaria foi generalizada. Perdemos de 4 a 2 no jogo e a cabeça depois.

Idiota da Objetividade: – A Hungria abriu 2 a 0 logo no início da partida, com gols de Hidegkuti e Kocsis, que estaria em posição de impedimento. Djalma Santos, de pênalti, diminuiu ainda no primeiro tempo, mas o zagueiro Lantos aumentou pra 3 a 1 em pênalti inexistente de Pinheiro na etapa final. Depois, Julinho Botelho reduziu a vantagem húngara e a equipe brasileira passou a pressionar novamente em busca do empate. Chegou a botar duas bolas seguidas na trave, mas aí Kocsis marcou no fim.

João Sem Medo: – Jornalistas brasileiros chegaram a dizer que o atacante húngaro estava impedido, mas não houve nada disso. Os brasileiros ainda reclamaram um pênalti em Julinho, não marcado pelo juiz, que eu achei duvidoso.

Idiota da Objetividade: – O jogo foi muito violento, teve três expulsos: Pinheiro e Humberto, pelo Brasil, e Bozsik, que era deputado no Parlamento húngaro.

João Sem Medo: – Com todo mundo de cabeça quente estourou a pancadaria após a partida, que ficou conhecida como a Batalha de Berna. Atingiram até o ministro de Esportes da Hungria.

Garçom: – Nossa mãe!

Idiota da Objetividade: – Faltou espírito esportivo a quase todo mundo ali.

Garçom: – Boa, seu Idiota! Hehe da Objetividade! Vamos aproveitar tua deixa pra chamar ao palco mais uma vez: Moraes Moreira!

Aplausos de toda plateia.

Moraes Moreira: – Obrigado, gente. Se faltou espírito esportivo em 54, aqui vamos de “Espírito Esportivo”.

A plateia dança e se diverte muito com Moraes Moreira e aplaude ao fim da música. O artista agradece e volta à sua mesa.

Idiota da Objetividade: – Depois daquilo tudo, daquela total falta de espírito esportivo, até Mário Vianna, com dois enes, o árbitro brasileiro na Copa, se envolveu. Ele acusou o juiz inglês Arthur Ellis de estar comprado e a Fifa, de ser uma camarilha de ladrões.

Garçom: – Desde aquela época? Não sei como era, mas hoje tem ex-dirigentes da Fifa afastados e até presos.

Ceguinho Torcedor: – Mário Vianna arrancou o distintivo da Fifa do peito e o queimou.

Idiota da Objetividade: – Acabou sendo expulso do quadro da Fifa depois disso.

João Sem Medo: – Trabalhei com ele muitos anos na Rádio Globo.

Idiota da Objetividade: – Mário Vianna encerrou sua carreira de árbitro em 1957. Foi técnico do Palmeiras, mas acumulou oito derrotas em 14 jogos e acabou saindo do clube paulista. Temperamental e polêmico, ele foi comentarista de arbitragem na Rádio Guanabara na década de 60 e da Rádio Globo por mais de 20 anos, entre as décadas de 70 e 80.

Garçom: – Ah, me lembro muito bem dele. (canta a vinheta do comentarista na Rádio Globo) “Mário Viaaaaanna”, com dois enes.

Mario Vianna, que chegara naquele momento ao bar, ao ouvir sua vinheta na voz de Zé Ary, entra com seuvozeirão.

Mario Vianna: – “Gooooooooool legaaaaaaal”.

Risada geral.

Garçom: – Que prazer, seu Mario Vianna. O senhor chegou na hora certa.haha

Mario Vianna: – O prazer é todo meu.

Garçom: – O senhor tinha outros bordões famosos… Quando o árbitro cometia um erro, como era?

Mario Vianna: – “Eeeeeeeeeeerrooooou”! Cadê o eco? “Eeeeeeeeeeerrooooou”.

Garçom: – Tinha também “pênalti que não é, não entra”. Hahahaha .

Mario Vianna (rindo): – Também, também.

João Sem Medo: – Zé Ary tá com o gogó afiado. Dá um abraço aqui, Mario!

Os dois se abraçam e Mário Vianna cumprimenta Ceguinho Torcedor, Idiota da Objetividade e Sobrenatural de Almeida, que brinca com o ex-árbitro.

Sobrenatural de Almeida: – Você era assombroso, Mário. Assombroooooosoooooo!

Os dois caem na gargalhada. Mário Vianna segue então em direção à sua mesa. João Sem Medo retoma  pelota.

João Sem Medo: – A derrota de 50 gerou uma pressão imensa da imprensa e dos torcedores para que o time brasileiro deixasse de ser frouxo. Havia quase uma unanimidade…

Ceguinho Torcedor: – Toda unanimidade é burra!

João Sem Medo: – Pois é, Ceguinho, acredito que aquilo acabou mexendo com a cabeça dos jogadores. Até o uniforme mudaram pro Mundial na Suíça.

Idiota da Objetividade: – A seleção jogou até a Copa de 1950 com camisas brancas, calções azuis e meiões brancos.

João Sem Medo: – Aí juntaram a pressão com a superstição. Disseram que além de um time frouxo, tínhamos um uniforme que dava azar.

Sobrenatural de Almeida: – Ora essa! Isso é assombroso, assomborso. Hahaha

Garçom: – Seu Almeida, peço licença, mas assombrosa mesmo é a qualidade das músicas brasileiras que falam do futebol. Vamos ouvir no som o grande Carlinhos Vergueiro num samba que fala de juiz, camisa, muito do que foi conversado aqui. Vamos lá, “Camisa Molhada”, de Toquinho e Carlinhos Vergueiro.  

Fim do capítulo 42

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