por Walter Duarte
Nascido em Campos dos Goytacazes-RJ em 12/04/1957, filho da terra de origens mestiças, de origens míticas como o guerreiro indígena goitacá, Júlio César Ventura Berto, apelidado Totonho, teria a aura dos nossos antepassados que povoaram a planície extensa, na qual foram os primeiros habitantes. Sangue de índio, da raça que vendeu caro a desgraça imposta pelos colonos das Capitanias hereditárias Portuguesas do século 18. Exímios nadadores, corredores e conhecidos também como impiedosos combatentes.
Iniciou sua carreira nos juvenis e se profissionalizou do Americano FC, clube pelo qual tem respeito e gratidão, porém no Goytacaz FC que se destacou por maior período se identificando como poucos junto ao torcedor Alvi anil. Quem o viu jogar saberá da sua grande valentia e da sua empatia com o clube que defendeu por oito anos, além de dedicado treinador da base do clube.
Sua reconhecida técnica e disciplina são recordadas até hoje, com destaque histórico entre os jogadores, a exemplo de outro craque Wilson Bispo, volante clássico, companheiro em partidas memoráveis na rua do Gás. Revelou-se um personagem imortal de uma massa de torcedores na defesa do clube que tem como símbolo os intrépidos nativos.
Quem conhece o Totonho sabe da sua generosidade e simplicidade, construindo amizades marcantes ao longo da carreira, onde cita o ponta da máquina tricolor Zé Roberto Padilha, os zagueiros Folha e Abel Braga e nosso baluarte das grandes peladas, Claudio Graça. Atributos importantes que são fielmente reconhecidos até pelos adversários, como o ponta esquerda Sergio Pedro, amigo de fé, do rival Americano, outro ícone dos gramados Campistas. Muitos foram as disputas entre os dois, nos clássicos Goyta x Cano, dos áureos tempos, como nos combates pela primazia das terras e da sobrevivência dos fortes, mas com a lealdade dos nobres.
A regularidade e apoio ao ataque foram algumas de suas virtudes, que chamaram a atenção do Técnico Osvaldo Brandão, conhecido estrategista da época e ex-treinador da Seleção canarinho. Sabia como poucos arremessar a bola no lateral, projetando-a na grande área. Há quem diga que ele foi o precursor deste recurso, que tinha o efeito prático de uma cobrança de corner, talvez pelo ímpeto natural do improviso, como um disparo de uma Flecha certeira, mirando um alvo distante. Foi contemporâneo de grandes jogadores e laterais das década de 70 e 80 que o fez destacar-se e mostrar suas virtudes nos campeonatos Carioca e Brasileiro.
Esteve entre melhores de sua posição de lateral direito nos anos de 1977/78 em várias enquetes da Bola de Prata da revista Placar do “Brasileirão”, como seu fiel escudeiro, o aguerrido central Paulo Marcos. Tempos românticos de um futebol bonito e “estiloso”, que forjaram a sua boa técnica com a amálgama da miscigenação, características antropológicas dos nossos jogadores, frutos da civilização Brasileira. Não eram tempos fartos no aspecto financeiro, eram tempos mágicos, de muita dedicação e concorrência de grandes nomes de sua posição, como: Zé Maria, Toninho Baiano, Nelinho, Orlando “Léle”, entre outras feras.
Encerrou sua carreira em 1991, deixando saudade a seus fãs, seguindo a vida com a certeza do dever cumprido. A extinção da tribo Goitacá, nossos temidos e lendários ancestrais, ainda ressaltam, séculos depois as transformações ocorridas na ocupação das nossas terras, das tradições culturais e sociais, convergindo para o martírio indígena nos tempos atuais. O futebol de certa forma, também reflete essas transformações na sua essência e originalidade que agonizam com passar dotempo. Ficaram os seus descendentes na alma, no espírito de luta, eternizando a sua lenda.
Em nossos gramados os“discípulos curumins” ainda correm com a camisa azul e branca, tendo o querido Totonho a sua mais pura instância e influência para as novas gerações. Não caberia um resumo definitivo da sua carreira, dos seus jogos, das vitórias e suas derrotas, cabendo sim o nosso reconhecimento pela entrega, pela fibra e dignidade.
Obrigado impávido doce Guerreiro. Obrigado Totonho!!
“Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante/ De uma estrela que virá numa velocidade estonteante/ E pousará no coração do hemisfério sul/ Na América, num claro instante/ Depois de exterminada a última nação indígena. E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida. Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias …”Virá
Música “ Um índio “ de Caetano Veloso.
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