por Eduardo Lamas Neiva
Com o fim da música “Pacaembu” nas caixinhas de som, muitos aplausos. Antes que cessassem, Idiota da Objetividade é ligeiro e retoma a pelota.
Idiota da Objetividade: – Além do Pacaembu, também houve partidas no Estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre; no Durival de Brito, em Curitiba; na Ilha do Retiro, no Recife; no Independência, de Belo Horizonte, e, claro, no Maracanã, construído especialmente para aquela Copa, a primeira depois da Segunda Guerra Mundial.
Sobrenatural de Almeida: – Ah, lá no Independência eu aprontei a maior zebra da História: Estados Unidos um, Inglaterra zero.
Idiota da Objetividade: – Mas nenhum dos dois times se classificou para a fase final. A classificada no Grupo 2 foi a Espanha.
Todos (de pé, alegremente, brindando): – “Eeeeeeeeu fui às touradas de Madri, pararatibum-bum-bum, pararatim-bum-bum-bum”!!!
Enquanto a turma toda canta, dança e batuca a marchinha gravada 12 anos antes por Almirante e a Orquestra Odeon, e que fez muito sucesso em 1949, com Carmen Miranda, a Pequena Notável voltava ao palco, desta vez com João de Barro, o Braguinha, e ambos são muito aplaudidos. O público não para de cantar o refrão de “Touradas em Madri”, até que Braguinha pega o microfone para se dirigir aos presentes.
Braguinha: – Muito obrigado, minha gente. Naquele dia eu chorei na arquibancada do Maracanã. Chorei de emoção. E se vocês não pararem eu vou chorar novamente.
Todos riem e o aplaudem. A música começa e todo mundo em pé canta e dança junto com Carmen Miranda e Braguinha. Uma festa completa.
Ao fim, a ovação é enorme. Carmen Miranda e Braguinha deixam o palco, sendo cumprimentados e cumprimentando quem estivesse pela frente. Zé Ary se apressa e anuncia.
Garçom: – Vou localizar aqui no nosso rádio do tempo a narração do Antônio Cordeiro, da Rádio Nacional, justamente naqueles minutos finais de Brasil e Espanha. Dá pra ouvir um pouco o público cantando ao fundo.
Ceguinho Torcedor: – Agora o Braguinha vai chorar lágrimas de esguicho!
Garçom: – Achei! Aqui está!
Todos ficam emocionados, o público aplaude, volta a cantar, e Braguinha chora copiosamente de novo, como se estivesse outra vez na arquibancada do Maracanã. É abraçado por amigos e louvado por todos:
“Braguinha, Braguinha, Braguinha…”
Ceguinho Torcedor: – Que dia, que espetáculo, que goleada, que maravilha aquele povo todo no Maracanã cantando e a seleção dando um baile na Espanha…
João Sem Medo: – Um dia muito especial pro nosso futebol, sem dúvida alguma.
Músico (no palco): – E pra nossa música também, seu João.
João Sem Medo e os demais concordam. Após a euforia, alguns devem ter se lembrado do que ocorreu no jogo seguinte e se aquietaram. Zé Ary não deixou a bola cair e pediu que os amigos seguissem em frente no bate-papo.
Idiota da Objetividade: – Esse jogo contra a Espanha foi o segundo da seleção brasileira na fase final da Copa do Mundo de 1950. No primeiro jogo, uma goleada ainda maior: 7 a 1 sobre a Suécia.
Sobrenatural de Almeida: – No dia em que a seleção brasileira derrotou a Espanha por 6 a 1, tinha de 152 mil pagantes no Maracanã. Pagantes e delirantes. Assombroso! (dá sua risada medonha)
João Sem Medo: – Tinha muito mais gente. Umas duzentas mil. Tinha gente saindo pelo ladrão.
Todos concordam. Houve quem dissesse: “Muito mais até!”
Fim do Capítulo 15
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