por Eduardo Lamas Neiva
Zé Ary desta feita é que distribui o jogo, lançando um tema à mesa de nossos 4 amigos.
Garçom: – Igual ao Dener, muitos craques brasileiros partiram da Terra muito cedo, né?
Sobrenatural de Almeida: – Com morte eu nunca me meti, nem olhem pra mim. Minha influência sempre foi só dentro do campo. E nunca pra machucar ninguém.
João Sem Medo: – Você disse que de mata-mata entende, Almeida.
Todos riem.
Sobrenatural de Almeida: – Sim, matar time, goleiro, atacante, torcedor no sentido figurado, está aqui o Ceguinho pra não me deixar mentir. Em cada lance que interfiro é um Deus nos Acuda!(dá sua risada medonha)
João Sem Medo: – Então tá bom. Mas agora o papo é sério e não tem sentido figurado. Alguns foram embora no auge de suas carreiras. Como o Eduardo, ponta-esquerda muito habilidoso que jogou no América do Rio e foi depois pro Corinthians e acabou morrendo num acidente de carro, lá na Marginal do Tietê.
Idiota da Objetividade: – No acidente automobilístico, ocorrido no dia 29 de abril de 1969, também faleceu Lidu, lateral-direito. O Corinthians fazia bela campanha no Campeonato Paulista de 1969, quando os dois faleceram.
Garçom: – Parece que teve um problema com o Palmeiras depois…
João Sem Medo: – Foi feia a coisa, muito feia.
Idiota da Objetividade: – Com a perda dos dois jogadores, o Corinthians pleiteou junto à Federação Paulista a contratação de substitutos, o que só seria permitido pelo regulamento com a unanimidade dos outros clubes, pois as inscrições para a competição já haviam se encerrado. Quase todos concordaram, apenas o presidente do Palmeiras na época, Delfino Facchina, votou contra. Revoltado, o presidente do Corinthians, Wadih Helu, chamou o palmeirense de porco.
João Sem Medo: – Merecidamente. Foi até pouco.
Ceguinho Torcedor: – Na primeira partida entre os dois times depois deste episódio, soltaram um porco no gramado do Morumbi e a torcida do Corinthians começou a gritar “Porco, Porco”.
Garçom: – Que atitude feia do presidente do Palmeiras.
Ceguinho Torcedor: – Muito. Mas muitos anos depois a torcida do Palmeiras resolveu adotar o apelido e a história ficou meio apagada.
Músico: – Já que o assunto é a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, vamos chamar de volta ao palco o Teixeirinha?
É aplaudido novamente.
Teixeirinha: – Em matéria de rivalidade, eu e minha amiga Mary Terezinha, que está lá no Mundo Material, entendemos muito bem. Vamos então de “Bom de Bola”, de minha autoria, música que gravei no LP “Carícias de amor”, lançado em 1970, o ano do tri. Não reparem nas “ofensas”, por favor. Hahaha
Todos riem.
Muitas risadas durante a música e aplausos gerais ao fim.
Teixeirinha: – Muito obrigado. E a palavra volta ao comando de quem?
Todos, em uníssono, imitando a antiga vinheta da Rádio Globo do Rio de Janeiro: “João Saldaaaaanha!” João Sem Medo ri, faz seu sinal característico para Teixeirinha e inicia sua fala como começava seus comentários nos áureos tempos de rádio.
João Sem Medo: – Meus amigos, o Flamengo era chamado de urubu por torcedores adversários. Era um apelido racista, fazia referência ao grande número de negros na torcida rubro-negra. Mas quando os flamenguistas assumiram o urubu como mascote, os rivais se esqueceram do apelido pejorativo e racista. Foi mais ou menos o que a torcida do Palmeiras fez em São Paulo, embora o motivo do apelido fosse bem diferente.
Sobrenatural de Almeida: – O apelido acabou num jogo contra o teu Botafogo, João.
Ceguinho Torcedor: – É verdade!
Idiota da Objetividade: – No dia 1º de junho de 1969, Flamengo e Botafogo se enfrentaram no Maracanã pelo Campeonato Carioca daquele ano. O time rubro-negro não vencia o alvinegro há nove jogos e seus torcedores continuavam ouvindo dos torcedores rivais que eram “urubus”, pelos motivos que o João já mencionou. Mas naquele domingo, alguns torcedores do Flamengo pegaram um urubu num lixão e levaram para o Maracanã. Antes de os times entrarem em campo, a ave foi solta com a bandeira do clube presa a uma das patas e os rubro-negros no estádio foram à loucura gritando “é urubu, é urubu”. O Flamengo acabou com o jejum vencendo por 2 a 1 e, com a charge do rubro-negro Henfil no Jornal dos Sports, o urubu passou a ser adotado como um dos símbolos do time.
Garçom: – Sobre outro Flamengo x Botafogo, de muitos anos depois, a final do Campeonato Brasileiro de 1992, Edu Kneip descreveu musicalmente em “Baile do Urubu”. Vou pôr aqui em especial pros flamenguistas aqui presentes, mas quem não é pode curtir também.
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