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UM DIA NO FUTEBOL PAULISTA PROFISSIONAL DA SEGUNDA DIVISÃO

14 / março / 2019

por Luca Nieri


Semana que vem tem jogo da Briosa, vamos? Quando é, no final de semana? Sim, é domingo. contra quem é, você sabe? Sim, contra o Água Santa. Nossa, o time que botou 4 no Palmeiras. Vamos muito. Mas que horas é o jogo? 10h da manhã. Cedo, ein? Nossa senhora. É, realmente. Mas vai ser daora, pô. Vamo lá. Tá bom, vamos então.

E assim começa um aventura na segunda divisão do Campeonato Paulista. Excelente segunda divisão, aliás. Não necessariamente pela técnica, mas por tudo que envolve estar em um estádio às 10 horas da manhã de um domingo, debaixo de um sol de 40º para assistir a um time que, claramente, não dará o ar de sua graça.

A aventura se sucede à escolha do lugar. Vamos ao pacote completo, com arquibancada, sol na nuca e muito suor? Ou podemos dar o luxo de assistir na arquibancada coberta? Ah, vamos na coberta, melhor, né?


E fomos na coberta. Só não avisaram que não era coberta apenas do sol, mas sim daqueles personagens portugueses de dicionário. Bigodes, amendoins e palavrões eram maioria por lá. Desde torcedores fanáticos, passando por famílias mais tranquilas, até crianças brincando de pega-pega se viam presentes. Tudo faz parte do show. Uniformes de todos os tipos, tamanhos e épocas. Amarelados pelo tempo e pelo estresse do cotidiano de se torcer. Gastos pelas horas em arquibancadas e pelo excesso de lavagens, com lágrimas de choro e lágrimas de chuva. Cabelos brancos, cabelos pretos, longos, curtos, cacheados ou cortados na régua. Tem de tudo. Tem para todos. Camisas do Palmeiras, camisas do Santos, camisas do São Paulo e camisas da seleção. A série A2 do Paulista não veio para brincar: ela realmente é para quem quiser.

Por enquanto está tudo lindo, está tudo poético. Mas e quando o juizão autoriza o início da partida? Acho que era melhor ter continuado no plano do encanto. Culpado de tudo mesmo é o senhor árbitro, que deixou um jogo como aquele acontecer. O que falta na habilidade, sobra no absurdo. Jogo lento, linhas postadas parecendo colunas, e jogadores, digamos, medianos. Era realmente uma batalha de gladiadores. Havia muita garra! Isso não se pode negar. Mas futebol, às vezes, também é sobre técnica, não? Infelizmente sim. Fortunados seríamos se apenas precisasse de força de vontade para jogar bola. Seríamos, ainda com mais certeza, o país do futebol. Mas futebol é feito de gols. E gols são feitos de chutes, tabelas, cruzamentos e cabeçadas. E, pode-se dizer que a série A2 do Paulista deixa a desejar em alguns desses quesitos. Mas só alguns, eu prometo. As cabeçadas, caneladas e cruzamentos há de montão. Fiquem tranquilos!


Por isso, não ousem falar mal da minha segundona. Da nossa segundona! Time grande cai sim, lógico que cai. O que a Briosa está fazendo lá? E Juventus da Mooca, Nacional e Jabaquara? Não são times gigantes? É claro que são. Basta fazer um tour pelos estádios do interior. Vá a um jogo no Javari para entender o que é amor. Venha ao Ulrico Mursa, assistir à nossa gloriosa Briosa, para entender o que é paixão.

Assim, tentando eu entender o que é paixão, dentre todas as coisas que me passaram pela cabeça enquanto assistia ao jogo, um pensamento era o mais presente: por quê? Por que havia cerca de 3 mil pessoas lá? Por que alguém torce, grita e xinga pela Portuguesa Santista? Por que alguém apoia a Portuguesa Santista? Vale a pena?

Mas peraí. Desde quando o futebol precisou de um porquê para existir? Desde quando torcer para um time de futebol fez algum mísero sentido? Desde quando foi sobre “valer a pena”? Ora, tudo vale a pena se a alma não é pequena, já dizia o poeta. E a alma do esporte é gigante. A alma do torcedor é inabalável. A alma do estádio é inquebrável. E assim, o futebol respira. E sobrevive. Em domingos matinais ensolarados ou em fins da tarde nas novas arenas. Com 3 ou com 30 mil pessoas no palco do espetáculo. Fazendo o show. Assistindo ao show. Participando e torcendo. Sendo parte fundamental do todo. Sem precisar de um porquê.

Pois, no final, no meio das gritarias, dos xingamentos e dos “puta, mas esse cara não dá! ele não é jogador nem aqui nem na China”, há uma beleza quase que divina nisso tudo. Um sentimento inexplicável que move todo esse contexto. O futebol é maravilhoso por causa disso. Ele não precisa de glórias e conquistas para existir. A conquista somos nós. Os títulos são consequência dos nossos gritos. Da nossa paixão. Da nossa fidelidade. Afinal, a busca por um porquê nasce daqui, da literatura e da caretice. O torcedor não precisa de um porquê. Um torcedor não precisa de um gol. Um torcedor precisa do futebol. E o futebol precisa do torcedor.

viva o futebol de arquibancada de concreto&
viva o futebol de domingo de manhã&
viva o futebol do interior&
viva o eterno ódio ao futebol moderno.

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