A frase proferida por Dida, ídolo do Zico e outro gigante do futebol brasileiro, mostra com exatidão quem foi o gênio que brilhou no Corinthians e na seleção brasileira. Veja outros importantes testemunhos autorizados sobre o nosso saudoso “Doutor” colhidos pelo mestre do jornalismo José Maria de Aquino.
por André Felipe de Lima
Sócrates faria anos hoje. Dos grandes craques vi jogar e que já se foram é dele que sinto mais saudade. Com o “Doutor”, aprendi a gostar do futebol bonito, bem jogado e também fiquei bastante atento com a política. Hoje, dia 19, recordo opiniões sobre Sócrates ditas por feras da crônica e da bola ao repórter José Maria de Aquino, em 1979, e publicadas pela revista Placar.
O querido Sergio Noronha resumia o “Magrão” como a “simplificação do futebol” e que não havia nenhum outro em passado mais remoto parecido com o seu estilo. Ou seja, Sócrates era um sem igual para o Noronha. O treinador Flávio Costa já o achava semelhante, em estilo e físico com Ipojucan, ex-craque do Expresso da vitória vascaíno dos anos de 1940 e 50, e o gênio holandês Johann Cruyff. Lembro-me do meu pai sempre dizer o mesmo, sobretudo em relação ao Ipojucan, que magistralmente fazia passes de calcanhar como Sócrates faria décadas depois.
O escritor Ignácio de Loyola Brandão talvez tenha sido um dos mais empolgados com Sócrates quando o doutor começou a despontar no Corinthians, em 1979: “Do modo como está evoluindo, falta pouco para ser um novo Pelé. Seu modo espigado, sua postura em campo, seu modo de ver o jogo e as coisas, tornam Sócrates uma figura com características muito pessoais. Tem o tipo de genialidade que fez de Pelé e de Leônidas casos únicos. Gênio não se compara a ninguém.”
João Saldanha tinha fama de durão e exigente. E era mesmo e um pouco mais. Por isso, mandou às favas um ditador brasileiro quando o defenestraram da seleção brasileira antes da Copa de 70. Sobre Sócrates, Saldanha dizia ser o “melhor one touch man (jogador de um toque só) do mundo”. O técnico e cronista sabia das coisas, Sócrates foi um jogador de estilo refinado e rápido. A bola corria com ele sem delongas, como sempre recomendara outro mestre, o meia Didi. “Ele se parece demais com Tostão, embora seu biotipo nada tenha a ver com o daquele ex-jogador”, sentenciara o João “Sem medo”.
Ídolo maior do Zico, Dida definiu o nosso querido doutor da bola de forma poeticamente perfeita: “Sócrates é o capricho do futebol”. Brilhante opinião de um dos melhores jogadores do Flamengo em todos os tempos. Para o grande Dida, que tanto inspirou o Galinho, Sócrates se parecia bastante com Ipojucan na elegância com a bola nos pés: “Compridão. Engana muito: parece lento e não é.”
O também escritor e jornalista Roberto Drummond achava o mesmo, Sócrates e Ipojucan pareciam ser o mesmo craque, mas em épocas distintas. O mineiro foi, contudo, um pouco cético em relação ao doutor quando o craque despontara no Timão. Achava certo exagero da imprensa defini-lo como um fora de série. O jogador — criticava o jornalista — resumia-se a um “tigre de papel fabricado em São Paulo e transformado por Placar em personagem de ficção”. Ao olhar ríspido do mineiro, Magrão era apenas uma “esperança magra e alta”. Mas bastaram somente dois anos para que mudasse drasticamente de opinião: “Eu me enganei. Ele é um gênio.”
E não podemos encerrar a crônica com o velho, porém justo chavão: “Obrigado, doutor”. E obrigado também ao mestre José Maria de Aquino por ter pinçado todos estes depoimentos que ajudam a mostrar aos mais jovens que Sócrates foi um dos maiores e melhores jogadores da história do futebol brasileiro. Um gênio inquestionável.
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