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tardes de zico…

8 / agosto / 2022

por Péris Ribeiro

Zico, Andrade, Leandro e Júnior comemoram no Japão. Flamengo, Campeão Mundial de Clubes de 1981

Ah! Quantas saudades… E quem não as teria, se viveu um Maracanã em tarde de Zico?

De todas as que vivi, guardo um carinho especial por duas delas: as das decisões dos Campeonatos Brasileiros de 1980 e 1983. Tardes típicas de Rio de Janeiro. Com alma bem carioca. De céu azul profundo e sol aberto convidando à praia. E bandeiras e gritos de “Flamengo!”, “Flamengo!” tomando as ruas e sacadas. Da Zona Norte à Zona Sul.

Na decisão do Brasileiro de 80, Reinaldo, praticamente com uma perna só, parecia deveras enfeitiçado. E dava a entender que poderia, com a sua genialidade, impedir a conquista tão ansiada pela torcida rubro-negra – com um simples empate, o Atlético Mineiro seria o campeão.

Mas, em contraponto a cada gol do “9 de ouro” do Galo – e foram dois -, Zico esbanjava categoria e visão de jogo. E um inacreditável poder de decisão.

Na abertura da contagem, por exemplo, fez um primoroso lançamento em diagonal, como se medido fosse à fita métrica, para o artilheiro Nunes. E, pouco depois, exibia todo o seu senso de oportunismo, ao marcar o segundo gol após um tremendo bate-rebate dentro da área atleticana – e em que os seus reflexos apurados, e aquele raro poder de decisão, é que acabaram de vez com as chances de defesa do goleirão João Leite.

Já os 3 a 2 vieram numa jogada de pura raça de Nunes, quando vivíamos a angústia dos minutos finais. Mas foi a visão de um Zico vencedor, erguendo para a torcida em delírio o troféu de campeão, que me ficou para sempre no arquivo da memória.

  • Joguei machucado. Com o pé direito enfaixado, o tornozelo inchado. Doendo pra burro! Mas, pra ver o Flamengo campeão, faria qualquer sacrifício. A alegria dessa torcida me enlouquece – diria ele depois, na esfuziante comemoração dos vestiários.

Quanto à decisão de 83, seria a última antes da sua ida para a Itália. E, por isso mesmo, estava a merecer aquele público frenético de 155 mil pessoas – recorde, até hoje, em decisões de Brasileiros.

Àquela altura, convém dizer que aquele Flamengo já havia chegado ao seu auge. Tinha se consagrado, inclusive, como Campeão do Mundo de Clubes – e da Libertadores da América -em 1981. E vira Zico ser escolhido o Maior Jogador do Ano, na mesma temporada. Porém, não em uma enquete qualquer, em algum tipo de pesquisa banal. Mas, sim, na que realizara a famosa revista italiana “Guerin Sportivo”, uma das mais conceituadas de toda a Europa. O que significa dizer que, em 1981, Zico se destacara definitivamente como o maior Jogador do futebol mundial.

Pois agora, eis que lá estava ele, mais uma vez sem as condições físicas ideais, enlouquecendo a torcida rubro-negra. Simplesmente porque, em menos de um minuto, havia surpreendido a defesa santista e o goleiro Marola, inaugurando o placar. E, como em tantas outras vezes, utilizando-se daquele seu fantástico poder de conclusão, no ato de decidir uma jogada. Na verdade, o craque ideal no momento e lugar adequados.

E, daí para a frente, não seria outro, senão ele, quem comandaria um inesquecível baile no Santos de Pita, Paulo Isidoro, Serginho Chulapa e Cia. Um baile que fez a torcida cantar e dançar o tempo inteiro, aos gritos de “Mengo!, Mengo!” e “Flamengo campeão!”. Uma agitação que só fez aumentar após os 3 a 0, com dois belos gols de cabeça de Leandro e Adílio.

Paixão para sempre, da imensa nação rubro-negra, até hoje Zico é parado onde quer que vá, para uma interminável sessão de fotos, abraços e autógrafos. E demonstra, como Pelé, a compreensão permanente do que é ser um ídolo de verdade. O sorriso é sempre aberto, simpático, e do mais grato entendimento por aquele momento. É como se estivesse a cumprir, ali, a mais nobre das missões.

É que Zico sabe que, aquelas mãos que pedem um autógrafo, um aceno, e um simples afago, muitas vezes são as mesmas que, a cada domingo, pagaram com sacrifício o ingresso só para vê-lo jogar. Os olhos que solicitam um mero sorriso são os mesmos que acompanharam os seus dramas e vitórias. Seu joelho danificado. E a taça de campeão, que ele erguia sobre a cabeça, era como uma espécie de senha, capaz de liberar de vez a louca festa de uma multidão em transe.

Sabe, enfim, que é por causa desses rostos anônimos na multidão que ele um dia foi Zico, o rei do Maracanã. Estádio que se confunde com a sua própria história, e onde ele marcou nada menos de 333 gols, tornando-se o seu maior artilheiro. Um cenário, aliás, tão especial em sua vida, que também é dele o recorde de títulos por ali, com sete Campeonatos Cariocas, oito Taças Guanabara e três Campeonatos Brasileiros. E, contando com uma meritória dose de justiça, uma heroica Taça Libertadores da América. No caso, não só pela importância da grande conquista, mas, mais do que tudo, por ter ele, Zico, marcado os gols da vitória do Flamengo ( 2 a 1 ) sobre o Cobreloa chileno, na primeira partida da série decisiva da competição – realizada exatamente no mais famoso estádio do mundo.

E é com um fecho clássico para uma bela história, que nunca é demais dizer que Zico tem, até hoje, a mais plena consciência das tardes inesquecíveis que nos proporcionou. Particularmente, as das decisões dos Brasileiros de 1980 e 1983 – aquelas que teimo em não esquecer.

Como não consigo esquecer a sua imagem, após uma daquelas irresistíveis arrancadas em ziguezague – e que acabavam, sempre, no fundo das redes adversárias. No chão, aquele bando de zagueiros empilhados, zonzos com os seus dribles. E ele, camisa 10 às costas, os esvoaçantes cabelos louros ao vento, a soltar o grito louco da comemoração. Ali bem junto da galera, colado às gerais do estádio.

O Z de Zico, afinal, como o Z do Zorro. Tremulando, implacável, em meio às bandeiras rubro-negras. Eternamente justiceiro! E para sempre, vencedor!

1 Comentário

  1. Lenilse

    Muito bem escrita!! Relembrando cada momento!! Saudades!! Parabéns!

    Responder

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