por Claudio Henrique
Dos muitos milhões de “técnicos” que existem no mundo, o que mais entende e enxerga o futebol é o TEMPO. Daí eu ter sido enviado do futuro como comentarista para analisar esses jogos do passado da nossa Seleção, hoje já pentacampeã (mas, por favor, não espalhem). Vim e vi, aliás, como tantos, pois foi essa a primeira Copa transmitida em tempo real para o Brasil. E a cores, embora televisores coloridos no país sejam, nesses anos 70, tão raros quanto o número de “gols feitos” perdidos pelo Rei Pelé. E olha que nessa partida ele perdeu um, em lance que desconhecia antes dessa minha investida na máquina do tempo. A jogada jamais será selecionada entre os “melhores momentos”, embora mereça, pelo ineditismo. Mas lances memoráveis não faltaram. Vendo, enfim, os 90 minutos, certificarei ao torcedores de amanhã que foi um belo jogo esse Brasil 4 x 1 Tchecoslováquia. Abre-alas do grandioso desfile que se seguirá da nossa melhor Seleção de todos os tempos, pois acreditem: outra assim não teremos!
Devo confidenciar que no futuro dirão que esse “escrete canarinho” de 70 conseguiu a proeza de reunir entre os 11 em campo muitos “camisas 10”. De fato, vários dos craques com a amarelinha envergavam a 10 em seus clubes de origem. Mas em campo o criador dessa mística fez valer a sua autoridade. Pelé esteve mais uma vez eterno: o melhor jogador de todos os tempos. Anos depois, vou logo avisando, muitos tentarão contestar esse título irrevogável, atribuindo predicados e hipérboles a atletas como Maradona, um canhoto argentino muito bom de bola que em breve vocês conhecerão. Um cracaço, sem dúvida, que inspirou magias no esporte mas se perdeu aspirando outros feitiços. A chama insistente desta campanha contra o Rei só se apagará anos mais tarde, quando surge nos campos do mundo outro canhoto, Messi, também argentino. Desconfio que nos próximos 200 anos serão mais e mais pretensos candidatos ao trono. Talvez todos argentinos. Pobres mortais.
Mas vamos à bola rolando. Essa preta e branca, incomparável, acariciada por chuteiras que também ainda não exibem outras cores. Uma simplicidade que me fazia, na infância, acreditar que todos aqueles craques, como eu, jogavam de Ki-chute. Ainda no primeiro tempo, vimos o “negão”(expressão que uso aqui porque no futuro não me será permitido) surpreender a todos e mais alguns tentando um gol do meio campo, ao observar o goleiro tcheco adiantado. Épico. Testemunho a vocês que, no futuro, não serão poucos os jogadores que tentarão façanha semelhante, alguns com sucesso. Mas foi ali, naquele minuto sagrado da partida em Guadalarara, que pela primeira vez se viu algo parecido, tamanha genialidade. E Pelé não erra. Mesmo quando a bola não entra, seus lances ganham a História. A bola não entrou, mas foi gol. Gol do futebol.
O tento adversário, que deve ter deixado tensa a torcida brasileira (a mim não, claro, pois já conhecia esse enredo), não retratou o que víamos em campo. Sim, o Brasil não tremeu nessa estreia. Preparem-se, pois nas próximas edições do Mundial teremos primeiros jogos da Seleção infinitamente mais dramáticos. Não quero entregar o final do filme, mas, só para dar uma ideia, acreditem que daqui a quatro anos, na Alemanha, vocês terão que aturar o Brasil empatando os dois primeiros jogos, contra Iugoslávia e Escócia, e se classificando após um suado 3×0 contra o Zaire, com gol espírita de Valdomiro, nosso ponta após décadas de Garrincha e Jairzinho. Aguardem… A Alemanha, aliás, é protagonista de outro momento dramático da Seleção no futuro. Mas esse prefiro deixar em segredo. E tenho sete motivos para isso.
Todos jogaram bem, até o Everaldo, que não errou um chutão que deu na defesa e nem no ataque, isolando a pelota na arquibancada no único momento em que visitou o campo adversário. Foram perfeitas homenagens ao Sputnik dos russos (terá sido Everaldo ativista de esquerda?). Jairzinho foi um destaque. Vocês já deram a ele o apelido de Furacão? Deixa eu ver aqui no Goo.. Deixa eu pesquisar… Não, alguém ainda o batizará assim pelo fato de vir a marcar em todas as partidas no México. Foram dois nesse certame. Lindos, mas um deles fadado a ser eternamente uma incógnita na arbitragem mundial. Estaria nosso Furacão em posição de impedimento no terceiro gol brasileiro? Não temos aqui, ainda, câmeras laterais, que ajudam nessa avaliação, e nem uma tecnologia, ou melhor, uma “estrela” dos gramados que só chegará ao futebol daqui a quase 50 anos: o VAR. Outro segredo que não revelo. Mas decidirá muitos jogos.
Gerson e Rivelino também ganhariam notas altas no meu quadrinho de atuações, fosse eu o responsável em qualquer jornal brasileiro que hoje circula, mesmo sob censura. No futuro todos saberemos das notícias do futebol por uma sistema chamado Internet, sobre o qual não cabe aqui explicação _ e este “cabe” refere-se literalmente ao tamanho da resenha. E também pelo SporTV, um canal de televisão exclusivo de esporte que reprisará esses jogos em 2020, me dando a chance desta viagem ao México 70. Sim, teremos isso, um canal de esportes, podem começar a comemorar. Aliás, no século 21, de onde vim, teremos muitas coisas que vocês não desfrutam, amigos, como TV a cabo, liberdade de imprensa… Curiosamente, em 2020 também serão muitos os militares no poder. E muitos os dias em casa, confinados pela Pandemia do Corona. Mas deixemos isso pra lá. Sempre teremos a alegria de ser brasileiro. E de termos tido Pelé. E Riva, Gerson, Jair, Tostão… Que venha a Inglaterra! Eu vou às tequilas!
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