por Marcos Vinicius Cabral
Os olhos de Marcos Vinicius exaltavam cada gesto de Flávio, camisa 10 e craque do Pouca Rola Futebol Clube.
Desde a colocação das ataduras até o aquecimento, o garoto não parava um minuto sequer de admirar o Apolo – que por ter os atributos da jovialidade, rosto liso e corpo atlético, é considerado o “Deus da Beleza” na mitologia grega – enquanto atuava.
O garoto, então com 17 anos naquele 1990, tinha como hobby assistir os triunfos de Ayrton Senna na Fórmula 1, aos filmes de Arnold “O Exterminador do Futuro” Schwarzenegger e Sylvester “Rambo” Stallone, além é claro, jogar bola.
Demonstrando aptidão pelo esporte que, segundo historiadores, foi criado no século 3 a.C na China e aperfeiçoado por ingleses séculos mais tarde, o jovem sagraria-se Campeão do 1° Campeonato de Novos, defendendo as cores do Viradouro naquele ano.
Ninguém o chamava de Marcos Vinicius, era Marquinhos para os mais íntimos e Lito para os que jogavam com ele.
Um ano depois, exatamente no dia 14 de setembro de 1991, foi morar no Boa Vista em São Gonçalo, município considerado celeiro de artistas da bola.
Na rua onde fixou residência, se entrosou muito rápido com os boleiros, foi conhecendo aos poucos um a um através de suas histórias e sepultou de vez Lito, renascendo de vez para o futebol simplesmente como Marcos.
Ouviu sobre Renivaldo e seus milagres através da plasticidade de seu corpo franzino, porém, que se agigantava quando vestia as luvas.
Escutou também sobre a versatilidade de Naldo na lateral-direita; da colocação apurada de Jorge Mingau e Birinha à frente da grande área; da raça incontida de Cemir, Adilson e Concreto; dos habilidosos Marco Pesão, Tiano, Zezé, Polaco e Gato; e do goleador Antônio Carlos.
Mas nenhum deles chegou perto de Paulo Rubens de Almeida (1958-1995), o maior nome dos campos goncalenses.
Conhecido por “Paulo Rubi” (por ser uma pedra preciosa raríssima difícil de ser encontrada), esse homem poderia ser chamado também de “Diamante Negro” como o inventor da bicicleta Leônidas da Silva (1913-2004), tamanha categoria demonstrada nos campos.
Mas se escutar é diferente de ver, Marcos sentiu na pele a primeira vez que viu “Paulo Rubi” em ação no extinto Campo do Aterro, no Boa Vista.
– Era meu primeiro jogo com eles. Osiel me alertou durante a semana inteira para não ir de primeira nele! – diz Marcos Vinicius de 45 anos, sobre a lambretinha que tomou de Paulo Rubens na primeira bola que foi em cima do craque.
Se a “lambreta” ou “carretilha” tem como inventor o ex-jogador Kaneco (1947-2017) do Santos que aplicou o drible pela primeira vez na Vila Belmiro no Campeonato Paulista, em 09 de março de 1968, ocasião em que o Santos goleou o Botafogo de Ribeirão Preto por 5 a 1, Paulo “Rubi”, certamente foi o patenteador dessa magistral jogada.
Belas manhãs e tardes, em que o jogador era ovacionado quando aplicava a “lambreta” em algum adversário.
Muitos iam para o campo apenas para vê-lo jogar.
– Paulo Rubem foi um dos maiores jogadores de várzeas que vi jogar. Me ensinou muita coisa, além é claro, de ter sido um dos maiores seres humanos com claro, de ter sido um dos maiores seres humanos com o qual tive a felicidade de conviver! – elogia o amigo Marcos Aurélio Martinelli de 58 anos.
Lamentavelmente, essa magia dentro de campo e essa grandeza fora dele, foram interrompidas em novembro de 1995 na rodovia Niterói-Manilha (BR-101) na altura do bairro Boa Vista (Km 314).
Partiu muito cedo, aos 37 anos de idade, mas mesmo assim permanece nos corações dos apreciadores do futebol arte onde artistas como ele são cada vez mais raro de se encontrar.
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