por Eduardo Lamas Neiva
Após a festa santista no bar Além da Imaginação, com Francisco Egydio sendo ovacionado e muito elogiado por seu vozeirão, Idiota da Objetividade não quis deixar a conversa sobre Almir Pernambuquinho sair de pauta.
Idiota da Objetividade: – Almir Morais de Albuquerque, o Almir Pernambuquinho, chegou a ser chamado de Pelé Branco, mas acabou sendo conhecido mais pelas confusões em campo do que pelo seu grande futebol.
Garçom: – Tinha era muita raça, viu! Lembro de um gol dele no Flamengo contra o Bangu também na década de 60, em que ele meteu a cara na lama pra empurrar a bola com a cabeça. A bola passou só isso aqui da linha. Tinha muita raça.
Almir: – Foi em 66 mesmo. O Ubirajara defendeu a primeira cabeçada, mas no rebote meti a cabeça na bola no chão mesmo.
Todos riem e aplaudem, inclusive Ubirajara.
Garçom: – Olha o lance aí no telão!
Todos vibram e aplaudem como se estivessem no Maracanã naquele momento do jogo.
Idiota da Objetividade: – Almir ganhou muitos títulos importantes nos vários clubes em que jogou. No Vasco foi campeão em 58 do Rio-São Paulo e do Carioca; no Santos, a Libertadores e o Mundial de 63, além das Copas Brasil e o Rio-São Paulo de 63 e 64, mais o Paulista de 64, e no Flamengo foi campeão carioca de 65.
João Sem Medo: – No dia da sua morte eu estava longe, na Bahia, e até esqueci do jogo do Flamengo contra o Bahia que ia comentar. Levei um susto com a notícia. Não sabia dos detalhes, mas uma coisa logo garanti: o Pernambuquinho estava defendendo o lado mais fraco. E da mesma maneira como sempre fez, de peito aberto, sem medir consequências, porque estava certo de ter razão. Catimbeiro, valentão, corajoso, boa gente e bom amigo. Enfim, não sei, mas parece que era assim mesmo que ele queria morrer.
Almir: – Melhor assim do que covardemente, né, seu João?
João Sem Medo: – Muito melhor!
O estilo de Almir fez Sobrenatural de Almeida se recordar de outro polêmico e guerreiro atacante, este mais antigo que Almir.
Sobrenatural de Almeida: – Outro grande jogador, também muito temperamental, foi o Heleno de Freitas.
João Sem Medo: – Meu grande amigo. Jogamos juntos na praia e no juvenil do Botafogo.
Sobrenatural de Almeida: – Heleno é até hoje um dos grandes ídolos do Botafogo, mas só foi campeão no Vasco, em 49.
Ceguinho Torcedor: – O ataque daquele time era fantástico: Nestor, Ademir Menezes, Heleno, Maneca e Chico.
Idiota da Objetividade: – O Expresso da Vitória, como era chamado um dos maiores times da História do Vasco.
Garçom: – Heleno ficou de aparecer aqui no bar, vamos ver se aparece. Então, pra lembrarmos aquela fase gloriosa do Vasco, vamos convidar aqui no palco no Além da Imaginação, Aracy de Almeida.
Os aplausos logo se sucedem e Aracy, que nem de longe lembrava aquela mal-humorada jurada dos programas de Silvio Santos, sobe ao palco.
Aracy de Almeida: – Muito obrigada, gente. Com muita honra homenageio meu clube do coração, o grande Vasco da Gama, que Heleno defendeu tão bem, em 1949. “Entra Vasco” gravei três anos antes. Não confundir esta marchinha com outra música de mesmo nome que a Aurora Miranda, irmã da Carmen, que ali está, gravou ainda na década de 30, que foi composta por Alberto Ribeiro e Antonio Almeida. Vamos lá, então, com “Entra Vasco”, de Ari Monteiro e Arnaldo Paes.
Aplaudida, Aracy deixa o palco e vai pra sua mesa.
Idiota da Objetividade: – O Expresso da Vitória foi campeão carioca em 1945, 47, 49, 50 e 52, e conquistou o Campeonato Sul-Americano de Clubes, no Chile, em 48. Com oito jogadores convocados por Flávio Costa, o Vasco foi a base da seleção brasileira vice-campeã mundial em 50.
Garçom: – Ih, a torcida do Vasco não gosta muito desta história de vice, não.
Sobrenatural de Almeida (voltando do banheiro, meio distraído): – Olha, alguns daqueles jogos tiveram a minha participação efetiva.
Garçom: – Nos vices do Vasco?
Sobrenatural de Almeida: – Também, também. Mas falava do Heleno. Eu gostava de provocá-lo também pra ele animar um pouco mais alguns joguinhos. Era só chamá-lo de Gilda que ele ficava louco da vida. (ri tenebrosamente)
Idiota da Objetividade: – O polêmico Heleno de Freitas fez parte da equipe vascaína campeã carioca de 49. É o único título que conquistou na carreira. Mas Heleno ficou consagrado como ídolo botafoguense. Ele fez um total de 204 gols em 233 jogos com a camisa do Botafogo. Ainda atuou pelo Boca Juniors, da Argentina; América do Rio; Atlético Barranquilla, da Colômbia, e Santos, onde ficou pouquíssimo tempo. Sempre criou muita confusão em campo, adorava a vida boêmia e, principalmente, as mulheres.
Ceguinho Torcedor: – Dizem que por causa de uma sífilis mal curada ficou louco e acabou internado num sanatório, em Barbacena, cidade do seu estado natal, Minas, já que ele era de São João de Nepomuceno.
João Sem Medo: – Esta história prefiro esquecer. Guardo comigo as boas recordações do meu amigo Heleno.
Sobrenatural de Almeida: – Heleno de Freitas era um galã e ganhou o apelido de Gilda, o que o deixava revoltado.hahaha
Ceguinho Torcedor: – Gilda era a personagem encarnada pela belíssima atriz Rita Hayworth no cinema.
Heleno aparece repentinamente no Bar Além da Imaginação e todos ficam em suspense. Mas ele, com trajes elegantes da década de 40, amacia a pelota e faz a criança rolar no gramado.
Heleno: – Este apelido não quer dizer mais nada pra mim. Ou melhor, até ajuda em alguns casos. O importante é que o lendário Heleno de Freitas ficou guardado na memória dos amantes do bom e valente futebol. Tanto que recebo ainda hoje muitas homenagens.
João Sem Medo se levanta e vai abraçar, emocionado, Heleno de Freitas, que também muito comovido, retribui o carinho do amigo. Todos aplaudem de pé.
Garçom: – Diante desta cena maravilhosa, só há uma coisa a fazer: homenageá-lo, grande Heleno de Freitas. Vamos ver no telão imagens e músicas do espetáculo “Heleno, um homem chamado Gilda”, de Miguel Paiva e Zé Rodrix, que se encontra ali ao fundo, podem aplaudi-lo também. Com direção de Marcelo Saback, o espetáculo foi apresentado em 1996 pela Orquestra Brasileira de Sapateado. O ator Raul Gazolla interpretou Heleno. Vamos ver e ouvir.
Todos fazem silêncio e assistem com atenção.
O público aplaude muito e Heleno, João e Ceguinho comentam sobre o depoimento de Armando Nogueira e perguntam a Zé Ary pelo grande jornalista botafoguense.
Garçom: – “Seu” Armando ficou de vir. Uma hora aparece por aí com muita história boa pra contar também.
Fim do capítulo 28
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