por Zé Roberto Padilha
Essas fotos são da nossa conquista em Cannes, em 1971, 2×0 em cima da seleção francesa, dois gols de Enéas, da Portuguesa, Mundial Sub-20.
Com uma entorse no tornozelo, joguei as seis partidas com botinha de esparadrapo e meu esforço não foi recompensado. Para a CBD, era o último teste para quem iria à Olimpíadas de Munique, seis meses depois.
E fui cortado pelo DM e meus quatro companheiros de conquista, Abel, Nielsen, Marco Aurélio e Rubens Galaxe partiram e realizaram o sonho de todos os atletas.
Sem graça, fiquei escondido em casa e faltei aos treinos. E tratei de estudar Direito na Universidade Gama Filho. Eles voltaram sem o título, e eu os reencontrei com o O Capital, de Karl Marx, debaixo do braço.
Phudeu.
O cotidiano deles, nem tanto, mas o meu virou de cabeca pra baixo. Passei a levar para as Laranjeiras, onde ficamos jogando por sete anos, a Constituição debaixo do braço. E colocava, nos quartos da concentração, O Pasquim, Opinião e Movimento no lugar das revistas de futilidades, como Querida e Amiga.
Bicho igual para roupeiro e massagista, término da concentração, anistia para o Mario Sérgio por ter tirado a calça e colocado a bunda fora da janela…comecei a me meter em todas as causas. E não eram poucas.
Se eles soubessem o “monstro” que criaram me deixando por aqui, me levariam mesmo com botinha de esparadrapo para disputar as Olimpíadas.
Evitariam que defendesse, dali pra frente, direitos sociais e trabalhistas que poucos, como Afonsinho e os heróis da Democracia do Corinthians, ousavam defender. Evitariam que um ponta esquerda ocupasse a ponta esquerda das lutas democráticas, como as Diretas Já, a Anistia, quando saísse dali.
Evitariam que, tantos anos depois, levasse tantas pancadas da hipocrisia política quantos a que levei por procurar incessantemente a linha de fundo. E por isso quase toquei o fundo.
Me levar pra Munique, enfim, seria melhor pra todo mundo.
O homem é bem superior ao jogador
Deu azar pra quem tinha LULA, ZEZE e tato é difícil lembra-lo como jogador.