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SOLIDÃO DE UM PAÍS

13 / julho / 2021

por Rubens Lemos


O brasileiro virou povo parvo, atordoado, boquiaberto, desnorteado. O brasileiro comum, o brasileiro que perdeu a esperança-mor de combustível espiritual.

O brasileiro bom, simples, generoso, esse está em silêncio, esmagado pelo ódio dividido entre lulistas e bolsonaristas, gente que nada sabe de política e vomita recalque em redes sociais. Do Twitter, por exemplo, eu, um brasileiro que me considero convencional, me afastei faz tempo.

Para o brasileiro amorfo, nada faz diferença. Ou tanta diferença faz que ele desistiu nem cedo nem tarde demais. Entregou-se de cansaço. Quando ele liga a televisão para assistir à CPI da Covid, assiste ao espetáculo de dois senadores do naipe de Omar Aziz e Renan Calheiros.

CPI que não convoca governadores que pagaram por equipamentos vitais nunca entregues. O filho de Renan é governador. Procure no Google o que tem de corrupção sobre os dois da comissão. O brasileiro exausto vai acreditar? Não vai.

O país perdeu a natural alegria, a sua temperatura quente e a capacidade de reagir às injustiças. Não se chama mais ninguém de demagogo, mas de filho da puta e nem de incompetente, mas de corno. Esse é o Brasil de hoje alimentado pela dicotomia perversa instalada nas eleições de 2018 e que se repetirá no próximo ano.

Ou alguém acha que quem defende Delubio Soares, Palloci e Lula está preocupado em recuperar o país que sua turma mesmo arrasou e não apenas em retomar o poder?

A passividade brasileira assiste a um presidente que minimizou uma desgraçada pandemia e se atola a cada declaração furiosa. Aí, o brasileiro lulista insulta e o brasileiro bolsonarista responde agredindo. O brasileiro essencial, se cala. Para não ser agredido.

Um país com mais de meio milhões de mortos é um continente dimensional em catalepsia. Ou morto de alma. Olhando como o obtuso personagem de Nelson Rodrigues, apenas atravessando a rua sem dizer nada e arrancando comentários: “Lá vai Flodorval, o homem que foge de todo mal”.

Então, é preciso nivelar o Brasil à meio-pau moral com a seleção de Tite derrotada pela Argentina. Nenhuma surpresa. Para um time que tem Renan Loide, Danilo, Thiago Silva entregando ouro(deveria trabalhar em filmes de trens pagadores), Fred, Roberto Firmino, rapazes cheios de grana e futebol sacana.

O Brasil que perdeu para a Argentina é o Brasil gozado todos os dias pelos jornais internacionais que passo à vista pela internet. Um país ridicularizado.

O Brasil perdeu a Copa América e, sabe, o brasileiro preocupado com suas contas não perdeu o sono de sábado para o domingo nem chegou ao trabalho na segunda alimentando resenhas específicas sobre o jogo. Porque a seleção de Tite não merece do jeito que Tite não merece ser treinador da seleção.

Criaram caso porque alguém famoso ou famosa vestiu a camisa da Argentina antes da decisão e disse que torceria pelos Hermanos. A patriotada ridícula caiu em campo. Se Neymar tem jogado com a ira com que reclamou da torcida pelo adversário, a seleção não teria perdido.

E, se alguém pode chamar de sorte, Messi não jogou nada. Mas eles tem Di Maria e o ótimo De Paul, esse vai brilhar em Copa do Mundo. Nós somos caricaturas. Somos a solidão de um país.

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