por Zé Roberto Padilha
Em 1971, aos 19 anos, fiz minha estreia nos profissionais durante a Taça Guanabara. E quando Lula voltou da seleção, retornei para o banco de reservas. Não era um lugar de fácil acesso.
As gerações duravam décadas, dava para o torcedor decorar o time titular e a Panini lançar seu álbum de figurinhas. Felix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antonio; Denilson e Didi; Wilton, Flavio, Samarone e Lula. Quem não se lembra? E qual juniores tinha acesso ali?
Aí veio a decisão com o Botafogo. E quando Lula aproveitou que não havia o VAR e o choque do Marco Antonio com Ubirajara entrou para a história carregando toda a polêmica, eu dei um grito no banco e vibrei muito com o gol que nos concedeu o titulo.
Aí os bancários, cobras criadas, me deram um pito:
– Psiu, menos juvenil!
– Mas eu sou tricolor! – respondi!
– Lugar de torcedor é nas arquibancadas. Aqui é para dar uma leve secada. Nada grave, fratura nem pensar. Mas uma distensão leve, um estiramento em quem joga no nosso lugar ajuda a sair daqui.
Antes que respondesse, completaram:
– Ou você quer ficar aqui com a bunda quadrada, desconhecido da torcida e da mídia?
A partir desse dia não deixei de ser tricolor. Apenas passei a olhar minha paixão com um outro olhar, não mais pela emoção, mas pela luta dos meus companheiros pela sobrevivência.
Daqueles amigos que vieram do nada, mudaram a vida dos seus, que vestiam sua camisa e não tinham uma outra opção a não ser vencer em nossa concorrida e cobiçada profissão.
E essa, em uma tarde de domingo, nos impediu de gritar, como tricolor, um gol suado que nos deu o título.
Talvez tenha sido o único episódio em que abriria mão da minha luta e voltaria feliz pro meio do pó-de-arroz, que subia livre, leve e solto pelas arquibancadas campeã carioca de 1971.
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