por Luis Henrique Marques
Era uma segunda-feira, dia 23 de maio de 1983, às 7h da manhã, foi a última vez que pude vê-lo vivo.
Tínhamos passado um belo domingo, eu, minha mãe e ele. Teve almoço, frango assado com arroz e salada, suco da fruta feito pela minha mãe e de tarde o primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro daquele ano, era Santos e Flamengo. Almoçamos, descansamos e assistimos o jogo, que teve uma derrota do Flamengo por 2 x 1. Eu disse:
– Pai, semana que vem é no Maracanã, não é? – e ele respondeu que era e que estaríamos lá para ver.
Veio o dia seguinte, me arrumei para ir à escola, papai botou o terno com as suas abotoaduras que guardo até hoje, pegou a pastinha marrom dele, sapato brilhando, entrou no carro e foi dar o seu expediente no escritório Tozzini.
Fui para a escola, me senti estranho a manhã toda, acabou a aula e eu voltei para casa. Quando eu cheguei em casa, a primeira coisa que minha mãe disse, foi que alguém esteve na casa, mas ela não sabia quem era, não havia ninguém. Naquele tempo não tínhamos telefone em casa, pois custava o preço de uma casa.
Almoçamos, eu e minha mãe, pois depois eu descansaria para fazer os deveres de casa. Por volta das 14h, sem mais e nem menos, apareceu o meu primo Francisco, ele estava estranho, uma expressão esquisita, mas eu só tinha 8 anos, como poderia perceber o que era? Depois, apareceu minha prima Geni com o seu marido Joasi, muito amigos nossos e, nos disseram que tínhamos que ir até o Centro de Niterói, pois meu pai havia passado mal.
Chegamos lá e todos olharam para nós e falaram com muito cuidado que meu pai, com apenas 39 anos de idade, havia falecido naquele dia, naquela manhã, às 8h, logo depois de se despedir de nós. Ele infartou dentro das Barcas Rio – Niterói, bem no meio da travessia, inclusive tendo a barca que voltar a Niterói.
Quando recebi a notícia, senti o maior buraco do mundo se abrindo aos meus pés, um buraco que até hoje eu não sei a dimensão dele.
A vida seguiu, mas nunca consegui suprir a sua ausência, a do meu pai, aquele no qual eu sempre tive como ídolo.
Na semana seguinte, o seu e o nosso Flamengo, reverteu o resultado, e fomos Tri- campeões Brasileiros, mas não teve graça pra mim.
Pai, eu continuo sendo aquele seu garotinho, aquele que adorava pedalar de bicicleta com o senhor na Quinta da Boa Vista, que adorava ir ao Maracanã em plena quarta-feira de noite, aquele que não entendia como uma nota de 100,00 cruzeiros, poderia virar várias no troco da feira, eu ainda tenho muito daquela inocência.
Eu te amo, pai.
Saudades eternas de você.
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