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semente da derrota

1 / fevereiro / 2023

por Rubens Lemos

Na Segunda Guerra, em 1943, os presidentes Getúlio Vargas e Frankin Delano Roosevelt decidiram se unir formalmente numa artimanha decisiva para os aliados no enfrentamento a Hitler e Mussolini. E foi em Natal, o encontro épico.

Também em Natal, o técnico da seleção brasileira, Telê Santana, começou a perder a Copa do Mundo de 1982, ao mexer no time após o amistoso contra a Alemanha Oriental (Brasil 3×1), há exatos 41 anos, dia 26 de janeiro.

Telê definiu após a vitória sobre a Alemanha Comunista (havia ainda o nefasto Muro de Berlim), que o tenebroso centroavante Serginho Chulapa seria o titular em lugar de Roberto Dinamite.

Serginho entrou aos 21 minutos do segundo tempo e marcou um gol aos 39, consolidando a confiança, muito mais para teimosia, de um treinador idolatrado e cujos defeitos se equivaliam às virtudes.

Foi o primeiro jogo da seleção brasileira em Natal e a cidade estremeceu. O escrete ficou hospedado no Hotel Ducal, primeiro arranha-céu da capital em frente à Praça Kennedy, no centro da cidade. Os alemães estavam a poucos metros, no Othon Hotel que de internacional só tinha a placa.

Telê tinha dúvidas táticas. Esperava escolher o camisa 9 e o ponta-esquerda, além de observar jogadores que não eram frequentes em suas listas de convocação.

Veio a Natal, na reserva e na reserva ficou, o espetacular meia Adílio, o Neguinho da Cruzada, camisa 8 campeão mundial pelo Flamengo.

Adílio jogava por 150 Renatos Pés-Murchos, xodó de Telê Santana e autor do primeiro dos seus três gols em quatro anos presente com a camisa amarela. Desempenho de zagueiro, o de Renato, que viajaria para passear e assistir o Mundial na Espanha.

No final do ano anterior, em entrevista à revista Placar, Telê Santana escalava dois times para decidir por um para a estreia contra a União Soviética. Suspenso por ter sido expulso durante as Eliminatórias, Cerezo não jogaria contra os soviéticos.

Então, Telê dizia dois meses antes de desembarcar em Natal: “Meu time terá Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho e Júnior; Falcão, Sócrates e Zico; Paulo Isidoro, Roberto Dinamite e Mário Sérgio.

Na volta de Cerezo, que tremeu na Copa de 1978 e amarelaria igual à camisa contra a Itália em 1982, sairia Roberto Dinamite para Sócrates ser adiantado ao comando de ataque. Telê não faria uma coisa nem outra.

A equipe de esportes da Rádio Cabugi AM, campeoníssima de audiência, ocupou uma suíte, transformada em estúdio, sob o comando do narrador Marco Antônio Antunes, o Garotinho da Copa e do comentarista Rubens Lemos.

Às 15 horas, o Castelão estava praticamente lotado. Bombeiros despejavam jatos d’água nas arquibancadas para refrescar os torcedores suando e com sede.

Os portões foram fechados antes das 19 horas, para protesto dos que estavam nas filas gigantescas das bilheterias. Pagaram ingresso, 48.638 torcedores, quinto maior público dos 39 anos de vida do Castelão.

Solícito, Zico era o mais procurado para autógrafos e fotografias, atendendo com paciência os fanáticos. Questionado por insistir em Valdir Peres no gol, quando Leão do Grêmio e Raul do Flamengo estavam bem melhores, Telê tangenciava: “Leão eu só convoco para ser titular e sobre Raul eu não falo”. A implicância contra os veteranos e superiores arqueiros custaria caro na Copa do Mundo.

O Brasil jogou uma partida regular e tomou o primeiro gol aos 34 minutos, em arrancada do atacante Dorner, que chutou sem chance para Valdir Peres.

Quatro minutos depois, em lance iniciado por Mário Sérgio pela esquerda, Paulo Isidoro empatou fazendo balançar as estruturas do estádio. Renato Pé-Murcho virou aos 7 minutos do segundo tempo e Serginho Chulapa completou o placar.

Em Natal, Telê fechou questão por um frangueiro, um péssimo centroavante, afinal jocosamente apelidado de “o melhor zagueiro da Copa” e barrou o genial Mário Sérgio, muito melhor do que o cansado Dirceuzinho das Copas de 1974 e 1978. A guerra consagrou Parnamirim, base militar vizinha à capital , como Trampolim da Vitória. Natal foi a Semente da Derrota, pela intransigência de Telê Santana.

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2 Comentários

  1. Tadeu cunha

    Em futebol ter a pretensão de ser dono da verdade é o atalho mais curto para o desastre, Tele um craque como jogador ,porém como técnico muito discutível,ótimo artigo Caro Rubens.

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  2. Eliseu

    Ótimo texto. A maioria colocou Tele no Olimpo, e raramente lhe fazem críticas. A geração de 82 era sensacional. Mas a seleção era cheia de erros e teimosias do Tele. Só poderia dar errado.

    Responder

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