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um lugar onde torcer era proibido

26 / outubro / 2022

por Zé Roberto Padilha

Na década de 70, não era fácil alcançar o elenco principal com a naturalidade com que, hoje, os Matheus, Matheuzinhos e Matheusões vão chegando aos profissionais.

Os jogadores passavam décadas em seus clubes, o torcedor sabia a escalação de cor e um Lula, que jogava na minha posição e jogador de seleção, era praticamente o dono da camisa 11.

Jogava apenas em amistosos e quando ele estava cedido à seleção. E foi na decisão desse título carioca (foto), de 1971, contra o Botafogo, quando tinha 19 anos, que aprendi uma lição definitiva.

Ganhamos de 1×0, gol do Lula no finalzinho do jogo. Estava no banco e como torcedor tricolor desde criança, saí vibrando. E todas as cobras criadas, só tinha eu de bebê, me deram um pito. Ivair, o Príncipe, então, me fuzilou com seu cetro e sermão.

– Menos, garoto! Segura sua onda!

Fiquei sem graça. E riram de mim.

Mais tarde, Paulo Lumumba, chefe do banco, reserva do Assis, me passou o manual de instruções. Nele estava escrito:

Vibre com moderação. Se o time ganhar, o técnico não vai mexer porque não se mexe em time que está ganhando. E você vai continuar na reserva.

O item dois avisava que se quem atuasse na sua posição se saísse bem, você não ia entrar em campo para mostrar o seu futebol. E teria problemas para renovar seu contrato.

Já o três mostrava o modo de usar:

Cruze os dedos e dê uma secadinha. De leve, para ele errar o passe, perder um gol feito. A seguir, orar baixinho para que uma leve lesão o tire de campo. Nada de fratura, uma distensão resolvia. Ou uma expulsão.

Aos poucos fui compreendendo melhor a profissão que havia escolhido. Na luta de centenas de jogadores, em busca de um lugar em campo no país do futebol, valia tudo para que a oportunidade fosse concedida. Menos torcer.

Era melhor quando estava com minha bandeira nas arquibancadas. Mas tive paciência e ele foi vendido ao Internacional. E nunca mais ocupei o banco de reservas.

O lugar mais cínico, hipócrita, frio e calculista que conheci no futebol.

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4 Comentários

  1. Tadeu cunha

    Muito boa sua crônica, expôs a realidade nua e crua.

    Responder
    • Luiz Mauro Silva

      Me lembrei de vc Zé Roberto e concordo, para tomar o lugar do Lula era muito difícil.
      Boa sorte
      Saudações Tricolores

      Responder
  2. Ricardo Costa

    Escreve muito bem !! Textos interessantes e curiosos . Parabens!!
    Merece ser titular em jornais de primeira linha .Como e’ canhoto caberia bem em meia pagina na esquerda da folha todos os dias .Abs

    Responder
  3. Luiz Alberto

    Um dos melhores times do Fluminense: Félix, Oliveira , Galhardo, Assis e Marco Antônio, Denilson e Didi, Cafuringa, Flávio , Samarone e LulaLuiz

    Responder

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