por Jonas Santana
“Craques novos e vendas prematuras: Por que as joias brasileiras são vendidas tão cedo?’.
Essa pergunta saiu em um dos semanários esportivos e é uma questão que já vem sendo discutida há muito tempo. Para respondê-la, temos que considerar diversos aspectos.
O principal deles é que embora nosso país seja um “celeiro de craques” é também um campeão de desperdício. Quantos jogadores brasileiros, promessas com grandes probabilidades de sucesso, já foram rejeitados ou excluídos quando na busca de oportunidades nos clubes de futebol? Mesmo entre os das categorias de base, poucos ou nenhum são aproveitados pelos clubes preferindo-se, na maior parte das vezes, apostas em “medalhões” ou em “salvadores da pátria”.
Ora, se o atleta não é valorizado em sua própria casa, como podem exigir que ele seja fiel quando surge uma oportunidade de mostrar seu valor, ainda mais se essa oportunidade vier traduzida em euros? Por ser o Brasil mundialmente conhecido como gerador de jogadores de qualidade os clubes, principalmente europeus, vem “garimpar” jogadores com talento, geralmente com baixo custo e com retorno financeiro garantido.
Aliada a esses fatores, a possibilidade de ganho, geralmente para pagar dívidas deixadas por gestões anteriores (pelo menos é o que dizem) ou mesmo a possibilidade de obtenção de lucro advinda da comercialização de atletas, incentiva o dirigente a se desfazer do que seria quiçá uma solução para os problemas do clube em longo prazo, não se importando com os investimentos feitos na base. Há que se ressaltar também que a centralização do futebol apenas nos grandes centros, a ausência de um plano nacional para categorias de base, o apoio, no caso a ausência dele, para os clubes que trabalham com essas categorias, funcionam como instrumentos auxiliares ao êxodo de grande parte dos jogadores que começam a despontar nos nossos clubes.
Desta forma, muitos clubes europeus estão preenchidos com jogadores brasileiros e muitos até com contrato de crianças, que desde já se vêem na obrigatoriedade de “virar adultos” antes do tempo. Parafraseando Daniel Alves quando falou que jogar futebol era “apenas crianças brincando de bola”, o que de uma maneira metafórica tem todo sentido, o esporte tem que ser um prazer, não uma obrigação por conta de euros ou reais, embora exija disciplina própria da atividade.
Em um artigo escrito anteriormente e publicado no Museu da Pelada (museudapelada.com) falei no sonho de muitas crianças e jovens no sentido de que eles encaram a profissão como uma maneira de proporcionar uma vida melhor aos seus. E é com o pensamento de que “lá fora” essa chance se concretize, ainda que em times com pouca ou nenhuma expressão, mas com possibilidades reais de ser descoberto, que esses jovens se lançam na aventura, muitas das vezes sem garantia alguma e se desfazendo muitas vezes também de bens ou contraindo dívidas para sonhar.
Dizem que brasileiro só tranca a porta depois de roubado. Embora seja um ditado pessimista ele é uma verdade quando se refere ao futebol. Nossos dirigentes ainda não atentaram para o perigo do êxodo. Além disso, muitos entendem que investir na base “é custo” e que não “vale a pena” já que é investimento de longo prazo . E quando menos se espera são surpreendidos por “joias” que muitas vezes foram dispensados de uma “peneira” ou até mesmo não jogaram aqui no Brasil sendo negociados a peso de ouro lá fora e os clubes brasileiros ficam no mais das vezes a ver navios.
É tudo uma questão de visão. Investir na base é investir em sonhos e demonstra a visão do gestor. Todo menino já sonhou em ser um jogador de futebol. Mas nem todos tiveram oportunidades de ser.
As campanhas dos grandes clubes europeus principalmente tem sido cada vez mais cativantes e incentivam a cada vez mais torcedores mirins. Já não se imitam mais os Pelés, Garrinchas, e mais recentemente Cafus, Robertos Carlos, mas os Modric’s e Mbappés da vida. As camisas não trazem mais nomes como Ronaldinho, Rivaldo, Neymar, mas Hazard, Messi, etc… .
E como em todas as coisas vamos nos acostumando e se moldando a isso. E nossa “fábrica de craques” está falindo. Somente quando estivermos no fundo do poço, quando nosso último talento estiver desembarcando no “Velho Continente”, na China, Austrália ou onde quer que se “ganhe a mais”, é que se perceberá que é tarde.
Quando o Brasil do futebol começar a olhar para as categorias de base e começar a investir nos seus talentos, não digo atletas, mas principalmente profissionais abnegados que lapidam os jovens como joias preciosas talvez possamos conter o Êxodo.
Mas enquanto isso não acontece “bye bye Brasil”.
Jonas Santana Filho, gestor esportivo, escritor, funcionário público. Apaixonado e estudioso do futebol.
Jonassan40@gmail.com, Skype – jonassan50
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