por Eduardo Lamas Neiva
Zé Ary pega a deixa do apelido de Heleno de Freitas e lança outro tema à mesa dos nossos amigos João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade.
Garçom: – Outro que ganhou apelido de mulher no futebol foi o goleiro Raul, nos tempos do Cruzeiro, né?
João Sem Medo: – Essa é outra história, foi por causa da camisa amarela.
Sobrenatural de Almeida: – Armei aquele salseiro, foi engraçado.
João Sem Medo: – Até nesta história?
Ceguinho Torcedor: – O que você aprontou, Almeida?
Sobrenatural de Almeida: – Isso, todos sabem, ou quase todos. Foi já na década de 60. Goleiro naquela época só usava camisa preta ou cinza. E era sempre a mesma camisa, lavava e voltava. Mas aí, o goleiro titular do Cruzeiro se machucou às vésperas do clássico com o Atlético, então Raul foi escalado. Mas ele era muito maior que o outro e a camisa não deu. Aí, resolvi fazer uma luz acender na cabeça do Raul, quando o lateral-esquerdo Neco passou com um moleton amarelo em frente a ele. Raul pediu a camisa do companheiro emprestada, colou um esparadrapo atrás pra fazer o número um e foi pro campo. A torcida do Galo não perdoou vendo aquele goleiro altão, com cabeleira loura, vestindo amarelo, e começou a chamá-lo de Wanderléia.
Garçom: – Lembraram da cantora da Jovem Guarda, né?
Sobrenatural de Almeida: – Isso mesmo!
Idiota da Objetividade: – Aquele jogo terminou empatado sem gols e o Atlético ainda perdeu um pênalti, mas Raul não defendeu, a bola foi chutada para fora.
Sobrenatural de Almeida: – Mais uma peripécia minha.
João Sem Medo: – O presidente do Cruzeiro na época, Felicio Brandi, achava que a camisa dava sorte e obrigou o Raul a só jogar de amarelo depois daquilo.
Sobrenatural de Almeida: – Pois é. O Raul foi se meter a besta, porque não estava acertando a renovação do contrato, e foi jogar de preto uma vez. Aí ajudei o Cruzeiro a perder. Ele, então, renovou o contrato e voltou a jogar de amarelo de novo.
João Sem Medo: – O Cruzeiro tinha um grande time naquela época, com Dirceu Lopes, Piazza, Tostão, Natal… Foi campeão em cima do Santos de Pelé, com uma goleada de 6 a 2.
Garçom: – Em homenagem àqueles grandes campeões, vamos exibir no telão imagens daquele timaço ao som da música “Academia”, de João Saraiva, Mauro Saraiva e Plínio Saraiva.
Os aplausos são efusivos. Idiota da Objetividade dá então mais detalhes daquela épica conquista cruzeirense.
Idiota da Objetividade: – A final da oitava Taça Brasil, em 1966, reuniu o Santos de Pelé, que lutava pelo hexacampeonato, e o Cruzeiro de Tostão, que fazia uma campanha excepcional, com nove vitórias e três empates. Por ser o campeão, na verdade com cinco títulos seguidos, o Santos entrou na competição para lutar pelo hexa já na semifinal, como rezava o regulamento. Eliminou o Palmeiras, enquanto o Cruzeiro desclassificava o Fluminense. O primeiro jogo das finais, no Mineirão, terminou com uma goleada histórica e surpreendente do time mineiro, por 6 a 2, diante de quase 80 mil pessoas.
Ceguinho Torcedor: – O primeiro tempo terminou 5 a 0 e a torcida cruzeirense parecia não acreditar no que estava vendo.
Sobrenatural de Almeida: – Assombroso!
João Sem Medo: – Dirceu Lopes comeu a bola naquele dia. Fez três gols.
Idiota da Objetividade: – Os outros foram de Zé Carlos, contra, Tostão e Natal. Para o Santos, Toninho Guerreiro fez os dois. Apesar da goleada, no segundo jogo, no Pacaembu, bastaria ao Santos vencer por qualquer diferença para forçar o terceiro jogo. Pelé e Procópio foram expulsos no primeiro jogo, mas puderam atuar na segunda partida.
João Sem Medo: – O primeiro tempo terminou 2 a 0 pro Santos, com o Pelé em grande noite. Todos começaram a achar que o Santos devolveria a goleada. Dirigentes do Santos e da Federação Paulista chegaram a ir ao vestiário do Cruzeiro para acertarem o terceiro jogo pro Maracanã. Foram expulsos e aquilo deu mais motivação ainda pros mineiros. Tanto que no segundo tempo, o Cruzeiro virou pra 3 a 2.
Ceguinho Torcedor: – E o Tostão ainda perdeu um pênalti!
Sobrenatural de Almeida: – Assombroso.
Idiota da Objetividade: – O jogo foi disputado no dia 7 de dezembro de 1966, debaixo de muita chuva, diante de 30 mil pessoas aproximadamente. Pelé abriu o marcador, aos 23 minutos, e dois minutos depois, Toninho Guerreiro fez o segundo do Santos. Tostão perdeu o pênalti aos 13 do segundo tempo, mas fez o seu em cobrança de falta, com pouco ângulo, aos 18. Dirceu Lopes empatou aos 28 e Natal, após bela jogada de Tostão pela esquerda, fez o terceiro, aos 44.
Garçom: – Vamos ver os lances daquele jogo no telão? Com narração do grande Fiori Gigliotti, que ali está e merece muito todos os nossos aplausos.
Fiori se levanta, agradece a homenagem e se senta para assistir o telão.
Os cruzeirenses presentes vibram como se a partida tivesse acontecido naquele momento. Ceguinho Torcedor retoma a bola para contar mais sobre aquela conquista do Cruzeiro.
Ceguinho Torcedor: – Foi uma festa inesquecível em Belo Horizonte. Depois da vergonha e da frustração da Copa de 66, nenhum acontecimento teve a importância e a transcendência da vitória do Cruzeiro. Não foi só a beleza da partida, ou seu dramatismo incomparável. É preciso destacar o nobre feito épico que torna inesquecível o título do Cruzeiro. Sem medo de fazer uma sóbria justiça estava ali, naquele momento, o maior time do mundo.
Garçom: – Sem dúvida alguma, seu Ceguinho! Afinal, superou o Santos de Pelé, com autoridade. Vamos então ver e ouvir no telão, Tadeu Franco cantando uma composição sua em homenagem ao Cruzeiro, com destaque praquele grande time de 1966.
Idiotas da objetividade ainda vemos muitos por aí, mas onde anda o “Sobrenatural de Almeida”?
Você acha que ele continua aprontando sem ser percebido?
Sim, meu amigo. O título brasileiro de 2020 pelo Fla, a Argentina campeã mundial no ano passado, por exemplo, acho que demonstram a presença do Sobrenatural de Almeida nos gramados do mundo todo. E o Botafogo que se cuide.😁 Abração, obrigado, volte sempre.