por Ivan Neguinho
No início dos anos 70, o Colégio Delta possuía um excelente time de futebol, tanto no campo quanto no salão. Prova disso é que fomos bicampeões estudantil entre escolas de Deodoro à Santa Cruz, campeonatos disputados no campo do Campo Grande. Chegou ao ponto do time inteiro, mais alguns reservas, serem aproveitados no elenco juvenil do Campusca. Com isso, abriu-se a oportunidade do Sr. Enéas, dono do Colégio, assumir o cargo de Vice-Presidente de Futebol Amador do Campo Grande. No cargo, com o seu “olhar clínico”, observou um profissional que trabalhava como massagista na Agremiação e imediatamente convidou-o para trabalhar no Delta como Inspetor e Diretor Desportivo. Ele era o SEU SANTOS!
Gente muito boa, gentil, prestativo e com um coração enorme, porém um tanto quanto “explosivo”! Amava futebol, exímio massagista e, logo entrosou-se com a galera: alunos e atletas! Nas horas de calmaria, juntava-se com o grupo e repicava um samba ou uma macumba legal! Brincava pra dedéu! Contudo, tinha dia que notávamos que ele não estava pra brincadeiras. Ficava carrancudo! Mesmo assim, nós não o deixávamos sossegado e perturbávamos!
Seu Santos era aposentado como Sargento da Polícia por motivo emocional (neuro) e com o decorrer dos anos ficou tão íntimo da gente, que nos defendia como se fôssemos seus filhos. Amor pra valer! Parte à parte! Ambos os lados! Tivemos muitas histórias em comum e muitos fatos até folclóricos, que não posso deixar de citar e elogiá-lo, em sua competência como profissional e principalmente como amigo. Em um deles, o meu cunhado Tico teve uma crise na coluna gravíssima e nem sentar-se na cama conseguia. Arrastava-se pelo chão e dormia por lá mesmo. Até que levei o Seu Santos para ver a situação do meu cunhado e ficou tão piedoso, que resolveu ajudar-nos, decidindo cuidar do Tico de forma incansável. Todos os dias, duas horas de massagens sem interrupção. Ficava exausto e banhado de suor e nunca aceitou um centavo! Graças a Deus e por seu empenho e dedicação, após dez dias de tratamento intensivo, meu cunhado ficou curado. O homem massagista era fera!
Nos jogos de futebol, defendia-nos a ponto de arriscar a sua própria vida. Certa vez, fui jogar pelo Central, em Paracambi, contra o Brasil Industrial e o Seu Santos foi como Chefe dos Massagistas. Até que um jogador do time adversário atacou-me traiçoeiramente e maldosamente pela retaguarda, quase quebrando meu tornozelo. Todos ficaram revoltados e fui retirado do gramado carregado, sem conseguir andar. Seu Santos fez os primeiros atendimentos, imobilizou o local com esparadrapo e ataduras e, mesmo sabendo que eu não tinha condições de continuar na partida, colocou-me de pé e disse-me: “Vá lá, dê uma porr… bem dada nele, e corre pra cá, na minha direção. Vou ficar com a minha “45” na mão, esperando-o”. Tentei fazer o que ele me instruiu, mas graças a Deus, para o bem de todos, não consegui pisar com o pé no chão e caí. O pernambucano era “brabo”!
Em outra ocasião, jogando em Paciência, sendo o nosso ataque habilidoso e veloz, os zagueiros deles passaram a apelar de maneira violenta e agressiva. Quase quebraram o Birinha, coitado! Agrediam sem pestanejar! Daí, meu mano Nando, resolveu “abrir a mala de ferramentas”. Passou a fazer o mesmo que a zaga dos oponentes estava praticando. Deu uma pancada tão forte no atacante rival, que o cara foi cair fora do campo, dentro do “espinhal”. Os jogadores e torcedores locais irromperam em direção do meu irmão mas, por “sorte”, quem estava lá?… Seu Santos! Com a arma em punho gritou: “Ninguém vai fazer nada no rapaz! Ele não é marginal. Ele é Militar e Professor do Estado!”. Todo mundo murchou! Seu Santos, o herói!
Contudo, como atletas do Colégio Delta, deixamos duas vezes a desejar e o envergonhamos! O Sr. Enéas não pode dirigir a equipe, então o Seu Santos ficou no comando. Parece brincadeira! Perdemos duas vezes de cinco e ele quase nos bateu. Queria que voltássemos a pé para o Colégio. O nosso time era um escrete: Rui, Fusquinha, Paim, Baiano Pou Pou, Nega, Zé Luís, Alonso, Azael, Nildo, Carlinhos Tutu, Carlinhos C. Milho, Anu…
A primeira goleada se justifica porque nós fomos pro baile no Géu, Sepetiba, e chegamos de manhã, com alguns indo direto pro campo. Já na segunda vez, foi por arrogânciamesmo. Negligenciamos! Menosprezamos um time que só tinha gordinho. Resultado: fomos eliminados e desclassificados por simpáticos gorduchinhos!
FOI DIFÍCIL JUSTIFICAR E MAIS DIFÍCIL FAZER O NOSSO AMADO E INESQUECÍVEL MASSAGISTA SEU SANTOS ENTENDER!
COISAS DO FUTEBOL E DE AMIZADES SELETAS!
E muito maneiro essas histórias primo!