por Zé Roberto Padilha
Na década de 70, não era fácil alcançar o elenco principal com a naturalidade com que, hoje, os Matheus, Matheuzinhos e Matheusões vão chegando aos profissionais.
Os jogadores passavam décadas em seus clubes, o torcedor sabia a escalação de cor e um Lula, que jogava na minha posição e jogador de seleção, era praticamente o dono da camisa 11.
Jogava apenas em amistosos e quando ele estava cedido à seleção. E foi na decisão desse título carioca (foto), de 1971, contra o Botafogo, quando tinha 19 anos, que aprendi uma lição definitiva.
Ganhamos de 1×0, gol do Lula no finalzinho do jogo. Estava no banco e como torcedor tricolor desde criança, saí vibrando. E todas as cobras criadas, só tinha eu de bebê, me deram um pito. Ivair, o Príncipe, então, me fuzilou com seu cetro e sermão.
– Menos, garoto! Segura sua onda!
Fiquei sem graça. E riram de mim.
Mais tarde, Paulo Lumumba, chefe do banco, reserva do Assis, me passou o manual de instruções. Nele estava escrito:
Vibre com moderação. Se o time ganhar, o técnico não vai mexer porque não se mexe em time que está ganhando. E você vai continuar na reserva.
O item dois avisava que se quem atuasse na sua posição se saísse bem, você não ia entrar em campo para mostrar o seu futebol. E teria problemas para renovar seu contrato.
Já o três mostrava o modo de usar:
Cruze os dedos e dê uma secadinha. De leve, para ele errar o passe, perder um gol feito. A seguir, orar baixinho para que uma leve lesão o tire de campo. Nada de fratura, uma distensão resolvia. Ou uma expulsão.
Aos poucos fui compreendendo melhor a profissão que havia escolhido. Na luta de centenas de jogadores, em busca de um lugar em campo no país do futebol, valia tudo para que a oportunidade fosse concedida. Menos torcer.
Era melhor quando estava com minha bandeira nas arquibancadas. Mas tive paciência e ele foi vendido ao Internacional. E nunca mais ocupei o banco de reservas.
O lugar mais cínico, hipócrita, frio e calculista que conheci no futebol.
Muito boa sua crônica, expôs a realidade nua e crua.
Me lembrei de vc Zé Roberto e concordo, para tomar o lugar do Lula era muito difícil.
Boa sorte
Saudações Tricolores
Escreve muito bem !! Textos interessantes e curiosos . Parabens!!
Merece ser titular em jornais de primeira linha .Como e’ canhoto caberia bem em meia pagina na esquerda da folha todos os dias .Abs
Um dos melhores times do Fluminense: Félix, Oliveira , Galhardo, Assis e Marco Antônio, Denilson e Didi, Cafuringa, Flávio , Samarone e LulaLuiz