por Claudio Lovato
Sem bandeiras, sem trapos, sem música.
Foi uma decisão do Ministério Público para punir a Organizada. Todos sabiam que aquilo era resultado de uma velha rixa com a Polícia Militar. No último episódio, um integrante foi agredido sem que ninguém entendesse o motivo. Então vieram dois, três, 10, 30 companheiros em seu socorro. E, agora, é isto: sem bandeiras nem trapos nem banda na final do estadual contra o arquirrivalhistórico.
Eles foram chegando em silêncio e ocuparam seu espaço atrás de um dos gols.
O primeiro gol demorou a sair, mas, depois dele, logo vieram outros dois. E assim terminou o primeiro tempo: três a zero e um banho de bola.
No segundo tempo, o baile continuou, e o time logo chegou aos quatro a zero.Então, aos 20 minutos de jogo do segundo tempo, uma movimentação diferente teve início no espaço destinado à Organizada.
Eles tiraram a camisa do time, abriram-nas ao lado (o lado em que, na noite anterior, haviam cortado com tesoura e costurado de novo, costura bem leve e propositalmente precária) e então tiraram os cintos e os passaram pela fenda que também haviam feito com tesoura, na altura da etiqueta, e depoiscomeçaram a girar suas improvisadas bandeiras sobre a cabeça, todos eles, girando suas camisas cortadas e descosturadas como se fossem bandeiras e quando o time fez o quinto gol eles começaram a entoar seus cantos com o máximo de potência que seus pulmões e gargantas e paixão permitiam e de repente surgiram trapos, um, dois, três, dez, camisas amarradas umas nas outras descendo do último ao primeiro degrau lá embaixo e então todos no estádio se levantaram e os aplaudiram e cantaram os cantos há muito tempo conhecidos de todos, e eles seguiram em festa de cantos, camisas, bandeiras, trapos, celebrando as cores e o escudo do clube que amam – celebrando o símbolo que é maior do tudo e que não pode ser, e jamais será, silenciado, adestrado, neutralizado.
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